Seu estômago revirava, o gosto amargo na boca não ajudava em nada, a sensação de sem chão só piorava a situação. Valeria à pena? Claro que valeria! Ela sabia o quão injusto Pedro havia sido com ela, e agora que as coisas estavam bem de novo, ela precisava contar outros exemplos de traição. Respirou fundo mais uma vez. Pedro Gabriel e Thomas estavam na sala de jogos jogando vídeo-game. Perguntou-se por que não contava para eles também, perguntou-se porque na casa de Pedro, perguntou-se se estava agindo certo. Arrancou a incerteza como um de seus sentimentos e olhou Koba novamente. Acenou com a cabeça; era melhor Pedro e ela estarem sozinhos, o amigo a respeitou e saiu da sala. Pedro não tinha dito nada, ainda. Ela sabia que logo ele ficaria sem paciência e começaria a fazer perguntas, mas enquanto o silêncio era grande, ela se preocupava em ter ar nos pulmões. Por um momento ouviu sua cabeça, deixando a frescura de lado e começou a falar: 
- Pedro – chamou, ele levantou a cabeça a olhando profundamente nos olhos enquanto sorria. Ela poderia ir para a lua só com os lábios curvados do, agora então, namorado. – Eu preciso te contar uma coisa – continuou. A expressão do moreno não foi de espanto. 
- É o que você sempre quis me dizer? – perguntou calmamente. O ar começou a faltar nos pulmões de Mariana e ela apenas assentiu. Percebendo o mal que apenas pensar sobre este assunto lhe fazia, ela se sentou. – Okay, eu estou aqui. Pode contar. – Pedro a apoiou psicologicamente indo até a namorada, sentando em frente a ela, no sofá. 
- Faz muito tempo – começou sua historia. – Koba e eu nos conhecíamos desde pequenos. Como você sabe, meu pai nos deixou enquanto eu ainda era de colo – Pedro acenou, dando liberdade para a garota falar o que quisesse, no ritmo que quisesse. As mãos dele presas nas dela davam apoio físico. – Então, quando eu tinha cinco anos, mamãe se casou novamente. Koba tinha nove na época, eu não me lembro direito, mas eu e ele fomos os daminhos. – Ela sorriu, lembrando-se da vaga imagem dela e do melhor amigo entrando no tapete branco da igreja no casamento de sua mãe. Então ela suspirou; queria pular a pior parte, queria dizer que era tudo fruto de sua imaginação, mas anos após anos ela não conseguia dizer que era fruto de sua mente. Ela tinha certeza que fora real, cada sentimento, cada tortura. Respirou novamente e olhou para o namorado, os mesmos cheios de lágrimas, e ela não se importava em deixá-las cair. – Eu tinha sete anos quando tudo começou. Eu tinha medo de dizer para Koba, pois pensava que era normal os adultos fazerem isso. Eu falei uma vez para minha mãe, mas ela parecia não me ouvir. Quem sabe ela me achava muito nova, e sem saber do que estava falando – ela respirou mais uma vez e botou pra fora. – Meu padrasto me molestava, Pedro. Ele me estuprou diversas vezes até eu fazer 13 anos. – Ela suspirou enquanto as imagens, sensações e lágrimas inundavam-na. – Eu lembro que no mesmo dia que Koba soube, ele me levou para sua casa, foi como se eu estivesse em um paraíso, onde ninguém berrava comigo, me batia ou coisas do gênero... 
Mariana foi interrompida pelas mãos que estavam nas dela, pois no segundo seguinte que ela terminou de contar, as mãos não estavam mais lá. Pedro estava em pé no outro canto da sala, de costas. Então ela se sentiu sozinha de novo, o desespero tomou conta fazendo-a tremer soltando mais lágrimas que antes. 
- Pedro? – sussurrou, tentando se mostrar calma. Ela se levantou indo até o namorado, em desvantagem e com medo tocou o ombro do moreno. No mesmo instante este se virou, agarrando o pulso dela, mostrando sua feição de raiva, dor e ódio. – Pedro? – perguntou novamente com o rosto assustado, a voz falha e os olhos inundados. 
- Por que não me contou? – Sua boca proferiu palavras em tom afiado. – Você mentiu pra mim! Isso é tão importante pra você que nem eu sei! Só o seu Koba querido! Koba isso, Koba aquilo. Você não presta, Mariana! – Sua boca mandava palavras afiadas para a garota que apenas se sentia como lixo fazendo lágrimas caírem cada vez mais forte de seus olhos. – Você é suja! Eu não acredito que dormi com você! – E após seu discurso sem sentido e razão, soltou o pulso da garota. Ela não conseguia se controlar; queria se fechar novamente, queria pedir desculpas, mas as palavras simplesmente não saíam. Pedro se dirigiu até a porta da sala. 
- Pedro Lucas! – ela chamou. – Eu... Eu não... Por favor! – As palavras doíam, andar doía, olhá-lo doía. Ela se sentia tão mal, tão mal por tê-lo feito de idiota; mas ela não podia deixar seu motivo de lado: confiança. – Pedro – pediu, ainda chorando. – Eu... – mas ela parou no mesmo momento em que o moreno se virou. 
- O quê? – ele perguntou com raiva. – Vai pedir pra eu ficar? Agora é você que está arrependida? Vamos ver como você se sente sem mim agora. – À medida que ele falava seus pés iam se aproximando da garota. 
- Por favor! – ela disse tentando se acalmar. – Me – continuou tentando se acalmar. - Desculpe, eu só... – mas ela não conseguiu continuar, Pedro pegou seus dois pulsos a agarrando e prendendo-a na parede. 
- Você gosta assim? – ele perguntou cinicamente ao mesmo tempo em que esfregava seu corpo no da garota de uma forma desconfortável. 
- Nãããão – ela dizia, em meio a lágrimas, começando a se desesperar. Não acreditava que seu namorado estava fazendo isso, não podia acreditar. Tinha contado seu maior segredo a ele, mas parecia que Pedro não se importava. Ela berrou, pedindo que se afastasse dela. Berrou para que parasse. Suas lágrimas estavam lhe tirando toda energia que tinha para empurrar Pedro para longe. Seus olhos se fecharam, sentindo nojo de Pedro naquele momento. E então ela estava livre. Sua cabeça se levantou e ela viu Thomas e Koba segurando Pedro, ao mesmo momento que Pedro Gabriel abria os braços. Ela entendeu a mensagem e se enterrou ali. Finalmente pôde chorar em paz.