- Emily e um garoto? – Alison repetiu incrédula.

                - Sempre o tom de surpresa. E você ficou tão chocada quanto quando ouviu sobre o Justin e a Jennifer!

                - Eu tava na China. Você não pode entender UST pelo Messenger quando você tá na China. É meio difícil.

                - Eu fiquei surpresa por você usar o Messenger quando você podia muito bem ficar dando em cima de Xing Lings.

                - Que nojo. – Alison fingiu vomitar. – Eles eram estranhos e a língua chinesa parece insetos conversando com aquele mundo de vogais e xis onde não devia ter.

                - Bem, deu pra perceber o quanto Ali gostou da viagem. – Justin disse sarcasticamente.

                Alison estava deitada no sofá da sala, olhando para Emily (empoleirada na poltrona) e Hanna (rindo numa outra poltrona). Ela tinha deixado o cabelo preso num coque frouxo.

                - Pena que só tem dois irmãos. – Alison suspirou. – ‘Tava precisando de um Stephen pra mim...

                - Ou de um John Mayer... Ai! – Emily exclamou ao ter um travesseiro jogado em sua face.

                - Você cala a boca, valeu. – Alison continuou, apontando para Hanna. Ela fez cara de inocente com um muffin na mão e migalhas nas bochechas.

                Hanna engoliu. – Mas eu nem ia dizer nada.

                - Me engana que eu gosto.

 -

                Foram mais dois dias de reclusão na cabana dos Venecia. Alison saia com Hanna de noite para trocar de roupa ou dar uma olhada nos Roselyn, mas ela sempre voltava em tempo de assistir Grey’s Anatomy com um pote de sorvete de menta com chocolate.

                Quando o celular de Emily finalmente tocou, ela já sabia o que esperar. Ouviu sua mãe contar-lhe com uma calma anormal e informou o resto de sua família. Eles a rodearam, aflitos, mas ela não demonstrava estar afetada pela notícia.

                - Não é como se ele aparecesse mais de uma vez por ano, não é? – Emily disse de tarde. Ninguém sabia o que dizer então ela saiu da sala e foi ao sótão. Bateu a porta um pouco forte demais.

                Por mais que ela odiasse seu pai, ele era seu no final das coisas, e isso era mais do que ela podia esperar. Emily chorou quietamente num canto do sótão, suas lágrimas caindo sobre o piano sem cauda que ele comprara para ela quando ela tinha oito anos.

                - Merda. – ela disse ao perceber as manchas que deixara no banco de couro do piano. Então chorou mais forte ainda, porque seu pai nunca voltaria para dar uma bronca nela.

                Emily se levantou novamente e abriu os armários do quarto, nos quais ela guardava folhas e mais folhas de partitura. Jogou todas ao chão, rasgou, pisou e enfim sentou em cima, tomada por um acesso de choro, o último que se permitiria ter pelo homem que nunca cuidara dela como um pai deveria.