A Descoberta De Suzumiya Haruhi escrita por teffy-chan


Capítulo 1
Capítulo Único - O Segredo Revelado


Notas iniciais do capítulo

Yoo minna!
Desde que eu fiz cosplay da Haruhi no Anime Family que estou louca de vontade de escrever uma fic sobre isso, a Haruhi me possuiu de um jeito (???) que eu tinha que escrever! Daí, durante uma conversa com a minha amiga Rachel, na qual eu comentei "seria legal se fizessem um OVA ou filme mostrando como seria se a Haruhi descobrisse toda a verdade, ou até se fizessem uma fanfic sobre isso". Daí me veio a idéia "se ninguém fez uma fic sobre isso ainda então é só eu criar uma, oras!" (juro que me senti a Haruhi nessa hora, que nem quando ela tem a ideia de fundar um clube XD) Enfim, se não fosse pela minha conversa com a Rachel, eu não teria tido a ideia pra criar essa história, por isso dedico essa fic à RachelClearwate /o/
É a minha primeira fic de Suzumiya Haruhi, e acho que até me empolguei um pouco escrevendo já que ficou bem grande... mas dêem um desconto se não estiver muito bom, sim? *-*
A fic será toda sob o POV do Kyon (tbm é a primeira vez que escrevo uma fic em primeira pessoa, mas nesse caso, não tinha como não ser o Kyon a narrar a história)
Boa leitura^^



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Era mais um dia quente de verão, tão quente que faria qualquer um suar como se fosse um iglu derretendo, não importando se o ar-condicionado estava ligado no máximo ou não. Mas ainda assim, nossa "querida" líder não suspendia as reuniões desse clube sem sentido. Ahh não, podia acontecer o que fosse, tsunamis, terremotos, erupções de vulcão, ou até o apocalipse que não importa, a Suzumiya Haruhi que eu conheço jamais suspenderia uma reunião por motivos tão banais. Maldita mulher.


Agora eu estava na sala do clube, jogando damas com o Koizumi pela milésima vez, enquanto a minha linda anjinha Asahina-san trajava sua habitual roupa de maid e nos servia um de seus maravilhosos chás. Ela é realmente uma ótima cozinheira, desconfio que ela se tornaria uma grande chef no futuro se levasse o assunto à sério. Ah, e Nagato estava na sua habitual cadeira em frente a janela, lendo um livro particularmente grosso que, pela capa, por algum motivo me lembrava a série Star Wars.


- O que houve? Você parece aborrecido - comentou Koizumi após comer uma das minhas peças. Ahh nossa, como será que ele percebeu?
- Só estava pensando que é um tremendo desperdício passarmos a tarde toda enfurnados nessa sala em um dia quente como esse, quando nem a nossa líder estúpida está presente - eu respondi aborrecido, sem me dar ao trabalho de disfarçar minha raiva
- Suzumiya-san tinha dito que queria comprar uma roupa nova pra nos mostar hoje, não foi? Não se preocupe, ela vai aparecer quando você menos esperar - respondeu Koizumi com aquele maldito sorriso de sempre. Asahina-san deixou escapar uma exclamação de medo ao ouvir esse comentário e se encolheu num canto. Aposto que ela estava pensando se a Haruhi a faria vestir alguma outra fantasia absurda e indecente de novo. Odeio admitir, mas uma parte do meu ser está torcendo para que a resposta seja "sim"
- Aquela Haruhi... ela realmetne não tem a menor consideração por nós, nos fazendo esperar por ela até sabe Deus quando, até que ela tenha a boa vontade de aparecer! - reclamei eu, dizendo o que todos já sabiam - Por que precisamos continuar vindo até essa sala de clube afinal?! O objetivo inicial dela está totalmente fora de foco agora!
- M-Mas Kyon-kun... eu penso que é melhor assim - disse a Asahina-san timidamente - É melhor o jeito como estamos agora, do que quando andávamos por aí procurando... sabe... a-alienígenas e coisas do tipo - ela lançou um olhar assustado à Nagato, que não desgrudava os olhos de seu livro, embora eu tivesse a certeza de que ela estava prestando atenção na conversa
- Ou você preferia quando nós saíamos pra procurar aliens, espers e viajantes do tempo, hein? - perguntou Koizumi, dando um de seus melhores sorrisos marotos. Cara, como aquilo me irritava
- Claro que não! - respondi prontamente - Bem, pode até estar melhor agora, mas... se o nosso objetivo... ou melhor, se o objetivo dela está tão fora de foco assim então não há necessidade de passarmos a tarde toda enfurnados nessa sala num dia quente como esse! Maldição... ela diz que fundou esse clube pra procurar por alienígenas, espers e viajantes do tempo, mas parece que se esqueceu completamente disso... e pensar que temos tudo isso bem aqui nesta sala!!
- K-Kyon-kun, fale baixo por favor! É perigoso falar sobre isso!! - alertou-me Asahina-san num tom de voz preocupado
- Ora, mas é a pura verdade, Asahina-san - eu continuei meu discurso - Aquela idiota da Haruhi inventa de sair por aí procurando aliens e espers... e pensar que temos tudo isso bem debaixo do nariz dela! Mas ela percebe?! Nããão, claro que não! A toda-poderosa Suzumiya Haruhi-sama se considera tão esperta e superior... mas nem sequer nota que a Asahina-san é uma viajante do tempo, que a Nagato é uma alienígena e que o Koizumi é um esper!!
- Agora você falou demais.


Ouvi a voz da Nagato pela primeira vez naquele dia. Se ela se deu ao trabalho de falar era porque a coisa era séria. E não foi só isso. Ela não só se deu ao trabalho de falar, como ergueu seus olhos do livro e apontou com uma das mãos para a porta atrás de mim.  Virei-me lentamente e, como em um filme de terror, vi o ser que jamais esperava nem desejava ver naquele momento. Suzumiya Haruhi estava parada à porta me encarando como se eu tivesse dito a coisa mais absurda, fantástica e inimaginável em todo o mundo. Bom, na verdade eu tinha dito mesmo... pelo menos pra ela. As sacolas com roupas que ela comprara estavam caídas no chão, ela provavelmente derrubou devido ao choque do que ouvira, revelando uma fantasia de neko. Ohh céus, essa não... ela ouviu o que eu disse.


- O que... o que foi que você disse, Kyon? - ela perguntou ainda aparvalhada. Nossa, como era raro ver a Haruhi assim
- Ahh é que... i-isto é... err... é só uma... uma brincadeira! Sim, sim, foi uma brincadeira, hoje é primeiro de abril! Hahahaha.. - eu gaguejei nervosamente, rezando para que ela acreditasse na minha mentira deslavada
- Mentira. Hoje não é primeiro de abril - ela disse séria. Já falei o quanto é anormal ver a Haruhi séria?! - Você acabou de dizer... que a Mikuru-chan é uma viajante do tempo... que a Yuki é uma alienígena... e que o Koizumi-kun é um esper. Isso é... verdade?


Nesse instante Asahina-san se encolheu num canto da sala, chorando e gritando "Ahh essa não! Ela descobriu!". Puxa vida, ela podia ao menos não confessar tão facilmente, caramba! O costumeiro sorriso de Koizumi também desaparecera e ele encarava Haruhi preocupado e apreensivo, enquanto que Nagato se levantou da cadeira onde ela parecia estar permanentemente colada e derrubou seu livro no chão. Uau, a coisa era séria mesmo.


Suzumiya Haruhi descobriu o segredo que jamais poderia lhe ser revelado. E tudo por minha culpa.


Sua expressão facial demosntrava que ela parecia compreender lentamente os fatos. E seu rosto perplexo logo se tranformou em um largo sorriso. Um sorriso muito mais preocupante, assustador e irritante do que o sorriso falso de Koizumi.


- Entendo... sim, então é isso... e pensar que passei todo esse tempo procurando por aliens e fenômenos paranormais... e pensar que estavam bem na minha frente o tempo todo - Haruhi murmurava as palavras que eu mesmo disse há poucos instantes atrás. Será que é só uma coincidência bizarra ou ela estava ouvindo atrás da porta esse tempo todo?! - E vocês... quer dizer que estiveram mentindo pra mim esse tempo todo, não é?! Huhuhu... é, devo admitir, vocês têm coragem em mentir pra mim desse jeito... me enganaram direitinho... mas isso acaba hoje! Agora que sei a verdade... não deixarei vocês escaparem tão facilmente.


Ohh céus, ela parece uma vilã falando assim! Aliás, ela parece não, Haruhi é uma vilã, com toda a certeza. Mas por que nenhum de vocês reagem?! Nagato, use aquela sua magia absurdamente fenomenal e apague a memória dela ou coisa assim! Koizumi, use seus poderes e detenha essa louca psicótica! E Asahina-san... pare de chorar pelo amor de Deus! Será que não percebe que não vai resolver nada assim?!


- Então, vejamos... - Haruhi falou com aquele terrível e familiar tom de voz que lembrava uma cobra se preparando para dar o bote - Sim, devemos ter um interrogatório, é claro... com quem eu começo...? - ela dizia, olhando para cada um de nós sem pressa. Ahh cara, estou com um mal pressentimento - Ah, mas é claro! Lógico que tem que ser você... Mi-ku-ru-chan - ela soletrou o nome de Asahina-san como estivesse lhe dizendo sua sentença de morte. Maldita, por que começar justo pela minha adorada Asahina-san?! - Você vai me contar cada detalhe dessa história de você ser uma Viajante do Tempo. E se você se recusar a contar, te farei vestir essa roupa... - ela tirou a fantasia de neko da sacola que trouxera. Era um vestido azul claro com muitos babados rosa provavelmente para disfarçar o quão curto ele era. Tinha mangas fofas, uma gargantilha com um gizo, orelhas e cauda de gato. Odeio admitir, mas uma parte de mim realmente quer ver a Asahina-san com essa roupa
- S-Suzumiya-san... err... e-essa roupa não é um pouco curta demais?? - Asahina-san murmurou entre lágrimas. De fato, a roupa era bem mais curta do que as costumeiras fantasias que Haruhi a obrigava a vestir. Talvez por isso mesmo eu quisesse tanto vê-la vestida de neko... droga, como eu me odeio por isso!
- É claro que é curta, essa é graça! - respondeu Haruhi como se dissesse o óbvio - Sabe, eu ia te fazer vestir essa roupa de neko de qualquer jeito mesmo... então que tal isso: Se não me contar tintim por tintim dessa história de viajante do tempo, te farei colocar as orelhas e cauda de gato... sem o vestido da fantasia! Usará apenas as orelhinhas, a cauda e sua roupa de baixo, e nada mais! - declarou Haruhi como se fosse uma perigosa estupradora, fazendo a minha pobre Asahina-san corar a ponto de seu rosto ficar mais vermelho do que seus cabelos ruivos. Cara, a Haruhi parece até um velho pervertido falando assim
- N-N-Não!! P-Por favor, isso não, Suzumiya-saaan!! - pediu inutilmente a Asahina-san, voltando a cair no choro
- Então apenas confesse, Mikuru-chan! - exclamou Haruhi, como se a Asahina-san tivesse cometido um grave crime
- M-M-mas eu não posso... é.. é informação confidencial... - choramingou a Asahina-san
- Bom, nesse caso, acho que vou te fotografar de lingerie e orelhas de gato, e depois colocar todas as fotos na internet... não, melhor ainda! Vou vender as fotos para cada garoto desse colégio, assim ainda ganho uma grana extra com isso hahahaha!! - Haruhi gargalhou como uma verdadeira vilã de anime de quinta categoria. O que é isso, além de tudo ela virou mercenária também?! Essa garota precisa decidir o que é prioridade
- Nãããão isso não!! T-Tudo menos isso!!
- Bem, nesse caso apenas responda minhas perguntas - concluiu Haruhi triunfante - Vocês todos caiam fora, quero "conversar" à sós com a Mikuru-chan -  mandou Haruhi se dirigindo ao resto de nós. "Conversar", ela diz... ela vai é ameaçar e chantagiar a Asahina-san isso sim! Ohh céus, ela não seria realmente capaz de estuprá-la, não é?? - Vamos, caiam fora vocês três! Me esperem em frente á porta! E nem pensem em fugir, nenhum de vocês! Senão cabeças vão rolar!!


Com um poderoso pontapé, Haruhi literalmente nos chutou pra fora da sala, e em seguida trancou a porta, ficando sozinha com a coitada da Asahina-san. Descanse em paz minha querida maid, foi bom te conhecer... vá para o paraíso, pois você merece.


- Ahh céus e agora... é uma situação realmente preocupante - murmurou Koizumi sério. Eu já falei o quanto era anormal ver aquele cara sério?
- Ahh... bem, e o que vai acontecer agora que a Haruhi sabe a verdade? - eu perguntei, temendo a responta
- É difícil dizer, há várias possibilidades para isso - ele falou pensativo - Mas o mais provável seria... - Koizumi interrompeu a frase quando seu celular começou a tocar. Ele atendeu, respondeu algumas vezes um "sim" ou um "entendido" e quando desligou, disse - A situação está pior do que pensávamos... os espaços restritos começaram a se formar, bem maiores e em maior número do que de costume
- Pensei que eles só se formavam quando a Haruhi estava entediada - disse eu
- Sim, por isso mesmo a situação é preocupante, pois a Suzumiya-san não parece nada entediada agora - ele observou. De fato, pelos gritos de "socorro!", "pare por favor!" e "não me toque aí!" vindos da Asahina-san do lado de dentro da sala do clube, a Haruhi parecia estar se divertindo como nunca maltratando a pobre coitada
- Mas se a Haruhi não está entendiada... não entendo porque o espaço restrito apareceu...
- Desculpe, mas não tenho tempo para explicar agora, preciso me unir aos meus companheiros para combater os Celestiais. Nos vemos daqui a pouco, eu espero - Koizumi despediu-se com um aceno de cabeça, e em seguida seu corpo começou a brilhar, ele flutuou no ar e saiu voando a toda velocidade até que desapareceu
- Ahh cara... se a Haruhi ver que o Koizumi não está aqui, a cabeça dele vai rolar - estranhamente eu repeti a frase frequentemente usada pela Haruhi. Não que isso tenha muita importância agora - Bem, e quanto à você, Nagato? Que acha disso tudo?
- Como o Koizumi Itsuki disse, há várias possibilidades para o que vai acontecer agora, cada uma mais absurda e mais sem fundamentos do que a outra - ela disse com aquela voz de tédio de sempre, sem alterar sua expressão facial - Sem dúvida alguma é um perigo imenso que Suzumiya Haruhi saiba sobre a existência de seres como eu. Se ela resolver fazer com que o mundo tome conhecimento deste fato, será uma catástrofe ainda maior. Mas também pode ser que, agora que ela sabe que seres como eu existem, passe a nos achar comuns e sem graça e passe a buscar por algo novo - explicou Nagato, voltando a se tornar aquela faladora compulsiva que só usa palavras difíceis. Ela disse que a Haruhi pode começar a achar aliens e paranormais seres comuns?! Oh céus, o que seria incomum então?? Um robô hermafrodita, talvez?
- Bem... e o que aconteceria se essa segunda possibilidade se tornasse real? - eu perguntei, novamente temendo a resposta
- Se Suzumiya Haruhi passasse a pensar que seres como eu são comuns, talvez ela tentasse recriar este mundo do zero novamente. Isso poderia fazer com que todos os seres deste planeta desaparecessem e ela criaria um mundo novo a partir da sua vontade. Ou talvez ela apenas criasse mudanças nos seres que já existem, tornando cada pessoa deste planeta um alienígena, esper ou viajante do tempo. Ou talvez ainda fizesse com que não existisse nada disso. Se ela decidir que acha seres como eu muito comuns, pode ser que não existam mais alienígenas, espers ou viajantes do tempo. Se for o caso, nós desapareceríamos por completo
- "Nós" desapareceríamos...?
- Asahina Mikuru, Koizumi Itsuki... e eu. Nós deixaríamos de existir, se assim for a vontade de Suzumiya Haruhi - ela jogou a terrível verdade na minha cara - Ou talvez ainda existamos, mas como pessoas comuns, sem nenhum tipo de habilidade ou característica especial. E talvez sem as memórias de antes, poderíamos simplesmente seguir nossas vidas, sem nem lembrar que um dia nos conhecemos - ela revelou mais uma das inúmeras possibilidades. O que isso Nagato, está tentando me assustar?! Porque, se você está, já conseguiu.


Nesse instante, Koizumi voltou voando e arerrizou levemente ao meu lado.


- A coisa está pior do que eu pensei.. existem espaços restritos por todo lugar - ele falou preocupado, passando a mão pelos cabelos
- Se a coisa está tão feia assim então por que você voltou? Não devia estar ajudando seus companheiros?
- Eu bem que gostaria, mas tem uma coisa mais importante que preciso fazer primeiro - ele disse como se desculpasse
- Ah, é? E o que pode ser mais importante do que salvar o mundo dos Celestiais, hein??


Nesse exato momento a porta da sala do clube se abriu. Haruhi empurrou a minha doce Asahina-san para fora com mais violência do que o necessário. Ela vestia o uniforme escolar, mas ainda usava as orelhas e cauda de neko. Nossa, como ela está linda assim!!


- Bem... digamos que eu não quero perder minha cabeça - Koizumi sussurrou a resposta da minha pergunta em meu ouvido. Maldito, não chegue tão perto, que nojo!!
- Bom ver que estão todos aqui, pois se arrependeriam profundamente se tivessem fugido! - exclamou Haruhi exibindo um de seus sorrisos mais maldosos já vistos até agora. Pois eu me arrependo é de não ter fugido ainda - Bem, vejamos quem será o próximo a ser interrogado... ah, claro. É a sua vez Yuki!


Haruhi puxou Nagato pelo braço, forçando-a a entrar na sala, e se trancou com ela lá dentro de novo. Não era possível que Haruhi pudesse fazer mal á ela, era?? Quero dizer, a Nagato pode soltar todos aqueles raios, congelar o tempo, se autoregenerar e todo o tipo de coisa fantástica... mas pensando bem, ela nunca resistiu a nenhuma das vontades absurdas da Haruhi... sinceramente não sei o que pensar.


Lancei um olhar piedoso à Asahina-san. Ela estava ajoelhada no chão, toda encolhida  apavorada e chorando compulsivamente. Pela sua cara, parecia até que um médico havia lhe dito que ela tinha algum tipo de câncer incurável e só lhe restavam poucas horas de vida. Queria consolá-la, mas não me vinha nenhuma boa frase à mente. Na verdade não sabia nem como consolar a mim mesmo pela tremenda burrada que eu havia feito, quanto mais consolar uma menina delicada como a minha doce Asahina-san.


- Bem, suponho que a Nagato-san já tenha lhe adiantado alguma coisa, não é? - Koizumi interrompeu minha auto-sessão de culpa - O que ela lhe contou?
- Basicamente que, depois disso tudo, ou a Haruhi vai achar seres como vocês muito comuns e, ou vai fazer com que todo mundo tenha poderes, ou transformará vocês em pessoas comuns sem nem poder e sem memórias de que nos conhecemos, ou ainda tentará reescrever esse mundo e todos nós vamos deixar de existir - eu falei com uma naturalidade inesperada. Talvez ainda não tenha me dado conta do quanto era preocupante a situação em que estávamos
- Bem, essas são as possibilidades mais prováveis - ele disse com aquele sorrisinho irritante. Maldito, isso é preocupante, sabia?? Por que está rindo afinal?! - Mas sabe, talvez também exista uma forma de evitarmos uma catástrofe sem precedentes
- Ah, sério? Me diga que forma é essa então. Quero saber - eu disse impaciente - Qualquer coisa deve ser melhor do que ter o mundo destruído e deixar de existir simplesmente porque a Haruhi quis assim
- Não entendeu ainda, não é? - Koizumi perguntou. E pelo jeito eu não tinha entendido mesmo, pois não fazia idéia do que ele estava falando. Como eu não respondi, ele continuou - Você não corre nenhum tipo de risco. Você é um humano normal sem poder algum, e já foi mais do que provado que a Suzumiya-san te quer ao lado dela. Lembra-se do incidente no qual vocês ficaram presos na escola à noite, não é? - ele perguntou com uma piscadela. Maldito, não me faça lembrar dessas coisas embaraçosas! E não pisque pra mim! - Bem, o fato é que apenas eu, a Asahina-san e a Nagato-san corremos risco de vida aqui. Bem, nós três e provavelmente meus companheiros da Agência, a Entidade de Dados Integrados à qual a Nagato-san pertence e outros viajantes do tempo como a Asahina-san também, já que provavelmente as duas contaram sobre eles para a Suzumiya-san
- E isso significa que você também vai contar sobre a sua Agência e tudo o mais quando for interrogado? - eu perguntei erguendo uma sombrancelha
- Que escolha eu tenho? - Koziumi sorriu como se desculpasse - Mas como eu dizia, existe algo que pode impedir que o pior aconteça. Se algo acontecer com a Suzumiya-san... algo mais fantástico, mais improvável, e mais importante do que a descoberta dela sobre a existência de alienígenas, espers ou viajantes do tempo... então talvez ela possa deixar isso de lado e voltar sua atenção para essa nova "descoberta".


Novamente a porta da sala do clube se abriu, e Nagato tornou a se unir a nós no corredor. Ela estava com uma cara estranha dessa vez. Parecia a mesma garota, ou melhor, a mesma alienígena desprovida de expressões faciais de sempre, mas havia algo diferente. Ela parecia preocupada... ou aflita... ela estava... sofrendo?!


- O próximo, por favor! - exclamou Haruhi como se fosse uma balconista. Uma balconista sádica e psicótica, por sinal - Muito bem, Koizumi-kun, é a sua vez!


Ele abriu a boca pra dizer alguma coisa, mas antes que conseguisse, Haruhi o agarrou pelo braço e o forçou a entrar na sala do clube, tornando a trancar a porta. Como uma garota daquele tamanho conseguia arrastar um cara que mais parecia um poste telefônico feito o Koizumi sem esforço algum era um mistério, mas não era isso que importava agora.


- Ele lhe disse o que fazer? - Nagato perguntou de repente, me assustando
- O Koizumi? Ele disse algumas coisas estranhas, mas... não entendi muito bem
- O que ele falou?
- Bem... basicamente que, se alguma coisa mais importante e mais fantástica do que a existência de seres como vocês acontecesse com a Haruhi, ela deixaria isso de lado e evitaria uma catástrofe - eu respondi ainda meio confuso
- Entendo. Então está resolvido. Tudo se normalizará em breve, quando chegar a sua vez de ser interrogado - Nagato murmurou num tom quase inaudível. Tive a impressão de que ela não gostava dessa alternativa, mas era a única coisa que podia ser feita
- Espera aí como assim está tudo resolvido?! O que eu tenho que fazer afinal?? - eu perguntei, mais confuso do que antes - Aliás, por que eu?! Por que nenhum de vocês podem fazer o que quer que seja para salvar o mundo das garras malignas da Haruhi?!
- Porque é uma coisa que só você pode fazer - Nagato me respondeu, me encarando nos olhos dessa vez. Fazia tempo que não olhava diretamente para os olhos dela... dava uma sensação estranha.


A porta do clube tornou a se abrir. Nossa, foi bem rápido dessa vez. Haruhi expulsou o Koizumi da sala com um empurrão. Ele parecia uma criança que acabara de quebrar algo realmente caro e agora pensava no melhor modo de esconder isso.


- Bem, agora vamos ver quem falta... ah, é claro. É a sua vez, Kyon - Haruhi disse mansamente, parecendo um animal selvagem se preparando para dar o bote. Nossa, aquilo realmente me assustava
- E-Espera Haruhi... eu não sou um alien, nem um esper, nem nada disso... o que você...
- Não me interessa, apenas cale a boca e entre logo!! - ela gritou, me puxando pela gravata e trancando a porta atrás de nós.


Senti como se estivesse indo para a forca.


Ela se virou de frente para mim, colocou as duas mãos na cintura, me encarou nos olhos com um olhar censurador e perguntou:


- Por que você nunca me contou nada?


Essa era a última frase que eu esperava que ela dissesse.


- O quê?!
- Você sabia, não é? O tempo todo. Que a Mikuru-chan era uma viajante do tempo, que a Yuki era uma alienígena e que o Koizumi-kun era um esper. Você sabia de tudo mas nunca me contou... por que?
- B-Bom... era um grande segredo, eu não podia contar mesmo se quisesse
- Então você não queria me contar? - ela perguntou erguendo uma sombrancelha - Queria esconder isso de mim?
- N-Não foi o que eu quis dizer! - eu me apressei a dizer - É só que... eu realmente não podia te contar. Tinha muitas pessoas e organizações envolvidas, e... e-eu até tentei te contar uma vez, mas você não acreditou, e... e eu nunca quis saber de tudo isso pra início de conversa! Nunca quis me envolver nessa história absurda! É você quem gosta dessas esquisitices, não eu!!
- E mesmo assim você não me contou. Eu trocaria de lugar com você com o maior prazer - ela disse aborrecida. Também adoraria trocar de lugar com ela e nunca ter me envolvido nessa situação maluca, mas tenho o pressentimento de que assim seria muito pior - Você também não é como eles, ou é? O que você é, Kyon? Um vampiro? Um ninja? Um mago? Algum super-herói de mangá??
- Desculpe mas não sou nada disso. Não passo de um mísero humano colegial normal, que pode ser encontrado em qualquer canto desse país - eu respondi sinceramente - Na verdade você só reuniu gente estranha pra esse clube... sempre me perguntei porque você me incluiu nessa se eu não tenho nenhum tipo de poder especial
- "Por que"?! - ela gritou indignada. Ohh céus, eu cometi a façanha de deixar Suzumiya Haruhi ainda mais zangada. Sinto que ela vai arrancar minha cabeça fora a qualquer momento. Ela me agarrou pelo colarinho da camisa, me encurralou contra a parede e continuou seu discurso - Ora seu paspalho, eu te digo "porque"! Porque foi você quem me deu a idéia pra esse clube pra início de conversa! Você me disse como eu poderia encontrar aliens e espers! Se você deu a idéia, nada mais justo do que você participar dessa descoberta fenomenal também!! Eu pensei que você também queria isso, que também queria conhecer alienígenas, espers ou viajantes do tempo e se divertir com eles! Pensei... pensei que podia confiar em você!! Mas você... você sabia de tudo o tempo todo e não me disse nada... sabia que aquilo que eu mais procurava, que eu mais desejava encontrar na vida estava bem na minha frente o tempo todo... e nunca disse uma única palavra! Você... você me traiu Kyon!!


Eu não podia acreditar nos meus olhos. Suzumiya Haruhi estava a ponto de.... chorar?! Mais do que isso, ela disse que "pensou que eu também queria encontrar aliens"... isso quer dizer... que ela se importa com o que eu quero ou não?! Ela se preocupa com o que eu penso e com quais são as minhas vontades??


E por algum motivo, a última frase que eu ouvi do Koizumi me veio à mente de repente:


"- Se algo acontecer com a Suzumiya-san... algo mais fantástico, mais improvável, e mais importante do que a descoberta dela sobre a existência de alienígenas, espers ou viajantes do tempo... então talvez ela possa deixar isso de lado e voltar sua atenção para essa nova descoberta".


Eu não podia acreditar no que eu mesmo estava prestes à fazer.


- Eu não traí você. Haruhi, eu... eu jamais trairia você... isso nem pode ser considerado traição pra início de conversa. Desde a primavera passada que você me obriga a vir todo santo dia para essa sala de clube, me faz sair todo fim de semana, gastar meu pouco tempo livre e ainda me força a sempre pagar a conta... e eu sempre reclamo, todo santo dia. Sempre reclamo das suas atitudes egoístas, do seu jeito egocêntrico, de você sempre fazer o que te dá na telha sem nunca considerar as opiniões e vontades de ninguém ao seu redor, de sempre maltratar a Asahina-san e obrigá-la a vestir fantasias constrangedoras, de considerar a Nagato como se fosse parte da mobília da sala desse clube, de se vangloriar toda vez que aquele puxa-saco do Koizumi apóia cada idéia ridícula sua e de me usar como burro de carga o tempo todo... mas a verdade é que... eu acabei gostando disso. Acho que é a força do hábito, a gente acaba se acostumando com a rotina... mas, se não fosse por isso, se não fosse esse clube... eu passaria a minha vida colegial apenas estudando e mergulhado em um tédio profundo, sem fazer nada de diferente e divertido... seria muito chato e sem graça. Por mais que eu reclame, eu acabei gostando de vir pra essa sala depois da aula, de ver a Nagato sentada no lugar de sempre lendo, de beber o chá da Asahina-san, de jogar othello com o Koizumi e ouvir ele te elogiando e paparicando, e de escutar suas idéias mirabolantes sem pé nem cabeça. E isso... não é porque eu goste de sair por aí procurando alienígenas, viajantes do tempo e espers... e sim porque eu gosto de passar o meu tempo com você. Eu gosto de ficar ao seu lado todos os dias. Por mais que eu reclame... e por mais que não faça sentido... eu te amo Haruhi. Me acostumei tanto a ficar o tempo todo do seu lado... que não conseguiria mais viver sem você. Eu sinto sua falta nos dias em que não nos vemos, e penso no que você deve estar fazendo sem mim. Eu... eu já não posso mais viver sem você.


Pude ver os olhos dela se arregalarem ainda mais, e sua boca entreaberta, lhe dando um ar meio abobado. Não podia culpá-la, eu mesmo não conseguia acreditar que aquilo tudo fosse verdade e que eu realmente tivesse dito isso à ela. E acreditava menos ainda no que eu fiz a seguir.


Segurei uma das mãos de Haruhi, puxando-a mais para perto, enquanto a segurava pela nuca com a outra mão e a beijei. Estava pronto para sentir um poderoso tapa no meu rosto e ouvir os berros indignados e furiosos da Haruhi à qualquer momento, mas isso não aconteceu. Pelo contrário, ela lentamente colocou seus braços ao redor do meu pescoço, me abraçando, e retribuiu o beijo. Vários segundos depois, sentimos falta de ar e fomos forçados a nos separar.


Ela se afastou alguns passos e limpou um fino fio de saliva que saía de sua boca. Estava ofegante, com falta de ar, e... vermelha? Uau, eu não sabia que Suzumiya Haruhi também era capaz de se sentir envergonhada! Jamais pensei que viveria para vê-la vermelha. Ela consegue ficar ainda mais bonita assim.


- Kyon... eu... te trouxe para esse clube porque sabia que você poderia me ajudar e que nunca se negaria a fazer isso, mesmo que reclamasse. Porém , mais do que isso, eu queria... queria ter você do meu lado o tempo todo. Sentia que não seria mais eu mesma se você não estivesse comigo - ela falou um tanto sem jeito, sem me encarar nos olhos - Droga... eu sempre reclamei tanto disso, não acredito que eu realmente tenha caído nessa também... eu já não consigo ficar sem você, Kyon. Mesmo todos os outros sempre fazendo tudo o que eu mando sem discutir... mesmo assim não é a mesma coisa. Eu não queria ter simplesmente uma pessoa que obedecesse às minhas ordens sem questionar. Eu queria que você fosse essa pessoa. Queria que fosse você a ficar ao meu lado quando eu finalmente encontrasse aliens e espers, quando fizesse essa importante descoberta! Porque você é importante pra mim! Mas sabe que eu... acabei descobrindo outra coisa? Eu descobri... que a existência de alienígenas, viajantes do tempo e espers é realmente muito interessante e fantástico, mas... eu já não quero tanto assim me divertir com eles... porque eu descobri que me apaixonei por você.


Ela me encarou com aqueles olhos brilhantes, parecendo estranhamente insegura. No entanto, quando abri a boca para falar, ouvi um barulhão vindo da janela. Ao olharmos pro lado de fora, vimos que aparentemente um dos Celestiais havia escapado do espaço restrito e agora caminhava pelo pátio da escola, afugentando os poucos alunos restantes. Koizumi e seus companheiros tentavam detê-lo, mas era em vão. Até mesmo a Nagato estava ajudando com seus raios e a Asahina-san também atirava nele com uma pistola cheia de botões coloridos, mas ela sempre errava o alvo de tanto medo que devia estar sentindo. O Celestial se aproximou, e deu um soco na janela, quebrando o vidro.


- Cuidado Haruhi!!!


Foi tudo muito rápido. Apenas tive tempo de pular em cima dela e tentar protegê-la dos cacos de vidro, quando senti uma forte pancada na cabeça e perdi a consciência.


Acordei depois do que pareceram várias horas. Eu estava sentado na minha cadeira habitual da sala da Brigada SOS, dormindo com a cabeça apoiada nos braços. Asahina-san me obervava apreensiva, em sua habitual roupa de maid e segurando uma bandeja de chá, Koizumi estava sentado de frente para mim me encarando com aquele sorriso irritante de sempre, e Nagato permanecia em sua cadeira de sempre perto da janela, que por alguma razão não estava mais destruída, ainda lendo seu grosso livro que me lembrava Star Wars. Mais uma vez, Haruhi não estava lá.


- O que... aconteceu? Onde foram parar os Celestiais... a janela quebrada, as pessoas em pânico... e onde está a Haruhi??
- Kyon-kun... então você se lembra de tudo... - Asahina-san soltou um suspiro de alívio e depositou a bandeja em cima da mesa
- O que foi que houve afinal? Aquilo tudo... aconteceu mesmo, não é? A Haruhi descobriu a identidade de vocês, e os interrogou um a um... inclusive a mim...
- Teoricamente aconteceu, mas apenas na mente da Suzumiya-san - Koizumi disse de um jeito misterioso
- Como assim só na mente da Haruhi?! Você quer dizer que...
- ... foi tudo um sonho - Koizumi completou minha frase - Pelo menos para a Suzumiya-san. Mas tudo aquilo de fato aconteceu. E só serviu para nos provar que a Suzumiya-san ainda não está pronta para lidar com seus próprios poderes, portanto é melhor que ela continue sem saber de nada por mais algum tempo
- Espera aí, explica isso direito! - eu exclamei impaciente - A Haruhi viu tudo o que aconteceu, ela viu os Celestiais... ela descobriu a verdade! Como espera que ela acredite que foi tudo um sonho?! E afinal de contas onde ela está agora??
- Dormindo na sala de aula dela, exatamente como você estava há poucos instantes atrás - disse Koizumi tranquilamente - Depois que aquele Celestial destruiu a janela e vocês desmaiaram... ou melhor, depois que a Suzumiya-san perdeu a consciência, todos os muitos Celestiais que fugiram do espaço restrito e apareceram neste mundo, começaram a desaparecer lentamente. Parece que, sem a coinciência desperta da Suzumiya-san eles não podiam se manter aqui por si próprios. Nagato-san ajudou muito reparando os estragos feitos por eles, é claro, assim como com as pessoas que viram os Celestiais
- Ela ajudou? Você quer dizer...?
- Lancei uma onda eletromagnética para manipular as ondas cerebrais daqueles que presenciaram o incidente de hoje - explicou Nagato sem tirar os olhos do livro
- Tá... ou seja, você apagou a memória deles, é isso?
- Exato - ela confirmou
- Depois que terminamos os reparos, nós conversamos seriamente e decidimos que a idéia do Koizumi-kun era a melhor alternativa a seguir - explicou Asahina-san gentilmente - Kyon-kun, se a Suzumiya-san comentar alguma coisa sobre os acontecimentos de hoje com você, finja que não sabe de nada. Nem comente sobre isso com ela. Pra todos os efeitos, tudo isso "foi só um sonho".


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Após o sinal eu segui para a sala de aula ainda pensando nos acontecimentos de hoje. Foi provavelmente a situação mais perigosa e absurda na qual eu já me meti... principalmente a última parte. Aliás, era essa última parte que me incomodava... ainda que a Haruhi se lembrasse de tudo, ela pensaria que foi só um sonho, como todo o resto. Será que foi melhor assim? Provavelmente foi... aquela doida desvairada só quer saber de aliens mesmo, então melhor que ela continue correndo atrás do seu sonho insano. Mas então por que será... que não me sinto nada feliz com isso?


Quando entrei na sala, Haruhi olhava mal-humorada pela janela. Sentei-me no meu lugar, na frente dela, e ela parecia estar se esforçando para não olhar pra mim. Ela com certeza se lembrava de tudo o que aconteceu, devia estar no mínimo incomodada com isso. Não resisti e perguntei:


- Que cara é essa de quem comeu e não gostou, hein Haruhi? Tem alguma coisa errada, é?
- Não... só tive um sonho estranho - ela respondeu ainda sem me encarar
- Estranho, é? Como foi?
- Sonhei que a Mikuru-chan era uma viajante do tempo, a Yuki era uma alienígena, e o Koizumi-kun era um esper - ela contou com uma naturalidade assombrosa
- Nossa, sério?! - eu tentei fingir surpresa - Dessa vez você viajou mesmo hein... e o que eu era?
- Você era... - ela me encarou com o cantos dos olhos, fez um ruído estranho e tornou a olhar pela janela, fingindo irritação. Acho que ficou envergonahda - Você era o mesmo João-Ninguém de sempre, é claro!
- Hahahaha... puxa, nem nos sonhos eu consigo ser especial, que coisa... - tocar naquele assunto parecia ser a última coisa que ela queria fazer, e eu é que não iria insistir
- Mas aquela última parte... é que me preocupa - ela murmurou mais para si mesma do que para mim, enquanto tocava o próprio lábio inferior com a ponta do dedo. Eu sabia exatamente ao que ela se referia, pois também não conseguia parar de pensar nisso. Senti um alarme vermelho tocar dentro da minha cabeça, mas preferi ignorá-lo e perguntei:
- Última parte? Como assim? O que aconteceu no final do sonho?


Ela tornou a me encarar e, quando abriu a boca pra responder, o professor de matemática entrou na sala, mandando todos se sentarem e calarem a boca. É por isso que eu odeio matemática, sempre atrapalha nossas vidas!


Depois daquela aula maçante e interminável, Haruhi foi correndo para a sala do clube e eu a segui logo depois, sem pressa. Entrei e fechei a porta atrás de mim. Não havia mais ninguém ali além de nós dois.


- Que coisa estranha, a Yuki é sepre a primeira a chegar... chega a ser esquisito não encontrá-la aqui lendo - comentou Haruhi, encarando a cadeira vazia de Nagato. Pela primeira vez na vida concordei com ela
- Nee Haruhi.... quanto àquela última parte do seu sonho... você ainda não me contou o que aconteceu - eu insisti no assunto, mesmo os outros tendo me alertado para não falar sobre isso
- No final... no final eu interroguei você. E você me disse... umas coisas estranhas - ela parecia estar escolhendo as palavras com cuidado para não tocar no assunto principal
- Ah é? E o que foi que eu disse? - eu sabia que estava sendo inconveniente, podia jurar que ela me mandaria fechar a matraca a qualquer momento. Mas para minha surpresa, ela respondeu:
- Você disse... umas coisas esquisitas e melosas - ela prosseguiu, sem me encarar - Algo como você gostar de estar no clube pra poder estar sempre ao meu lado mesmo reclamando tanto... e que você gostava de estar sempre aqui porque... porque...
- Porque eu queria ficar do seu lado? - eu completei - Que, sem a Brigada SOS a minha vida seria um tédio total super sem graça? Que eu gosto de passar o tempo ao lado de todos do clube, especialmente... com você? Isso porque, mesmo eu reclamando tanto, ou mesmo que seja só porque eu sou um idiota acomodado que se acostuma fácil demais com as coisas... eu acabei... me apaixonando por você?
- Como... c-como você... como sabe disso tudo?! Esse é o meu sonho, como sabe o que aconteceu no meu sonho?! Ou será que... não foi um son...
- Claro que foi um sonho - eu me apressei a dizer - Até parece que você encontraria alienígenas, viajantes do tempo ou espers assim tão próximos de você, seria fácil demais, não é?
- Sim... claro, jamais seria assim tão fácil - graças aos céus ela pareceu concordar - Mas então como...? Quem te contou isso?! Foi a Mikuru-chan, não foi?? Ahh ela vai ver só quando eu a encontrar, cabeças vão rolar por causa dessa fofoca!! - ela gritou furiosa, e possivelmente constrangida. Tive o pressentimento de que a Asahina-san levaria a pior por causa da minha língua comprida - Mas espere um pouco.. eu não contei essa parte do sonho pra ninguém! Como você sabe disso?!
- Por que fui "eu" quem te disse essas coisas, não foi? Parece que não importa se é sonho ou realidade, eu continuo sendo o mesmo... sonho, fantasia, ilusão, universo alternativo, não importa. Seja como for ou aonde for... parece que eu... estarei sempre condenado a te amar, Suzumiya Haruhi.


Num impulso eu a puxei pela cintura e roubei-lhe um beijo. Poderia jurar que ela iria socar minha cabeça até cansar, mas ela ficou tão surpresa que ficou completamente sem reação. Haruhi não conseguia nem se soltar, nem tentar resistir, nem retribuir o beijo, nem nada, apenas ficou ali parada deixando-se ser beijada. Estranho, não é do feitio dela.
Alguns segundos depois eu a soltei e a encarei nos olhos, esperando para ver sua reação.


- Kyon... isso que você disse... é verdade? - ela perguntou tocando os lábios com os dedos - Esse beijo... foi real? Ou é apenas... outro sonho meu?


Ela realmente parecia acreditar que tudo o que aconteceu antes foi um sonho, inclusive a minha declaração. Eu entendia que ela não estava pronta para lidar com os próprios poderes, que era melhor continuar sem saber de nada, e até concordava com isso, mas não conseguia me conformar com isso. Ao menos a última parte do "sonho" dela... eu tinha que tornar realidade.


- Isso não é sonho, Haruhi. Não dessa vez. Cada palavra que eu disse é a mais pura verdade. Por mais difícil que seja até pra eu mesmo acreditar, eu... gosto de você. Parece que é a minha maldição te seguir e te amar pelo resto da minha vida
- Kyon... seu idiota!!


Foi muito rápido: Em um instante eu estava parado de frente para ela e no segundo seguinte, estava encurralado contra a parede, com a Haruhi socando a minha cabeça. Não foi a melhor reação que ela poderia ter.


- Idiota, idiota, idiota! Kyon seu idiota!!! -  ela não cansava de berrar enquanto distribuía socos - Como você... como foi capaz de lançar esse feitiço maldito que as pessoas chamam de "amor" em mim?! Logo eu... que sempre fui tão racional e realista quanto a isso! Por que logo você... você, que sempre contraria minhas ordens, discute comigo, grita comigo... mas que também está sempre ao meu lado, aconteça o que acontecer... você sempre me apoiou do seu jeito, desde o começo... e sempre me seguiu, mesmo que reclamasse... por que foi fazer eu me apaixonar por você, droga?!


Haruhi parecia não saber o que fazer. Ela estava chorando de raiva, descontando sua frustração em mim enquanto me socava, e tentando entender os sentimentos confusos dentro dela, aparentemente sem sucesso. E numa possível tentativa de descarregar toda aquela energia acumulada que ela tinha, Haruhi me agarrou pelo colarinho da camisa e me beijou. Foi um beijo mais apressado, eu podia sentir certa urgência em seus lábios, como se minha boca fosse uma deliciosa sobremesa que ela quisesse devorar de uma só vez. Em um certo momento eu inconscientemente entreabi os lábios, e pude sentir a língua dela penetrando em minha boca sem pedir permissão, explorando cada canto do interior da minha boca. Depois do que pareceram horas, ambos sentimos falta de ar e Haruhi finalmente me largou.


- Você... não vai poder voltar atrás sobre isso... ouviu bem?! - ela exclamou ainda ofegante - Você vai ficar ao meu lado pra sempre, não vou deixar você me abandonar! Se você fizer isso... se você fizer, eu juro, que cabeças vão rolar!!
- Certo, certo, entendi... pode deixar que não irei a lugar algum sem a sua permissão, minha querida Suzumiya Haruhi-sama - eu respondi tentando segurar uma risada. Cara, como fui me apaixonar por uma louca sádica feito ela?! É como dizem, gosto não se discute
- Eu acho bom mesmo hein?! - ela disse convencida - Você jamais irá embora sem a minha permissão, é bom que entenda bem isso! Porque eu não vou deixar o homem que eu amo fugir assim tão facilmente!
- Ah... opa...


Ambos viramos para a porta e nos deparamos com os membros restantes da Brigada nos espiando de lá. Koizumi exibia o seu mais descarado e irritante sorriso daquele dia, Asahina-san cobria a boca com as mãos e estava um tanto corada, e Nagato assoprava uma cornetinha e sacudia uma espécie de chocalho, e... espera aí, aquilo era um chapéu de aniversário na cabeça dela?! Você está comemorando a ocasião errada, Nagato!


- Gomen gomen... não queríamos atrapalhar - Koizumi adentrou a sala, alargando seu sorriso. Se não queria atrapalhar então dê o fora, seu idiota sorridente! Você podia fazer comercial de pasta de dente assim, sabia?! - Mas que bom que finalmente se acertaram! Já estava na hora
- Err... e-eu não... fazia idéia que vocês se sentiam assim... d-desculpe por atrapalhar Kyon-kun, Suzumiya-san... e-espero que vocês sejam muito felizes! - exclamou Asahina-san, sorrindo sem graça. O que isso de "sejam felizes", Asahina-san, nós não estamos nos casando!
- Parabéns... felicidades - disse Nagato indiferente, assoprando sua cornetinha e sacudindo o chocalho em seguida. Ainda acho que ela está comemorando a data errada
- V-V-Vocês estavam espiando?! - exclamou Haruhi, corando até a raiz dos cabelos. Era difícil dizer se ela estava vermelha de vergonha ou de raiva. Mais provavelmente de raiva - Seus fofoqueiros enxeridos, vocês vão pagar caro por isso!! Vou castigar cada um de vocês agora mesmo!!
- Opa... acho que é melhor correr - falou Koizumi recuando
- Ahh... n-não, por favor, não, Suzumiya-san! - choramingou Asahina-san, tropeçando nos próprios pés de tanto medo
- Fujam... - por incrível que pareça, Nagato foi a primeira a sair correndo, sendo seguida pelos outros dois
- Voltem aqui seus enxeridos de uma figa!! Vão pagar caro por andarem me espiando!! Droga, cabeças vão rolar por isso, seus malditos!!! - Haruhi saiu correndo atrás deles, ainda gritando ameaças e xingamentos.


Esse foi provavelmente o dia mais confuso da minha vida... eu fui culpado por quase destruir o mundo, fui interrogado, atacado por Celestiais, apanhei de uma garota e me declarei duas vezes para a mesma pessoa. Realmente não entendo como posso amar tanto alguém tão biruta, egoísta, mandona e sádica como ela... mas se o meu destino é ficar ao lado de Suzumiya Haruhi para todo o sempre... eu o aceito com prazer. É... pensando bem, foi apenas mais um dia comum da Brigada SOS afinal.

                          ~*~THE END ~*~


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Notas finais do capítulo

Uau a fic ficou grande mesmo hein... levei mais de meia hora relendo a história pra ver se não tinha nenhum erro de português! =O
Fico em dúvida se a parte mais dificil foi escrever essas frases complicadas da Nagato (sim,a s falas delas são poucas, mas são horríveis de escrever) ou escrever a história sob o POV do Kyon, já que eu normalmente só escrevo fics em terceira pessoa... mas sabe que foi divertido?! Pude colcoar várias frases e opiniões minhas nas falas dele, então eu gostei XD Mas tbm foi bem trabalhoso, ainda prefiro escrever só na terceira pessoa mesmo u__u
Bom, espero que tenham gostado, pq deu MUITO trabalho escrever essa história... sério, passei o dia INTEIRO escrevendo @___@
Deixem reviews por favor! A cada review que você não deixa, um autor morre. Ajude a salvar os autores de fanfics comentando nas histórias! Não deixe os autores morrerem!!
Sayonara ^__^