In Love With The Hero escrita por Jungie


Capítulo 2
Escolha


Notas iniciais do capítulo

Nossa, me empolguei tanto com o prólogo que ele ficou quase do tamanho desse capítulo, haha. Enfim, espero que gostem!



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Era tudo um sonho. Nada mais que um sonho, dizia Jessica a si mesma.


Exceto que não era. Ela podia se beliscar o quanto fosse, mas nada daquilo desaparecia.


Por trás de sua expressão de indiferença, Jessica ria e chorava por dentro ao mesmo tempo. Pois por mais que ter um revólver apontado em sua direção fosse aterrorizante em qualquer situação, não deixava de achar minimamente engraçado o fato de uma menina adolescente de uns quinze anos, pela sua própria estimativa, seja a pessoa que esteja o apontando.


Porém, quando Jessica atreveu-se a olhar no fundo dos olhos daquela garota, um frio percorreu sua espinha.


Adolescentes de quinze anos podiam ser bem assustadoras; bastava observar o número de ameaças de morte que Selena Gomez havia recebido via Twitter só por namorar Justin Bieber para concluir isso, pensou Jessica. Entretanto o olhar daquela garota não era assustador do tipo “eu vou te matar se você beijar meu ídolo”, mas sim do tipo de pessoa que mataria de verdade qualquer um que estivesse em seu caminho.


De repente a situação não parecia mais tão engraçada assim.


E falando (ou melhor, pensando) no ídolo teen, a garota Bieber, como Jessica a havia nomeado em sua mente, retornava à cozinha com a sua enorme bolsa amarela em uma mão e girando a chave de seu carro pelo chaveiro de coelho em outra. Mas quem ela achava que era para invadir seu armário assim?!


– Taeng, você dirige! – Sunny jogou a chave para a amiga, que pegou-a sem sequer olhar na direção de onde vinha o objeto.


– Você não me dá ordens, Soonkyu – Taeyeon encarou a menor e abaixou o revólver, acalmando todo mundo no local; inclusive Sunny, que temia que o mau humor de Taeyeon lhe levasse a fazer algo estúpido. – Mas tudo bem, não é como se você tivesse mais chances de alcançar o pedal mesmo.


– Eu já avisei o Henry, ele está lá fora aguardando o sinal para entrar – disse Sunny, resistindo à vontade de revirar os olhos em resposta à ofensa infantil de Taeyeon.


– Ótimo. Jung, você vem conosco – Taeyeon sinalizou a Sunny para levar Jessica para fora. – E vocês dois – apontou com o revólver para os outros dois funcionários. O cozinheiro tremia tanto que seu chefe achava que ele estava tendo uma convulsão. – Não se preocupem, vocês irão ficar bem. Será como essa última meia hora sequer tivesse acontecido. É só vocês ficarem quietinhos nesse minuto em que ficarão sozinhos aqui...


Taeyeon sorriu em uma tentativa de acalmá-los mas seu estranho e repentino sorriso falso lhe fez parecer uma psicopata, o que não era de jeito algum reconfortante. Sunny não a culpava; sabia que ela estava fora de prática ultimamente.


E então, finalmente as três garotas saíram do Alex’s Dinner, Sunny guiando Jessica delicadamente pelos ombros. A garçonete não sabia o que pensar, exceto em que “jovem universitária é raptada por duas adolescentes sul-coreanas” seria uma ótima manchete para o caderno policial do L.A. Times ou uma premissa para algum filme de terror de baixo orçamento.


Na entrada do bar havia um garoto asiático encostado na parede que parecia ter a mesma faixa de idade de suas raptoras, vestindo jeans e uma jaqueta preta de couro como se fosse o próprio John Travolta em Grease. Ele acenou brevemente e elas então pararam em sua frente. Jessica deduziu que esse deveria ser o tal Henry.


– Tudo correu bem, eu imagino – disse o garoto, sorrindo inocentemente. – Prazer, sou Henry. Espero que as garotas lhe acolham tão bem quanto me acolheram! – ele acenou novamente para Jessica.


– Sem conversa fiada, Henry. Temos um corpo para nos livrar, e dois marmanjos medrosos que podem chamar a polícia a qualquer momento. – Disse Taeyeon friamente.


– Claro, claro – Henry riu. – Bom ver vocês de novo! Espero que as circunstâncias nos permitam sair pra tomar um café da próxima vez.


– Somos dois – Taeyeon deu um sorriso amarelo, significativamente menos assustador que o anterior.


Henry entrou no bar e Taeyeon apertou o botão na chave do carro para descobrir qual era o veículo de Jessica, já que nunca tinha visto-o antes. Ela dirigiu-se então até o único carro dentre tantos outros estacionados na rua que piscou os faróis e destrancou suas portas.


A última coisa que Jessica viu antes de ser arrastada por Sunny até o seu próprio carro foi a placa de entrada do Alex’s Dinner mudando de aberto para fechado, em letras garrafais e vermelhas.


Taeyeon abriu a porta dianteira esquerda e acomodou-se no banco do motorista, enquanto Sunny sentou-se no banco de trás junto com Jessica, que se perguntava se a garota tinha mesmo idade o suficiente para tirar carteira de motorista. Ela deu a partida e começou a dirigir pelas populosas ruas de Los Angeles.


– O Henry é um menino tão simpático, você podia tê-lo tratado melhor! – reclamou Sunny.


– Por quê? Eu não sou íntima do garoto, não preciso tratá-lo como se fosse meu amigo. – Taeyeon retrucou.


– Por quê? Não sei, senso comum, talvez? Aish, você perdeu todas as suas maneiras ultimamente. Não gosta mais de ninguém!


– Eu gosto de você. E da Fany. Da Yoona. Até mesmo da maknae nas poucas vezes em que conversamos – listou Taeyeon. – Agora, você não deveria estar explicando toda a situação para a nossa garota americana ao invés de brigar comigo pela minha completa falta de maneiras?


– Eu posso não ter ido com a cara da garota com o cabelo bicolor, mas ela tem razão. Será que você poderia me explicar, por obséquio, o que diabos está acontecendo aqui? Para onde vocês vão me levar? E o que vai acontecer com o meu chefe?! – perguntou Jessica a Sunny, irritada por estar completamente no escuro sobre o que estava ocorrendo.


Sunny respirou fundo. Com a companhia dessas duas, a viagem já parecia que iria ser bem longa.


– Primeiramente, eu sou Lee Sunny e a garota ranzinza que está dirigindo se chama Kim Taeyeon. E nós... bem... – Sunny coçou o queixo e olhou para cima, como se estivesse procurando palavras para continuar a explicação. – Eu sei que você deve estar bem assustada e com razão, mas...


– Não enrola, Soonkyu! – interrompeu Taeyeon.


– Aish, tá bom! Bem, tenho certeza que você conhece essas histórias de super-heróis, tipo o Superman, ou o Homem-Aranha, os X-Men... – Jessica confirmou com a cabeça. – Então. Elas não são só... histórias...


– O que você quer dizer com isso? – Jessica ergueu uma sobrancelha, confusa. – Você diz que existem pessoas com esses tipos de poderes na vida real? Tipo Heroes, o seriado?


– Eu nunca assisti esse seriado, mas... É, é isso mesmo!


Jessica não respondeu. As três permaneceram caladas por alguns segundos até que a jovem garçonete explodiu em risos e quebrou o silêncio.


– Oh, então quer dizer que daqui a pouco eu posso ver algum cara voando por aí? Ou algum metido a Wolverine vai sair tomando tiros por aí e se regenerando? E você, baixinha, tem o poder de encolher ainda mais e passar pelo buraco da fechadura? – debochou Jessica.


Sunny franziu a testa. Ela já imaginava que Jessica não acreditaria nela de primeira, mas não pensava que ela riria de sua cara. Taeyeon abruptamente parou o carro no acostamento e virou-se.


– Olha, Jung – Taeyeon encarou Jessica. – Tudo bem você não acreditar na gente, agora tirar uma da cara da Sunny já é demais. Aquele não é o último maluco com uma arma que vai vir atrás de você e acho que seria do seu interesse saber o motivo.


Jessica imediatamente parou com as risadas e se encolheu depois do olhar ameaçador da menor. Se havia algo que tinha aprendido nessa última hora era que com a tal Kim Taeyeon não se brincava.


– Pelo menos pra alguma esse seu jeito carrancudo serve! – disse Sunny, agora mais confiante. – É o seguinte, Jessica. Eu vou te explicar melhor quando estivermos em Seul, mas...


SEUL?! Como assim, nós vamos para Seul?!


– ...mas o caso é que você também possui esses poderes especiais, assim como eu, a Taeyeon e mais seis garotas que moram junto com a gente – continuou Sunny, ignorando o ataque de Jessica.


– Tá, isso tudo é muito legal, mas eu não posso ir para Seul! Como que os meus pais vão me autorizar... E a faculdade! Eu não posso deixar a faculdade assim, é quase um suicídio profissional!


– E você acha que viajaríamos até o outro lado do mundo sem um plano? – intrometeu-se Taeyeon, que havia parado em um sinal. – Sabe aquele carinha simpático que eu, de acordo com minha querida amiga Sunny, poderia ter tratado melhor? – Jessica balançou a cabeça. – A habilidade dele é o incrível poder de modificar memórias. Ele pode tanto apagá-las quanto criar novas, e foi exatamente isso que ele fez com seu chefe, sua família e seus amigos mais próximos, além de algumas outras pessoas que eram cruciais ao nosso plano.


– Resumindo... – disse Jessica, que ainda não havia processado inteiramente a informação.


– Todos pensam que você transferiu o curso para a Coréia do Sul – Taeyeon enfiou o pé no acelerador.


– Uau – Jessica havia entrado em um semi-estado de choque. – E qual... qual seria o meu suposto poder?


– Essa é uma pergunta que é você quem terá que responder – disse Sunny. – Essas coisas são como a puberdade, sabe? Para alguns acontece mais cedo e para outros, mais tarde. No seu caso, bem mais tarde.


Jessica mantinha os dedos entrelaçados e o olhar fixo no banco da frente enquanto balançava a cabeça para cima e para baixo lentamente, sem saber muito o que dizer. De repente, como se tivesse despertado de um transe, apontou o indicador direito para Sunny, ergueu as sobrancelhas e disse:


– Tem algo muito errado aí! Como vocês esperam que eu acredite em toda essa história de poderes se vocês nem me provaram que eles existem? Quem me garante de que vocês não são só duas loucas maníacas que querem... sei lá, roubar meus órgãos e venderem-nos clandestinamente em algum mercado negro na China?!


– Mas que garota irritante! – Taeyeon parou o carro novamente no acostamento, desta vez em frente a um beco. – Está vendo aquela lata de lixo no fundo?


– Estou, mas o que isso tem a...


Jessica assustou-se quando a lata de lixo repentinamente tombou no chão e veio rolando a toda velocidade na direção do carro, espalhando tudo o que havia dentro dela e emporcalhando o beco. A lata então rolou de volta para o exato lugar onde estava, tudo isso em questão de segundos.


– Isso, minha amiga, se chama telecinese – disse Taeyeon, com o braço estendido em direção à janela direita do carro. – E eu espero que seja o suficiente para que você acredite em nós agora.


Em 22 anos de vida, Jessica Jung nunca havia visto algo como aquilo. Talvez apenas em seu aniversário de sete anos, em que seus pais chamaram um mágico para entreter seus coleguinhas com uns truques baratos e um fio de nylon – mas Taeyeon não era uma farsa ou uma ilusionista como os da TV. Aquilo sim era real, a não ser que fosse uma pegadinha muito bem elaborada.


– Pode ir pegar suas malas e se despedir da sua família, pois não vamos voltar por um bom tempo. E não demore! Nosso voo sai daqui a aproximadamente três horas, temos de estar no aeroporto com antecedência.


Jessica estava tão impressionada e perdida em seus devaneios que apenas a voz fria de Taeyeon lhe fez perceber que o carro estava estacionado na frente de sua casa. Saiu sem nem sequer fechar a porta traseira e correu até a entrada do lugar de dois andares. Jessica tocou a campainha incessantemente ao perceber que havia esquecido a chave em sua bolsa devido à tamanha pressa com que saiu do carro.


Não demorou muito para que sua mãe atendesse a porta, esfregando seus olhos inchados e vermelhos. Krystal estava logo atrás, sentada em uma grande mala vermelha, enxugando as lágrimas e soluçando.


– F-filha, aqui estão as suas coisas – uma lágrima escorreu pelo rosto da Sra. Jung, que gesticulava para que sua filha mais nova saísse de cima da mala. – Queria que tivéssemos mais tempo para nos despedir, mas você não pode se atrasar...


Jessica estava sem reação. A ficha de que iria viajar para o outro lado do mundo e ficar longe de sua família por um bom tempo, segundo as palavras de Taeyeon, só havia caído no momento em que viu as duas pessoas mais importantes de sua vida chorando feito crianças. Aquela definitivamente não era a despedida que havia imaginado.


– Cadê o papai? – perguntou Jessica, sentindo falta do chefe da família.


– Seu pai infelizmente teve de trabalhar até tarde hoje – disse a Sra. Jung desviando o olhar. – Disse que sentirá sua falta e desejou-lhe sorte na Coréia.


Jessica balançou a cabeça; é claro que seu pai não estava lá. Era como se ele fizesse esforço todos esses anos para ser o pai mais ausente possível.


– Sooyeon-ah... – veio uma voz fraca detrás da Sra. Jung. Jessica não conseguiu segurar as lágrimas ao abraçar Krystal e ver sua irmã tão frágil daquele jeito.


– Vou sentir sua falta, pequena – Jessica abraçou sua irmã tão forte a ponto de sufocá-la, mas Krystal não ligava. Era a última vez que veria a sua unnie em um longo período, afinal. – Promete que vai cuidar bem da mamãe?


– E você promete que vai visitar assim que puder? – disse Krystal, suas lágrimas caindo ainda mais.


– É claro.


Jessica esticou o mindinho direito para Krystal e a mais nova entrelaçou o seu dedo com o da irmã, selando ambas as promessas.


– Quem vai levar você até o aeroporto, minha filha? – disse a Sra. Jung, já mais calma. – E por que você vai de uniforme?


– Er, duas... amigas... – Jessica não sabia muito bem como se referir a Sunny e Taeyeon. Sua mãe não iria reagir muito bem se falasse que duas completas estranhas seriam suas guias até o outro lado do mundo. – Eu vou trocar de roupa quando chegar ao aeroporto.


– Oh, tudo bem... Você nos liga quando chegar?


– Ligo sim – deu um sorriso triste em meio às lágrimas. – Queria ficar mais um pouco... Aliás, eu queria não ir, mas é algo que eu tenho de fazer – Jessica levantou o puxador da mala e deu um beijo na bochecha da Sra. Jung. – Tchau mãe, tchau Krystal... saranghaeyo.


As palavras que disse ao sair de casa foram as mesmas usadas naquela manhã, porém com sentimentos bem distintos por trás delas. Jessica tinha a imagem de pessoa fria e estóica, mas a verdade é que não tinha ideia do que fazer sem a sua família por perto. Cada passo que dava em direção ao seu carro era mais um passo em direção ao desconhecido.


E as lágrimas não paravam de cair.


Abriu o porta-malas do carro, retraiu o puxador e jogou sua mala dentro de qualquer jeito, sequer se importando se o peso iria danificar algo. Abriu a porta traseira esquerda e praticamente jogou-se no banco, fechando a porta com força.


– Não tem geladeira na sua casa, Jung?


– Taeyeon, sem piadinhas agora! Mete o pé nesse acelerador que temos que estar no aeroporto logo! – disse Sunny, irritada com a insensibilidade de Taeyeon.


– Como quiser, senhorita Lee! – a mais velha respondeu em tom sarcástico.


Sunny percebeu que Jessica estava chorando e tentou passar um braço em volta de seus ombros para oferecer-lhe conforto. Jessica no início se afastou, mas depois encostou a cabeça no ombro de Sunny e permitiu as lágrimas caírem livremente. Permaneceram assim por alguns minutos, até que de repente Jessica levantou a cabeça e gritou:


– Por que vocês estão me separando da minha família desse jeito?! Elas não podiam vir comigo, ou... vocês mandam o tal Henry nos proteger ou algo assim?!


Em adição ao medo e tristeza, Jessica agora chorava também de raiva e frustração. Pela terceira vez no trajeto Taeyeon parou o carro ao lado da calçada e virou-se, olhando bem fundo nos olhos de Jessica.


– Oh Jessica Jung, se você pensa que o mundo gira ao seu redor, está muito enganada. Esse é um assunto muito maior do que imagina, e na nossa situação atual é completamente inviável mandar guarda-costas particulares só porque vai sentir falta da mamãe.


– Taeyeon! – Sunny tentou impedir a amiga de enfurecer Jessica ainda mais, porém não adiantou quando ela continuou a falar.


– Somos oito jovens garotas da mesma faixa etária que você e deixamos nossos lares para trás muito mais cedo. Tenha em mente que sua família corre perigo se você estiver junto deles, já que provavelmente tem pessoas em uma busca frenética por você, por motivos que eu prefiro revelar quando tiver certeza que estamos em um local seguro.


Jessica estava ofegante. O ódio por Taeyeon só crescia cada vez mais, e ela já não tinha tanta certeza de que iria conseguir aguentar sequer olhar para sua cara em um voo de onze horas até Seul.


– Eu prefiro que você corra perigo junto de nós, que temos como lhe proteger e ajudá-la a desenvolver suas habilidades do que aqui nos Estados Unidos, onde você muito provavelmente seria capturada sem muito esforço. Mas se você quiser ficar, tudo bem. Pode voltar para sua casa.


A mão de Jessica repousava na alavanca para abrir a porta do carro e Taeyeon a encarava enquanto ela soluçava incontrolavelmente.


– Jessica... – sussurrou Sunny.


Ela hesitou por alguns segundos, até que retraiu sua mão e enfiou o rosto no pescoço de Sunny, encharcando o colarinho da camiseta da menor. Taeyeon voltou sua atenção para a rua e acelerou novamente, observando as duas pelo retrovisor com um olhar satisfeito.


– Fez uma boa escolha, Jung.


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Notas finais do capítulo

Reviews são muito bem-vindos! E peço desculpas aos leitores de Starry Eyed, mas por enquanto as minhas atenções estão voltadas para essa fic aqui. Mas não se preocupem que eu ainda a atualizarei. =)