In Love With The Hero escrita por Jungie


Capítulo 13
Reencontro


Notas iniciais do capítulo

Nossa, tenho tanta coisa pra falar. Primeiramente gostaria de agradecer muitíssimo às novas leitoras que não se intimidaram com o tamanho da história e ainda tomaram tempo pra deixar um review. Estou muito feliz com os comentários que ando recebendo e nunca estive tão motivada a continuar. Principalmente depois de uma recomendação linda que recebi da Nicole Abrahao, agradeço muito mesmo por ela. Também tenho um comunicado não tão bom que eu vou falar lá nas notas finais pra não tomar muito espaço.
Espero que curtam mais esse capítulo grandão!



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– Senhor Kwon, ela já está aqui. Posso mandá-la entrar? – perguntou o velho mordomo com incerteza em sua voz.


– Por favor, Jihoon. – Respondeu friamente.


Jihoon fez força para abrir a grande e pesada porta da biblioteca da mansão dos Kwon, dando passagem a uma garota de aparência frágil e inocente, tão jovial que parecia ter acabado de entrar na fase da adolescência. Estava deslumbrada com a grandiosidade do lugar, observando as enormes estantes que guardavam uma quantidade incalculável de livros. Por um momento havia esquecido o que deveria estar fazendo ali, distraindo-se com o pensamento de ter tantas obras disponíveis para si.


– IU. – Disse o jovem Kwon, encarando a menina com seu olhar gélido.


– Jiyong. – Respondeu ela após ser trazida novamente à realidade.


– Quantas vezes já disse para não me chamar assim...? – suspirou, passando uma mão em seus cabelos loiros platinados.


– Francamente, soa um pouco estranho lhe chamar de G-Dragon – deu de ombros. – E um pouco ridículo também – murmurou tão baixo que o outro não pôde ouvir.


– Não precisa ser G-Dragon. Apenas GD basta – aproximou-se de IU. – Combina com seu novo nome também.


– Eu não gosto do meu novo nome – franziu a testa.


– Que pena, pois terá de se acostumar a ele enquanto estiver sob meus cuidados – GD bagunçou os cabelos de IU.


– O que você quer comigo, hein? – IU bufou com o gesto de GD.


– Eu quero que você participe do ataque surpresa que estou planejando.


– Contra quem, exatamente?


– Ora, você sabe contra quem – abriu um largo sorriso.


– Eu não vou! – bateu o pé. – Pensei que havia me dito que eu trabalharia apenas nos bastidores. Não estou interessada em ir à linha de frente!


– E eu pensei que nosso trato ainda continuava de pé? – o sorriso de GD desapareceu imediatamente. – Você faz o que lhe é dito, eu lhe dou casa, comida e conforto e ela morre sem sofrimento algum. Esqueceu disso?


IU calou-se, encarando o chão perfeitamente lustrado da biblioteca. Seus dedos estavam entrelaçados e mexia rapidamente os polegares em sinal de nervosismo.


– E então? – GD segurou o rosto de IU e a forçou a levantar a cabeça.


– Eu irei. – Cedeu, mesmo contrariada.


– Ótimo! – o sorriso retornou ao seu rosto tão rapidamente quanto desaparecera. – Não se preocupe, isso vai ser apenas uma mensagem. Sou desses que gosta de brincar com a comida antes de devorá-la – deu uma risada astuta.


IU deu um suspiro longo e profundo. Aquele definitivamente não era mais o mesmo GD – ou melhor, Jiyong – que havia conhecido há tantos anos atrás. O rapaz de sorriso fácil e um grande coração havia dado lugar a um homem frio e calculista. Imaginava o que sua falecida irmã mais velha pensaria sobre a transformação de seu querido dongsaeng.


– Quais serão os meus parceiros dessa vez?


– Por enquanto, apenas CL. Não queria mandar Buck ou Taec, talvez os sentimentos de vingança ainda estejam frescos demais.


– Chaerin? Ela é louca... – resmungou.


– Talvez deva levar Suzy. Ela não vai ser lá muito útil, mas seria bom para você ter uma amiga junto, não é?


– É, acho que sim.


– Er, com licença, senhor – Jihoon apareceu novamente na porta, parecendo constrangido de ter interrompido a conversa. – A senhorita Lee também está aqui e quer entrar. E tem um garoto que insiste ter marcado hora com o senhor, mas não me lembro de tê-lo visto antes!


– Ah, é o meu garoto de ouro! – GD abriu um sorriso sinistro. – Pode deixá-lo entrar sim, Jihoon! E CL também.


O mordomo assentiu e retirou-se, dando passagem dessa vez a uma garota um tanto diferente de IU: seus cabelos loiros estavam amarrados em um rabo de cavalo, vestia uma calça jeans rasgada e uma jaqueta preta de couro e tudo nela exalava um ar de superioridade. Deu um pequeno sorriso e um leve aceno de cabeça em cumprimento a GD e IU.


– CL! – exclamou GD, parecendo feliz em vê-la. – Espero que não tenha se esquecido da pequena missão que lhe dei. IU e Suzy irão acompanhá-la nesta.


– IU... e Suzy? Vocês vão fazer o quê? Dar apoio moral enquanto eu encho a cara dela de porrada? – deu uma risada debochada. – Mas tudo bem. Será legal ter uma noite só de garotas.


IU franziu a testa e torceu o nariz, obviamente incomodada com o comentário. Preparava-se para revidar quando uma voz serena e completamente desprovida de qualquer emoção ecoou pela biblioteca.


– Você devia escolher melhor seus mordomos.


Ao olhar para trás, as duas garotas se depararam com um garoto meio franzino, que aparentava ter a mesma faixa etária que IU. Suas madeixas vermelhas quase caíam sobre os olhos e seu rosto era delicado, até mesmo um pouco feminino, porém seu olhar causava uma impressão bem diferente de seus atributos físicos.


IU já vira aquele olhar antes. Em Jiyong, em Chaerin, em Taecyeon. Era um olhar assassino, de alguém que não mediria esforços até conseguir seu objetivo por mais cruéis que fossem os métodos.


– Jihoon está conosco desde que eu era pequeno, não vou despedir o pobre senhor – riu. – Mas lamento se ele foi relutante em deixá-lo entrar. Receio que a culpa tenha sido minha, provavelmente devo ter esquecido de lhe avisar.


– Ok. – Respondeu, mal abrindo a boca.


– Garotas, conheçam Lee Taemin. Ele meio que já estava trabalhando conosco à surdina, mas a partir de hoje ele fará oficialmente parte desta equipe e morará junto conosco na mansão – disse GD com um sorriso orgulhoso. – E ele também irá acompanhá-las na missão.


– Ah, GD! Vai atrapalhar nossa noite de garotas? – manifestou-se CL. – Se bem que ele pareceria mesmo uma garotinha se deixasse o cabelo crescer. Então Taemin, o quanto você sabe lutar?


– O suficiente. – Respondeu Taemin, com um pequeno sorriso nos lábios. IU sentiu calafrios; sua aura era um tanto sinistra e maligna para um garoto de sua idade.


– Então a equipe está formada. Não se empolguem meus caros, a intenção é apenas mandar uma pequena mensagem... – GD balançou a cabeça, sério. – Estão dispensados. E IU?


– Hm? – virou-se, seus olhos encontrando o olhar gélido de GD.


– Não estrague tudo.


IU engoliu em seco. Considerando quem estaria prestes a encontrar, as chances de isso acontecer não eram poucas.


– Pode deixar, chefe.


–--------------------


Taeyeon encostou a cabeça na parede da fachada da casa e suspirou, brincando distraidamente com um elástico nas mãos. Olhou para o céu e viu os pontos brilhantes enfeitando-o como luzes em uma árvore de Natal. Lembrava que há muitos anos atrás, uma de suas professoras havia lhe dito que a forte iluminação da cidade ofuscava as estrelas, tornando-as de difícil visualização. Mas Taeyeon sentia que aquela era uma noite diferente, já que mesmo com os inúmeros postes iluminando a rua, o céu parecia excepcionalmente estrelado.


Sorriu ao conseguir identificar duas ou três constelações sem muito esforço. Quando era mais jovem, observar estrelas era o seu passatempo preferido. Desde pequena já tinha um peculiar interesse em astronomia enquanto as outras crianças sonhavam em serem médicas, advogadas ou engenheiras; devido a isso e à racionalidade incomum para sua idade que possuía, seus professores costumavam dizer que Taeyeon era a menina com a mente na Terra e a cabeça nas nuvens.


Mas seu interesse por astronomia não era a única razão pela qual gostava de admirar os corpos celestes a milhares de anos luz de distância. Taeyeon gostava da tranquilidade e quietude, que lhe proporcionavam o momento ideal para pensar. Por mais que silenciosamente apreciasse a presença de suas irmãs e amigas, não perdia a oportunidade de ficar sozinha com seus pensamentos.


Infelizmente, seus momentos de introspecção quase nunca duravam muito. Por toda a sua vida havia morado com tantas pessoas ao redor que eventualmente alguém sempre ia importuná-la.


– Ei, Taeng!


E desta vez não seria diferente.


– Oi – respondeu secamente, não tirando o foco do céu estrelado. Apenas notou a identidade da “intrusa” quando ela sentou-se ao seu lado, encostando a cabeça em seu ombro. – Ah, é você.


– Desculpe se estiver lhe incomodando – disse Sunny. – Irei embora se quiser.


– Você não é incômodo algum – disse Taeyeon sinceramente. Sunny sempre fora a sua companhia preferida, afinal. – Mas por que está aqui? Poderia estar fazendo algo mais divertido em vez de ficar olhando as estrelas com a ahjumma rabugenta aqui.


– Faz um tempinho que não temos um momento a sós para conversar, sabe? Achei que essa fosse uma boa oportunidade.


– Certo – Taeyeon sorriu e botou o braço ao redor dos ombros de Sunny, trazendo-a para perto de si. – Sobre o que você quer conversar?


– Hum... que tal você me dizer o que se passa aqui? – Sunny cutucou levemente a cabeça de Taeyeon.


– Ah, muita coisa. O suficiente para deixar Seohyun exausta caso ela tente vasculhar minha mente – riu. – Porém ando pensando muito nessa última semana que se passou. Da minha pequena aventura de encarar a morte de frente e sair assobiando com uma mão nas costas.


– Parece que você e Jessica estão se dando bem agora?


– Por que o assunto “Jessica” sempre tem de surgir quando falam comigo esses dias? – franziu a testa.


– Digamos que se aqui fosse o Twitter, vocês seriam um dos Trending Topics. – Sunny riu da sua pequena analogia. – Qual seria o nome de vocês? JessYeon? TaeSica?


– TaengSic soa melhor – disse Taeyeon sem pensar. Ela logo levou uma mão à testa, rindo envergonhada de seu próprio comentário. – Aish, do que eu estou falando!


– Você nunca a odiou de verdade, não é?


– Odiar é uma palavra forte. Eu não odeio nem mesmo os meus pais adotivos, por que odiaria uma garota que nunca me fez nada?


– Deixe-me reformular a pergunta – Sunny inclinou a cabeça ainda mais no vão do pescoço de Taeyeon. – No fundo você sempre gostou dela... não é?


– Por que você quer saber? – disse, defensiva.


– Respondeu minha pergunta com outra pergunta. Sinal de que eu estou certa.


– Soonkyu! – choramingou. – Assunto encerrado, ok?


– Tudo bem, tudo bem – Sunny tirou o braço de Taeyeon de seus ombros e levantou-se. – Está frio, vou tomar um chocolate quente. Quer que eu traga um para você?


– Não será preciso – Taeyeon se levantou em seguida e enfiou as mãos nos bolsos da jaqueta de moletom que vestia. – Eu vou dar uma volta por aí, talvez eu dê uma parada na praça. Gosto de ficar lá.


– Taeyeon... – tanto o olhar quanto o tom de Sunny eram de preocupação. Afinal, as duas sabiam muito bem o que havia acontecido na última vez em que Taeyeon saíra à noite na rua.


– Dessa vez eu não estou bêbada, prometo que ficarei bem. – Taeyeon beijou a testa de Sunny. – E não está tão tarde, então as ruas não estarão desertas. E levarei o celular – tirou o aparelho de dentro do bolso. – Ficarei longe de becos e lugares escondidos, não darei atenção se chamarem meu nome...


– Tá, já entendi que você vai tomar cuidado – sorriu. – Até mais, Taeng.


Despediram-se e tomaram caminhos opostos: Sunny voltou para o conforto de sua casa e Taeyeon seguiu em frente pela calçada da rua, não sem antes prender seu cabelo em um pequeno rabo de cavalo com o elástico que segurava e cobrir a cabeça com o capuz da jaqueta para dificultar sua identificação. Queria prestar atenção no belo céu estrelado, mas andou com a cabeça baixa durante o trajeto inteiro. Não iria abusar da sorte.


Uma caminhada de cinco minutos fora o suficiente para que Taeyeon alcançasse seu destino. A única praça da vizinhança estava um tanto deserta, o que havia achado incomum para uma noite de sexta-feira. Estranhou não ter encontrado os jovens que geralmente utilizavam o lugar como ponto de encontro antes de festejarem madrugada adentro, ou casais que poderiam muito bem ter aproveitado o cenário romântico para namorar. O relógio sequer havia marcado dez horas da noite e as únicas pessoas que cruzavam seu caminho eram alguns poucos pedestres que estavam de passagem.


Taeyeon percebeu que a sorveteria que costumava frequentar quando visitava a praça ainda estava funcionando, mesmo com a falta de movimento. Tirou a única cédula que tinha no bolso e foi até o balcão, deparando-se com um homem desconhecido ao invés do simpático senhor que às vezes lhe dava uma bola de sorvete de graça. Provavelmente seu filho, a julgar pelas características físicas semelhantes; era mais jovem, mais forte e mais capacitado para tomar conta do lugar àquela hora da noite.


Botou a cédula no balcão e pediu um sorvete de morango, seu sabor predileto. Apenas quando estava com a casquinha em mãos percebeu que era uma ideia um tanto idiota tomar algo gelado quando o tempo estava frio, mas em sua opinião, mais idiota ainda seria desperdiçar um delicioso sorvete de morango. Sentou-se em um dos bancos e começou a degustá-lo, observando o movimento na praça – ou melhor dizendo, a falta dele.


Devorou o sorvete e a casquinha em poucos minutos e jogou o guardanapo com qual o envolvia em uma lixeira próxima, passando a língua ao redor de seus lábios para saborear os vestígios de morango. Suspirou e enfiou as mãos no bolso da jaqueta novamente, pronta para voltar para casa. Não fazia sentido ficar sentada em um banco para observar uma praça vazia, e não era bom para ela permanecer em lugares desertos por muito tempo.


Mal havia se levantado quando percebeu a presença de alguém ao seu lado.


– Olá, Taeyeon – disse uma voz feminina.


Taeyeon gelou. Não era possível que teria gente no seu encalço toda vez que botasse um pé para fora de casa.


– Lamento, você deve ter me confundido com outra pessoa. – Taeyeon engrossou levemente a voz para tentar despistar a mulher.


– Não, tenho certeza de que você é a Taeyeon – abriu um sorriso que não parecia nada amigável. – Um passarinho me contou que Kim Taeyeon tem certa preferência por sorvete de morango.


– Eu também tenho, mas nem por isso sou essa tal de Kim Taeyeon. – Ajeitou o capuz e andou ainda mais rápido.


– Você acha que eu nasci ontem, garota?!


Taeyeon sentiu o ar lhe sendo arrancado dos pulmões quando recebeu um chute devastador nas costas. Caiu de joelhos no chão, punhos cerrados e prontos para mais uma batalha. Graças aos seus instintos evitou mais um ataque, rolando para o lado antes da sola do pé da misteriosa mulher colidir novamente com o seu corpo.


– Quem é você?! – Taeyeon rapidamente levantou-se. O capuz já não encobria mais sua cabeça e ela sequer se importou em recolocá-lo, já que não havia mais razão para isso.


– Pode me chamar de CL.


CL abriu um sorriso maléfico e partiu novamente para cima de Taeyeon, atacando-a com uma sequência de socos e chutes em locais estratégicos. A menor se defendia e se esquivava com maestria, aproveitando até mesmo as mínimas brechas que a loira dava para um contra-ataque.


Taeyeon mentalmente congratulou a si mesma ao acertar um belo soco no lado direito do rosto de CL, desorientando-a por breves segundos. Só então percebeu que definitivamente tinha algo de errado ali. Como duas jovens que se digladiavam tão ferozmente no meio de uma praça pública não haviam chamado a atenção de nenhum cidadão que passava pelo local? Olhou para a sorveteria e viu as luzes ainda acesas e o homem ainda no balcão olhando diretamente para o lugar em que estavam, porém não esboçando reação alguma.


Não teve tempo para terminar sua linha de pensamento quando viu uma grande e pesada pedra voando em sua direção. Para sua sorte, ela passou direto e aterrissou na grama fofa, fazendo um buraco na região em que caiu.


– Telecinese...?! – murmurou incrédula.


– Não pense que irá levar vantagem nesta luta, Kim – disse CL, massageando a área do rosto que fora atingida pelo punho de Taeyeon. – Você não é a única especial por aqui.


– E isso não significa que eu perdi – deu um sorriso convencido. – Apenas que eu vou ter que sujar um pouquinho mais as mãos.


Taeyeon devolveu a pedra que CL havia jogado, mirando apenas em seu estômago. Não pretendia acabar com a luta, ainda tinha perguntas importantes para fazer à loira. CL apenas desviou o objeto sem muito esforço utilizando-se também da telecinese, porém não contava com aquilo ser apenas uma distração. Bloqueou instintivamente o soco que Taeyeon pretendia dar no outro lado de seu rosto, usando a outra mão para puxar o braço da menor e trazê-la para perto de si. Seus rostos estavam tão próximos que CL podia sentir a respiração ofegante de Taeyeon em sua face.


– Como os outros não conseguem nos ver? – perguntou Taeyeon.


– É um segredinho – sussurrou CL.


Retomaram a sequência de socos e chutes, ambas ora defendendo-se, ora atacando com vigor. Taeyeon parecia estar levando a melhor; por ser menor e mais leve tinha a vantagem de ter uma agilidade maior e, portanto, mais facilidade para desviar-se dos golpes. CL já estava começando a cansar e com isso diminuía a velocidade de seus movimentos, facilitando ainda mais para Taeyeon.


– Nada mau – CL afastou-se, ofegante. – Mas infelizmente teremos que terminar isso agora. Taemin!


Taeyeon olhou freneticamente para os lados, esperando um ataque surpresa de algum aliado de CL, porém nada veio. A loira apenas a olhava com um ar de desdém, completamente desprotegida e vulnerável a qualquer ataque. Alguma coisa não lhe cheirava bem.


E então, logo a sentiu. Uma sensação de queimação que começava dos dedos dos pés e ia até a cabeça. Era como se suas entranhas tivessem repentinamente se inflamado e seu corpo todo estivesse em chamas. Ajoelhou-se e começou a gritar. Gritos desesperados, gritos de horror. Mas sabia que ninguém iria lhe socorrer. Ninguém poderia.


As botas de couro adornadas por espinhos de metal de CL entraram em seu campo de visão e então sentiu um doloroso chute em seu rosto. Os espinhos provavelmente fizeram um belo estrago em sua face, porém não conseguia diferenciar a dor dos ferimentos da ardência insuportável que sentia. Seus gritos passaram a ser meros grunhidos e murmúrios de sofrimento.


CL levantou-lhe sem dificuldades e Taeyeon pôde ver o que havia em sua mão. Uma bela faca de prata.


“De novo não...”, pensou Taeyeon.


E quando a dor já era cruel demais para ser suportada, sentiu o golpe afiado em sua barriga.


E então desmaiou.


–--------------------


– Não sei nem por que GD insistiu que vocês viessem. Foram completamente inúteis. – Disse CL secamente.


– Talvez ele só tenha sido precavido – respondeu timidamente a garota alta de cabelos negros. – A habilidade de IU poderia ser útil caso alguma coisa desse errado. E se alguém se machucasse, eu estaria aqui.


– Completamente inúteis – repetiu CL. – Você realmente acha que eu precisaria da sua cura? É como GD estivesse subestimando minhas habilidades de luta!


– Não sei se GD o fez, mas eu estou – interveio Taemin, ofegando como se tivesse acabado de correr uma maratona. – Você demorou demais. Eu não deveria estar cansado desse jeito.


– Não é minha culpa se você não consegue manter seu poder por muito tempo, novato.


– Ah, a culpa é toda sua sim. Até parece que isso iria dar certo se não fosse por mim, você claramente estava apanhando da baixinha – a irritação na voz de Taemin crescia.


– Cala a boca, seu pirralho filho da puta! – exclamou CL.


Taemin calou-se, porém não por se sentir ameaçado por CL, e sim pela sua lealdade a GD. Sabia que o chefe a considerava uma das suas mais preciosas aquisições.


– Vamos indo. – Disse ela.


– Vocês podem ir à frente – disse IU. – Eu queria falar algo com Suzy... à sós. Sabemos o caminho, logo estaremos atrás de vocês.


– Tá, só não morram ou coisa assim – CL revirou os olhos. – Vamos, novato.


Suzy e IU observaram Taemin e CL se afastarem, e então a pequena jovem puxou sua amiga para o beco de onde haviam acabado de sair. Lá se encontrava Taeyeon, inconsciente, porém ainda respirando.


– Eu quero que você a cure, Suzy.


– Mas... eu... será que tenho permissão para fazer isso? – perguntou ela, apreensiva.


– Nas palavras do GD, nós deveríamos mandar apenas uma mensagem. Estou certa de que isso não deve incluir deixá-la sangrando até a morte. – IU ajoelhou-se ao lado de Taeyeon. – Por favor? Não pense nisso como uma ordem, mas sim um pedido de amiga.


– Certo...


Suzy abaixou-se no outro lado do corpo de Taeyeon e botou a mão sobre o seu ferimento da barriga. Fechou os olhos e concentrou-se, restaurando os tecidos que foram feridos por CL. Logo após fez o mesmo com os machucados de seu rosto e em ferimentos menores em outras partes do corpo. Diferentemente das vezes em que havia sido curada por Tiffany, Taeyeon manteve a mesma expressão serena.



– Muito obrigada mesmo, Suzy.


– Não há de quê – sorriu ao ver o olhar de gratidão de sua amiga. – Mas por que você quis que eu a curasse? CL teve o cuidado de ferí-la em um ponto não vital, e ainda foi meio superficial.


– Digamos que eu tenha... assuntos inacabados com ela.


IU afastou a franja de Taeyeon de sua testa e a acariciou carinhosamente. Segurou uma das mãos tão frágeis e pequenas quanto a sua própria e inclinou-se na direção de seu rosto, selando delicadamente seus lábios com os dela.


– IU... – Suzy estava surpresa com o gesto da amiga. Sabia que ela tinha alguma ligação com Taeyeon no passado, mas não desconfiava que tinha sido algo tão forte.


IU afastou-se e deu um longo suspiro. Despediu-se com um beijo na testa e um pedido de desculpas.


– Não queria que as coisas tivessem sido assim... – IU levantou-se e lançou um último olhar a Taeyeon antes de sair do beco acompanhada por Suzy.


Poucos minutos depois, Taeyeon abriu os olhos.


Sentia-se paralisada. O único movimento que fora capaz de realizar foi umedecer os lábios secos e rachados. Sentiu um gosto peculiar; não era sorvete, e muito menos sangue.


Era aquele familiar gloss de morango.


Tudo passou em um flash. As primeiras confissões, os beijos roubados, as noites que passavam trocando juras de amor inocentemente. E aquela última noite não tão inocente. A que deveria ser uma das mais felizes de sua vida, seguida por uma manhã seguinte devastadora. A manhã em que seu primeiro amor havia partido para sempre de sua vida.


Ou era o que ela pensava até aquele momento.


– Jieun... – murmurou, sentindo o gosto salgado das lágrimas que escorriam pelo seu rosto. Não conseguia aceitar que justo ela estava do lado do inimigo. – Por que...?


O mundo de Taeyeon havia completado um movimento de rotação em questão de segundos. E agora com uma estrela a mais em sua órbita.
E naquele beco escuro, Taeyeon chorou como nunca havia chorado antes.


–--------------------


Jessica observava a rua escura do lado de fora da casa, sua mão apertava a fechadura da porta semiaberta com firmeza. Maldita Taeyeon, por que insistia em correr perigo novamente quando mal havia se recuperado do ferimento anterior?!


Botou apenas a cabeça para dentro e viu Sunny cochilando no sofá da sala. Tinha prometido à pequena que iria permanecer junto dela em sua espera pela líder, revezando na vigília do outro lado da porta. Haviam combinado que sairiam em busca de Taeyeon caso ela demorasse mais de uma hora e meia para voltar; de acordo com o relógio de parede da cozinha, já fazia quase três horas desde que ela havia partido e Jessica sequer se importou de avisar Sunny. Não queria perturbar o sono da menor e ainda não estava com a mínima disposição para sair pela rua naquele frio.


Para piorar a situação, grandes nuvens negras ameaçavam despejar uma forte chuva sobre a cidade que a forçaria a encerrar sua vigília. Jessica estava prestes a desistir e voltar para o conforto de sua cama quando viu uma figura familiar do outro lado da rua.


– Aí está aquela baixinha maldita... – murmurou.


Mas havia algo de errado com Taeyeon. Observou de longe a garota sentar-se no meio-fio e afundar o rosto nas próprias mãos, tremendo. Parecia até mesmo mais vulnerável do que em uma cama de hospital. Permaneceu por vários minutos na mesma posição. Jessica debateu brevemente consigo mesma se deveria atravessar a rua e enfrentar o frio para arrastá-la até dentro de casa ou apenas gritar por ela, correndo o risco de acordar a vizinha chata que tinha aversão a qualquer tipo de barulho. Escolheu, é claro, a opção mais cômoda.


Porém Taeyeon não deu atenção e continuou parada do mesmo jeito. Jessica a chamou duas, três vezes, mas não recebia nenhuma reação. Bufou, já sabendo que teria de realizar a outra opção. Caminhou em passos largos e pesados até o outro lado, parando na frente da figura encolhida.


– E aí, não vai entrar?


Taeyeon esfregou o rosto com os pulsos, ainda de cabeça baixa. Logo após olhou para Jessica com um sorriso torto e os olhos avermelhados.


– Oi Sica! – levantou-se quase que em um salto, jogando os braços ao redor do pescoço de Jessica e a envolvendo em um forte abraço.


– Taeyeon, você está bêbada?


Uma pergunta retórica; era óbvio que estava bêbada. Se o seu comportamento não tivesse entregado o seu estado de embriaguez, o forte cheiro de álcool com certeza iria.


– Hã... talvez um pouquinho... – quebrou o contato com Jessica. – Eu acho que eu não...


Taeyeon não conseguiu completar a frase antes de virar o rosto e vomitar na calçada.


– ...não estou muito bem... – limpou a boca com a manga da jaqueta.


– É claro que não está bem! Você encheu a cara! – exclamou. – E ainda estava chorando... não lembra mais do nosso trato?!


– Você pode me dar quantos socos você quiser – disse em um tom estranhamente alegre. – Eu acho que mereço todos eles.


Jessica se contentou com apenas um.


– Ai... – Taeyeon gemeu de dor e abaixou a cabeça, seus cabelos escondendo o rosto. Quando a ergueu, Jessica viu o sangue em seu lábio e arrependeu-se imediatamente de tê-la golpeado.


– Droga, não devia ter sido tão forte assim... Me desculpe, Taeyeon...


– Tudo bem – deu de ombros e abriu um sorriso triste. – Eu... eu não me sinto bem, Jessica. E não é só por causa do álcool...


Taeyeon se desfez em lágrimas, seu corpo inteiro balançava a cada soluço. Jessica tomou-a em seus braços e acariciou seus cabelos em uma tentativa de confortá-la. Sentiu novamente o mesmo aperto no coração do que naquele dia no hospital e uma vontade incontrolável de fazer qualquer coisa para que aquelas lágrimas cessassem. Mas elas não paravam de cair, deixando o seu ombro cada vez mais molhado.


O choro de Taeyeon trouxe consigo a chuva torrencial prometida pelas nuvens negras no céu; Jessica tentou puxá-la para o conforto de casa, mas ela teimava em não sair do lugar. Bateu o pé e cruzou os braços, encarando Taeyeon com um olhar irritado.


– Vamos logo! Não quero ficar na chuva! – reclamou.


Taeyeon deu alguns passos na direção de Jessica e a americana deduziu que ela finalmente havia parado de lhe contrariar. Mas o que aconteceu em seguida era algo que nem Sunny conseguiria prever.


Taeyeon a beijou.


Jessica congelou. Aquele singelo encostar de lábios havia de ser o beijo mais inocente de sua vida, porém o suficiente para que seu coração batesse mais forte contra o peito. Um misto de emoções passava pela sua mente naquele momento: confusão, surpresa, e, acima de tudo, nervosismo. Era como se estivesse tendo o seu primeiro beijo outra vez.


Exceto que com uma garota. Que supostamente não gostava dela.


De algum jeito, aquilo era mais surreal do que descobrir que era uma mutante.


Taeyeon separou-se do beijo e passou a encarar o asfalto, botando as mãos nos bolsos encharcados da jaqueta. Jessica também desviou o olhar. Nenhuma das duas sabia o que fazer ou falar naquele momento.


– Me desculpe... – Taeyeon saiu correndo para dentro de casa, deixando Jessica sozinha no meio da rua.


Jessica ficou parada no mesmo lugar, tentando processar o que havia acontecido. Umedeceu os lábios, sentindo o gosto férreo do sangue de Taeyeon.


Com certeza teria muito o que pensar antes de dormir.


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Notas finais do capítulo

Infelizmente tenho uma notícia não muito boa pra dar a vocês... entrarei em um semi-hiato de um mês a partir dessa semana. Minhas provas vão começar agora e eu tenho que estudar pra não precisar encarar a temida recuperação de química D: e ainda farei uma viagem na primeira semana de julho, então estarei impossibilitada de escrever. Talvez eu ainda poste no máximo um capítulo durante esse tempo.
Então é isso. Até o próximo, seja quando for! o/
PS: Holly, sei que você é gamada no GD então espero que goste da aparição dele rs