Rotina escrita por Lady Iero


Capítulo 1
One




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Só mais um dia de trabalho. Olhei entediado para as pessoas ao meu redor e conclui que só perderia meu tempo se continuasse ali. Sem conseguir conter um suspiro de frustração, dei meia volta e saí daquele local. Em parte, eu sabia que isso era minha culpa, afinal, a ideia de vir aqui foi completamente minha, é nessas horas que me dar vontade de ter um parceiro, sabe? Só pra ter alguém pra culpar além de mim.

Pena que meu trabalho exige total sigilo, não se pode confiar em qualquer pessoa que se vê pela frente, fora que confiança leva tempo, e eu não estava disposto a gastar meu já curto tempo com bobagens. Olhei em volta pela ultima vez antes de sair dali, era um museu, um local chato onde é perfeitamente aceitável que pessoas estúpidas façam coisas chatas nele, menos fumar, é claro.

Ao atravessar a rua em direção ao meu carro, reparei que tinha um típico restaurante fast-food em frente ao museu, meu único pensamento foi, por que não? Resolvi adentrar o local para tentar a sorte. Não pense que eu sou jovem o suficiente para me sentir confortável num lugar como aquele, mas algumas vezes, temos que fazer alguns sacrifícios pela profissão. Apesar da minha idade – 34 anos – muitas pessoas não dizem que eu tenho mais de 25, o que é muito interessante, pois percebo que a maioria só vem falar comigo pela aparência, ou seja, são pessoas fúteis que seriam ótimas vitimas para mim.

Sentei em uma mesa qualquer e passei a observar os jovens que me rodeavam. Era fácil demais separá-los por grupos – uma tarefa que me era totalmente satisfatória – tinham os riquinhos, que achavam que tinham um rei na barriga cada um, por isso tratavam os outros com total indiferença, um dom que às vezes eu chegava a invejar. Tinham os roqueiros, que praticamente tinham um mundo só para eles e achavam que esse mundo era construído de aço, mas na verdade, eram feitos de minúsculos cubos de açúcar que derretiam cada vez mais, eu podia ver isso. Tinham os nerds, que achavam que a vida era um problema de matemática ou uma formula cientifica muito difícil, incapaz de ser decifrada, eles não conseguem perceber que a vida é muito mais fácil que isso, não existe qualquer tipo de mistério. Quando eu adolescente, não me encaixava em nenhum desses grupos – nem em qualquer outro que por ventura viesse a existir – eu era na minha, quase não tinha amigos, na verdade, poucas pessoas se atreviam a falar comigo, eu não tinha uma reputação tão boa naquela época, e talvez, continuo não tendo até hoje, mas quem liga?

Não pense que eu cheguei a ser agredido verbal ou fisicamente pelos machões da minha escola, eles nunca chegaram a me tocar. Eu nunca soube se era porque não ligavam para a minha insignificante existência ou se davam ouvido aos boatos que ocorriam pela escola. De novo, eu não me importava.

Voltando a lanchonete, eu observei cada rosto que estava ao meu alcance, até dos vendedores que vez ou outra, perguntavam se eu queria alguma coisa. Vi cada reação, cada toque, cada repreensão, cada brincadeira, cada piada, cada beijo, cada risada, cada expressão, mas nada disso foi o suficiente para mim, nem para monstro que crescia em meu peito a cada segundo.

Sai dali o mais rápido o possível, o cheiro de comida química misturada ao odor adolescente me deixava nauseado. Na porta da lanchonete, trombei com um garoto que vinha em minha direção, será que ele não me viu?

-Desculpe – balbuciou antes de se afastar bruscamente de mim e ir em uma direção oposta, sem conseguir me conter, o segui. Não sei por que, mas tinha a forte impressão de ter encontrado a minha vitima do dia. Aproveitei que ele deixou cair o celular e fui correndo atrás dele.

-Er, com licença. – o chamei e ele finalmente se virou, pude notar que em seus olhos tinham lágrimas.

-O que foi? Eu já lhe pedir desculpas! – falou um pouco rude. Eu me segurei para não rir, achava engraçado como esses adolescentes agiam como se já fossem adultos, como se não precisassem de mais ninguém a não ser eles próprios.

-Eu só vim lhe entregar isto. – Falei lhe estendendo o celular. – Você deixou cair ao trombar em mim.

-Oh, desculpe-me por isso também. – Falou constrangido – E obrigado. – Agradeceu estendendo a mão para pegar o celular, mas eu o segurei, olhando-o com uma cara aparentemente solidária.

-Você está bem? Parece atordoado. – falei gentil. Em nossa profissão tem que ser assim, a não ser que você queria ser descoberto – o que não é o meu caso – Então é melhor ser bem educado e atencioso com sua vitima, é uma dica.

-Não é nada, apenas uns problemas pessoais. – falou finalmente pegando o celular de minhas mãos e se afastando, eu não poderia deixar que isso acontecesse.

-Mas, você não quer... Conversar? – perguntei aparentando estar tímido e sem jeito.

-Até gostaria. – Meu sorriso foi quase sincero. – Mas obviamente não com um estranho.

Hum, aparentemente ele se lembra do conselho da mamãe: Não fale com estranhos.

-Oras! O que você pensa que eu sou? Um assassino? Estuprador? – ri com vontade e ele fechou a cara.

-Eu não tenho medo de você. – falou aparentando coragem. Como se isso fosse me afastar, tão bobinho.

-E nem eu de você! Isso é uma disputa de coisas óbvias? – revirei os olhos, divertido.

Confesso que essa era a segunda coisa que eu mais gostava em meu trabalho, a aproximação com a vitima, o preparo do bote, existe sensação melhor que ver as pessoas comendo na palma de nossa mão? Eu não tenho tanta certeza.

-Quem é você, afinal? – ele estava começando a ceder.

-Desculpe-me a falta de educação. Sou Gerard Way. – De que adiantaria eu mentir? Logo ele não iria poder sair gritando o meu nome aos quatro cantos mesmo.

-Frank apenas – falou sem me olhar. Você deve estar se perguntando por que esse garoto me chamou tanto a atenção, eu imagino.

Pra ser franco, eu não sei, nunca sei, nem depois de tanto tempo, não faço a mínima ideia de porque justamente o Frank. Mas se lhe ajudar, o descreverei fisicamente: baixo, aproximadamente 1m e 63cm, magro, diria que uns 60kg, cabelos negros não muito curtos, mas também não longo demais, olhos verde-oliva, quase cor de mel e uma tatuagem discreta na nuca, era um escorpião, eu vim descobrir um pouco mais tarde.

-Você não gostaria de sentar e beber alguma coisa? – perguntei o mais carismático que pude, lhe dando um sorriso discreto.

-Acho que não me mataria... – falou me acompanhando até uma cafeteira pela qual passávamos, eu apenas sorri em resposta e apontei uma mesa. A atendente jovem veio nos perguntar o que queríamos, para mim: café, para ele: coca-cola.

-Você conhece esse lugar? – perguntei lhe estendendo um pedaço de papel com um endereço.

-Claro que sim. Moro aqui desde que nasci. – falou. Não deveria me dar tanta informação sobre sua vida, mas era tão inocente, até puro eu arriscaria.

-Que ótimo! Sou novo aqui na cidade, ainda me sinto um pouco perdido. – falei descontraído.

-Você não quer que eu lhe leve lá, quer? – perguntou cauteloso, tarde demais para isso.

-Por favor? – perguntei lhe mandando meu melhor sorriso. Não sabia em que tipo de pessoa ele se interessava, mas cedeu a minha pequena amostra de dentes.

-Bom, ok. – concordou enquanto bebericava seu refrigerante.

-Quantos anos você tem, Frank? – perguntei como quem não quer nada, mas claro que, na minha situação, qualquer detalhe era extremamente relevante.

-17. E você? – Coitado, pensei realmente triste, era apenas uma criança.

-34 – nem precisava estar prestando atenção a cada mínimo movimento que ele fazia para saber que o garoto ficou surpreso.

-Nossa, eu lhe daria no máximo uns 25 anos. – Sorri mais abertamente dessa vez. Sem querer ser pretensioso, mas eu sabia que não era de todo mal. Na aparência eu quero dizer. Sou um pouco mais alto que o Frank, 1m e 75, cabelos pretos como qualquer lago em uma noite sem luar, magro o suficiente para me chamarem de magro, mas não desnutrido, eu faço muito esforço físico, afinal. E olhos verdes, que ao contrário dos de Frank, são incontestavelmente vivos e claros, contradizendo é claro, a mensagem que eles querem passar.

-Obrigado por isso. O elogio eu quero dizer. – falei abaixando a cabeça em aparente constrangimento. O que me incomodou, foi que eu realmente estava envergonhado.

Olhando para trás, eu deveria perceber que isso era um sinal, mas dessa vez eu resolvi ignorar meus instintos, o que acabou me rendendo incontáveis noites sem dormir no futuro.

-Gerard? – eu ergui os olhos – Posso lhe perguntar uma coisa? – começou tímido.

-E já não perguntou? – respondi sarcástico, mas logo emendei – Pergunta logo.

-Por que você me trouxe aqui? – Nem se eu quisesse poderia responder a verdade, não agora pelo menos.

-À cafeteria? – perguntei em um tom completamente inocente, eu queria saber até onde ele iria com essa pergunta.

-Não. Quero dizer, não só à cafeteria, mas ter me seguido, puxado assunto.

-Eu fui com a sua cara. E também sou novo na cidade, não tenho amigos. – Três afirmações, duas verdades.

-Você parece ser um cara legal, chegou quando? – Esse é o problema dos mentirosos, quando contam a primeira mentira, não tem como parar, porque uma coisa se liga a outra.

-Hoje mesmo, e para a minha sorte, a primeira pessoa com quem eu trombo é você. – mudei de assunto.

-Você não deveria confiar em mim. – falou olhando para seu café. Eu prendi uma gargalhada, era ele quem não deveria confiar em mim, não o contrário!

-É? – perguntei divertido – Por quê?

-Eu não sou uma pessoa boa. – disse simplesmente.

-E quem lhe disse isso? – falei com um pouco de pena do garoto.

-As pessoas. Os garotos da minha escola principalmente. – falou baixinho, talvez com a esperança de que eu não ouvisse.

-E o que eles dizem?

-Bom, digamos que eles não gostem exatamente de mim. – falou ficando corado. Reparei que ele não queria falar sobre o assunto e deixei por isso mesmo, não ia forçar o garoto a fazer nada que ele não quisesse, pelo menos, não agora.

-Quer saber, Frank? Eu acho que eles estão extremamente enganados, não sabem reconhecer o garoto especial que você é. – falei segurando em suas mãos, estava curioso com uma coisa.

-Você também é legal Gerard. – falou corando um pouco, mas não tirando suas mãos das minhas. Ótimo, ele era gay. Não quer isso realmente importasse para mim, não estou interessado em gêneros, e sim, em pessoas. Mas saber esse gosto pessoal do Frank me deixou, não sei, estranho. – Acho que já está ficando um pouco tarde. – falou tirando suas mãos das minhas com a desculpa de olhar as horas.

-Acho que já, você não disse que ia me levar ao hotel? – perguntei me levantando.

-Verdade – falou também se levantando e indo em direção ao caixa. O segui, mas não o deixei pagar.

O caminho de volta para o meu carro foi em total silêncio, de vez em quando eu o olhava e ele estava distraído, olhando o movimento das pessoas ao redor.

Entramos no meu carro e eu dei a partido, de vez em quando me esquecia que aparentemente eu não sabia o caminho do hotel, mas acho que ele não desconfiou, pois sempre ia dizendo para onde eu deveria dobrar.

Quando chegamos em frente ao local indicado, estacionei no meio-fio e me virei para o Frank.

-Agora que eu já sei onde é, posso lhe levar para a sua casa. – falei sorrindo, ele sorriu de volta, mas desprendeu o cinto.

-Não precisa, eu sei o caminho de volta.

-Não! – falei um pouco rápido demais – Não vai ser incômodo nenhum. – Tentei dizer, mas ele destravou a porta e saiu. Eu o segui.

-Você deve estar cansado, quer guardar as malas, eu entendo. – falou sorrindo um pouco e se afastando.

Oh não, mudança de planos. Entrei rapidamente no carro e peguei minha seringa reserva com 3mlg de M-99 (um tipo de sedativo realmente forte, que faz a pessoa perder a consciência em milésimos de segundos após ser aplicado direto na corrente sanguínea). O segui em passos rápidos e silenciosos, sempre é assim, eles quase nunca me vêem chegar, joguei meu braço esquerdo em volta de seu pescoço e antes que ele pudesse ter alguma reação, lhe apliquei a dosagem, direto em sua corrente sanguínea, ele caiu em meus braços.

-Prontinho querido, agora você vai ter que aceitar minha carona. – falei em seu ouvido antes de lhe arrastar de volta ao carro.

Coloquei-o no banco de trás e saí dali, a rua não era nem um pouco movimentada, mas sempre tem alguém espiando pela sua janela.

Fui para um restaurante que foi fechado á alguns meses, ficava em uma zona bem isolada da cidade, ninguém ia ver e nem ouvir nada do que eu fizesse ali. Estacionei no local e calcei minhas luvas de couro, olhei para trás e vi Frank, ele ainda estava dormindo, deixei-o ali e fui preparar o local.

Entrei no restaurante abandonado, acendendo uma luz que eu já havia descoberto antes, me virei para a mesa central, devia ser ali que o cozinheiro cortava as coisas. Era de metal, lisa e fria como uma lâmina, e tão mortal quanto. Peguei minha maleta e tirei dali tudo o que eu iria precisar, facas de diversos tamanhos, bisturis, agulhas...

Depois de tudo, voltei ao carro e tirei Frank dali, carregando-o para a mesa de metal, sem esforço algum, tirei sua camiseta e comecei a prendê-lo ao redor da mesa com algumas fitas de couro que comprei no dia anterior, antes eu prendia as pessoas com algemas, mas logo descobrir que isso machucava os pulsos dessas e me arrependi, não queria que aqueles aros de metal estragassem com o meu trabalho.

Depois que ele já estava bem firme em cima da mesa, sentei-me numa cadeira ao lado e comecei a ler meu livro, era a hora de esperar.

Depois de 30 minutos comecei a ficar preocupado, será que eu tinha exagerado? Ou era simplesmente o trauma? Deixando meu livro de lado, me aproximei do garoto, isso nunca tinha acontecido antes, talvez seu corpo apenas seja fraco...

10 minutos depois, ele finalmente acordou, piscando atordoado, eu sorri de puro alivio.

-Até que enfim Bela Adormecida... – comentei lhe olhando atentamente, até agora parecia tudo normal.

-Gerard? Onde é que eu estou? – perguntou tentando se levantar, é claro que não conseguiu, por isso começou a se mexer desesperadamente.

-Calma! – falei segurando seus ombros.

-O que? Como você me manda ter calma? Eu mal consigo me mexer!

-Não se preocupe com isso. – falei enquanto procurava meu avental e o vestia.

-O que você está fazendo? – a voz dele transparecia pânico.

-Antes de começarmos a brincar, eu gostaria de lhe fazer algumas perguntas... – falei ignorando sua pergunta e pegando um bisturi, ainda de costas para ele.

-Brincar? Do que você está falando? – senti que ele começava a chorar e me virei.

-Por favor, não chore. Isso não faz parte dos meus planos. – falei sincero, eu odiava ver as pessoas chorarem. Me dava um espécie de vergonha alheia por verem elas se humilharem diante de outra pessoa.

-Por quê? Por que você está fazendo isso comigo? – perguntou soluçando.

-Eu não sei, talvez você seja inteligente o suficiente para entender a situação... – comentei.

-Eu não posso acreditar! – ofegou depois de uns instantes.

-Você é um pouco lerdinho, né? – falei enquanto examinava as minhas laminas.

-Por favor! Não me machuque! – implorou.

-Desculpe, mas eu não posso correr o risco agora que você já sabe a verdade.

-Eu juro que não conto pra ninguém!

-Se eu fosse acreditar em cada pessoa que me diz isso...

-Você é um assassino! – exclamou incrédulo.

-De novo aquela troca de coisas óbvias? Achei que já tínhamos passado dessa fase. – comentei. Não sei por que, mas eu estava fazendo de tudo pra prolongar aquele momento.

-Não seja tão frio! – gritou – Não finja que não tem sentimentos!

-Por que você acha que eu tenho? – perguntei me aproximando de seu frágil corpo.

-Eu confiei em você!

-Péssima escolha. Mas se serve de consolo, muitas pessoas também já confiaram, você não foi o único, e com certeza não será o ultimo.

-Se depender de mim, vai sim! – falou tentando se soltar, sem sucesso.

-Você vai acabar se machucando por nada. – avisei e ele riu sem humor.

-Por que você se importa?

-Eu não gosto quando o meu trabalho fica com marcas que não são feitas por mim. – falei sério.

-Trabalho? Você chama isso de trabalho? Vive disso? – perguntou com nojo.

-É um trabalho sim, pelo menos pra mim. E não, esse não é o meu “ganha pão”, se você quer saber.

-E qual é? – eu sabia o que ele queria fazer, mas não daria certo.

-Trabalho em um escritório de advocacia, nada demais. – comentei.

-Você mora aqui na cidade, não é?

-Sim, desde que nasci. – não tinha porque mentir.

-E você nunca foi pego? – perguntou curioso.

-Sou cuidadoso, metódico eu diria.

-E onde você deixa os corpos das suas vitimas? – ele tremeu um pouco, de medo.

-Não quero lhe traumatizar ainda mais.

-Qual é! Se você vai me matar, pelo menos pode me dizer onde vai deixar o meu corpo, né? – disse irritado.

-Digamos apenas que não vão para um caixão, isso é tudo o que você precisa saber.

-Mas... – antes dele completar a frase, coloquei um maço de algodão em sua boca. Eu já estava cansado desse falatório todo.

-Sem mais Frank, essa conversa me deixou entediado, estar na hora de matar o tédio. – comentei passando o bisturi pela sua bochecha, ele soltou um grito abafado.

-Tem mais alguma coisa útil que você queira me dizer? – falei enquanto observava seu sangue escorrer pelo seu rosto, lindo rosto. Ele balançou a cabeça positivamente e eu tirei o algodão.

-Eu odeio você! – gritou, eu voltei a colocar o maço de algodão em sua boca.

-Que pena, eu realmente fui com a sua cara Frank, você é simpático. – tudo o que obtive em resposta foram resmungos inteligíveis.

-Acho que isso é um adeus. – falei dando um beijo casto em sua testa e me distanciando, a partir de agora, não haveriam mais sentimentos, só o monstro agindo.


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Uma semana se passou desde o incidente com o Frank, e até hoje eu não consigo esquecê-lo, pra falar a verdade, aquele episódio marcou a minha vida de uma forma irreversível. Eu até tive outras vitimas, mas nenhuma significou tanto quanto o Frank. Eu pesquisei sobre a vida dele na verdade, era solteiro (como eu já imaginava), os pais morreram em um acidente de carro quando ele tinha 7 anos, depois de um tempo, a irmã ficou grávida e acabou morrendo  no parto. Realmente, o menino tinha vários motivos para estar chorando quando eu o encontrei, mas sabe por que ele fazia aquilo? Tinha acabado de sair de uma entrevista de emprego e não o tinha conseguido, menino estranho...

O que acontece é que quando a irmã dele morreu, deixou uma filhinha, Frank era menor de idade e o pai da criança sumiu, por isso, ela foi para um orfanato, não sei por que, mas nesse instante estou na porta do lugar, meio sem saber o que fazer.

-Bom dia! O que deseja? – uma senhora gentil me atendeu.

-Eu, hum, queria saber, se a Helena Iero ainda está por aqui. – falei meio sem jeito, por que eu queria ver a garota afinal?

-A bebêzinha? – me olhou curiosa.

-Sim. – falei me lembrando que tudo aconteceu recentemente.

-Está sim, você queria vê-la? – perguntou sorridente.

-Acho melhor não. – recuei.

-Não seja tímido! Ela é uma ótima criança, quase nem nos dá trabalho, e já está quase aprendendo a engatinhar! – falou me puxando pela mão e me guiando para dentro da casa.

Ela me levou a um quarto aparentemente cheio de bebês, e me mostrou um bebê que estava deitado num berço rosa.

-Aqui está ela. A propósito, qual o seu nome, senhor?

-Gerard.

-Olha o titio Gerard, Lena! – falou para aquele projeto de gente.

-Quanto tempo ela tem? – perguntei.

-Vai fazer um ano mês que vêm. Não é minha linda? – falou com voz de criança para a neném, que com certeza nem a entende.

Ela tirou a neném do berço e a estendeu para mim.

-Não. – falei um pouco assustado, eu nunca tinha segurado um bebê.

-Não tenha medo. – falou colocando ela em meus braços.

Olhei direito para aquela pessoinha em minha frente e fiquei espantado, eram os mesmos olhos do Frank! E o mesmo nariz também. Para a minha total surpresa e incredulidade, ela sorriu pra mim. Era o mesmo sorriso do Frank também, só mudava que ela não tinha dentes.

-Que lindo! Ela só sorri para os animais que ela vê por aqui! – a tal mulher falou sorrindo.

-Ótimo, agora ela pensa que eu sou um bicho! – falei um pouco alto e a mulher riu.

-Não foi isso que eu quis dizer, mas é que ela realmente gostou de você, olha! – falou apontando para a bebê, que ainda estava em meu colo. Ela estava remexendo no meu cordão com a letra W, na verdade, ela estava babando completamente o pingente.

-Que bom, eu acho. – comentei. Os cabelos dela eram diferentes do Frank, enquanto os dele era castanhos, os dela eram incrivelmente pretos e lisos, o que contrastava com sua pele branca.

-O que achou dela, senhor Gerard? – a mulher me perguntou, tirando a Helena dos meus braços, me deu uma sensação de vazio.

-Simpática. – falei ainda confuso com o sentimento.

-Ela também gostou muito do senhor, vai adotá-la? – perguntou animada e eu arregalei os olhos.

-Desculpe-me? Eu acho que não entendi.

-Ah, é que eu pensei... – ela ficou constrangida.

-Bom, a senhora pensou errado, agora eu preciso ir. Com licença, - falei sem esperar uma resposta e saindo dali, eu não podia acreditar naquilo.

As semanas se passaram e eu continuava pensando apenas em duas pessoas, a Helena e o Frank, até que na quinta feira eu tive um sonho estranho, Frank aparecia pra mim e me pedia para ficar com a Helena, que ele confiava em mim para cuidar da sobrinha dele.

Ele era doido? Eu matei o cara e ele me pede para cuidar da única sobrinha dele e ainda diz que confia em mim? Só em sonho mesmo...

Até que na sexta eu resolvi fazer uma coisa inesperada.

Fui no orfanato outra vez e a mesma mulher me atendeu.

-Senhor Gerard! Que surpresa agradável. – falou sorrindo.

-Eu queria saber se... – Não consegui terminar.

-Se a Helena já foi adotada? – completou.

-Eu acho que sim.

-Para a sua sorte, não. Um casal veio aqui uns dias atrás e gostou muito dela, mas eles queriam um menino, então ela ainda está aí, você quer vê-la?

-Sim, por favor. – falei a seguindo.

Fim

Ou será apenas o começo?


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Notas finais do capítulo

Bom, é isso, essa fic na verdade é parte de um livro. Mas antes que vocês venham falar, esse capitulo fui EU quem escrevi, ninguém mais, então eu posso postar aqui se eu quiser.
Os nomes foram mudados é claro, mas apenas isso!
Quem quiser saber qual é o livro ou coisa do tipo, me manda uma MP.
Beijos
Jana_Moura