Já tem algum tempo que eu tenho pensado seriamente no assunto, mas alguma coisa me impede de que eu realize o que tanto desejo. Às vezes, passo a noite acordada pensando, ando de um lado para o outro em minha casa e até bebo algumas cervejas, mas não chego a uma resposta que me deixe feliz.

Não é mais a mesma coisa, tudo ficou sem vida depois que fiz tal burrada. A única pessoa que eu confiava para contar sobre a minha ideia é a Alice, minha companheira das idéias mais loucas e absurdas que alguém poderia ter. O bom da Alice é que ela é de dar bons conselhos, mas o lado ruim é que ela acaba falando demais.

Não que as demais fossem más conselheiras, mas a Alice é especial. Sempre que ela precisou de mim, eu acabava a ajudando. Não sou somente eu que acho que com a Dana a Alice estava mais viva, podíamos ver nos olhos de ambas aquele brilho no olhar de que uma estava realmente apaixonada pela outra. Depois que Dana morreu, Alice começou a viver de uma maneira diferente e seus olhos já não tinham mais o mesmo brilho.

Eu estava em casa, sem fazer porra nenhuma. Na verdade eu estava lendo meu jornal, enquanto bebia. O ponteiro do relógio marcava duas da tarde. O que eu estava fazendo em casa nesse horário? Nem eu sabia, só sei que eu não queria ver ninguém e muito menos falar com ninguém. As meninas estavam no The Planet, café da irmã da Bette. Perdi a conta de quantas mensagens da Alice vi em meu celular, pra ela parar de encher o saco, resolvi responder

“Alice, não enche o meu saco hoje. A única coisa que quero fazer hoje é ficar em casa.”

Depois da minha mensagem, ela parou de encher o saco e eu voltei a me concentrar no jornal. Meus cadernos preferidos eram sobre entretenimento e moda. Ser cabeleireira tinha lá dessas coisas. Eu gosto do que eu faço profissionalmente. É o que me deixa feliz.

Minha vida ultimamente esta assim: de casa pro trabalho, do trabalho pra casa. Isso quando eu não tinha que ir ao mercado para fazer compras. Minha cerveja acabou e levantei-me para pegar outra na geladeira e voltei para o meu jornal. Assim que terminei de lê-lo, fui para a sala ver um pouco de televisão. Acabei adormecendo de tão chato que estava. Acordei com aquela dor de cabeça vinte e quatro horas depois, acho que exagerei na bebida. Embora eu bebesse até não aguentar mais e isso tudo para esquecê-la eu não conseguia. Ela já era parte de mim.

Levanto e procuro o meu celular que esta a tocar loucamente. Pra variar estava debaixo da bagunça que eu tinha deixado na mesa. Vejo que tem várias ligações das meninas e diversas mensagens da Alice.

— Mais que merda. – Resmunguei.

Não demorou muito para eu ouvir batidas na porta e ouvir ela gritando.

— Shane, abra essa porta agora.

— Já estou indo. – Tudo o que eu não precisava era da Alice pra me dar bronca por ter acordado de ressaca.

Abri a porta e ela entrou e ficou boquiaberta com a minha bagunça.

— Shane, o que esta acontecendo? Você está distante, não vemos mais você ficando com alguém e nem nada.

— Só tenho pensando em algumas coisas.

— Você andou bebendo de novo? Dá pra sentir o seu bafo daqui.

— Alice, não começa com os seus sermões.

— Pelo jeito você está com a cabeça doendo, não?

— É, estou. - Respondi.

— E que coisas são essas que você tem pensado?

— Na hora que eu me decidir, você vai ficar sabendo.

Comecei a procurar pelo inesperado. Qualquer coisa só pra não ter que prestar atenção na conversa da Alice.

— Shane, amanhã vai ter uma festinha de aniversário pra Helena no The Planet. Você vai né?

— Puta merda, tinha me esquecido do aniversário dela. – Levei minha mão direita contra minha testa. - Vou sim.

— Acho bom você estar lá. As meninas estão sentindo a sua falta e eu também. Arrume essa bagunça Shane.

— Estarei lá Alice, prometo.

Despedi-me de Alice e quando fechei a porta, fui entender o porquê de a Alice ter ficado boquiaberta. Parecia que tinha passado um furacão dentro de casa. Comecei a arrumar a zona que eu mesma tinha feito.

Ao terminar, tomei uma ducha e fui andar pela cidade pra escolher um presente para a Helena. É difícil encontrar algo legal para as meninas no aniversário de cada uma, mas o que vale mesmo é a intenção.

Enquanto dirigia pela rua e parei no semáforo, olhei para o lado e vi uma loja que me chamou a atenção. Na vitrine tinha uns vestidos, bem a cara da Helena. Desci para ver e teve um que acabei achando que combinaria bastante com ela. Voltei para casa com o embrulho e com uns DVDs que tinha pego na locadora.

Eu ainda tinha o meu bom e velho Jeep. Eu sempre tive uma atração por esse carro e depois que o comprei, tive certeza de que foi paixão a primeira vista. O resto do entardecer fiquei sentada numa cadeira que dava para o jardim olhando para o nada e fumando. Meu segundo vicio depois da bebida.