Sexto Sentido escrita por sassaricando


Capítulo 11
Nada como um novo dia


Notas iniciais do capítulo

Aloha, peeps! Obrigada pelas reviews mais uma vez, elas são super apreciadas - por mim - e ocupam um grande espaço no meu S2 (hihi). Bom, nesse capítulo temos uma frase que a Rach cantarola que é um verso da música 'Hello sunshine' do Super Fury Animals (http://www.youtube.com/watch?v=Hvagxg8jCkw&feature=related), temos 'Bottle it up' da Sara Bareilles em um concurso de canto (http://www.youtube.com/watch?v=vupUto1CPHw) e a sigla 'W. S.' quer dizer que o poema da Quinn é do Willian Shakespeare. Espero que gostem desse capítulo e eu sei que temos bastante Santana porque ela está passando por uma situação complicada e tudo mais, mas Faberry está 'very much on'. E Glee está longe das minhas mãos. Ainda. Mas quem sabe um dia...



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Porra de ressaca filha da puta! Alguém me mata agora!

"Bom dia pra você também, Santana." Certo, aquela voz me fez abrir os olhos. Desgraça de escolha errada. Por que tanta luz? Eu não sofri o suficiente nessa vida ainda?

"Que diabo de luz é essa? Eu morri?" Fechei os olhos tão rápido quanto pude. É sério, de onde vinha tanta claridade nesse mundo?

Até que senti uma pessoa se aproximando de mim e segurando meus braços jogados no meu rosto pra me proteger do que esse povo sem mãe fez com a maldita da camada de ozônio, que não mais protegia meus olhos sensíveis. Ok, a partir de hoje, eu sou uma pessoa que vai se importar com essa baboseira toda de meio ambiente e essa palhaçada que os barbeiros fazem soltando um fumaceiro do diabo no trânsito. Certo, provavelmente, eu sou uma dessas pessoas que queima pneus e gasolina como quem acende cigarros. Deus está me condenando, é claro! Como não pensei nisso antes? Mas um sofrimento maior que conviver com aquelas três malditas TLC's não poderia haver e, mesmo assim, parecia não ser o suficiente pra mim. Só essa pessoa estranha querendo me cegar e não me soltava. Diabo!

"Diabo, me solta!"

"Uma bela mudança pra noite passada quando era você que estava me agarrando, Santana..." Como? Quem me drogou? Ora essas! Vou ligar para polícia agora e denúncia essa maníaca sexual que abusou de minha pessoa. Como ela teve a coragem? "Toma e essa aspirina e beba com bastante água, você vai precisar." Abri os olhos para encarar a minha predadora... Claro que o sol viria com força total para dar uma força na minha ressaca destruidora, bobagem minha acreditar em sorte... Até que me deparei com os mesmos olhos verdes e brincalhões de ontem. A sorridente sorriu e isso deve estar até errado na gramática, ou vocês vão me achar uma idiota, mas bem, foi o que ela fez. E eu respondi com uma careta, levantei meu corpo dolorido e me esforcei para olhar ao redor. Bem, se ontem eu estava com medo de ficar cega depois de ver um ato torturante como o sexo entre Juno e seu cabeçudo boneco mini craque, agora eu desejava ter perdido a visão (sem ter visto aquela baixaria toda, obviamente. Nem eu mereço passar por isso), que dor de cabeça de satanás!

"Esse é o quarto da Berry... Ou foi um dia, não sei..." Falei abestalhada, a última coisa em minha cabeça era aquela 171 me levando pra trepar num telhado enquanto sentávamos em seu tapete voador.

"Seu senso de humor está intacto, vou suspender o neurologista." A sem vergonha me disse rindo. Belíssima cristã é essa desumana, fica arreganhando os dentes pra desgraça alheia. Mas o que é dela está guardado, eu sei que está! "Bem, eu te trouxe pra cá antes de vê-la desmaiar depois de beber mais que um carro velho." Ela me disse e se virou, foi quando peguei a pílula do dia seguinte e a água benta em sua mão. Pelo menos ela não iria me engravidar. Na verdade, ela até que pensou um pouco em mim ao me trazer de volta. Não que isso lhe dê algum crédito, já que eu quase perdi minha vida em seu safári gay até o arco-íris, mas é um ponto pra ela. "Eu imaginei como você iria acordar e praguejar. E, por mais que eu ache uma graça o seu melodrama todo, eu tenho uma reunião com investidores daqui a pouco." Tomei aquela droga barata porque, no estado em que me encontrava, qualquer ajuda era lucro.

Foi quando resolvei olhá-la mesmo. E aquela mulher era linda, de parar o trânsito realmente, causar batidas de trem e guerras. E não é exagero meu. Não sou dramática como ela disse e evitei respondê-la porque estava evitando viver e respirar pra ver se minha cabeça voltava a funcionar, ou se tiravam a porra do sino que estava badalando nela. Ela virou-se e me sorriu. Com seus olhos verdes marcados numa sombra leve, seus cabelos negros presos em um coque bagunçado, uma camisa vermelha de botão e uma saia em risca de giz preta até o alto das coxas com uma meia calça preta. É, ela estava maravilhosa. Mas o que fechou seu visual de modelo (ou pombagira) foi seu scarpin alto e vermelho. Bem, não sei se foi a quantidade de sangue que resolveu rodar o meu corpo ou se aquele placebo tinha feito efeito, mas minha dor de cabeça tinha diminuído drasticamente. Provavelmente foi o fato de eu estar pensando em coisas não tão puras naquele instante. É, deve ter sido... Ela se virou pra mim e deu um de seus (muitos, porque eu nunca vi igual) sorrisos, só que esse foi pra matar e abriu um botão de cima da sua blusa.

"O que acha? Abro ou fecho?" Perguntou num abuso sem tamanho, me furando com os olhos e segurando seu pano, brincando com as porcarias dos botões. Claro que eu não daria o mole de ficar olhando pros seus seios e babando, principalmente depois de ver sua pose bem... elástica? Não sei, mas deve servir, me encontrava numa ressaca monstro e não conseguia nem pensar. Não em palavras, na verdade. Talvez eu tenha engolido em seco, mas só fui subir meu olhar pro seu rosto quando ouvi sua gargalhada zombeteira. Mulher saliente!

"Que vá nua, não é problema meu." Disse e foquei meu olhar numa das paredes destruídas de RuPaul. Realmente, aquela seita satânica tinha feito um estrago arrumado ali. Peraí. Precisávamos conversar sobre isso. Quero dizer, não que eu me importe com o meio ser de Berry e sua piranha batendo nas almas penadas, porque pra eles eu não ligo nem por dinheiro, mas isso estava ainda pra ser discutido. Eu posso ter imaginado, né? Me virei para olhá-la e algo me pareceu estranho ali, sua expressão brincalhona tinha ido embora e suas feições estavam fechadas, como se eu a tivesse magoado... Será? "Feche dois botões, melhor do que ver um monte de velhos broxas e idiotas te babando." Tentei animá-la e pareceu funcionar. O bom foi que ela obedeceu e piscou.

"Então, como está a cabeça?" Me perguntou se olhando no espelho do armário do qual RuPaul tinha acabado de fazer sua doce fuga à lá Gwen Stefani.

"Continua no mesmo lugar." Respondi sem a menor vontade. Ora, que povo falastrão era esse? Sua realeza me arqueou uma sobrancelha. Bisca! "Melhor depois do remédio." Completei porque estava sem a menor paciência pra discutir ali. E ainda tinha um assunto muito importante a ser conversado. "Você se aproveitou de mim depois de me porrar com bebida?" Abri logo o verbo e rasguei o véu da viúva. Sou mulher de meias palavras ou indiretas não, comigo é assim, tudo na cara. Atirei as cobertas pra longe quando ouvi sua gargalhada alta cortando o ar, como se eu fosse a louca naquele manicômio! Que absurdo! Fui marchando até sua majestade pra ensinar-lhe boas lições e a primeira delas é que quem ninguém ri de Santana Lopez e permanece com dentes, ninguém! Puxei-a pelo braço e ela virou-se, balançando a cabeça em negativa.

"Você realmente acha?" Cruzei os braços. Eu tinha feito uma pergunta e queria uma resposta. Não sei o que tinha dado naquela menina, mas eu daria uns bons cacetes caso não me respondesse. Ela, bem, se aproximou e resolveu me sussurrar no ouvido. "Primeiro,..." Disse ainda com a boca perto do meu pescoço e me mostrando o indicador. "... eu não precisei ir tão longe, você sabe beber bastante bem sozinha." Mas é claro que eu sei! O que essa menina achou que eu fiz a vida inteira? Joguei biriba e dominó? Ora essas! "Segundo,..." Seu dedo indicador passeou pelos meus braços ainda cruzados, acho que ela não aprendeu a contar, o que deve ser péssimo pras ações de sua família, ou o que fosse. "Se eu me lembro bem, foi você quem me beijou, não?" Certo, talvez eu estivesse tendo algumas palpitações, mas tenho certeza que a taquicardia era efeito da minha ressaca homérica e não de sua mão boba e seu perfume bem próximos. Ela se afastou e me olhou de cima (além de ser mais alta, elas estava calçando aquela arma branca, então, nada mais normal) e sorriu, aproximando seu rosto.

Blá blá blá, eu fiquei nervosa e tudo isso aí. Esse dia de ontem realmente mexeu comigo e eu precisava me recompor. Percebi que acabei fumando muito também ao ver seu rosto se aproximando e minha respiração ir ficando cada vez mais rápida e falha. Esses cigarros mentolados tem parte com o diabo, tenho certeza! Seu rosto só parou quando nossos narizes se encostaram e eu respirei fundo, antes de morrer de uma parada cardiorrespiratória. Seus olhos me fuzilavam e brincavam comigo e sua boca beijou o canto da minha e sorriu. "E eu posso dizer que gostei." Foi o que ouvi sussurrado no outro ouvido dessa vez até sentir sua presença se afastar. É, eu sei que fechei os olhos e tal, mas foi apenas por medo de morrer fulminada numa parada cardíaca surpresa. Olhei sua caminhante figura que parou ao pé da porta, se virou e encostou-se na parede. "Vou fazer seu café da manhã antes de ir. Algum pedido em especial?" Você? Claro que esse foi só meu pensamento, até porque minha garganta estava fechada (tô dizendo que a quantidade de amônia que socam nos cigarros de menta faz uma desgraça conosco?) e balancei a cabeça em negativa, sentindo meu corpo e minha face mais quentes. "Certo, vou fazer meu especial pra você então. Se arrume e desça para experimentá-lo." Disse e piscou, se virando e indo embora pela porta velha e rachada do hobbit.

Joguei meu corpo com força no armário atrás de mim e soltei o ar de meus pulmões quando vi que tinha me salvado da morte mais uma vez. Depois do dia terrível de ontem, era demais pedir um dia menos estranho pra hoje?

...

Acordei aos poucos, com o quarto ainda escuro e senti um peso em cima de mim. Abri meus olhos e me deparei com minha diva ainda na mesma posição, cabeça no meu ombro, braço na minha cintura e uma perna entre as minhas. Engraçado esse fato, eu nunca fui uma pessoa com o sono tranqüilo, eu nunca acordava na mesma posição em que dormia, mas lá estava eu, um braço abraçando-a perto e a minha mão ainda em seu antebraço. Sorri para ela, tendo a certeza de que meu sorriso foi mais pra mim do que qualquer outra coisa. Suspirei contente, eu não poderia desejar estar em outro lugar que não fosse aquele, com a minha namorada.

Levantei um pouco a cabeça para olhá-la, que dormia serena. Beijei sua testa e posso apostar que fiquei belos e breves dez minutos velando seu sono (pois é, eu tinha visto no relógio de cabeceira). Certo, eu não queria sair daquela posição por nada no mundo e estava pensando se eu deveria acordá-la ou não (nada melhor do que pegação de manhã, né?), mas me decidi por deixá-la dormir mais um bocadinho, minha morena com certeza estava cansada depois do dia que tivemos ontem, ainda mais sabendo que ela tinha passado a noite sassaricando no shopping com o Puck, então...

Até que tive uma ótima idéia, ia fazer café da manhã e levar na cama pra ela. É, era ótimo! Sorri comigo por ter pensado nisso e dei mais um beijo em sua cabeça antes de me afastar. Com muita delicadeza (que eu nem sabia que tinha), tirei seu braço de minha cintura e sua perna do laço com as minhas, ela se virou para o outro lado e abraçou o cobertor. Sorri comigo, não poderia conhecer uma menina mais linda e meiga, mesmo quando não tentava ser. Aproveitei-me disso e tirei depressa o braço de baixo de sua cabeça. Pude ouvi-la bufando descontente, mas a surpresa valeria a pena. Ou assim eu espero.

"Quinn..." Ouvi sua voz enquanto estava indo me sentar na cama para me levantar. Fatalmente aquele suspiro rouco me fez mudar de idéia e escalei o colchão novamente, buscando ficar mais perto dela. Me dei por satisfeita quando estava com meu corpo completamente sobre o seu e vi seu olhar, até então confuso, se abrir em um sorriso, assim como seus lábios.

"Bom dia, alegria." Disse igualmente sorridente e beijando de leve sua boca. Ela se aproveitou desse meu movimento e me enlaçou o pescoço com os dois braços, me puxando pra mais perto.

"Hello sunshine, come into my life!" Foi sua resposta cantante e num tom rouco e baixo pelo qual eu já me apaixonei mais do que posso ponderar. Sorri com a cabeça em seu pescoço e beijei-o. Ela deu leves risadinhas e me apertou. "Pensei que fosse me deixar aqui e ir embora..." Disse não mais sorrindo e levantei minha cabeça para me deparar com sua expressão meio triste.

"Como se eu pudesse..." Sorri para assegurá-la e beijei seu nariz, encostando levemente minha testa na sua (já que ela ainda estava enfaixada e muito provavelmente dolorida). Ela fechou os olhos cansados e sorriu. Passei a mão em sua testa, afastando sua franja e beijei-a mais uma vez. "Agora, se a senhorita puder me deixar ir, eu tenho uma surpresa pra preparar..." Claro que essa seria a resposta errada se você estiver namorando Rachel Berry. Eu deveria ter previsto.

Só me dei por mim quando a vi de olhos abertos, sorrindo e ameaçando pular sentada na cama. Ótimo! Belo passo, Fabray, agora sai dessa que eu quero ver!

"Surpresa? Pra mim? O que é, baby?" Ela falou tão rápido que a única coisa que pude pegar foi seu 'baby' (não, isso não é porque eu estou, como diria o infame do Puckerman, amarrada. Não mesmo). "Como que é? O que você vai fazer?" Continuou seu questionário e eu não conseguia me concentrar em tentar responder apenas uma pergunta, por isso resolvi inventar uma saída.

"Não vou te dizer, Rach." Quem apostou que ela iria fazer seu usual biquinho pode ir pegar seu prêmio. Tudo bem, eu quase contei em mínimos detalhes o que estava lhe preparando, mas decidi ser mais forte e ignorar isso. "Desculpa, meu bem, mas se eu te disser não vai mais ser surpresa." Falei sinceramente culpada. Não sei como ela conseguia, mas era uma qualidade e tanto.

"Mas nem uma dica, Quinn? Puxa, isso é tão injusto..." Disse virando o rosto e soltando meu pescoço. Confesso que fiquei um pouco chateada, mas demorou pouco. "Se eu adivinhar, você me fala o que é?" Seu sorriso de 10.000watts voltou com força total e sua mão direita passou a acariciar meu rosto. Eu tive que sorrir pro seu método de interrogação. É assim que se tira verdades de alguém, Sue Sylvester! Se bem que pensar nela fazendo isso era repugnante, credo! Deus me salve. Rach provavelmente viu minha expressão de nojo e desgosto e me deu um beijo leve, chamando meu foco e minha atenção de volta. Sorri pra ela. "O que foi, meu amor? Está tudo bem?" Sua pergunta foi sincera e eu assenti com a cabeça.

"Claro, meu amor!" Mais um beijo em sua testa e outro sorriso de presente. "Só quero que você descanse mais um pouco porque eu sei que você está cansada. Eu vou voltar em breve, prometo." E aquele biquinho de sempre, que tive o prazer de beijar até se desfazer. Bem, o bom é que eu mantive minha mente firme (não sei como e nem de onde tirei forças, só sei que consegui completar essa missão), mesmo com sua mão agarrando minha camisa, seu outro braço abraçando meu pescoço e me levando pra mais perto.

"Eu não posso te manter aqui?" Uma pergunta de me matar, seriamente. Se não por ela, mas pelos entre beijos que a acompanharam. Como eu tive energia para negar seu pedido? Vendo sua expressão cansada e o fato de eu saber que, mesmo não demonstrando, ela estava sentindo dor. Beijei seus olhos antes que eu lançasse isso aos ventos e resolvesse ficar por lá mesmo. Eu era uma mulher em uma missão e tinha uma surpresa para preparar.

"Eu quero que você durma mais, Rach, eu sei que você está cansada. Faz isso pra mim, tá?" Sim, eu estava quase suplicando porque se ela insistisse mais, eu não sairia dali, não hoje e nem nunca mais. "Eu vou passar o resto do dia na cama com você se você descansar mais um pouco, afinal, eu preciso de você com energia." Uhum, eu dei uma piscada pra que minha mensagem fosse bem passada e ficasse bem fixa em sua mente e a sua expressão foi uma das mais lindas e fofas que já vi até hoje, rosto vermelho, mordendo o lábio e concordando rápido com a cabeça. "Eu vou descer pra tomar um copo d'água, mas eu volto, ok?" Eu poderia muito bem beber um copo de água, certo? Pensando bem, estava até com um pouco de sede mesmo...

"Você promete?" Perguntou brincando com meu crucifixo e mordendo o lábio.

"Eu juro." Respondi olhando em seus olhos e fazendo uma cruz com o dedo indicador no meu coração. Ela sorriu um sorriso iluminado, aberto e que acalentava meu coração e me beijou rápido.

"Tudo bem, então vá logo para voltar depressa!" Falou me apressando. Dei um beijo rápido em sua testa e ameacei pular em meus pés para correr, entrando em nossos papéis. Ela me puxou e meu outro beijo. "Pronto, agora pode ir." Beijei sua bochecha e senti seu sorriso.

"Três pra dar sorte!" Falei e me levantei depressa, ainda na brincadeira. Fui caminhando até a porta e coloquei a mão na maçaneta.

"Quinn..." Me virei ao ouvir sua voz. "Não ouse demorar ou eu vou te buscar!" Falou deitada e de braços cruzados.

"Sim, senhora! Não vou demorar." Disse sorrindo e ela me sorriu de volta, mandando beijo. Pisquei e saí antes que mudasse de idéia pela enésima vez naquela manhã. Fechei a porta balançando a cabeça e desci pensando no que eu prepararia. Bem, o primeiro passo era ligar... Foi o que fiz e preparei minha encomenda. Deus queira que ela goste!

...

Eu deveria saber que toda ressaca trazia consigo uma sede desértica, mas se minha memória tava falida, meu corpo pareceu pedir por água como um peixe fora d'água e me encontrei descendo aquela escadaria toda pra rumar pra cozinha. Cheguei me jogando numa das cadeiras e percebi que tinha perdido o memorando pro show das desperate housewives. De um lado, a morena estava muito bem vestida e com seu porte nobre cozinhando, segurava uma das panelas no fogão, balançando-a como se tivesse vida própria. Não me admira a frigideira estar possuída também, contando o que aquelas jovens bruxas fizeram ontem, nada mais me assusta. E do outro lado, Q. segurava com força e raiva a parede que deveria estar sacudindo (e disso também não duvido) com seu visual descabelado, amassado e dormido e fuzilava-a com os olhos cheios de tanta ira que achei que fosse chamá-la pra uma luta de espadas ou um duelo de dança no meio daquela cozinha. Até que a ousada menina de olhos cor de esmeralda resolveu quebrar o clima.

"A Rachel costuma comer salada de frutas, torradas com geléia e leite de soja de manhã." Sim, se ela conhecesse a minha capitã como eu conhecia, ela não teria dito isso nem com um cano de escopeta ameaçando ser descarregado em sua boca. Mas bem, ela não conhecia. Então a modelo se virou e piscou pra mim, daí tive a total certeza de que aquela menina era uma kamikaze suicida, provavelmente vinda do Iraque. Não consegui evitar um sorriso leve pra ela. É, algo que me dizia que tínhamos mais do que química em comum (exceto o fato de eu ter critério o suficiente pra não beijar a boca incansável da pouca perna), pelo menos a paixão por implicar com os sentimentos de Juno.

"Não lembro de ter pedido a sua opinião." Foi de uma frieza que cortou minha inexistente alma a resposta da Fabgay, já abrindo a geladeira e procurando pela maçã envenenada pra dar para sua anã dengosa. Voltei meus olhos para a minha mais nova parceira que se balançava como um pêndulo, cozinhando e cantarolando. Olhei de novo para a loiraça mulher gato, que balançava a cabeça ignorando e bufando de raiva e tentava disfarçar procurando por uma bomba ou uma arma dentro da geladeira. Quando não achou nada, pegou uma garrafa d'água.

"Q., um copo d'água." Falei para a competidora loira, prolongando um pouco mais a tensão daquela briga de galinhas. A loira bisca pegou dois copos no armário e os jogou com tanta força na mesa que achei que queria quebrá-los. Olhei em seus olhos que não se arrependiam e ela nos serviu água, que fiz questão de beber mais rápido do que alguém pode dizer 'fogo'. Depois disso, minha amiga resolveu preparar a merenda de seu bicho doméstico para levá-la em sua solitária. Seus movimentos cavalheiros se pararam abruptamente ao ouvir a melódica voz da moça cheirosa, cantante e bem arrumada na cozinha (não era eu dessa vez).

"There'll be girls across the nation that will eat this up, babe
I know that it's your soul but could you bottle it up and
Get down to the heart of it, no it's my heart you're shit out of your luck
Don't make me tell you again my love, love, love, love
Love, love, love, love
I am aiming to be somebody this somebody trusts with her delicate soul
I don't claim to know much except soon as you start to make room for the parts
That aren't you it gets harder to bloom in a garden of love, love, love, love
Love, love, love, love"

A modelo resolveu cantarolar cada vez mais alto, puxando os botões do diabo loiro que estava agarrando uma faca, armada e perigosa. Claro que Q. não ia deixar por isso mesmo e passou a picar as frutas numa fúria animalesca, desejando ardentemente que elas fossem o pescoço da morena provocante. Deu-se por vencida de sua ira dominante e aceitou o desafio musical se jogando na segunda parte da música, cantando do alto de seus pulmões, enquanto a morena arrumava os pratos.

"Only thing I ever could need, only one good thing worth trying to be and it's
Love, love, love, love
I do it for love, love, love, love
We can understand the sentiment you're saying to us oh
But sensible sells so could you kindly shut up and get started
At keeping your part of the bargain aw please little darlin'
You're killing me sweetly with love, love, love, love
Love, love, love, love
Only thing I ever could need, only one good thing worth
trying to be
Love, love, love, love
I do it for love, love, love, love"

Aquela vergonha foi interrompida pela pagã e cantante serviçal entrando sorridente na cozinha. Sério, como essas meninas conseguiam se envergonhar num duelo de canto? Ainda mais a essa hora da manhã! Eu já vi de tudo nessa vida, mas essa era a mais nova de todas. Eu não sabia se ria, chorava, me matava ou fugia daquele hospício, mas a doméstica me interrompeu de mais questionamentos.

"Bom dia, meninas! Dormiram bem?" Sorriu sentando-se à mesa. Minha vontade foi roubar a faca de Q. e executá-lo ali mesmo, ou me suicidar, não sabia. "Nossa, Katie, saudades de você fazendo o café da manhã." Claro que ele não tinha a menor experiência com mulheres, no máximo freiras (mas elas deviam fazer as coisas achando que estavam salvando o mundo. Se bem que, olhando bem pra cara dele, deviam é pensar que estavam pagando seus pecados), ou com as criancinhas que ele devia papar no jantar, porque se ele tivesse, não deveria dizer isso numa mesa, sentado ao lado da Fabray segurando uma peixeira afiada. Ah, ele não devia... Acho que sua santidade só caiu em si quando sua vida foi salva por uma indefesa banana que, heroicamente, aceitou o desafio de ser picotada violentamente em seu lugar numa onda de fúria, como num desses filmes baratos de terror. Aí sim, a múmia fechou sua boca e tomou seu café preto de bico calado. Até pensei em agradecê-la, mas minha agressiva amiga loira ainda estava armada, votei em minha integridade física.

A modelo olhou para mim e piscou, me dando um prato com café preto, bacon, torradas, ovos mexidos e um kiwi abelhudo no meio. Não, não fazia idéia do que aquele pedaço verde estava fazendo jogado ali com um creme por cima e ela deve ter visto minha cara de brisa igual a do Finna-flor.

"Kiwi ao creme de baunilha. Geralmente, as pessoas comem no final, mas fica ao seu critério." Seu discurso foi fechado com uma piscadela e eu dei o sorriso mais sincero que tinha, porque eu estava realmente feliz. Ninguém nunca tinha feito aquilo por mim, nem meus pais ou meu irmão e era sempre eu que cuidava das pessoas, então me senti meio perdida nesse contexto e acabei constrangida. Acho que isso mudou um pouco o clima da mesa, menos a raiva mortal da Q. que, ao ouvir a campainha, correu mais do que notícia ruim para abrir a porta.

"O que houve com ela?" Ele não fechava a boca nem para comer, praga dos infernos!

"Ela está com ciúmes, acho." Disse a morena sorrindo, sentada em minha frente e me olhando atentamente, sem dar atenção aos lamúrios mundanos daquele bisbilhoteiro.

"E é você quem está brincando assim com ela, imagino eu?" Falou enquanto mastigava mesmo, já que a educação não era ensinada nos templos porque não salvava ninguém do inferno, aparentemente. A modelo apenas acenou com a mão pra ele calar sua boca pecaminosa e sem etiqueta. Depois disso, apoiou sua cabeça em seu braço direito, serviu-se de café e resolveu roubar uma torrada minha. Arqueei minha sobrancelha pra ela e juro que eu iria mandá-la cozinhar para si mesma, mas não tinha coragem, não depois de ela ter feito aquilo pra mim.

O caucasiano demônio da tazmânia, ou uma enciumada Quinn Fabray, voltou ventando pela cozinha em sua marcha militar para preparar o banquete de sua vítima mirim. Abriu a geladeira e pareceu escolher entre qual veneno iria usar para intoxicar sua cobaia. Ao mesmo tempo, a modelo da Vogue se levantou e serviu um prato de bacon, ovos e torradas e deixou-o em cima da mesa. Pegou seu copo de meio litro de café e se abaixou ao meu lado, sussurrando.

"Se ela perguntar, diz que foi o Brandon quem fez, ok?" E olhou nos meus olhos esperando uma resposta, pergunta, piscada, ou qualquer reação, coisa que eu não dei e ela completou. "Se ela souber que fui que fiz, ela não vai comer e isso seria um desperdício." Essa mulher realmente deveria ser canonizada. Ninguém no lugar dela estaria se importando com a opinião da Quinn, mas lá estava ela. "Relaxa, a receita especial foi só pra você, afinal, você é minha preferida, Santana." Terminou sussurrando e beijando minha têmpora. Minha sorte foi não estar comendo nesse momento, ou eu teria cuspido tudo na cara da alma perdida do homem que estava ali (o que, pensando bem, seria merecido). Só pude concordar com a cabeça e me decidi por isso.

"Já vai, Katie?" A pergunta veio da boca nervosa que tinha acabado de roubar um biscoito recheado no pote.

"É. Bem, eu estou indo. Tenho uma reunião agora e vejo vocês mais tarde." Falou se despedindo de todos, me dando um beijo na testa e seguindo o rumo dos céus, como a santa que era.

"Já vai tarde..." Quinn suspirou alto o suficiente pra mim (que sinto grosserias pelo cheiro) e baixo o suficiente pro homem que estava cometendo o pecado da gula desesperadamente enquanto sua boca faminta comia como se não houvesse amanhã, a única boa cristã recinto pareceu não ouvir. Ou não se importar e me sorriu sincera, devolvi o mesmo sorriso pra ela e pisquei.

"Boa reunião." Ela acenou a cabeça e seguiu seu caminho.

A loira emburrada ficou me olhando com a usual cara de paisagem vestida por Finndisciplinado todos os dias e eu ignorei-a vendo a minha morena ir. Quer dizer, vendo a morena ir embora. Santana Lopez! Olha em que você está se metendo...

...

Fiquei em estado de choque ao ver a S. sendo simpática com aquela vadia encrenqueira. Que diabos estava acontecendo ali? O que aquela mulher tinha feito com a minha melhor amiga?

"O que foi isso, S.?" Perguntei, me sentando à mesa e de braços cruzados enquanto tentava preparar o café da manhã da Rach.

"De que estamos falando, Q.?" Me falou comendo aquela coisa horrorosa verde e fazendo uma cara estranha de prazer e arqueei uma sobrancelha pra ela. Oras, ou ela achava que eu não a conhecia desde os cinco anos, ou estava me tirando pra idiota.

"Você falando toda amigável com aquela menina." Estiquei sim o 'aquela' porque não gostava dela mesmo e não fazia a menor questão de esconder isso.

"Por que eu não estaria?" Ok! O que aconteceu com o mundo enquanto eu dormia? Desde quando a minha co-capitã era amigável com quem quer que fosse?

"E desde quando você é simpática assim?" Perguntei com raiva. Tanta gente no mundo e ela tinha que fazer amizade logo com aquela pervertida? Isso só podia ser inferno astral. Cadê o jornal pra eu olhar o meu signo?

"Ora, Q., eu trato algumas pessoas bem, qual é o problema com isso?" Me disse na defensiva e eu percebi que ela não queria citar a Britt, por isso deixei de lado.

"Por que logo ela?" Perguntei sinceramente interessada. Não era possível que tivesse acontecido tanta coisa assim enquanto estávamos no hospital. Pude vê-la ficar constrangida e olhar para seu prato. O inferno só pode ter congelado.

"Algumas coisas aconteceram e ela se importou comigo, ela esteve aqui pra mim." Dito isso, uma onda de culpa me consumiu pela relação das minhas duas melhores amigas. Eu sabia que ela estava mal, se levasse em consideração as palavras da B., mas não sabia que era tanto assim. Provavelmente, aquilo era culpa minha. Não devo ter dado abertura o suficiente pra ela me contar sobre suas coisas e tinha me deixado à disposição da B... "Ei, a culpa não é sua, Q., você não tem nada com os meus problemas. Só estou dizendo que conversei com ela e ela não é má. Ponto." Falou fechando nosso assunto e bebendo seu café. Olhei para baixo e vi um prato na minha frente. Bacon, ovos e torradas! Depois de acordar com a Rach, a melhor coisa da minha manhã. Lutei contra meus instintos para não babar o prato, ou avançar sem saber de quem era.

"É de quem?" Perguntei depressa, torcendo pra que fosse pra mim.

"É seu, o ex-padre aqui fez pra você." Santana me respondeu fuzilando o Brandon com os olhos que só balançou, concordando com o que quer que ela tenha dito. Deixei de lado a ignorância de Santana e ataquei a comida. É, eu estava com fome mesmo. Comi depressa para não esfriar e pra cumprir minha promessa pra Rach, muito embora ela já esteja no milésimo sono a essa hora.

"Nossa, está fantástico!" Falei para ele depois de tomar um gole de café e seu sorriso foi bem falso e parecia colado na cara, isso tudo enquanto Santana o olhava num tom de ameaça, talvez ela estivesse segurando uma faça na calça do homem, vá saber. Ignorei e continuei comendo, até me lembrar de uma pergunta pra fazer pro padre. "Qual é o café da manhã preferido da Rach, Brandon?"

"Ah, eu não sei ao certo, quem costumava prepará-lo era a Katie..." Pronto, tinha acabado de perder minha fome só ao ouvi-lo dizer aquele nome maledicente na mesa de café. Eu devo tê-lo fuzilado, porque ele correu para sua explicação e pareceu ligeiramente assustado. "Mas eu me lembro que tinha algo a ver com salada de frutas, torradas e leite." Bem, infelizmente aquela safada estava certa, desgraça! Balancei a cabeça e voltei a preparar o café da minha morena, enquanto ia beliscando de leve (vamos lá, era bacon! Quem pode me julgar?) o banquete à minha frente.

"Q., quem era na campainha?" Santana me perguntou e olhei em sua direção.

"Só algo pra Rach." Respondi olhando-a com força, antes que ela resolvesse fazer um comentário desagradável sobre a minha namorada. O que pareceu funcionar, ou minha amiga tinha sido abduzida e nos mandaram um robô sem emoções, tá, isso seria ela mesma e não uma máquina, mas outra pessoa no lugar dela (sim, eu gosto de filmes de ficção científica e só Deus pode me julgar!), uma pessoa estranhamente compreensiva. Deve ter sido aquela baixa que fez mal a minha amiga. Nesse meio tempo, ela se levantou e se dirigiu a nós presentes.

"Bem, eu vou tomar banho e morrer, nos vemos depois." Falou seguindo o rumo das escadas e eu e Brandon ficamos nos entreolhando. O que é que tinha acontecido ali? O que tinham feito com a S.? Será que a Britt contou pra ela sobre a gravidez? Meu Deus, ela deve estar arrasada. Ameacei segui-la, mas o homem fez que não com a cabeça. Como se ele conhecesse minha melhor amiga mais do que eu. Dei um passo para trás e resolvi perfurá-lo com os olhos.

"Quinn, ela não é como você. Ela descobriu muitas coisas ontem, as coisas com a loira não parecem estar boas e ela meio que bebeu demais, deve estar morrendo de ressaca, se eu bem me lembro..." Arqueei a sobrancelha praquele homem, do que ele estava falando? "Ora, eu bebi quando era jovem e tomei uns drinques depois que larguei a batina e tudo mais..." Ele teve a decência de parecer envergonhado, esse ex-padre alcoólatra. "Enfim, o que eu quero dizer é que ela precisa de um tempo pra ela e nem você e nem ninguém podem ajudá-la, pelo menos agora. Ela está aqui, isso quer dizer que se preocupa e, mesmo não tendo acreditado, não vai abandoná-las, deixe-a reter o resto." Terminou o sermão me olhando num ar de compaixão.

"Ela não nos abandonou, mas é isso que você está sugerindo que eu faça? Que diabo de conselho é esse?" Se eu estava irritada, podemos dizer que sim.

"E você realmente acha que ela vai te contar algo nesse estado, Quinn? Ela está ressaca, mal humorada, se sente traída por uma garota, ta conhecendo outra e o que você pode fazer? Ela só quer tomar um banho e descansar e eu acho que você deveria fazer o mesmo. Isso depois de levar o café pra Rach antes que fique ruim." Falou sorrindo e fechou seu monólogo apontando para a bandeja. Assenti com a cabeça e sorri, eu realmente entendia aquilo e no lugar da S. ia gostar de ficar um pouco sozinha também.

Bem, eu tinha que levar o café da manhã pra minha namorada e, pensando agora, descansar mais um pouco não faria mal mesmo...

"Certo, estou indo levar o café da Rach, Brandon. Bom dia e até mais!" Saí logo daquela cozinha antes que, sei lá, o céu caísse ou algo acontecesse e fui para a sala buscar minha encomenda. Peguei-a e rumei escada acima, torcendo pra Rach gostar da minha surpresa.

Cruzei os dedos e bati duas vezes na porta. Eu não esperava resposta e ela não veio mesmo. Resolvi abrir a e entrar e, como esperava, a Rach estava dormindo ainda. O que me dava tempo suficiente pra terminar de preparar as coisas.

...

Acordei no susto com um barulho de algo caindo. Certo, eu confesso que achei que os fantasmas tinham voltado e me preocupei de leve, mas me tranqüilizei tão logo vi minha loira com uma linda cara de culpa, mordendo o lábio e olhando pra baixo. Provavelmente ela não tinha me visto acordar, por isso resolvi chamar sua atenção.

"Você demorou, baby." Falei ainda deitada e olhando-a, que deu um salto, surpresa.

"Oi, Rach, desculpa." Foi sua resposta embaraçada enquanto coçava a cabeça e olhava ao redor. Não resisti e sorri com tanta fofura. Me virei e chamei-a.

"Psiu, não tem problema se você vier deitar comigo em... Hum, 10 segundos." Disse sorrindo pra ela, mas minha resposta não foi nem um pouco a que eu aguardava. Não, nem de longe. Ela só me olhou, ainda mordendo o lábio inferior e balançando a cabeça. Ok, o que estava acontecendo ali? Me sentei em pulo e olhei para seu rosto. Até que ela sorriu e olhou para os lados do quarto, sem me encarar. Certo, agora ela não queria mais falar comigo. Abri a boca para perguntar qual era o problema, mas não consegui terminar meu pensamento, minha frase e nem fechar a boca.

Simples como respirar, o quarto dos meus pais estava com pétalas de rosas por todos os lados, em cima da cama, pelo chão, no sofá... E a melhor parte, elas eram realmente cheirosas.

"Gostou, Rach?" Fui interrompida de meus pensamentos, crise de choro e de me autoenvergonhar por sua pergunta. Em algum momento, ela tinha caminhado e estava sentada na cama, à minha frente. Só pude rir como uma maníaca e concordar com a cabeça. Isso antes de me lançar em seu colo. "Quer dizer que uma Rachel surpresa é igual a uma Rachel calada?" Foi sua pergunta enquanto sorria e passava a mão no meu rosto. E eu, mais uma vez, concordei. "Ótimo, então eu vou fazer várias surpresas para você." Terminou sua promessa gargalhando. Abracei-a com cada vez mais força até que entendi o real sentido de sua frase...

"Quinn Fabray, você está, por algum acaso, me chamando de falastrona?" Disse séria e fazendo bico (não é charme, apenas mania), claro que ela tinha culpa no cartório e começou a rir ainda mais. Uma debochada essa menina! "Eu sinto muito em te dizer, Quinn, mas eu não sou uma pessoa de muitas palavras, apenas quero ser bem entendida e como nem todas..."

"Quer ser bem entendida, é?" Me cortou sorrindo e segurando meus braços cruzados, desatando o nó e me ajeitando em seu colo (e eu tinha esquecido que ainda estava por ali, mas quem pode me culpar?), contra a minha vontade, óbvio.

"Sim, acho que isso é o que todas as pessoas esperam das interações sociais entre indivíduos..." Não terminei minha explicação sobre a importância da convivência em uma sociedade e da troca de valores que todos passamos uns aos outros. Sua boca simplesmente estava colada na minha e sua língua se aproveitou do fato de eu estar falando para me explorar, o que me fez gemer. Aquilo sim era uma surpresa incrível. Danem-se os fogos de artifício! Eu estava vendo uma chuva de meteoros ali e agarrei-a, desistindo de tudo que eu estava dizendo. Puxei seus cabelos e foi sua vez de gemer, até que se afastou, ofegante.

"Nossa, Rach! E eu nem te mostrei o resto da surpresa ainda." Falou rindo, corada e sem fôlego e eu não sabia que podia amar alguém como eu amava-a naquele momento. Sorri como uma idiota pra ela que abaixou e pegou algo no chão. "Seu café da manhã, do jeito que você gosta." Falou piscando e eu reconheci o café que a Katie e meu pai costumavam preparar. Até pensei em perguntá-la como ela sabia disso, mas meu sexto sentido me dizia que ela não queria falar sobre o assunto. Sorri ainda mais e ameacei abraçá-la. "Wow, calma aí, tigresa! A gente não quer derrubar essa bandeja tão linda, né?" Ela me perguntou e balancei a cabeça. "Ótimo! Pode ir comendo!" Sorriu e me serviu o suco e a salada de frutas, que não comi. "Quer que eu te dê na boca?" Oras, eu nem ia falar nada, mas como ela perguntou, só assenti com a cabeça.

Foi quando ela pegou a taça de frutas que me deparei com um bilhete escrito à mão e sua linda e bem desenhada letra (talvez eu já tenha ficado observando seus rabiscos quando nos sentávamos próximas. É, eu sempre tive curiosidade em caligrafias e acho que elas dizem muito sobre as pessoas, foi só por isso). Peguei e se lia um simples e charmoso:

"Esse é o primeiro de muitos cafés e manhãs que passaremos juntas de hoje em diante.


'Quando na calada da noite tua sombra bela e imperfeita
Permanece sob minhas pálpebras durante o sono?
Todos os dias são noites até que eu te veja,
E as noites, dias claros, ao te mostrar em meus sonhos.' (W. S.)

Eu te prometo."

Q. F.

Minha única reação foi olhar em seu rosto sorridente enquanto me rolava uma lágrima que ela limpou breve e delicadamente.

"O que houve, Rach?" Sua pergunta foi baixa "Não gostou?" Falou olhando para baixo e insegura e fiz o que pude pra prová-la do contrário. Isso quer dizer que segurei seu rosto e lhe dei um beijo firme e cheio de significado, depois suspirei um 'eu amei' ao seu ouvido. Ela abaixou a cabeça e sorriu.

"Eu só não posso te perder..." Não sei o que tinha me dado, mas uma sensação ruim me passou pela espinha, como se eu fosse perdê-la a qualquer momento. Só percebi que meus olhos pareciam chafarizes quando minha loira retirou a bandeja do meu colo e colocou-a no chão novamente, me puxando para que ficasse em seu colo.

"Ei! Você não vai me perder, eu estou aqui, Rach, eu te prometo." O pior é que cada vez que ela me prometia, algo me rasgava por dentro, uma sensação me consumia e eu chorava ainda mais. "Psiu! Eu não vou te deixar, Broadway. Acredita em mim?" Disse segurando meu rosto para que eu olhasse em seus olhos e eu mordi o lábio pra não soluçar como uma imbecil ali.

"E se..." Foi o que tentei falar com a voz esganiçada, mas fui impedida de me embaraçar ainda mais pelo seu dedo em minha boca.

"Nós vamos nos achar, ok? Não vamos nos perder, tá?" Ela me disse segurando meu rosto. "Rachel, eu preciso que você acredite em mim. Entendeu?" Ela me falou num tom sério.

"Quinn, eu prometo..." Só eu poderia saber do que eu estava falando, ou talvez nem eu. Maldito mau pressentimento.

"O que você me promete, Rach?" Ela me perguntou.

"Que eu nunca vou te d-deixar e nem deixar que algo te aconteça, nem que eu morra por isso..." Falei muito sério e olhando fundo em seus olhos.

"Psiu! Sem falar de mortes, ok? Vamos só tomar seu café, nada vai me acontecer e eu não vou a lugar algum. Certo?" Assenti com a cabeça e lhe dei um beijo surpresa, por tudo que eu não conseguia dizer, começando pelo 'eu te amo' e pelo que estaria pra acontecer. Não que eu soubesse, só sabia que não era bom. "Nossa, uau! Pra que foi isso? Não que eu esteja reclamando..."

"Pra você ter certeza de que não existe ninguém mais importante no mundo que você." Dito isso, encostei a testa na dela.

"Bem, temos o Obama, quer dizer, ele é o presidente..." Claro que ela ia implicar comigo depois disso, era um fato. "Tem a Barbra também, ela..."

"Certo, Quinn, temos o Gandhi, né? Ou que tal..." Fui interrompida de minha explicação mal humorada por um beijo e um risada dela.

"É, mas eles são de todo mundo e você é só minha." Falou sorrindo. Se eu ainda tivesse alguma dúvida, naquele momento eu tive certeza de que se minha vida se resumisse a lutar pela dela, eu seria a pessoa mais feliz do mundo.

"Só sua..." Disse e beijei-a mais um pouco porque sim, ela era excelente naquilo. "E você?"

"Estou ótima com isso, obrigada." Revirei os olhos e rosnei praquela resposta. "Sou só sua também, Rach." Falou fazendo uma careta.

"Tão engraçadinha, Fabray..." Ela só balançou a cabeça concordando e resolvi ignorá-la e sair do seu colo. Até teria conseguido, caso ela não fizesse uma carinha tão linda e triste. Claro que dez segundos era muito tempo para ficarmos brigadas e resolvi abraçá-la. "Vamos ver um filme?" Perguntei sorrindo.

"Eu escolho!" Ela gritou e assenti com a cabeça. "Nem adianta ficar felizinha assim, Berry, não vai ser da Barbra..." Cruzei os braços.

"E posso saber o que vai ser, Fabray?" Perguntei fingindo estar descontente.

"Não, pode ir se ajeitando aí na cama que eu ainda vou escolher." Ora! Aquilo era um absurdo, como ela ousava me deixar de fora de um momento importante como esses? Pelo visto ela não ligava a mínima pra educação, pois levantou me ignorando e rumou pra prateleira dos meus pais pra pegar algum título. As mulheres brigaram por tantos anos pela igualdade dos direitos, pelo voto e por tudo mais e ela estava ali, fazendo isso comigo? Nana-nina-não! "Rá! Achei!" Foi quando vi a capa inconfundível daquele clássico que quase dei um salto de felicidade na cama.

"Quinn, esse filme é incrível!" Falei me sentando e ameaçando ir atrás dela. Ela me abriu meu melhor sorriso e me acenou com a mão para que eu ficasse na cama. Isso e depois ficou encarando o DVD. Calma aí. "Você sabe que acabou de pegar 'A Noviça Rebelde', né?" Ela me virou de olhos arregalados.

"Mentira que esse não é o filme do Rambo?" Por um momento eu achei que fosse ter uma parada cardíaca. Tudo ficou escuro, minha respiração começou a falhar e meu coração resolveu pular com força no peito. Certo, eu ia morrer. Coloquei a mão no peito e me sentei na cama. Sua gargalhada interrompeu minha morte dramática e abri o olho direito para olhá-la na minha frente. "Rach, nós estamos num quarto de um casal de gays, você realmente achou que eu estaria procurando por Rambo?" Falou segurando minha perna e rindo como se aquilo fosse muito engraçado. Revirei os olhos porque, bem, eu estava apenas brincando. Fazia bem ensaiar, não é?

"Na verdade, eu só estava fingindo estar perplexa." Falei de braços cruzados e desafiando-a a me desmentir.

"Ótimo! Agora deite e finja esperar por mim enquanto vou colocar o filme." Depois de um beijo na minha testa, se levantou e foi resolver nossa questão enquanto eu obedecia ao seu pedido. Só porque era um musical, diga-se de passagem. Não sou dessas meninas de ficar satisfazendo ordens assim...

"Rach, o que você acha de pipoca?" Foi sua pergunta sorridente e com um DVD na mão.

"Ótimo! Eu vou fazê-las!" Falei pulando da cama e corri antes de ouvir sua resposta. Entretanto, seu grito ecoou no corredor.

"E eu nem precisei pedir..." Minha vontade era voltar e tirar satisfações com ela porque aquilo era um desplante, um abuso. Mas a educação e a indiferença são sempre a melhor resposta. Dito isso, segui para a cozinha.

Lá embaixo encontrei Noah e Brandon sentados e conversando. Resolvi ignorá-los e fazer minha pipoca para comer com a minha namorada. O meu marginal preferido me lançou um olhar de culpa e dor e eu ignorei-o, coisa que me doeu, mas não pude fazer nada. Verdade seja dita, eu estava para além de decepcionada com meu antigo melhor amigo e não tinha paciência para discutir aquilo naquela situação. Pipoca. Pronto, isso eu posso fazer.

...

Claro que eu não ia conseguir dormir por santo que fosse na terra. Maldita semana de inferno astral que tinha acabado de começar. O foda é que ainda tinha uma semana pra esse inferno todo passar. Valha-me, Cristo! Como já tinha tomado banho, resolvi descer e beber mais água. Aquilo sim era uma ressaca, o resto tinha sido um passeio no parque.

Bem, se eu disser que as reuniões na cozinha eram o novo método de tortura que os astros tinham bolado pra mim, não estaria mentindo. Meu pior pesadelo estava ali, me esperando de braços abertos naquele terreiro. Liderados pelo pecaminoso e guloso ex-clérigo, o casal Thelma e Louise em fase de separação estava lavando a roupa suja na cozinha. A smurfette tentava ignorar os meigos e femininos olhos cansados e tristes de sua antiga escrava sexual, enquanto queimava o milho para comer com sua galinha de penugem loira.

A serviçal que, no mínimo tinha vindo da Etiópia, atacava um vidro de biscoitos e os roia como um rato assistindo a um espetáculo.

"Rach, a gente precisa conversar..." Sem a menor decência, a promíscua e operada dançarina de cabaré dizia enquanto eu me encaminhava para a geladeira, indo pegar um copo d'água. Carreguei a garrafa para a mesa e cacei um copo, enchendo-o e virando-o em seguida, como fiz com as cervejas ontem. Droga! Pensamento errado! Não pensar em bebidas, não pensar em bebidas...

"Noah, nós não temos o que conversar." Ótimo, era tudo que eu precisava para curar a minha ressaca, uma manhã com RuPaul, Glorinha e a enxerida e comilona Oprah no meio. Por que não me matam logo?

"Claro que temos, Rach! Eu sei que você ficou chateada pelo negócio da Stacey! Eu sei disso, não adianta mentir!" Essa bagaceira amizade da transviada com Finntrometido tinha lhe dado bons louros e bons métodos de jogar sua póstuma decência para os caralhos. Tô dizendo que aquele menino é tão imprestável que não serve nem pra mau exemplo? Eu disse...

"E o que você quer que eu diga, Noah?" Oompa loompa virou-se em seus sapatões na velocidade do som de sua voz que pode rematar os mortos e segurando seu panelão de cozinhar feitiços e macumbarias.

"Qualquer coisa, Rach! Só não me deixe no escuro aqui." Eu até sentiria pena da deprimida moça tunada naquela cadeira, mas estava ocupada demais tentando me concentrar e fazer a minha dor de cabeça sumir. Esse circo não estava pronto, claro. A HBIC chegou pela cozinha e foi para perto de seu cantante enfeite de jardim.

"Rach..." Disse com sua mão segurando o tentáculo de seu homem. Balancei a cabeça. Claro que o olho grande Charlie e suas três panteras iam estragar meu dia mais uma vez, não satisfeitos em só destruírem minha noite. Acho que a vontade deles é de acabar com o resto da minha vida, só pode.

"Quinn, pode deixar que a gente se resolve..." A drag disse para a mãe (ou seria pai?) de sua filha e virou-se para sua metade de homem. "Eu não fiz nada com ela, Rach, eu juro!" Eu poderia jurar que ele estava chorando lágrimas de sangue. Ou crocodilo, mas como não tinha certeza, fui olhar para o faminto ao meu lado. Revirei os olhos quando o vi engolindo mais alguma coisa. Esse homem não tem fundo, não é possível!

"Que seja, Noah, eu cansei! Você sempre trocou a minha amizade por qualquer rabo de saia que passeasse na sua frente, eu acreditaria em você por quê?" Olhei para a cara de criança abandonada da Q. e vi que ela ficou com seu coraçãozinho de caramelo partido por causa da boca sem filtro do hobbit. Quando, enfim, a noção bateu em seu falante pincel, ela se desatou do nó que seus tentáculos estavam ameaçando fazer e saiu batendo seus sapatões pela cozinha. "Viu o que você fez, Noah?" RuPaul disse alto o suficiente para causar um terremoto de 7 graus na escala Richter.

Olhei para a noviça que se rebelava comendo mais alguma coisa na mesa. Talvez um talher. Que era aquilo?

"Você não cansa de comer?" Perguntei enojada e olhando pra sua cara mastigante. Esse homem comia por uma família de peso, não era possível isso. Ainda de boca cheia, ele só piscou e voltou a passar sua mão voluptuosa em mais um inocente biscoitinho. Balancei a cabeça. Díos mio! Que revés!

Minha cabeça se virou por vontade própria ao ver Quinn perneando de volta pela cozinha, passando por nós como um furacão e agarrando a verbal metade de diva que veio ao mundo como meu karma. Deu-lhe um beijo longo, gay, saliente, babado e desagradável. Infelizmente, seu rato Jerry não morreu por falta de ar, mas pra sua sorte, ela também não foi engolida pelo buraco negro que era aquela bocarra.

"San..." Meu nome sendo chamado me tirou de olhar aquele circo dos horrores que estava acontecendo ali. Virei-me e vi Brittany chorando e com um papel na mão. Atrás dela estava a morena cigarreando um veneno e me olhando com uma expressão de culpa. Que porra? Olhei para Fabray que estava chorando (provavelmente por jogado seu futuro fora ao resolver fazer de Berry seu colar humano e sair se agarrando com ela pela rua, sem o menor pudor). Sua meia moça, meio moço estava com meu pesadelo arreganhado e com seus olhos de peixe morto esbugalhados. A modificada delinqüente virou sua cinturinha de pilão e abriu aquela boca suja, olhando para aquele papel. A boca mais comilona do convento estava, claro, mastigando (estou quase pensando em lhe dar uns chicletes, não é possível) e olhou para a loira.

A morena deu um passo à frente e colocou a mão em meu ombro e passou outra mão no braço da Britt para acalmá-la de algo. Mas por que aquela menina estava acalmando a Brit? Certo, que diabos estava acontecendo ali?

"Qual foi a merda que vocês aprontaram dessa vez?" Perguntei fuzilando aquele encontro em Woodstock. Um usuário de cada vez, fuzilei todos os drogados daquele recinto. Olhei a sapatice da caminhoneira Fabray e seu chaveiro, depois para uma Gloria insatisfeita com seu novo e feminino corpo. Pulei a boca nervosa do padre antes que eu vomitasse na mesa, me virei pra Britt que estava prestes a chorar e vi Quinn andando e parando ao seu lado. Por último, parei meu olhar na morena que tinha uma expressão indecifrável no rosto, dúvida, perda, não sei o que era. Aquilo só podia significar desgraça, aquela quadrilha maléfica tinha aprontado das suas, eu tinha certeza disso! Agora só restava saber em qual tipo de crime eles...

"San, eu tô grávida."


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Notas finais do capítulo

Me digam o que acham porque gosto mesmo de saber. Obrigada e aproveitem. Tentarei atualizar ainda hoje com o próximo, mas não posso garantir...