I Feel Pretty Unpretty escrita por GabanaF


Capítulo 2
Parte Dois


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, tudo bem? Como prometido, até a última quinta-feira do ano (ou até a primeira de janeiro, sei lá), vou ficar aqui com vocês, postando a fic. Espero que gostem dessa parte, é quando elas cantam I Feel Pretty/Unpretty, que eu aconselho muito ouvi-la durante a leitura *u*
Enfim, desculpem por The Only One, tô meia fraca de ideias para lá, mas não a abandonem, por favor!
Espero que curtam esse capítulo :D



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Minha cabeça ainda doía quando cheguei ao colégio. Dirigir não tinha sido a parte mais difícil, mas sim os olhares curiosos dos alunos quando passei por eles. Lembrei-me que eu ainda continuava concorrendo à rainha do baile e que tinha que manter uma expressão vitoriosa e feliz. Um sorriso falso ganhou o meu rosto, mas sumiu rapidamente diante da pequena conversa que peguei de três garotas observando o quadro de recados.

— Ela ganhou meu voto — dizia uma. Imaginei que seria sobre mim e voltei a sorrir. — Ela é uma inspiração e tanto.

— É bom ver alguém como eu no pôster para variar — concordou outra, e então me virei para entender do que elas estavam falando.

Lauren Zizes era a modelo do pôster que havia no quadro. Estava escrito “Zizes para Rainha do Baile” no cartaz. Respirei fundo para controlar a raiva. Já não bastava Santana querendo tirar minha coroa, agora teria que concorrer com outra garota do Glee. Procurei com os olhos Zizes pelo corredor e acabei encontrando ela um pouco à frente, pendurando mais pôsteres da sua campanha.

— Que está fazendo? — perguntei avançando para ela furiosa.

Lauren apenas sorriu e disse:

— Oi, estou concorrendo para rainha do baile.

— É brincadeira, não é? — retruquei cruelmente. Zizes pareceu não se abalar.

— Pareço que estou brincando? — Zizes foi ainda mais fria, porém isso não me chocou. Aquela garota lutava com homens três vezes maiores que ela, eu deveria ser um alvo fácil.

— Ao perceberem seu nome lá, todos pensarão que é gozação, e você ganhará votos para vencer.

— Essa é a idéia. — Zizes franziu a testa, confusa.

— E enquanto todos riem e eles tentam espremer a tiara na sua cabeça, alguém vai derramar sangue de porco em você, e você ficará mais excluída do que já é.

Lauren me encarou como se eu tivesse sérios problemas mentais.

— Certo — ela disse. — Eu não sei exatamente qual é o seu problema, mas é melhor mandar ver, Fabray. Pois sou muito gostosa, sou real. E o pessoal dessa escola quer uma rainha como eles.

Contraí os lábios com raiva. Zizes não entendia, nunca seria competente em entender o que garotos como aqueles da McKinley High eram capazes de fazer.

— Não, eles querem uma rainha que gostariam de ser — retorqui irritada.

— Olha, nem todo mundo pode nascer bonito que nem você. Mas só para você saber, quem você é aí dentro e quem finge ser para o mundo... São duas pessoas diferentes.

— Você não sabe nada sobre mim, Lauren — eu disse. Meus nervos já estavam à flor da pele, mais um pouco e eu poderia bater naquela garota. — Nada. Mas sabe o quê? Está prestes a saber. Por que acabou de ficar pessoal.

Vi Zizes dar um sorriso satisfeito antes de eu me mandar dali. Contudo, um corredor à frente, eu entrei no banheiro feminino e olhei para meu reflexo no espelho. O cabelo, as roupas, tudo continuava perfeito como sempre em mim. Mas havia alguma coisa.

Meus olhos. Estavam, sei lá, cansados. Pensei que pudesse ser o fato de ter ficado até tarde pesquisando sobre West Side Story e ter acordado cedo para ir à casa de Berry, mas não havia olheiras. Franzi a testa. A Quinn do espelho fez o mesmo.

Zizes não entedia nada sobre rainhas mesmo, pensei irritada. Ela não sabia no que estava se metendo ao querer competir comigo. Eu, justo eu. A garota mais bonita do colégio, namorando o quarterback do time vencedor do campeonato. Eu, Quinn Fabray, que queria firmar minha grande volta ao topo da cadeia alimentar da McKinley High com aquela coroa.

Respirei fundo, pegando um pouco de água na torneira e passando pelo rosto, chateada. É claro que ninguém sabia sobre eu estar ajudando Rachel com sua transformação além do Glee, mas quando aquilo saísse, eu não sabia como os alunos iriam reagir. Eu poderia usá-la para meu favor, começando a cobrar pelas meninas que quisessem ter como modelo meu nariz ou algo do tipo. Qualquer coisa para que não me prejudicasse na campanha.


— Então, quer ir ao baile comigo?

Sua boca abriu de espanto. Não era possível que John — seu John, o garoto mais bonito do colégio, o único garoto que conversava com ela — estava lhe convidando para o baile. O jeito que ele perguntara, tão descontraído e relaxado, a fazia pensar que havia alguma coisa errada; John era sempre nervoso quando se tratava de eventos importantes, como a primeira vez em que ele fora em sua casa.

Contudo, John era um menino lindo. Estava loucamente apaixonada por ele, e o conhecia há apenas dois meses. Sabia mais sobre ele do que sobre sua mãe e seu pai. Ela não poderia dizer não, ninguém naquele colégio nunca a havia chamado para nada, o que a fazia perder todas as festas que sua turma fazia. Essa era a sua chance de fazer com que aqueles idiotas a engolissem, querendo ou não.

— C-claro — murmurou. John abriu seu sorriso maravilhoso. — Eu vou com você.

Sua família estava mais animada para o baile que ela própria. O pai queria levar John e ela para jantarem antes do baile, para saber de “suas intenções”. A irmã disse para ela tomar cuidado, por mais que estivesse com o garoto, ainda haveria os outros alunos e que nada era perfeito. A mãe, por outro lado, comprou um dos vestidos mais caros que encontrara.

A noite foi perfeita. John a viera buscar junto com sua mãe. O pai queria levá-lo para dentro, porém sua mãe o interrompeu dizendo que a “filhinha deles precisava ir”, o que a fez corar de vergonha. Mas John pareceu não se importar. Estava simpático como sempre, no entanto, ela percebia. Aquele John ao seu lado não era o mesmo John que a encontrara no corredor há dois meses. Estava preocupado, também, olhando para os lados e se certificando sobre tudo.

É claro que tinha que acontecer alguma coisa.

Quando John desapareceu dizendo que iria ao banheiro, sentiu-se deslocada, como se fosse errado estar ali sem ele. O garoto a fazia sentir-se bem estando na escola, a única razão de continuar indo para lá. Nesse momento de fraqueza, os valentões voltaram. Fizeram a menina sofrer, jogando ponche e algumas gosmas que ela se recusava a perguntar o que era.

Estava um lixo. O pior momento, entretanto, foi correr os olhos para a quadra do colégio e encontrar John parado perto do palco, pedindo perdão silenciosamente. Ele não se aproximou ou gritou para que os garotos parassem, apenas ficou lá, quieto, enquanto sua acompanhante era cercada e atacada.

Fugiu. Correu para fora do colégio, ligou para a irmã e praticamente implorou para que ela fosse lhe buscar. Quando foi perguntada sobre John no carro, as lágrimas caíram copiosamente. Não conseguiu controlá-las e acabou a dormir chorando.


Abri os olhos, tentando me lembrar de onde estava. O banheiro girava aos meus olhos. O desespero tomou conta de mim. Mais uma vez aquelas lembranças, daquela época. Por que estavam voltando? Eu tinha passado tanto tempo cavando um buraco dentro de mim para escondê-las, agora elas pareciam ter achado uma pá pelo caminho e retornavam ao meu cérebro como tortura para algo que eu ainda tentava descobrir o que era.

Senti-me arrependida por cogitar a possibilidade de usar Rachel e seu problema nasal para minha campanha. Depois da lembrança, do olhar perdido de John e das risadas daqueles moleques invadindo meus sentidos, aquilo não parecia algo certo a se fazer.

E Zizes. Suspirei, revirando os olhos. Eu sabia muito bem o que poderia acontecer com ela. Além de ter sentido na pele, era uma das Cheerios e junto com Santana, nós éramos as mais malignas do grupo de Sue Sylvester. Garotos no Ensino Médio não tem perdão e não tem medo das conseqüências. Lauren poderia ser autoconfiante e ter Puck como um namorado vagabundo e durão, mas não seria o bastante para enfrentar a zona maldosa que tinha no McKinley High.

— O que eu faço? — perguntei à Quinn do espelho, perdida.

— Quinn?

Endireitei-me. Rachel abria a porta do banheiro acanhada, e mais uma vez quis que minha reputação de serial killer não existisse. Se ela soubesse que segundos antes eu tinha me preocupado com ela, nossa relação não seria tão tímida e superficial.

— Ah, oi, Rachel — cumprimentei, me virando para ela e sentando na bancada da pia, tentando fazer disso um movimento legal, o que era muito fácil vindo de mim.

— Está perdendo o primeiro tempo, sabia? — ela indagou, se aproximando de mim para usar a pia e lavar as mãos.

— Você também — observei.

— Estou me afastando do time de futebol, eles têm raspadinhas nas mãos.

Acenei que tinha entendido, observando ela mexer no curativo de seu nariz. Rachel fez uma careta ao tocar nele, porém logo se recuperou e virou-se para mim com um olhar determinado. Eu estava ferrada, pelo visto.

— Me desculpe por ter ido embora daquela forma — atropelei nas minhas palavras, corando fortemente. Minha vida seria muito mais fácil se eu não ficasse tão envergonhada diante de Rachel Berry. — Fui uma idiota, você não merecia aquele tratamento.

Rachel abaixou os olhos e deu um sorriso mínimo.

— Não era sobre isso que eu queria falar — disse ela. — Mas obrigada de qualquer forma. Geralmente as pessoas jogam coisas em mim, falam mal de mim, mas ninguém nunca se desculpa.

Demorou um tempo para eu perceber que ela estava falando de mim, mas principalmente, do garoto que eu namorava no momento, Finn Hudson. E levou mais tempo ainda para eu notar que estava começando a sentir pena de Rachel Berry.

— Vamos apresentar amanhã, fique aqui depois das aulas, vamos ensaiar no auditório — ela falou rapidamente naquele tom animado que costumava me irritar. — Entendeu?

— Sim, capitã Berry — bati continência para ela, rindo. Rachel corou.

Havia alguma coisa naqueles olhos castanhos que começavam a me conquistar.


— Vamos, Quinn! É “i feel pretty, and witty, and bright”, com ênfase na primeira sílaba, é fácil.

Rachel era a garota mais chata do mundo, decidi naquele dia no auditório. Estávamos treinando não havia nem uma hora, e ela já tinha gritado comigo algumas milhares de vezes, reclamando do meu atraso de dez minutos, elogiando meus altos e criticando minha enorme força de vontade.

Cantei o refrão novamente, acompanhando Rachel no piano. Eu estava sentada em cima dele, balançando os pés distraidamente, até, claro, aquela judia chata dizer que eu poderia perder a concentração na música se ficasse muito tempo me mexendo.

— Então você quer que eu cante parada, é? — indaguei, me divertindo com a expressão indignada de Rachel.

— N-não Quinn, não é isso... Mas fique quieta, por favor.

Revirei os olhos, continuando a balançar os pés como se nada tivesse acontecido. Berry bufou irritada e me encarou, pedindo explicações silenciosas. Dei um sorriso maroto. Chatear Rachel Berry estava me animando mais que o normal.

— Vamos ensaiar, por favor.

Dei de ombros enquanto Rachel ligava o pequeno aparelho de som que tinha trazido para tocar Unpretty. Comecei a cantar, de repente ficando muito mais calma. E era isso que a música causava em mim, mais do que Finn ou dar cambalhotas no ar. A música me fazia perder em pensamentos sem exatamente estar pensando. Fazia-me sentir tudo se ao menos estar sentindo alguma coisa. Era o que eu mais amava em cantar, e aparentemente Rachel pensava o mesmo.

Continuamos cantando por pouco mais de dez minutos até Rachel me interromper (onde olhei para os lados, imaginando que um incêndio estava acontecendo) oferecendo alguns sanduíches. Novamente, fiquei enrubescida por notar os enormes pedaços de bacon que estavam no meu. Berry realmente percebia algumas coisas que as outras pessoas sequer se importavam em saber.

— Que delícia! — exclamei ao dar a primeira mordida, deixando vários pedaços de bacon cair no piano. Os olhos de Rachel foram dos pedaços a mim, sentida. — Depois eu pego, relaxe. Aproveite seu sanduíche vegan, por favor — enfatizei a última palavra, numa tentativa falha de imitar a Berry.

— Você é péssima me imitando, Fabray — disse Rachel, rindo. — Nunca vire comediante, eu agradeceria.

— Eu teria de ir à Nova York para isso, e não acho que irei conseguir sair daqui tão cedo — murmurei sem pensar.

Tinha sido um erro, eu sei. Eu havia tocado no ponto fraco de Rachel novamente, mas dessa vez fora totalmente sem querer. Era para ter sido uma piada, porém a judia ficou quieta até terminar seu sanduíche. Mordi o lábio, e mais uma vez o bacon estava perdendo o gosto. Rachel Berry era realmente muito irritante, conseguia me fazer não sentir mais desejo por um pedaço de carne frita.

— Vamos voltar a ensaiar — ela disse friamente, passando as mãos no piano e voltando a cantar, dessa vez, baixinho.

Concordei com a cabeça, sem dizer nada. Praticamos por mais uma hora em total silêncio, ou seja, não conversávamos, apenas estávamos cantando. Algumas lágrimas caíram dos olhos de Rachel, que eu tentei ignorar. Eu estava entrando num espaço particular, único dela, era o que parecia. Estar lá naquele auditório ao lado de Berry num momento daqueles, era meio estranho.

Assim que se deu por terminado o ensaio, Rachel saiu pelas coxias sem se despedir. Fiquei em cima do piano por um tempo indeterminado, esperando inconscientemente que a baixinha voltasse. Quando a ficha caiu, reuni minhas coisas e saí do auditório.


Acordei no dia da apresentação animada. Rachel me ligara à noite para se desculpar pelo seu tratamento no dia anterior e insistira para que eu fosse como se estivesse indo para um dia normal e tedioso no colégio, mas não me contive e usei a melhor roupa que consegui encontrar em meu armário. Até Finn, que veio me buscar para firmar o fato que de que ainda éramos namorados, me elogiou.

— Soube que vai cantar com a Rachel hoje — ele disse no carro a caminho do colégio.

Suspirei. Sutil como sempre.

— Vou. Algum problema? — acrescentei arqueando a sobrancelha.

— Já não basta ajudá-la com aquela estupidez, tem que fazê-la de idiota também?

A sorte de Finn foi que havíamos chegado ao estacionamento e o lixo que ele insistia em chamar de camionete parou, por que senão eu o faria bater o carro de raiva. Quem diabos ele era para ficar jogando aquele tipo de coisa na minha cara? Rachel estava por um fio com sua auto-estima por causa daquele idiota, e ele ali do meu lado, dizendo que eu que tinha causado o furacão que Rachel estava passando.

Minha vontade era de terminar com ele naquela sucata, porém me contive. Não seria de nenhum proveito defender Rachel para depois sofrer por ser a única candidata a rainha sem um rei. Eu precisava de Finn, até pelo menos daqui duas semanas, minha reputação dependia dele.

— Eu não vou fazer Rachel de idiota, nós vamos apenas cantar sobre o que Mr. Schue pediu — falei, ainda borbulhando de raiva internamente. Do lado de fora, no entanto, minha voz estava perigosamente controlada. Se Finn me conhecesse o bastante, daria por ali aquela discussão encerrada.

— Tudo bem — bufou ele, abrindo a porta de sua sucata com motor. — Te vejo no Glee, então.

Ele se inclinou para me dar um selinho, porém eu já pulava para fora do carro.


Nervosa?

Franzi a testa para o bilhete na minha mesa, tentando decifrar de quem pertencia àquela letra. Ergui os olhos a fim de procurar seu dono e acabei encontrando uma Rachel animada com um sorriso capaz de iluminar toda a cidade de Lima me encarando. Rolei os olhos, sorrindo. Rachel era péssima em fazer algo na aula que não fosse puxar o saco do professor ou estudar.

Um pouco. Faz tempo que não canto para aquela platéia.

Passei o bilhete de volta a ela discretamente. A judia pegou-o entusiasmada e leu. Observar as expressões da baixinha era muito mais interessante que saber sobre Física. A resposta do meu recado não veio, contudo. Rachel virou-se para mim e mandou um sinal positivo junto com um sorriso enorme. Não me contive e sorri também.

O sinal anunciando o horário para o Glee tocou. Rachel se levantou acalorada, mas eu continuei quieta, sentada em transe. Eu não sabia que se podia entrar em pânico por uma coisa boba daquelas, mas pelo jeito podia, sim.

Ao ver que eu não me movera um músculo, Berry voltou para dentro da sala e enfiou seu rosto no meu campo de visão, me assustando.

— Tudo bem, Quinn? — ela perguntou, preocupada. — Você tá pálida...

— É nervosismo, só isso — respondi passando a mão pelos cabelos. — Nada demais.

— Se acalme, é só uma canção — Rachel disse, abanando a mão num claro sinal para que eu me despreocupasse. — Nosso mash up ficou ótimo.

Rachel conseguiu tirar de mim um sorriso mínimo. Ela pegou minha mão num gesto amigável e me fez levantar, seguindo-a pelos corredores vazios até a sala do coral, onde nos esperavam. Ao notar os olhares de todos em nossas mãos apertadas uma contra a outra, rapidamente soltei-me de Berry, corando.

— Ok, hoje nós teremos Rachel Berry e Quinn Fabray no primeiro dueto delas para o Glee! — exclamou Mr. Schue animado para os garotos do Glee, indo sentar junto deles.

Dois banquinhos foram postos para nós duas no meio da sala. Uma parte do quarteto de cordas que pedimos para a banda também estava posicionada. Rachel sentou à minha esquerda, olhei para ela e a judia baixinha sorriu para mim, me encorajando.

— Nossa canção para a tarefa dessa semana é um mash up de Unpretty das TLC e I Feel Pretty do musical West Side Story — Rachel falou rapidamente, já dando sinal para que a banda começasse a canção.


— Lucy, volte aqui!

Ela escutava a voz de John a perseguindo pelos corredores do colégio. Tentava não dar atenção, mas seu coração dizia que deveria parar para escutá-lo. Não deu ouvido e continuou correndo até parar na entrada da escola, sem saber o que fazer.

— Lucy, me escuta, por favor. — Mãos firmes agarraram seu braço e ela não teve alternativa senão virar-se friamente para o garoto.

— O que foi?

Odiava ter que tratar John daquela maneira, porém as memórias do baile ainda estavam frescas em sua cabeça. Ele mordeu os lábios e continuou a fitá-la com um arrependimento doentio no rosto.

— Me desculpe — pediu involuntariamente, suas mãos se afrouxando do aperto.

— Não.

— Mas...

— Não, John! — exclamou mais firme. — Estou acostumada com os garotos do colégio zombando de mim por que eles jamais entraram na minha vida. Agora você... — ela respirou fundo para controlar as lágrimas — Você foi o pior. Conheceu meus pais, fez minha irmã de idiota comigo, eu deixei você entrar no meu quarto! Você foi o pior, John, por que você soube o que eu passava e mesmo assim continuou! Aquilo no baile foi imperdoável.

Ele abriu a boca para responder, mas a menina já saía dali com determinação, as lágrimas agora caindo copiosamente. Ignorou o grito de sinto muito de John. Sua decisão já estava tomada. John não importava muita coisa agora. A partir daquele dia, se tornaria outra pessoa, melhor do que qualquer outra que já havia pisado nela.


Por que essa memória estava me voltando justo agora? Não era o melhor momento lembrar-me da minha decisão final enquanto cantava com Berry uma canção sobre ser feia. Aquela foi a primeira vez em que senti o ar de liderança que veio cair como luva quando entrei para as Cheerios. Aquele foi o primeiro momento em que senti o orgulho Fabray pulsar verdadeiramente em minhas veias.

Olhei para Rachel, mas parecia que ela não se lembrava de seus momentos como uma garota bonita. Cantando, finalmente percebi que a baixinha não tinha momentos bonitos, ela tinha passado a vida inteira sentindo-se feia.

Meu rosto murchou. Éramos mesmo extremos. E a maior parte da vida dela, eu que havia feito sentir-se péssima consigo mesma. Os apelidos, as raspadinhas... Tudo era uma forma de descontar minha raiva de havia dentro de mim contra todos na minha infância. E o meu alvo era Rachel Berry, a baixinha judia irritante metida à estrela Rachel Berry.


— Alguém mais notou? Caboosey está emagrecendo! Deve ter sido o chute que John deu nela!

Incrível. Poderia ter passado dois meses do baile e os valentões ainda arranjavam algum comentário maldoso para jogar nela. Passou com ar superior pelos jogadores de futebol, notando John entre eles. Não se falavam desde o incidente na escada depois do baile, o que jamais a impediu de não se lamentar.

Ainda fazia aulas com ele e não resistia ao seu sorriso encantador, mas aquele garoto era passado. Entrara para a equipe de natação por insistência dos pais (a irmã havia entrado no mesmo ano que ela) e se descobriu atlética. Treinava mais do que as outras garotas, ganhara já algumas medalhas e o melhor: estava emagrecendo. No começou não notou a diferença, mas naquele mês suas roupas estavam mais folgadas. Sentia-se mais confiante e segura que nunca.

É claro que não duraria muito.

Em seu colégio, tinha a semana dos melhores. Todo dia durante essa semana era eleito quem fosse mais bem vestido, quem tinha o melhor sorriso, o melhor cabelo e etc. Não sendo um acaso, o dia de hoje era sobre quem era o mais bonito das turmas. E no quadro de avisos quando virou no corredor para se afastar dos valentões, estava lá seu nome, ou melhor, seu apelido.

“Lucy Caboosey... Por que as pessoas mudam”, esse era seu slogan — e nenhuma das outras concorrentes tinha um. Quando se virou para fugir dali, o desespero e a humilhação tomando conta mais uma vez, encontrou os mesmo jogadores de futebol que haviam lhe xingado antes, rindo e apontando para ela como se fosse um animal de circo exposto.

Correu para o banheiro novamente. Trancou-se ali até o horário da saída. Não acreditava em sua burrice de tentar sentir-se bem, de tentar levantar sua auto-estima, estando naquele colégio. Ninguém a deixaria, ninguém queria que ela fizesse isso.

Nunca tinha se sentido tão humilhada em sua vida.


Eu não sabia que aquela música causaria tanto impacto em mim. Durante os ensaios, não era nada além de um mash up que faria com Berry. Agora... Estar na frente do Glee Club inteiro expondo minha maior fraqueza a eles era algo realmente doloroso. Quinn Fabray, a garota perfeita, tinha reais sentimentos, isso era algo que eu não poderia aceitar que eles soubessem de mim.

Quando os últimos acordes da canção terminaram, me virei automaticamente para Rachel. Para variar, seus olhos estavam marejados de lágrimas, mas eu sabia que ela não estava com pena de si, por que Rachel Berry não fazia esse tipo. A dor que seus olhos passavam ao me encarar era minha. Após três anos estudando juntas, finalmente conseguimos compartilhar algo: o sofrimento de tentar se encaixar num lugar onde todos te odeiam.

Então, de repente, cabelos negros tamparam minha visão. Senti mãos afagarem minhas costas, apertando meu corpo contra o dela gentilmente. Fui perceber com um segundo de atraso que aquela baixinha judia que eu costumava torturar para me sentir bem comigo me abraçava como se fôssemos amigas de longa data. Apesar do choque inicial, englobei Rachel nos meus braços, sentindo agora a respiração dela no meu ombro, ofegante.

— Se alguém — ela começou a dizer no meu ouvido com a voz embargada —, um dia, lhe tratar mal, me chame. Se um dia sentir-se péssima consigo mesma, me ligue. Quinn, não se sinta sozinha sabendo que existe uma amiga do seu lado, ok?

A surpresa do apoio foi tão grande que não fiz nada além de concordar com a cabeça.



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