Corey tinha os lábios prensados aos meus enquanto a chuva fina começava a aumentar do lado de fora da casa. Entrelacei os braços em seu pescoço o aproximando mais e dando-lhe mais um selinho dessa vez sorrindo, seus beijos desceram em meu pescoço e disparei a risada gostosa que ele tanto adorava.

Seus olhos voltaram para mim enquanto seus braços me prendiam contra a parede brinquei com a gola de sua camiseta vendo o sorriso malicioso abrir em seus lábios.

– Precisamos fazer uma coisa... – comentou segurando minha mão e nos guiando pelo corredor.

– O que seria essa “coisa”? – perguntei curiosa assistindo ele abrir a porta balcão da sala.

– Beijar na chuva. – respondeu nos jogando para o molhado e observando minha surpresa em ter os cabelos e as roupas encharcados num segundo.

– Você enlouqueceu? – indaguei rindo enquanto ele nos aproximava e eu olhava rapidamente ao céu negro.

– Estava na lista de 20 coisas para fazer antes de morrer... – murmurou enrolando uma mecha de meu cabelo entre os dedos.

– Na sua lista! – debati tentando conter o sorriso que firmava em meu rosto.

– Minha lista, sua lista... De que importa? O que é meu é seu, o que é seu é meu, assim, minha lista é nossa. Pois todos os itens dela te incluem. – revirei os olhos contendo o coração que palpitava com suas palavras.

– O que eu faço com você Corey Taylor? – joguei a cabeça para trás recebendo um beijo em meu pescoço, beijo que subiu até minha orelha.

– Me beija. – pediu sussurrando.

Virei o rosto e juntei seus lábios nos meus, a chuva era fria, mas banhava dois corpos quentes... Quentes de sentimentos, entrando numa combustão de amor. Agarrei sua camiseta molhada entre os dedos, fazendo pressão e ele retribuiu me juntando mais ao seu corpo, se é que isso era possível.

– Mais uma meta cumprida... – resmunguei o abraçando após o beijo enquanto ele teimava em agarrar meus cabelos emaranhados.

– Eu poderia morrer completando apenas mais uma delas... – afastei-me para encará-lo.

– Qual?

– Casar... – mirei os lábios entreabertos que praticamente sopravam a palavra. – Casar com você. – senti meus músculos tencionar e voltar ao normal com mais um beijo seu.

Então era isso... Corey, Corey Todd Taylor queria casar comigo? Com certeza muita informação para se absorver num dia de chuva.

Balancei a cabeça livrando-me do breve devaneio que enchia minha mente de preocupação e trazia água em meus olhos, respirei fundo olhando para Corey que observava curioso a cena. Parei sobre seus intensos olhos lembrando o quanto éramos felizes, pensando o porquê real de eu ter desistido de tudo...

– Qual é o telefone do psicólogo que te falou daquela... filofo... – parei pensativa.

– Filofobia. – completou trazendo-me sua atenção novamente.

– Isso... Qual o telefone dele? – notei o brilho em seus olhos aumentar, esquivei –me assustada.

– Na verdade, ele fica na Dacota do Sul, mas eu posso te levar... – murmurou convidativo e eu suspirei tentando lidar do melhor modo.

– Não sei se é uma boa ideia... – rebati encarando meus pés e vi de repente sua mão puxar a minha num aperto consolador.

– Ei, vamos como amigos... Apenas amigos. Tudo bem pra você? – era quase impossível negar o pedido dele encarando seus olhos tão cheios de vida, antes que pudesse raciocinar já estava concordando num aceno de cabeça. – Certo, providenciarei as passagens e quando estiver tudo pronto te comunico ok? – suspirei escorregando minha mão para fora da sua.

– Está bem. – virei às costas para ele seguindo ao lado do motorista no carro. – Obrigada. – disse por fim já abrindo a porta.

– Não há de que. – congelei com o sorriso que aparecia em sua face, há anos não via esse sorriso.

Ainda sem jeito me joguei ao banco do motorista e liguei o carro com pressa arrancando com o motoro velho que rugiu feito leão. Peguei um atalho de rua calma, pois as madrugadas nesse bairro daqui eram agitadas... Logo estava em meu apartamento.

Surpreendi-me ao encontrar minha porta arrumada, e me peguei sorrindo ao imaginar Corey promovendo o concerto... Ele era tão atencioso. Sacudi o corpo me libertando de qualquer outro pensamento, e passando voada pela sala parei em meu quarto.

Com o pijama já no corpo dei uma olhada na caixa de memórias, ela parecia me chamar, me chamar para desenterrar minha pequena lista de metas a cumprir antes de morrer... No entanto, não poderia faltar a mais um dia no trabalho do dia seguinte, preferindo dormir de uma vez.

O dia amanheceu com o sol mais exposto, e atrasada por não ter escutado o rádio relógio falar pelas primeiras horas do dia, tive de me arrumar feito um furacão e sair de casa sem café, parando na loja de rosquinhas mais próximas e engolindo duas de uma vez.

– Vejo que está melhor Anna! – exclamou Howard me recebendo com um sorriso.

– Estou sim, obrigada! – Clair se aprontou em me abraçar. – Para falar a verdade, preciso conversar com o senhor mais tarde... – comentei enquanto amarrava o avental em minha cintura.

– Apenas se parar de me chamar de senhor. – ouvi sua risada ao longe e murmurei um “ok” indo atender o primeiro cliente antes que Layla pudesse encher meus ouvidos.

...

– Um café expresso e waffles Roger! – pedi anexando o papel do pedido em sua bancada, logo sentindo pequenas mãos me arrastarem para o estoque.

– Sua vaca! Ficou me evitando! – reclamou brava com um bico após eu ter me lotado de clientes durante a manhã toda apenas para me livrar de suas baboseiras.

– Que isso Layla, isso é paranoia da sua cabeça! – comentei sorrindo e apertando sua bochecha.

– Sid vomitou no meu cabelo ontem... – disse de uma vez e eu segurei a risada em minha garganta.

– Tá de brincadeira? – exclamei soltando um riso fraco comparado ao que eu gostaria de surtar.

– Não, não tô... Ele me levou pro quarto, vomitou no meu cabelo e dormiu. – resmungou desgostosa cruzando os braços.

– Não fizeram nada? – perguntei arqueando uma das sobrancelhas.

– A gente IA fazer, até ele vomitar em mim! – vi sua sobrancelha fechar num vinco. – Mas tudo bem, o Joey me ajudou. – completou sorrindo de leve.

– Joey? Como assim? Saiu com um e ficou com outro? – disparei as perguntas sobre ela um tanto atônita.

– Claro que não, ele só me ajudou com meu cabelo e me levou pra casa... – evitei comentar sobre seu meio sorriso ao pronunciá-lo. – Joey é legal sabe? Um bom amigo...

Se antes eu pensava que a história Sid e Layla seria boa de observar, agora ficara melhor, Sid, Layla e Joey... Isso eu sabia, pois a pequena avatar desembuchou em falar sobre como ele dizia coisas engraçadas, e sobre como “zoaram” Sid... Uma infinidade de acontecimentos que provava o quanto ela estava interessada no baixinho, e quanto o mini projeto de baterista também se interessava pela azulada.

Pois só eu sabia que Joey era uma raridade mundial de homem que só fazia as coisas que fez por Layla se realmente está “interessado”, ou se te conhece há um bom tempo... Esse era meu caso, e mesmo assim nunca havia tido um diálogo tão longo com a figura sombria do mesmo modo que minha amiga. Com certeza esse triângulo amoroso daria o que falar, e por enquanto eu torcia por Joey Jordison, pois Sid não era lá o tipo “certo” de cara.

– Layla, Layla! – chamei seu nome tirando-a do transe “Joey”. – Chega ok? Mais tarde, ou melhor, durante o almoço você me conta isso, agora precisamos trabalhar. – ela assentiu contragosto e me deixou sozinha no estoque indo atender outra mesa.

Tomei fôlego para sair e percorrer o mesmo caminho que ela, até que senti o celular vibrar em meu bolso. Permiti-me permanecer ali mais uns minutos lendo a mensagem de um número desconhecido.

“Tudo certo para Dacota do Sul, partimos no sábado. Beijos, Corey.”

Era possível eu querer entrar em das caixas grandes que me cercavam e fingir que não estava viva para o mundo? Corey agindo sobre mim, e antes que eu desse um “ok” como resposta óbvia resolvi perguntar:

“Onde conseguiu meu número?”

A reposta veio mais rápida do que a que eu havia mandado.

“Com Brenna...”

Meu tormento de cabelos vermelhos... Pensei comigo mesma, antes de gravar seu número em minha agenda também e juntar o pouco de sanidade que me restava para ir trabalhar. Se é que eu poderia trabalhar nervosa como estava.

No fim do dia acabei dando prejuízo, quebrando duas xícaras e três pratos... Howard logo percebeu que não estava num dia bom, e minha cabeça voava em pensamentos alheios, ou melhor, numa viagem em especial, numa viagem ao lado do meu ex... Isso soava tão... Estranho.

...

– O que queria conversar comigo Elise? – perguntou o senhor de cabelos grisalhos assim que entrei em seu pequeno escritório.

– Bom, como o senhor... – fui repreendida com um olhar. – Como você sabe, estive doente dia desses, e acabei indo ao hospital onde me disseram que eu precisava fazer um acompanhamento com um especialista. Um amigo meu me indicou um, o problema é que ele trabalha na Dacota do Sul, então estava pensando se poderia usar os meses de férias que tenho acumulados, para algumas semanas de... – antes que eu pudesse terminar ele se apressou em me tranquilizar.

– Use o tempo que precisar saúde em primeiro lugar... Mas diga-me, é grave? – senti o tom preocupado em sua voz e me martirizei pela pequena mentira.

– Não... Só preciso passar por esse especialista. – lhe assegurei sorrindo.

– Está bem, quando você parte?

– No sábado.

– Amanhã nos vemos então! – exclamou vindo para me acompanhar até a porta do escritório onde me presenteou com mais um de seus abraços. – Qualquer coisa, pode me ligar, estou à disposição! – assenti saindo.

Quando pus os pés para fora do estabelecimento e senti a brisa renovada se encostar-se a mim, senti que ela trazia bons e novos princípios, talvez até o recomeço para uma nova vida, e em partes, isso me assustava.