Atração Perigosa escrita por Lilas Oliveira2005


Capítulo 2
Capítulo 2




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Fui direto para o meu quarto, batendo o pé com tanta força contra o assoalho que qualquer um saberia a raiva que me consumia por dentro, com vergonha de mim mesma, joguei a bolsa e o casaco longe, arranquei os sapatos e o jeans, andava de um lado para o outro, indignada com aquela situação, mordendo os lábios pensava como eu pude ser tão leviana comigo mesma, me deixando ser usada. Que imbecil eu fui.
Enquanto me xingava olhei pela janela e percebi que estava sendo observada pela velhinha fofoqueira que morava em frente, o jeito como ela me olhava parecia saber o que tinha acontecido. Uma sombra de dúvida passou pela minha mente, porém era claro que ela não sabia de nada, ninguém sabia, era apenas impressão. Me aproximei da janela com uma vontade de mandá-la plantar batatas, mas como ela não tinha nada a ver com meus problemas mesmo sendo uma velha fuxiqueira, não tinha porque descontar minha raiva nela, apenas fechei a cortina com força dando a entender que queria privacidade, mas com certeza agucei sua vontade de futricar, deveria estar agora falando com a outra vizinha sobre mim; pensar nisso só fez meu ódio aumentar.
Estava com a cabeça a mil, algo não se encaixava, tentava juntar peças daquele quebra-cabeça, inúmeras perguntas tomavam conta da minha mente e cada uma delas me deixava ainda mais confusa. Deitada na cama, abraçada em meu fiel travesseiro comecei a chorar, era uma sensação de desespero e impotência. Tinha sido usada como qualquer garota de programa da boate, porém a diferença entre mim e elas, era que eu nunca fui uma, havia me deixado levar pela sedução daquele estranho e agora a sensação de vazio se apoderava de mim.
Resolvi tomar um banho para repor minhas energias e me livrar do cheiro dele, mesmo não querendo me esquecer. Liguei o chuveiro, o som da água caindo sob meus ombros soou como uma musica terapêutica me relaxando aos poucos, sem contar à ducha que era pra mim uma sessão de massagem, por alguns minutos fiquei ali parada, totalmente inerte aos meus pensamentos, subitamente comecei a esfregar a bucha sobre meu corpo como se fosse possível me limpar daquilo tudo, em desespero comecei a gritar chamava pelo seu nome e dizia o quanto ele era desprezível.

_Eu te odeio Derek! – pronunciei essas palavras enquanto fechava o registro do chuveiro, vesti meu roupão e voltei para o quarto.

De frente ao espelho, notava minha aparência que já havia visto melhores, os meus olhos estavam inchados de tanto chorar, bolsas arroxeadas abaixo deles mostravam o quanto amargurada estava, meus lábios estavam com um sorriso inverso que por mais que tentasse não deixava minha face.

Sempre me considerei linda, ficava horas de frente ao espelho me admirando, chamava a atenção dos homens mesmo não querendo, extremamente vaidosa sempre me cuidei. Meu corpo era bem distribuído em seus 1,70m, bustos médios bem arredondados, por vezes sem necessidade de usar um sutiã para suportá-los embaixo das roupas. Reservava um espaço durante o dia para um treino na academia ou até mesmo uma simples caminhada pelo parque próximo a minha casa, para manter a cintura fina, as pernas torneadas e os quadris firmes. Ciumenta com meus cabelos, só confiava em uma pessoa para tratá-los, meu amigo Steve que me dizia: - “Se eu fosse mulher queria ter os cabelos louros iguais ao seu”. Ele foi quem me convenceu a adotar as mechas californianas e me surpreendeu com o resultado, destacou ainda mais meus olhos esverdeados, neste dia me senti poderosa saindo de seu estúdio, como ele mesmo pedia para chamar seu salão.

Decidida e determinada, quando traçava um objetivo ia até o final, lutava com todas as minhas forças até conseguir; nesta parte não podia me considerar uma mulher frustrada, já no amor não dizia o mesmo cheguei a pensar que escolhia demais, depois do Tom não quis me relacionar com mais ninguém, estava solteira fazia quatro longos meses, talvez tenha sido essa carência que fez envolver-me de forma tão estúpida com Derek.

Em meio essa retrospectiva, meu estomago avisou estar na hora de comer, me sentia fraca, a dor de cabeça me incomodava de tal forma que queria apenas dormir, mas pensava que talvez meu mal estar fosse por não ter me alimentado, decidi ir para a cozinha preparar algo, coloquei meu agasalho preferido – um conjunto de malha azul marinho – ajeitei meus cabelos, abri a cortina para deixar meu quarto arejado e espantar os maus fluidos para quando eu retornasse.

Como eu já imaginava quando olhei para a rua Dona Adelaide estava lá conversando com a velha Clarice e olhando para minha janela, era certo que estavam falando a meu respeito, o que novamente me irritou, me fazendo sentir uma pontada mais aguda na cabeça, eu já devia estar acostumada a isso, morava lá há tanto tempo e era alvo não só da cobiça dos homens, mas da inveja das mulheres. Fechei a cara quando me encarando com risinhos maliciosos dando-lhes as costas. Não precisava disso pra piorar o meu dia.

A cozinha estava deserta como todos os outros dias, mas desta vez me fez sentir mais solitária que antes, queria ter alguém para desabafar o ocorrido enquanto preparava meu desjejum. Tentei pensar em algo suculento para degustar mas minha dispensa estava praticamente vazia, na geladeira não havia sequer um ovo, irritada, peguei uma maça e a devorei, de súbito tive forças para sair daquela melancolia, peguei minha bolsa, calcei o tênis e saí.

As duas ainda estavam no portão tagarelando, passei próximo a elas que rapidamente trocaram de assunto, parei no ponto de ônibus e torcia para que chegasse logo, odiava ter que utilizar transporte público, todo dia alguém tinha uma história pra contar ou ainda aquelas pessoas sem o mínimo bom senso com o radio portátil ou celular com volume alto, já comprei vários fones de ouvidos e distribui, mas parece que esse tipo de gente se multiplica, enfim, até que eu conseguisse juntar dinheiro e comprar uma moto tinha que passar por isso. Enquanto o ônibus não chegava fiquei ali parada relembrando a última noite, cada detalhe, por um minuto cheguei até a sentir o perfume de Derek, fazendo as lágrimas voltarem a molhar o meu rosto, me abaixei secando o rosto tentando controlar aquela raiva de mim mesma.

Meia hora mais tarde entrava no ônibus que estava vazio, o motorista me cumprimentou e notei seu ar de malicia ao olhar para mim, sabia que quando passasse pelo corredor ele olharia para o restante, tinha nojo e repulsa por homens desse tipo, e por ironia do destino eram homens assim que garantiam o meu sustento. Passando pela catraca o cobrador também com olhar malicioso mordeu os lábios quando me disse bom dia, estava com ódio de todos os homens desse mundo, com certeza todos fariam o mesmo que Derek fez comigo, me sentei no assento isolado atrás do banco mais alto, dessa forma os dois não conseguiriam me ver e nem eu a eles, a viagem era curta, mas parecia uma eternidade, todos os semáforos resolveram fechar, em cada parada alguma velhinha custava a subir. Tudo me irritava, seria a dor de cabeça ou a fome? Desci em frente a praça do coreto no centro da cidade, ali havia vários restaurantes e lanchonetes, fui até a loja da Cristine convidá-la para almoçar, precisava distrair minha mente senão iria enlouquecer se guardasse comigo.

Conheci Cristine há dois anos em um curso de maquiagem que fizemos juntas, sempre a admirei por ser vaidosa até um pouco mais que eu, morena de olhos claros e estatura mediana, chamava muita atenção principalmente pelos cabelos longos cacheados e bem cuidados, em uma de nossas conversas descobrimos que ambas éramos dançarinas de pole dance. Foi quando me apresentou à Xavier, fomos até a boate ao qual gostei muito, achei de um nível mais alto do que a anterior onde me apresentava, Xavier me pediu uma apresentação e segundo Cristine ele ficou encantado comigo, me ofereceu o emprego e eu prontamente aceitei. Era bacana trabalharmos juntas, algumas vezes preparávamos uma surpresa e fazíamos um show em dupla, muito bom, mas Xavier não gostava muito, achava que uma tirava o foco da outra e vice versa, o publico se sentia dividido então nos proibiu esse tipo de apresentação.

Logo que cheguei Cristine percebeu que algo havia acontecido e que estava relacionado com o homem misterioso da boate, enquanto aguardávamos nossos pratos, contei tudo, cada detalhe, desde quando nossos olhos se cruzaram até ele ter me largado naquele lugar sozinha com uma estranha e um táxi na porta, chorei novamente me sentindo a pior das mulheres, muito sensata, Cris avaliou toda a situação e me deu sua opinião a respeito, não era exatamente o que eu gostaria de ouvir, mas ela sempre foi sincera, me alertou quanto a minha atitude.

_Samantha, você não foi prudente, você sabe que os homens que vão até a boate procuram apenas diversão.

Concordei com ela, pois apesar do desejo deveria ter me controlado e não ter aceito sair com ele, infelizmente ali todos os homens nos enxergam como garotas de programa, não fazem distinção alguma e eu não podia discordar dela, estava certa, fui muito burra e me deixei levar pelo momento.

Terminamos de almoçar e já me sentia bem melhor, a dor de cabeça havia amenizado e minhas lágrimas estavam contidas, Cristine me deu força para seguir em frente e tentar esquecer, até me ofereceu um emprego em sua loja durante o dia para me distrair, mas não aceitei, pois seria cansativo e eu também estava acostumada a ter os dias livres para ensaiar e descansar. Realmente ela era um anjo em minha vida. Saímos do restaurante e nos despedimos ela voltou para a loja, eu resolvi ir para o shopping talvez comprando algo novo eu conseguiria levantar o meu astral.

Olhei quase todas as vitrines e nada me agradava, realmente eu não estava no meu melhor dia; desanimada, caminhei cabisbaixa até a saída, resolvi ir embora de mãos vazias mesmo.

Quando eu já estava no ônibus voltando para casa meu celular toca, olho o número no identificador, mas estava como desconhecido, ao atender uma voz masculina pouco encorpada, mas num acentuado tom sensual fala como um sussurro arrepiando até os fios de cabelo da minha nuca.

_Vai dançar para mim hoje?

Arfei, meu estomago gelou e a mão ficou tremula, precisei segurar com força no banco da frente para não perder o equilíbrio, respirei fundo buscando a voz, mas sabia que sairia fraca ao falar.

_Quem é?

_Pensei que reconheceria, afinal somos mais íntimos agora, não acha?
Será que era ele? Só podia, não é possível, cachorro, miserável! – pensei enquanto buscava palavras para responder, com a voz embargada só consegui dizer - Não, hoje não é meu dia!!– desliguei o telefone jogando-o no banco ao lado com raiva, logo em seguida me arrependi dessa atitude deveria tê-lo questionado e se tivesse uma boa explicação e eu o “crucificando” injustamente? Peguei o celular na esperança que tocasse novamente, segui a viagem toda olhando para ele, mas nada aconteceu.

Sentia-me sufocada dentro do ônibus, dei sinal e desci rapidamente sem saber para onde ir, atravessei a rua e sentei no ponto no sentido contrário do meu destino, pensei em ligar para Cristine, mas logo desisti afinal eu já sabia o que ela ia me dizer, olhei para o lado e avistei um casal sentado na praça, me chamou atenção que um pouco mais a frente do casal havia um carro preto estacionado, de longe não consegui identificar o modelo muito menos se havia alguém dentro dele, o que me intrigou é que quase todas as noites um carro parecido ficava estacionado em frente a boate. Seria coincidência ou eu estava certa de estar sendo seguida? Seria o Derek?

Esse pensamento que me impulsionou a checar, ficaria por ali até que o dono aparecesse, quando eu estava um pouco mais próxima, uma fresta se abriu no vidro do motorista, não consegui ver no interior do veículo, mas alguém jogou algo em minha direção e partiu cantando pneus. Estanquei no lugar dividida entre correr atrás do carro – o que era um pensamento absurdo – e ver o que havia jogado. Decidi pela segunda opção já que o carro não estava mais a vista, recuperando o fôlego, apanhei o objeto, era um lenço branco com as iniciais DH bordadas no canto direito e nele estava escrito com canetinha vermelha.

Espero ansioso vê-la dançar hoje!

A letra era arredondada, culta, como de alguém que havia estudado muito para escrever assim, senti um comichão dentro de mim e estava em choque, olhando fixamente para onde o carro estava parado antes. Nem era minha noite de dançar!

Ele estava tão perto não entendi porque tamanha covardia em me encarar, uma sucessão de porquês invadiu minha mente, só saí do transe quando ouvi o celular tocar, peguei-o rapidamente e atendi ofegante como se estivesse saído de uma maratona.

_Oi Samantha sou eu Cristine. O Xavier te ligou?

_Não, aconteceu alguma coisa Cris?

_Creio que sim Sam, o Xavier pediu para que fossemos para a boate agora, não me deu detalhes. Você está em casa? Eu passo aí para te pegar.

_Nossa deve ter acontecido algo muito grave para ele nos convocar desta forma. Não Cris, eu estou na praça Di Gaspi, não se preocupe, eu pego um ônibus.

_Em cinco minutos eu chego aí, já estou no caminho.

_Ok te espero.

Fiquei intrigada, pois o tom de voz de Cristine era de preocupação, me pareceu que ela sabia o que estava acontecendo, mas não queria me dizer; em poucos minutos ela chegou, seu semblante era sério e ao mesmo tempo de alivio, entrei no carro e fomos em direção a boate.

_Você sabe o que está havendo?

_Pelo que entendi, a dançarina de hoje não vai.

Durante o percurso tentei que me contasse o que estava acontecendo, mas ela disse que não sabia direito, quando entramos na rua da boate tudo parecia normal, Cristine estacionou e rapidamente atravessamos a rua, tocamos a campainha e Xavier nos recebeu, estava agitado e percebi que seus olhos estavam vermelhos como quem acabou de chorar.

_Aconteceu algo – meu tom era de desespero e preocupação, nunca havia visto ele deste jeito – Porque nos chamou com tanta pressa Xavier?

Ele nos deu as costas e seguiu para o centro do salão, lá estavam os outros funcionários olhei para todos e notei a ausência de Cindy que era a dançarina da noite, olhei para Cristine e seus olhos encheram de lágrimas. A principio não entendi nada nem o motivo dela ter me escondido que sabia de algo.

Cindy estava na boate a alguns meses, trabalhava como garçonete, mas também fazia programas, todos diziam que ela era sem graça, realmente ela não tinha uma beleza que chamava a atenção dos homens, mas sempre conseguia um programa ou outro.

Dois homens que eu nunca havia visto antes estavam ali também, o mais baixo perguntou para Xavier se todos estavam ali, Xavier respondeu prontamente que sim e nos anunciou que os dois eram investigadores e precisavam fazer algumas perguntas referente o desaparecimento de Cindy, apertei forte a mão de Cristine e assim como todos ouvimos atentamente o policial.

_Há uma semana Cindy foi encontrada morta em um terreno baldio próximo a rua onde morava, a principio suspeitamos de latrocínio, pois não havia sinais de estupro, no local encontramos alguns objetos exceto a carteira e celular. – ele fez uma pausa para que o burburinho diminuísse e então continuou, seu tom era frio e sem compaixão - Após a pericia foi constatado que a garota teve relação sexual, porém não havia vestígio de sêmen nem digitais em seu corpo, a única coisa encontrada no local que possivelmente nos leve ao assassino, foi um lenço branco bordado com as iniciais DH.

Ele continuou falando, mas meu corpo todo estremeceu e meu coração disparou como um mal súbito. Fiquei gelada, minha boca secou, meus olhos encheram-se de lágrimas, era a descrição do lenço que foi arremessado do carro preto, tinha certeza que corria perigo.

Comecei a me recordar da noite passada, aceitei sair com um estranho, se quer tinha noção do lugar para onde estava me levando, como fui leviana comigo mesma. Cristine me olhou e notou meu espanto certamente sabia no que eu havia pensado.

Percebendo meu comportamento, o agente perguntou se eu sabia de algo, as lágrimas corriam livres por meu rosto, Cristine segurou em meus ombros, me passando forças para continuar, abri minha bolsa e retirei o lenço, tão logo o agente o pegou e identificou com o encontrado no local do crime.

_Quem lhe entregou isto? – antes que respondesse ele me pegou pelo pulso me arrastando para a sala de Xavier, de seus olhos saiam faíscas parecia extasiado por ter conseguido alguma informação.

Puxei meu pulso e o segui em silencio, levando comigo Cristine e Xavier, não queria passar por isso sozinha. Meu chefe estava lacônico, balbuciando palavras como morte, estupro e que a culpa era dele.

No escritório detalhei os acontecimentos de como tinha conseguido aquele lenço, mas omiti que na noite passada eu estive com uma pessoa cujo primeiro nome começava com D.

_Samantha, você nos ajudará a pegar esse assassino.

Tamanho foi meu desespero quando ele pronunciou as palavras, que cai sentada na poltrona sem forças para me manter em pé. Sanches, o policial que conduzia as perguntas me orientou a seguir minha rotina normalmente e fazer o jogo do Sr DH como o estavam chamando, o que significava que nesta noite eu me apresentaria novamente.


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Notas finais do capítulo

Queridos leitores,
Informo que a sigla DY foi alterada para DH, com o desenrolar da historia vocês entenderão o porque.
O suspense continua... Derek é ou não é o misterioso DH?



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