_Sabe de uma coisa, Valie?_disse Polly, que estava
sentada na cama da ruiva, lixando as unhas._ Claro que não, eu acabei de
pensar. Mas você sabe, com certeza, que o baile de formatura da escola é na
sexta que vem, né?

            Valie assentiu.

            _Bom então, você também deve te visto aqueles óculos
escuros novos da Chanel que são perfeitos?

            _Ah, sim. Com certeza que eu vi. Seria um ótimo presente
de formatura, não?

            _Era exatamente no que eu estava pensando! Eu preciso
daqueles óculos!

            _Você tem dinheiro?

            _Claro que tenho.

            _Então o compra!

            _Por que eu iria comprar e se eu posso… simplesmente
pegar sem gastar nenhum dinheiro? – disse Polly sorrindo maliciosamente.

            _O
que você qu… - disse Valie. – Ah! – sorriu ela. – Então vamos ao shopping!

            _ É, só que você vai precisar me emprestar alguma coisa
para vestir.

            _Certo.

            E sem esperar por um convite ou permissão, Polly abriu o
armário de Valie. A ruiva foi atrás da amiga.

            Polly já tinha jogado metade de suas roupas no chão.

            _Polly!

            Valie começou a pegar suas coisas. Odiava quando a amiga
fazia isso. Com toda a bagunça que era sua vida, ela não precisava de mais
bagunça ainda.

            _O que você acha? – perguntou Polly, colocando um lenço
verde de Valie no pescoço.

            _Acho que valoriza o tom da sua pele… - disse Valie,
sorrindo.

            _Verdade. O que mais você tem? – Polly se olhava no
espelho, pensativa.

            Valie colocou as roupas que estava arrumando em cima de
uma das inúmeras prateleiras e se embrenhou nas profundezas de seu armário,
trazendo óculos escuros.

            _Ah! Obrigada! Vai ficar perfeito! – a loira colocou os
óculos que cobria seu rosto como uma máscara.

            _Coloca isso também. – Valie deu a ela um casaco três
quartos rosa claro.

            _Obrigada! Ficou perfeito! Sua vez!

            Valie começou a rir quando a amiga olhava para ela,
provavelmente pensando em um jeito de esconder seus cabelos.

            O ruim de ser ruiva era esse. Ela não podia deixar os
cabelos a monstra ou seria óbvio que era ela, já que a única outra ruiva mais
ou menos da idade dela era Charlotte, e Charlotte estava na faculdade, na
Califórnia.

            _Hum… Vamos ver o que você tem…

            Polly começou a mexer nas coisas que Valie tinha acabado
de arrumar e a ruiva sentiu uma súbita raiva da amiga.

            _Não faça isso!

            Valie começou a arrumar tudo de novo, quando finalmente
terminou, olhou para trás e viu Polly segurando um boné com certa repugnância.

            _O que é isso?

            _ Isso – disse
Valie, tirando-lhe o boné das mãos e o abraçando contra os peitos. – É o boné
que o Tyler estava usando naquele encontro no lago, lembra?

            _Lembro, lembro sim. O dia que vocês quase foram pegos. –
disse Polly, despreocupadamente.

            _Isso mesmo. Ele me trouxe em casa e entrou um pouco,
então esqueceu o boné quando teve que pular a janela.

            _E você não devolveu a coisa.

            Valie assentiu.

            _Mas de qualquer maneira, é perfeito. – disse Polly,
agora visivelmente interessada no boné azul, malcuidado e rasgado. – Ninguém
nunca suspeitaria que Valerie Smith usaria um trapo desse.

            _Hum… Vamos ver… - Valie prendeu o cabelo e colocou o
boné, mesmo assim, várias partes do seu cabelo estavam a monstra. _ Não deu
certo… - Ela disse desapontada, adoraria poder levar consigo o boné.

            Polly pareceu pensativa. Depois de um tempo, estalou os
dedos.

            _Coloque sua toca de piscina. Aquela azul, sabe? Depois
põe o boné por cima.

            Valie fez o que Polly estava dizendo.

            _Pronto. E agora os óculos… - a loira colocou óculos
escuros no rosto de Valie.

            A ruiva estava irreconhecível.

            Não podia dizer que estava bonita, mas quando olhou para
o espelho, não conseguiu se enxergar na imagem refletida.

            _Coloca essa jaqueta por cima e… Perfeita. – exclamou
Polly depois de colocar uma jaqueta jeans rasgada e larga que Valie não fazia
ideia de onde ela tinha tirado. – Irreconhecível.

            _Verdade… Mas e você? Não sei, mas acho que ainda tá
muito óbvio…

            _Certo. Mas se eu prender o cabelo assim… - e Polly
prendeu os cabelos em dois rabinhos baixos. – E depois… ah, me doí fazer isso,
mas eu tenho mais umas três iguais a essa em casa… cortar essa calça…

            Enquanto ia falando isso, Polly pegou uma tesoura que
estava perto do espelho e ela cortou a calça bem a cima do que uma pessoa
normal usaria.

            _Bem melhor. – disse a loira, encarando a imagem no
espelho. – Vamos. – ela foi saindo.

            _Espera… não sei, mas acho ainda que falta alguma coisa…
- disse a ruiva, ainda pensativa.

            Polly bufou.

            _O que foi desta vez?

            _Ah! Já sei! Coloca esse boné!

            Valie colocou o boné na cabeça da loira. No boné branco
de aba preta estava escrito: “Você não pode me ver. Eu sou um ninja”.

            Polly tirou-o e olhou para ele. Depois fez uma careta.

            _Sério? Onde você arranjou isso? Do Tyler também?

            _Não. Peguei nas coisas da Charlotte outro dia. – ela deu
de ombros. – Ah! E não se esqueça da sua bolsa!

            _Não vou esquecer… - disse Polly, sorrindo
maliciosamente, ainda segurando o boné branco.

            Valie pegou a sua bolsa branca,

 – Coloca o boné logo e vamos.

            Polly revirou os olhos, e a contragosto, colocou o
ridículo boné antes pegar a própria bolsa azul-marinho e de seguir a amiga
escada a baixo.

            _Acho melhor sairmos pelos fundos… - disse Polly, um
tanto apreensiva.

            _Não, melhor não. A Hellen vai estar lá e meus pais estão
fora.

            A loira assentiu.

            Andando e tentando fazer o menor barulho possível, as
duas abriram a porta e saíram.

            O carro de Polly, um Lamborghini branco, esperava por
elas.

            Dirigiram distraidamente até um beco perto do shopping,
onde deixaram o carro, já que sabia que era arriscado demais estacionarem no
estacionamento do shopping. Caminharam a passou lentou até o shopping.

            O lugar estava lotado.

          Melhor assim, pensou
Valie. Quanto mais gente, mas difícil seria para saber quem tinha roubado o
que.

            Era surpreendente como a cidade tinha crescido nos
últimos quinze anos. Tudo isso graças a empresa nova dos pais de Valie, que
tinha contratado muito gente. Mas, apesar disso, era engraçado como Flowers
Street continuava pacata e tranquila a não ser pelos pequenos furtos de Polly e
Valie.

            Andando pelos corredores apinhados de gente e se
desviando dos “vermelhos”, que era como as amigas chamavam as câmeras de
segurança, as duas chegaram até a loja da Chanel no segundo andar.

            _Legal… - sussurrou Polly, olhando para a loja, tão
lotada quanto o resto do shopping e logo depois desaparecendo no meio da
multidão.

Valie
resolveu que pegar óculos escuros também e se aproximou de um balcão.

_Posso
ajudar? – perguntou uma morena sorridente, com o cabelo preso em uma trança que
ia até metade das suas costas.

_Sim.
Será que eu podia ver aqueles óculos escuros? – disse ela, apontando pelo
vidro.

A
moça balançou a cabeça e pegou uma chave para destrancar a pequena vitrine e
dar os óculos a Valie.

_São
realmente muito bonitos… - disse ela, pegando os óculos com as mãos.

Agora,
tudo o que precisava era de uma distração.

_Debby,
será que você poderia vir aqui por um segundo? – a ruiva ouviu uma mulher
dizer, embora não soubesse de onde vinha a voz.

_Será
que você pode esperar um momento? Eu já volto. – disse a moça sorridente antes
dela se afastar.

Era
a distração que ela estava precisando. Deixou os óculos cair de propósito,
ficou alguns momentos cantarolando, parada distraidamente, quando esperava as
pessoas ficaram ao seu redor. Então fingiu se abaixar para amarar os sapatos,
tirou a etiqueta dos óculos e os colocou dentro da bolsa de couro branca.

Antes
de sair, deu mais uma volta pela loja, fingindo se interessar por uma coisa
aqui e outra ali, antes de sair e ficar rondando as vitrines perto da loja,
esperando Polly se unir a ela.

A
loira respirou fundo quando parou do lado dela, mostrando que conseguira o que
queria, Valie a copiou. Então as duas tomaram direções diferentes, Valie saiu pela
porta principal e Polly pela lateral esquerda, para depois finalmente se
reunirem ao lado do carro que tinham deixado no beco.

Não
falaram nada até estarem as duas acomodadas no carro, Polly no banco do
motorista. Então começaram a rir.

_
Acho que essa foi um das mais fáceis! – exclamou a loira.

_Você
tem razão! A mocinha simplesmente saiu depois de pegar os óculos para mim!

_E
eu então! Fingi estar flertando com o cara e deslizei os óculos para dentro da
minha bolsa!

As
duas continuaram a rir exageradamente.

Polly
se livrara do boné e das marias-chiquinhas e Valie da jaqueta, do boné de Tyler
e a toca. As duas tinham guardado tudo na grande bolsa da ruiva.

A
loira estacionou na frente da casa dos Smith e Valie desceu.

_Quer
ficar para o jantar?

_Não.
Você sabe que eu não me sinto bem usando roupas assim tão curtas e, além disso,
hoje vai ter uma macarronada ótima em casa. Não. Te vejo na escola amanhã,
Valie!

Valie
acenou para a amiga enquanto ela partia e entrou em silencio na casa, tirando o
tênis e subindo na ponta dos pés a escada.

Tinha
acabado de trocar de roupa e deitar na cama enquanto abriu o caderno de
História e começava a fazer o dever quando a mãe entrou no quarto.

_
Cadê a Polly?

_Já
foi. Sabe, hoje tivemos muito dever…

_Por
que você não convidou ela para jantar?

_Eu
convidei, mas ela disse que tinham macarronada na casa dela.

_Humm…
O jantar está pronto. Vamos comer? – perguntou a Sra. Smith.

Valie
assentiu e fechou o caderno antes de descer junto à mãe e ir jantar.