Amor Sem Regras escrita por Maria Martins


Capítulo 5
O Evento


Notas iniciais do capítulo

Demorei para começar a escrever esse cap. Espero que gostem. ^^



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Allan acabara de despertar de mais um de seus pesadelos. Desta vez sonhara que estava completamente falido, haviam tirado a guarda do seu filho por não ter mais condições de cuidar de uma criança. Não tinha mais casa, nem amigos. Estava sozinho, perdido em uma cidade que roubava todos os bens das pessoas. Até que foi salvo pelo doce som de um despertador.


Passou a mão pelos cabelos e respirou fundo. Nada daquilo havia acontecido, estava em casa, seguro e com o seu filho. Sentiu uma gota de suor percorrer pelas suas costas, seu coração estava bastante acelerado. Precisava urgentemente de um banho de água gelada.


Levantou-se da cama, sentiu um choque assim que seus pés tocaram no chão frio. Esperou um tempo até seus pés se acostumarem e foi até o banheiro. Quando se olhou no espelho, teve vontade de quebrá-lo. Sua aparência estava horrível. Seus olhos estavam cercados por olheiras, sua barba estava começando a crescer e seus cabelos bagunçados.


– Meu Deus. Por quê? – foi a única coisa que conseguiu dizer.


Não sabia mais o que pensar, sentia como se sua vida anterior nunca mais fosse voltar, como se aos poucos, seu pesadelo fosse se tornar real. Respirou nervoso e fechou a porta do banheiro. Não queria pensar em coisas negativas, não queria deixar as coisas piores do que já estavam.


Despiu-se lentamente e entrou no box. Esperava que fosse despertar quando a água tocasse em seu corpo, mas ocorreu o contrário. Sentia-se ainda mais cansado. Queria sair e voltar para a sua cama, queria fugir um pouco mais da realidade, mesmo que fosse só por mais uma hora.


Quando terminou o banho, enxugou-se e enrolou a toalha na cintura. Saiu do banheiro e foi ao armário. Procurava uma roupa leve, para que pudesse ficar à vontade dentro de casa. Pegou uma camisa branca e ficou olhando para ela. Perdeu-se em seus pensamentos, parecia em transe.


Três batidas fizeram Allan balançar a cabeça e virar-se para a porta.


– Entre.


A porta se abriu um pouco e Dylan pôs sua cabeça dentro do quarto. Sorriu ao ver o pai.


– Bom dia, pai.


– Bom dia, filho.


– Eu já estou indo para o colégio.


Allan olhou para o relógio.


– Sim, claro. Vá. Cuidado.


Dylan entrou rapidamente no quarto, deu um beijo no pai e saiu para mais um dia de atividades escolares.


Allan tirou a toalha e colocou a roupa que escolhera. Desceu e foi à cozinha. Viu que seu filho havia deixado seu café da manhã pronto. Sorriu agradecido e sentou-se à mesa.


Não demorou muito para terminar, não estava com muita fome, então não havia comido tudo. Depois de lavar os pratos, subiu para arrumar a sua cama. Quando terminou, ela pareceu bem mais convidativa. Ajeitou o travesseiro e deitou.


Olhou para o lado. Aquela cama parecia tão grande e tão vazia. Já fazia um bom tempo que não tinha um relacionamento sério. Sentia falta de ter alguém para dividir a cama. Passou a mão pelo lado vazio e suspirou. Queria ter alguém naquele momento para poder dividir todo o nervosismo, poder se acalmar com a ajuda do carinho e do corpo da outra pessoa.


– É, mas uma mulher disposta a lhe dar isso não vai aparecer de uma hora para outra.


Levantou-se despertando de seus pensamentos. Olhou pela janela e viu que o carteiro estava colocando as cartas no correio. Colocou uma sandália e foi pegar a correspondência.


Quando entrou novamente em casa, sentou-se no sofá e olhou cada carta. “Contas, contas, contas” pensou irritado ao passar as três primeiras cartas. A última era um envelope branco com alguns detalhes cor de laranja. Era da Fênix e estava destinada ao seu filho.


Allan sorriu imaginando a felicidade do filho ao recebê-la. Olhou para o relógio. Até Allan estava ansioso em entregar a carta ao filho. Mas ainda faltava muito tempo para o filho chegar, então decidiu ir novamente ao sótão, arrumar mais algumas coisas e depois ir ao mercado.


*


Quando Dylan chegou a casa, viu o seu pai na cozinha, estava colocando algumas coisas na geladeira. Colocou sua mochila no sofá, entrou na cozinha e deu um beijo no pai.


– Oi – falou Allan displicente – Não ouvi você chegar. Está com fome?


– Estou – falou pegando um copo e enchendo com água.


Allan olhou para a mesa da cozinha e apontou.


– Chegou uma carta para você.


Dylan virou-se confuso e se aproximou da mesa.


– Para mim?


Pegou a carta e viu que era da Fênix. Ficou ainda mais confuso. Não havia se inscrito em nada na livraria, por que estaria recebendo algo dela? Abriu o envelope e tirou o que havia dentro.


Suas mãos começaram a tremer, quando leu o que era. Em suas mãos estava o convite que tanto queria. Pensou que poderia ter havido um engano, mas era seu nome que estava nela, era realmente para ele que estava direcionada.


– Como? – falou depois de um tempo.


Virou-se para o pai e o viu com um sorriso.


– O que você...?


– Eu tenho um... amigo, que é editor da Fênix. Já que você estava tão empolgado para ir a este evento, eu conversei com ele, para ver se poderia encaixar você.


Dylan ficou olhando para o pai sem acreditar.


– Pai, eu já disse que te amo e que você é o melhor pai do mundo?


Allan riu. Dylan pulou em seu pai, colocando suas pernas em volta da cintura dele. Deixou seus braços em volta do pescoço do pai e o abraçou com força.


Allan quase perdeu o equilíbrio, o que o fez rir ainda mais. Abraçou o filho e encostou sua cabeça na dele. Mesmo que tudo de ruim acontecesse, ver o sorriso do seu filho era tudo que ele precisava para ter um dia perfeito.


*



Allan ficou olhando para o seu celular. Sabia que devia ligar para Larry para agradecê-lo pelo que ele tinha feito, mas não queria falar com ele, ainda queria manter certa distancia daquele homem. “Acho que não devo ser mal-educado”. Esticou a mão e quando segurou o celular, ele acendeu e começou a vibrar. Allan olhou assustado, Larry estava ligando. “Foi apenas uma coincidência”.


– Alô? – falou colocando o aparelho junto ao ouvido.


– Oi Allan. Liguei em má hora?


– Não. Eu ia mesmo te ligar. Queria lhe agradecer, meu filho está muito feliz.


– Que bom que ele ficou feliz.


Os dois ficaram calados por um tempo. Não sabiam mais o que dizer, esse silêncio entre os dois sempre o deixava ainda mais nervoso.


– Você me ligou... Queria falar alguma coisa?


– Eu liguei para confirmar se o convite havia chegado.


– Ah...


O silêncio voltou.


– Só isto?


– Sim – falou Larry um pouco constrangido.


– Então... Até mais.


– Até.


Allan ficou aliviado por ter desligado o telefone. Percebeu que seu coração estava acelerado. Levantou-se nervoso e foi à cozinha beber um copo d’água.

*


– Dylan – chamou Allan saindo de seu quarto e indo na direção ao do filho. Abriu a porta e viu o filho sentado em sua escrivaninha, estava fazendo algo em um caderno grosso e preto. Allan geralmente via o filho rabiscando nesse caderno, mas nunca conseguira ver o que era, também não queria invadir a privacidade do filho, caso fosse um diário ou algo parecido.


Dylan olhou para o pai e fechou o caderno rapidamente.


– Está pronto?


– Sim – respondeu o pai.


Dylan guardou o caderno e saiu do quarto. Era fácil notar que ele estava bastante nervoso.


– Hoje é o grande dia, não é?


– Sim, nem acredito que vou conhecê-lo.


Allan sorriu e desceu com seu filho as escadas. Trancou a casa assim que passou pela porta da frente. Dylan já estava no carro, balançava a perna o tempo todo e respirava rapidamente.


– Tenha calma, filho – falou rindo.


– Não dá para ficar calmo.


Allan ligou o carro e dirigiu até a livraria. Dylan passou suas mãos nas pernas, pois estavam bastante suadas. Estava nervoso e com medo que seu ídolo o achasse apenas uma criança que inventa de ler seus livros. Quase todos pensavam assim dele. “Calma” pensou nervoso. “Vai tudo dar certo”.


Tinha conseguido se acalmar, mas quando viu a livraria, seu coração disparou e o nervosismo aumentou. Allan parou o carro e olhou para o filho, que estava paralisado.


– Está tudo bem?


Dylan o olhou.


– Eu acho que sim. Quer dizer, não. Estou nervoso e com medo de fazer alguma besteira.


Allan riu.


– Você não vai fazer nenhuma besteira.


Allan lhe deu um beijo na testa e pediu para o filho ligar quando o evento terminasse. Dylan abriu a porta do carro, suas mãos estavam tremulas. Saiu do automóvel e se despediu do pai.


Engoliu em seco quando ficou de frente para a entrada. “Vamos lá, é agora ou nunca”. Andou até duas mulheres que estavam recebendo os convites. Dylan mostrou o seu e recebeu a autorização de entrada.


A livraria estava com várias pessoas que deveriam ter entre vinte e quarenta anos. Não via ninguém da sua idade ou que chegasse perto. Percebeu que algumas pessoas o olhavam com certa rejeição.


Viu a mesa onde certamente ficaria o escritor, estava cheia de livros, mas ele ainda não estava lá. Andou até um sofá no canto da livraria e sentou-se. Notou que um homem sem aproximava, quando ele chegou mais perto, o reconheceu.


– Oi, lembra de mim?


– Sim, você me ajudou a pegar um livro.


Larry riu.


– Você é Dylan?


– Sim. Ah, você é o amigo do meu pai?


– Sim, me chamo Larry.


Dylan sorriu.


– Muito prazer. Queria lhe agradecer pelo convite.


– Não foi nada. Agradeça mesmo ao seu pai – Larry percebeu que o garoto não estava muito confortado – Algum problema?


– Acho que não sou muito bem-vindo aqui.


Larry olhou para trás e observou as pessoas que haviam sido convidadas para o lançamento do livro.


– Bobagem. Você é muito bem-vindo aqui. Deixe aquelas pessoas pensarem o que quiserem – Larry aproximou-se de Dylan e falou em um tom baixo – É inveja.


Dylan riu.


– Bem, eu vou voltar ao trabalho. Qualquer coisa é só falar comigo.


– Certo. Obrigado.


Depois que Larry se afastou, Dylan foi pegar um dos exemplares que estavam sendo lançados. Percebeu que a fila para os autógrafos estava enorme. Suspirou e foi até ela. No caminho, várias pessoas entraram em sua frente e ele acabou sendo o último da fila.


Minutos se passaram até que ouviu uma agitação. Inclinou o corpo para o lado e observou o começo da fila. O seu ídolo estava lá, sentando-se à mesa. O próprio e velho Jack. Era um homem que estava perto dos setenta, seus cabelos brancos preenchiam a cabeça, tinha uma barba pequena e bem feita. Estava com um sorriso cativante no rosto.


Dylan voltou ao seu lugar ainda mais nervoso. “Ele vai me achar um idiota”. Olhou para o livro em suas mãos, ele tremia. Dylan respirou fundo e tentou se acalmar. Mas a cada passo que dava, mas nervoso ficava.


Olhou mais uma vez para o começo da fila, ainda faltava muita gente. Percebeu que o sorriso de Jack havia diminuído um pouco. Deveria ser um pouco cansativo dar vários autógrafos seguidos e escutar praticamente a mesma coisa de todos. “Por que eu tenho que ser o último?”


Algumas pessoas, além de pedir o autógrafo, estavam tirando fotos com Jack. O que fazia a fila demorar ainda mais. Dylan suspirou e ficou olhando para baixo, dava alguns passos, leu e releu a sinopse do livro. Quando olhou para frente, percebeu que só tinha mais uma pessoa na sua frente. Era um casal, que falava para Jack o quanto era fã dele.


Assim que eles saíram, Dylan aproximou-se da mesa. Jack o olhou e levantou uma sobrancelha.


– Olá – falou curioso. Não esperava ver uma criança em um dos seus lançamentos.


– Oi – respondeu Dylan ainda mais nervoso.


– Quantos anos você tem?


– Doze.


– Estou surpreso de ver alguém da sua idade por aqui.


– É, eu sei. Sei que seus livros são direcionados para adulto, mas... É que os livros para minha idade não me interessam.


Jack pareceu ainda mais surpreso.


– E por que não?


– Não sei. Só não os acho interessantes. Gosto muito de livros de mistérios, principalmente os seus.


– Entendo. Já leu muitos livros meus?


– A maioria.


– E qual o que você mais gostou?


Dylan pensou um pouco. Ainda não estava acreditando que estava tendo uma conversa com seu escritor favorito.


– Casa de Sangue.


Jack sorriu.


– Foi o que deu mais trabalho para escrever. Mas também se tornou o meu favorito, eu não queria parar de escrevê-lo. Acho que por isso que ele tem quase seiscentas páginas.


Os dois riram.


– Achei muito bem bolado todo o plano, mas eu já desconfiava que era Jim o culpado.


Jack levantou uma sobrancelha.


– Sabia que era o culpado antes mesmo de chegar ao final?


– Sim – falou timidamente – É que eu tenho mania de tentar resolver os mistérios enquanto estou lendo.


– Sabe que você é uma das poucas pessoas que desconfiaram dele. Eu fiz de tudo para todos pensarem que era Charles. Acho que você acabou pensando igual a mim.


Dylan sorriu orgulhoso.


– Obrigado.


– Diga-me, qual é o seu nome?


– Dylan, Dylan Jude.


– Sabe Dylan, eu, já um homem velho, estava preocupado com essa nova geração, que só pensa em ficar fazendo besteira na internet. Mas agora que conheci você, vejo que nem tudo está perdido. É muito difícil encontrar um garoto como você, até mais inteligente do que muitos adultos que eu conheço.


Dylan sorriu sem saber o que falar. Agradeceu bastante orgulhoso e constrangido. Jack pegou o livro de Dylan e começou a escrever uma dedicatória para o garoto. Dylan ficou olhando bastante curioso, pois o escritor estava ocupando quase a página inteira. Quando terminou, entregou o livro.


– Foi um grande prazer conhecer você, Dylan.


– O prazer foi todo meu, senhor.


– Ah, me chame apenas de Jack.


Durante o resto do evento, Dylan teve chances de falar mais duas vezes com seu ídolo, que sempre parecia bastante empolgado com a conversa. No final do evento, Jack falou para Dylan que gostaria de vê-lo em todos os lançamentos dos seus livros. O garoto foi até o lado de fora da livraria para poder ligar para o pai. Sentou-se em um banco e ficou pensando em tudo o que havia acontecido.


– Então, ainda acha que não é bem-vindo aqui?


Dylan olhou para o lado e viu que Larry estava se sentando no banco.


– Ainda não consigo acreditar no que houve lá dentro.


– É mesmo difícil. Jack conversou comigo, falou muito bem de você.


Dylan sorriu.


– Você agora virou um convidado de honra – disse Larry sorrindo.


– Não posso deixar de agradecer a você e meu pai por isso.


– Você é muito próximo do seu pai, não é?


– Sim. Ele é tudo para mim.


– São apenas vocês dois?


– Sim – Dylan abaixou a cabeça, mas logo voltou a levantá-la – Minha mãe foi embora quando eu era pequeno, ela nos traiu e nos abandonou. Desde então eu nunca mais a vi. É bem melhor assim. Ela nunca foi uma pessoa que eu pudesse chamar de mãe.


– Deve ter sido difícil para vocês.


– Foi, mas já superamos e estamos super bem.


Dylan olhou para rua e viu o carro do seu pai se aproximando. Levantou-se do banco e foi até ele. Larry o seguiu. Dylan entrou no carro e falou sorridente com o pai. Larry abaixou-se e olhou pela janela aberta, do lado de Dylan.


– Olá Allan.


– Olá Larry – falou um pouco desconfortado – Obrigado por tudo.


– Não foi nada. Bem, é melhor vocês irem, já está tarde. Até mais Dylan – Larry olhou para Allan e sorriu – Depois eu te ligo e a gente se fala melhor.


Allan ficou o encarando e depois forçou um sorriso.


– Claro. Depois a gente se fala.



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Notas finais do capítulo

Bem, então é isso. Sei que esse cap. foi mais sobre Dylan, mas ele é a chave para Allan e Larry ;) Não esqueçam de comentar.