Amor Sem Regras escrita por Maria Martins


Capítulo 3
Lembranças e Reencontros


Notas iniciais do capítulo

Escrevi esse cap. mais rápido do que eu imaginava xD Espero que gostem ^^



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  Um som irritante fez Allan sentar na cama com rapidez. Olhou para o lado e viu que era o despertador. Ele já devia estar despertando há muito tempo, pois já era mais que seis horas. Allan levantou-se desesperadamente e correu até o banheiro. “Como eu fui dormir tanto? Desse jeito eu vou me atrasar para o trabalho”.
  Ele parou na entrada no banheiro e olhou para o chão. “Ah! Claro. Eu não tenho mais trabalho”. Suspirou e passou a mão pelo cabelo. Depois de onze anos, essa seria a primeira segunda-feira, que não era feriado, que não iria trabalhar. Foi se arrastando pela parede até sentar no chão frio do seu quarto. Ainda não estava acreditando que havia perdido o emprego que tanto gostava e de uma maneira injusta. “Espero que eu receba logo algum convite para alguma entrevista. Não vou suportar ficar parado por muito tempo”.
  Levantou-se lentamente e saiu do quarto arrastando os pés. Chegou à porta do quarto do filho e viu que ele estava se arrumando para o colégio.
  - Bom dia filho.
  Dylan virou-se um pouco assustado.
  - Ah. Bom dia pai.
  Allan ficou o olhando por um tempo e depois desceu para a cozinha. Estava limpa, havia um prato no escorredor, o que indicava que Dylan já havia comido. “Como o esperado”, pensou Allan abrindo a geladeira.
  Fez cara feia quando viu que não havia muita coisa. Teria que fazer feira, isso significava gastar dinheiro, que lhe lembrava que agora estava muito limitado. “Calma Allan, fazem apenas dois dias. Você tem uma boa quantidade no banco e dá para viver normalmente até você conseguir outro emprego”.
  Pegou a caixa de leite e colocou um pouco em um copo. Bebeu rapidamente. Teve vontade de beber algo que tivesse álcool, para que pudesse sair um pouco dessa terrível realidade, mas então lembrou o que havia acontecido na última vez que havia bebido.
  Afastou logo os pensamentos e encheu o copo de leite novamente. Preferia ficar com uma bebida inocente por enquanto, não queria que nada daquilo se repetisse.
  Dylan desceu as escadas com sua mochila. Olhou confuso para o pai, pois ele estava observando assustado o fundo do copo de leite vazio.
  - Pai?
  Allan se assustou e virou-se para o filho.
  - Sim?
  - Algum problema?
  - Não. Não tem nenhum problema. Só estava aqui pensando em... coisas que não deve.
  Dylan levantou uma sobrancelha e olhou confuso para o pai.
  - Ok. Bem, eu vou indo.
  - Certo filho, cuidado no caminho.
  - Pode deixar pai. Te amo.
  - Também filho.
  Dylan abriu a porta da frente e saiu da casa. Abriu a garagem, pegou sua bicicleta e foi para a escola.
  Allan guardou o leite e lavou o copo. Olhou para a sala e pensou.
  - Então, o que eu vou fazer?
  Decidiu que ia aproveitar a manhã livre para arrumar algumas coisas da casa. Remexer os objetos antigos e decidir o que poderia jogar fora. Já fazia um bom tempo que não fazia esse tipo de limpeza.
  Primeiramente subiu para tomar um banho. Demorou mais do que o de costume, para poder relaxar. Ao sair, vestiu uma calça jeans, sem nada por baixo, e uma camisa preta e subiu para o sótão.
   Assim que entrou, teve vontade de espirrar. O lugar estava muito empoeirado e lotado de coisas velhas. Ligou a luz e observou o monte de tralhas e caixas. Sentou-se em frente de uma pilha de caixas e começou a abri-las.
  Na primeira caixa havia alguns livros antigos de faculdade, a maioria sobre cálculos. Sorriu lembrando-se de suas aulas na faculdade de Administração. Sempre matemática fora sua matéria favorita e sabia que ia seguir um rumo referente a cálculos. Franziu a testa ao lembra-se do emprego, estava fazendo isto justamente para esquecer tudo que havia acontecido.
  Fechou a caixa e a colocou em um novo lugar, de um jeito mais organizado. Pegou a segunda caixa e abriu. Eram provas da sua época de colégio. Allan sorriu.
  - Por que eu ainda guardo isso? – perguntou para se mesmo.
  Fechou a caixa e colocou de lado, para poder jogar fora depois. Abriu uma nova caixa e ficou maravilhado ao ver sua coleção de VHS.
  - Meu Deus, eu não sabia que eu ainda tinha isso. Hoje em dia é uma relíquia – disse rindo.
  Havia vários filmes de terror, seu gênero favorito. Também havia uma boa quantidade de filmes de ação e comédia. Tinha alguns de aventura, e dois ou três de romance. Ele retirava todos os filmes e dava uma olhada para ver se a fita estava intacta, por sorte, a maioria estava.
  Ao ver o último filme da caixa, começou a rir. Tratava-se de um filme pornô que havia ganhado dos amigos no seu aniversário de catorze anos. “A gente não prestava mesmo” pensou lembrando-se de suas velhas amizades.
  Guardou os filmes que ainda prestavam de volta na caixa e a guardou com cuidado. Foi abrindo várias caixas, a maioria das coisas eram papeis velhos que não serviam mais para nada, pois estavam rasgados ou quase todo comidos por cupins.
  Depois de organizar várias caixas, Allan abriu uma que o fragilizou. Tratava-se das roupas de Dylan de quando era bebê. Estavam sujas, mas todas inteiras. No meio das roupas, havia uma foto. Allan a pegou e observou.
  Na foto estava Allan, aos dezoito anos de idade e sua namorada da época, de dezenove anos. Ela era bonita e tinha longos cabelos castanhos. Na foto ela estava grávida e Allan a abraçava, colocando os braços em volta a sua barriga.
  Allan apertou a foto.
  - Desgraçada.
  Allan rasgou a foto e a colocou de lado. Suspirou e voltou a mexer nas roupas.
  Escutou um barulho e olhou para trás. A porta estava sendo aberta por Dylan.
  - Já voltou do colégio? – perguntou olhando para o relógio. Assustou-se ao ver que havia se passado muito tempo.
  - Sim. Pelo jeito você está há muito tempo aqui.
  - É, estou. Vem cá.
  Dylan sentou-se ao lado do pai. Allan lhe mostrou as roupas de bebê.
  - Olha como você era pequenininho.
  - Ah pai! – falou Dylan envergonhado.
  Allan sorriu e lhe deu um beijo na cabeça. Dylan olhou para o lado e viu uma foto rasgada, pegou os pedaços e olhou.
  - Foi você que fez isto? – perguntou ao pai.
  Allan tirou a foto com delicadeza da mão dele.
  - Sim. Mas não devemos pensar nisso agora, tem coisas bem mais interessantes aqui.
  Dylan sorriu pouco animado, mas logo seu sorriso ficou verdadeiro.
  - Pai...
  - Sim? – perguntou guardando a caixa.
  - Eu já terminei de ler o livro que estava lendo. E tem um que eu já estava juntando dinheiro para comprar. Poderíamos ir para a livraria?
  - Sim, sim, podemos. Não é que eu não queira ir com você, mas por que você não vai sozinho?
  - Por que você sabe que eu gosto de ir na Fênix. E ela é muito longe para eu ir de bicicleta.
  Allan riu.
  - Ok. Eu te levo de carro. Mas primeiros vamos comer, estou com uma fome. Que tal pedirmos comida chinesa?
  Dylan sorriu.
  - Ótima idéia. Eu vou tomar banho enquanto isso.
  Os dois saíram do sótão. Dylan foi para o banheiro do corredor e Allan pegou seu celular e ligou para o restaurante. Não demorou muito tempo para a comida chegar. Dylan havia acabado de se arrumar.
  Depois do almoço, Allan subiu para trocar de roupa. Quando ficou pronto, chamou o filho para ir para a livraria.
  Demoraram quase meia hora para chegar à livraria, por causa do transito, mas isso não deixava Dylan de mau-humor e isto não deixava Allan de mau-humor.
  A livraria Fênix ficava no térreo do edifício de sua editora, que tinha o mesmo nome. Era a editora mais famosa de cidade e também a maior livraria. Assim que Allan desligou o carro, Dylan saltou do automóvel e entrou na livraria. Foi para a sessão de livros que mais gostava: Mistério.
  Allan saiu do carro e foi primeiro para o café da livraria, depois iria dar uma olhada nos livros de terror ou suspense policial.
  Dylan observava atentamente cada titulo dos livros das grandes estantes, estava procurando pelo livro que o levou à loja. Demorou bastante tempo para achá-lo, até imaginou que estava em falta, o que o deixou um pouco nervoso. Mas então viu o livro na ultima prateleira da estante.
  Tentou pegar o livro, mas não teve sucesso. Ainda era muito baixo para poder alcançar aquela altura. Olhou para os lados, não tinha ninguém naquele corredor. Respirou fundo e tentou pegar o livro novamente. Seus dedos não chegavam nem perto, mas não desistiu. Esticou-se o máximo possível, então outra mão puxou o livro.
  Dylan olhou para o lado um pouco assustado. Um homem bonito, de olhos verdes e cabelos negros havia pego o livro, ele usava um belo terno preto. O homem sorriu para Dylan e lhe entregou o livro.
  - Obrigado – falou Dylan educadamente.
  - Não há de que. Gosta muito de livros de mistérios?
  - Ah, sim. São os meus favoritos.
  - Me surpreende um garoto da sua idade ler um livro desses.
  Dylan sorriu.
  - Meu pai dizia a mesma coisa.
  - Só está interessado nesse livro?
  - Bem... Eu nunca estou interessado em apenas um livro.
  Os dois riram. 
  - Mas no momento minha mesada só me deixa levar um.
  - É uma pena – disse rindo – Se quiser uma sugestão, sei ótimos livros desse gênero.
  - Obrigado.
  Dylan sorriu e saiu do corredor. O homem observou a estante por um momento e depois voltou a andar pela livraria. Passou pela sessão de suspense policial e parou. Viu Allan no meio do corredor, lendo a sinopse de um livro.
  - Allan?
  Allan olhou para o lado e quase que largou o livro. O homem que havia acordado do seu lado depois de perder o emprego estava bem na sua frente. Ele o ignorou e voltou a ler o livro. Larry se aproximou.
  - Meu Deus, será que você nunca vai me deixar em paz?! – falou Allan – Até aqui você me persegue.
  - Sinto muito lhe informar, mas você está no meu local de trabalho.
  Allan o olhou.
  - Você trabalha em uma livraria vestindo terno?
  - Não. Eu trabalho na editora, mas às vezes desço para ver como está o movimento aqui.
  - Bom saber. Nunca mais virei nessa livraria – disse guardando o livro.
  - Acho que a gente deve conversar.
  - Já pedi para você parar de falar comigo como se me conhecesse.
  - Eu só quero lhe pedir desculpas.
  Allan parou e virou-se para ele.
  - O que?
  - Quero pedir desculpas pelo o que aconteceu. Talvez eu tenha me aproveitado de você, pelo fato de você estar bêbado, mas...
  Allan se aproximou um pouco nervoso.
  - Dá para você não falar disso aqui? Qualquer pessoa pode ouvir, inclusive meu filho!
  - Filho?
  - Sim, eu tenho um filho. Sou um homem de família e o maior erro da minha vida foi ter te conhecido!
  - Eu estou te pedindo desculpas e é assim que você me trata?
  - Estou lhe tratando da maneira que você merece.
  - Allan...
  - Cara, se eu aceitar suas desculpas você promete que me esquece?
  Larry suspirou.
  - Certo.
  - Então, aceito suas desculpas Larry. Tenha um bom dia e até nunca mais.
  Allan saiu do corredor e procurou o filho. Achou-o no caixa, já pagando o livro. Quando ele saiu, Allan se aproximou.
  - Já terminou?
  Dylan percebeu que ele estava irritado.
  - Sim, mas o que houve?
  - Nada, só tive um encontro desagradável. Será que a gente já pode ir, ou você quer ver mais alguma coisa?
  - Não. Podemos ir sim.
  Allan olhou para trás e viu Larry entrando no elevador, certamente indo para a editora. “Certo, agora sim eu nunca mais vou vê-lo”.


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