Romantic Joke escrita por jminho


Capítulo 6
Capítulo 6 - Salva de, ou por, um lado frágil?


Notas iniciais do capítulo

Esse cap ainda não saiu no twizonebr.com por isso, vocês vão ter que esperar mais um tempo para o próximo! Mas ele é especial, por isso decidi postaar (: Enjoy *-*



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OUVIR: Kuroi Namida – Anna Tsuchiya
Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=vgwaVwxuqDc
Download: http://www.4shared.com/audio/W6Rch3jU/Kuroi_Namida_Anna_Tsuchiya.htm


Eu corria, corria das memórias e de uma sensação que apertava meu peito. Eu nunca soube dizer o porquê de me sentir assim. Nunca soube o porquê aquela banda e aquele homem mancharam minha vida de modo tão escuro e doloroso. Por quê? Porque eu ligava tanto pra isso?
Havia uma ferida em meu coração. E essa ferida não se cicatrizaria. Eu sabia disso, minha alma sabia disso e nada podia ser feito.
O que mais me incomodava no momento era que, um dia, eu desejei silenciosamente que alguém pudesse arrancar aquela dor que eu escondia de mim mesma. Que alguém pudesse me abraçar e me prometesse que estava tudo bem e depois acabaria. Seria o fim.
As lembranças sempre foram claras. Elas sempre voltavam em uma velocidade interminável, me assombrando.
Era uma noite como essa. Uma noite com muita neve branca e gélida caindo em cima de mim, me fazendo tremer...

–--

Eu estava novamente na frente daquele riacho. Há alguns metros de minha casa.
Ele estava congelado fazia tempo e algumas pessoas se aventuravam a patinar ali. Eu olhava a movimentação e a felicidade deles. Todos riam um para os outros, como se tivessem uma piada particular. Havia casais e famílias. Todos embrulhados em suas peças de roupas grossas, toucas, luvas e botas.
Eu estava somente com a minha única blusa de frio e meu tênis. As minhas mãos estavam brancas e eu mal conseguia movimentá-las por muito tempo. Ah... como luvas faziam falta!
Mas também... uma touca. Minhas orelhas estavam congelando!
E... porque eu não podia ser como eles? Porque meus pais não poderiam estar aqui se divertindo comigo? Aff... está friiiiio!
Abracei-me e esperei um pouco até tirar o discman do meu bolso. Rose o havia dado para mim e eu escondia de meus pais. Eles diziam que eu devia estudar mais e ouvir menos música. Porque, se eu quisesse ser melhor do que eles, devia conseguir saber mais do que me ensinam na escola do que estudo.
Fora que falavam que música fazia o cérebro derreter.
Fala sério!
Mas eu não ligava.
A coisa que me dava mais felicidade – talvez na mesma intensidade que aquelas pessoas a minha frente – era aquele discman e o único CD que tinha do Romantic Joke. Agora, eles estavam em Nova York, gravando o segundo CD, assim espero. Ainda não são totalmente famosos, mas faltava pouco! Eu tinha certeza!
Aquele era o primeiro CD lançado e fazia um tempinho que eu o tinha. Agora, eu estava trabalhando e estava juntando dinheiro para ir para Nova York daqui a alguns anos. Não muitos. Eu vou entrar na faculdade e logo que sair, irei para NY. Não será muito tempo. Três anos talvez.
Sim, eu entrarei na faculdade esse ano, com 17. E estaria indo embora talvez com meus 21 anos. Sim! Eu conseguiria agüentar! Até lá... eles seriam famosos e eu seria a fã que os acompanhou dês do começo. Seria a fã que levara um beijo de Rob em um show pequeno da cidade natal da banda. Eu poderia até encontrá-los! Eles se lembrariam de mim!
Coloquei o CD e os fones. A música tocava gentilmente em meus ouvidos e eu sorri.


“Não consigo mais contar as noites que desejei não chegar o amanhã. Perdido os sonhos e o amor, molhada pela chuva estou chorando... estou chorando... chorando...”

Toda aquela letra que eu sabia de cor, toda aquela melodia deliciosa e toda aquela emoção dos que tocavam e da que cantava... tudo junto em um único CD.

Fechei os olhos.

Para eu viver dessa forma sem enfeites. Do que preciso? Sem poder acreditar em mim mesma, no que devo acreditar? A resposta está tão perto que não enxergo”.


Era o meu paraíso secreto.
Onde a voz da Ash cantava e os instrumentos acompanhavam.
Rob...
Porque o destino me fez te amar? Porque você se atreveu a me beijar? Porque marcou minha vida desse jeito?

– ISABELLA! – alguém rugiu o suficiente para cobrir a voz que cantava em meus ouvidos – ISABELLA!

Olhei para trás, do outro lado da rua, perto do meio-fio estava a minha mãe, de braços cruzados. Ela nem mesmo tinha se arrumado para sair. Seu cabelo estava bagunçado e as roupas estavam sujas, por mais que devessem aquecer mais do que eu estava vestindo na hora.
Eu não ignorei e nem tentei esconder o discman. Na verdade, ela já havia visto. Do que adiantaria?
Bufei e corri até o outro lado, atravessando a rua e sentindo a neve afundar sobre meus pés. Ah, se eu pudesse ter mais tempo de aproveitar a neve.
Cheguei perto de minha mãe, mas ela nem mesmo sorriu. Pegou-me pelo braço e começou a me puxar. Seus olhos estavam vermelhos e havia olheiras. Eu ficava pensando nas fotos que um dia achei em casa. Lá... ela estava tão bonita. Tanto que, se a olhassem agora diriam que não era a mesma pessoa.

“Derramo lágrimas negras. Eu não tenho nada, é triste demais. Não consigo nem dizer em palavras. Meu corpo todo começa a doer. Não consigo suportar sozinha.”


– O que está fazendo ouvindo esse maldito discman de novo? O que eu já disse sobre isso, garota?
– Não consigo evitar, desculpe – sussurrei.
– ÓTIMO!

Viramos a esquina e logo vi minha casa. Pequena, acabada e caindo aos pedaços, comparado as outras a volta. Eu nem mesmo gostava de ver meus vizinhos porque eles provavelmente tirariam sarro. Por isso, não conhecia ninguém por aqui. E dês de que Rose fora para Nova York, eu não consigo contar sobre a minha família ou sobre a banda que eu amava com mais ninguém. Nem com meus amigos do colégio. Principalmente agora que o contato se fora por causa da faculdade.
Mas Rose...
Que falta sinto de você!

– Seu pai quer conversar com você, Isabella – ela murmurou, abrindo o pequeno portão enferrujado e me jogando para dentro. Neve caia do telhado esburacado – Eu não consigo mais ter paciência com você.

Conversa com meu pai? Ele estava em casa?
Arregalei os olhos. Faziam meses que eu não o via. Ele tinha nos abandonado, pelo menos foi o que pensei.
Mamãe nunca explicou e eu nunca pedi por isso. Mesmo porque, eu fazia faculdade e trabalhava, não tinha tempo de me preocupar com essas coisas. Acabava sendo normal a forma que eles me tratavam.
A porta foi aberta e eu vi a sala. Lá, sentado no nosso sofá rasgado e com molas a vista, meu pai estava assistindo TV. Ele simplesmente virou o rosto em minha direção e me encarou. Seus cabelos negros estavam bagunçados.
Eu engoli em seco. Às vezes, preferia que ele mostrasse emoção. Parecia ser menos perigoso.

– Fale logo para ela, homem! – ela choramingou – Vou pegar minhas coisas no quarto.

E saiu, cambaleante, passando pela cozinha e entrado no quarto dela e de meu pai. A porta bateu forte, mas eu podia escutar o choro dela do outro lado.
O cheiro de bebida e cigarro era forte. Aquilo me irritava de mais. Eu mal conseguia respirar. Sempre me deu nojo e eu poderia agradecer a isso.
Meu pai levantou, colocou as mãos nos bolsos e se aproximou de mim.

– Isabella... – sussurrou – Você já é independente. Ganhou uma bolsa na faculdade, é inteligente e está trabalhando. Quer ir para Nova York? – murmurou – Que vá! Só quero dizer que não precisa de nós.
– Eu preciso sim! – meu corpo já tremia pela forma que ele colocou a mão sobre meu ombro. Ele não estava triste, mas algo em sua expressão me dizia que ele não ligava mais pra nada. Ele nem disse que ficou com saudades depois de tanto tempo.
– Sempre vivemos assim por sua causa – eu estava acostumada a levar a culpa – Não podíamos viver juntos, como um casal por sua culpa. Acabamos com a nossa juventude e agora... eu nem mesmo conheço sua mãe!

“O rosto que desenhei de madrugada cansada de chorar é um rosto meu que não é meu. Vamos parar de construir um sorriso que esconde a fraqueza...”


Resmunguei alguma coisa bem baixinho.
Eu não acreditava nisso!

– Não existe o amor – ele concluiu – Só paixão. Mas olha o que acabou acontecendo! Somente nos levou a você e a essa casa. Não é que não gostamos de você, Isabella. Mas é porque não a esperávamos. Agora, siga sua vida. Porque vamos seguia a nossa.

O... O QUE...
As lágrimas começaram a encher meus olhos.

– Mas pai... podemos arrumar isso! – gaguejei, chorosa – Ainda há esperanças!
– Esperanças? – ele riu, sarcástico e depois olhou para mim com mais cuidado – Sabe o que é isso? – ele tirou os fones de mim e por causa de ter puxado, meu discman acabou caindo no chão. Espatifando-se. Junto com meu CD. MEU CD!

ESPERA! MEU CD NÃO!

Não! Não! Por favor...

“Seria a coisa mais dificil do mundo viver sem enfeitar? Se for pra receber de você prefiro algo sem formato. Não quero mais nada que se quebre”


– É por causa dessas músicas! – ele me pegou pelos ombros, mas eu já me sentia gelar. Droga. De novo não! – Você acha que amor, esperança e desejos se realizando existem. Mas não! A vida é dura e cruel, Isabella! Ela não te dá nada disso! Você tem que ir atrás, está ouvindo? – e me balançava.

Eu somente conseguia olhar meu discman no chão. Havia uma parte dele para fora e estava aberto. Meu CD estava ao lado, quebrado.
A imagem do Romantic Joke estava cortada ao meio.

– Contaram para mim que um deles – e apontou para o chão – Beijou você em um show há algum tempo. Você está apaixonada por ele? - engoli em seco. Porque ele tinha que descobrir? - Como você é criança. CRESÇA ISABELLA! Ele não sabe nem seu nome. Não se lembra de você e nem quer saber! Agora, ele deve estar dormindo com outras mulheres e você aqui, chorosa, acreditando que eles estão cantando para você. CRESÇA!

“Por mais que eu grite e chore lágrimas negras. Por favor, que venha um amanhã despreocupado. Se for pra viver batendo na mesma dor, quero sumir distante. Por mais que eu saiba que é apenas um capricho”

Agora sim eu estava chorando. De soluçar.
Como um pai podia dizer isso à filha? Como ele tinha coragem de me ver chorar daquele jeito e não se sentir culpado? Eu... no fundo... sabia disso. Sabia que era verdade. Mas também acreditava completamente que ele nunca se esqueceria de mim. Aquilo não era rotina. Não podia ser rotina. Foi... especial. Ele me agradeceu tão... tão... verdadeiramente.
Senti que estava perdendo o fôlego e esfreguei meus olhos.

– Aprenda uma coisa – ele tirou uma mexa de meu rosto – Eles não se importam. Mas falo isso porque quero que você seja adulta. Faça sua faculdade, trabalhe e ganhe uma vida melhor que a nossa agora.


Eu o olhei se endireitar.
Mamãe logo apareceu, com algumas malas na mão. Ela nem mesmo conseguia olhar para mim e agora seu cabelo estava amarrado em um rabo-de-cavalo mal feito.

– Vamos – sussurrou.

Meu pai assentiu e pegou uma das malas no chão.
Ele afagou minha cabeça.

– Seja adulta – e colocou alguma coisa em minhas mãos. As lágrimas não me deixavam ver nada. Eu não sabia se olhava para o meu CD, quebrado como o meu coração, ou se para meus pais... indo embora. Para sempre.

Mas, antes que eu caísse do penhasco, no desespero, vi o que estava em minhas mãos trêmulas. Uma revista.
Na capa:

Romantic Joke – O Primeiro show da banda oficial será em Nova York na próxima semana. E como abertura, eles fizeram um agradecimento aos fãs que valeu até beijo na boca! Rob – nome artístico de um dos integrantes – deu esse selinho de presente a uma fã da mesma cidade que eles moram atualmente (NY). Ela se diz fã número 1 da banda (você pode conferir uma entrevista com ela na pag 10). Parece que é algo raro deles, mas, mesmo sendo novos, prometem um show inesquecível.

Minha visão ficou turva.
Fã número 1 de Nova York? Mas... e eu?
Ele também deu um beijo nela, não? Seria algo... comum? E não especial?
Gelo...
Agora ele estava me dominando de novo. Aquela doença estava comigo em todos os momentos e eu nunca poderia ficar muito surpresa ou deixar que meus sentimentos me dominassem de tal forma que...
Meu cérebro travou. Meu corpo parou, somente meu coração batia. Meu cérebro se desligou da realidade turva que era a minha. E ao chão uma revista caiu.
Eu estava congelada, mas Rose não estava ali para me abraçar.
Ninguém estava.

–--

“Derramo lágrimas negras. Eu não tenho nada, é triste de mais. Não consigo nem dizer em palavras. Meu corpo todo começa a doer.”


Nova York?
Eu voltei para mim, rapidamente. Eu ainda corria entre as pessoas na rua. Esbarrava em algumas e outras eu desviava na hora exata. Minhas lágrimas caiam pelo meu rosto sem direção ou controle e eu me odiava por isso.
As luzes ficaram mais fortes até que consegui distinguir as coisas.
Mas era tarde de mais.
Aquela dor me deixara com as pernas bambas. A raiva e decepção haviam feito meu corpo inteiro tremer e eu estava feliz por simplesmente não ter tido um ataque na frente deles. Mas... eu estava exatamente fazendo o oposto do que eu deveria fazer. Estava fugindo da realidade, como uma jovem boba. A adulta que tanto queria ser tinha se escondido encolhida no mais profundo canto escuro de minha mente.
Não conseguia trazê-la de volta.
Nem quando, por ironia do destino – EI, eu já não estava sofrendo de mais? Sr. Destino do inferno! – meu salto escorregou na pouca neve que tinha no meio-fio. Eu tinha certeza de que um dos meus pés cairia no canto da rua, eu torceria o tornozelo e cairia no meio do asfalto. Onde se passavam vários carros.
DROGA! ERA MEU FIM? Não podia ser! Eu sofri e batalhei o suficiente para merecer uma vida longa, certo?
Fechei os olhos. Já vendo que meu pé foi pressionado para um lado desconhecido. Eu acho que ele faria algo que um tornozelo normal nunca faria na vida!
Essa vai doer, não? OUTCH!
Mas acabou que não doeu. Na verdade... não senti nada! Uma mão agarrou um de meus braços e a outra pegou minha cintura, dando a volta na mesma.
Droga. Eu já estava no céu? Ah não... eu nem mesmo pude me desculpar com Rose. Nem mesmo pude ver meu chefe gato, não pude decorar meu quarto e nem dar um bom soco na costela de Edward!
Agora que eu já tinha morrido, SERIA INFANTIL O BASTANTE!
QUE SE DANE!
Comecei a chorar de novo, como uma criança, pouco ligando. Estava desesperada e sem saber se abria os olhos ou não. Eu não queria estar morta!
Mas eu os abri.
Pisquei rapidamente e deixei que as luzes tomassem forma. Meu pé não parecia ter virado e eu não sentia dor. Somente a sensação de vento a minhas costas. Como se várias coisas passassem por mim rapidamente.
Mas... o que...
Nova York ainda?
Ou o céu – eu não duvidaria – se parecia com Nova York?
Mas, um rosto encheu minha visão. Um rosto tenso e preocupado, um rosto que eu já havia visto muitas vezes hoje e... talvez... em um passado que eu nem mesmo conhecia.
Olhos dourados me avaliavam. Parecia que ele procurava por algo... talvez um machucado ou um sinal de dor.
Edward...

Por mais que grite e chore lágrimas negras, por favor que venha um amanhã despreocupado. Se for pra viver batendo na mesma dor, quero sumir distante. Por mais que eu saiba que é apenas um capricho.”

– Só... – sussurrou, fechando os olhos – Tome cuidado, por favor – suspirou.

Ele me colocou de pé novamente.
Ele era tão mais alto do que eu! Perto dele, parecia uma criança.
Eu mal consegui ligar para as pessoas que se aproximavam e perguntavam se estava tudo bem. Eu simplesmente não conseguia desviar os olhos de seu rosto e as lembranças de um CD quebrado e uma revista rasgada – depois que me recuperei – que estavam em minha mente. Nada disso sumia. Nada. Por isso eu tinha certeza que era uma ferida... uma grande ferida... que não cicatrizaria.
Será mesmo que morrer seria tão ruim assim?

– Me desculpe – ele segurou forte meus ombros – Por favor. Eu não sei exatamente o que disse a você agora pouco, mas... vamos viver juntos a partir de hoje, não vamos? Eu só quero... – e pegou minha mão – Cuidar desse seu lado frágil.

Aquela mão que segurou a minha...
Eu não sei explicar...
Mas era tão... quente.

Tão quente que aqueceu-me até o coração.


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Notas finais do capítulo

Aceito sugestões, críticas e comentários! Pode ser por aqui, pelo e-mail (lilojm@yahoo.com.br) ou por twitter (@juliapattz). Não se esqueçam de divulgar! *-* Eu adooooro conversar e quero saber a opinião de vocês, heim? Conto com isso!
XOXO,
Júlia.



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