Courage escrita por Carolbp


Capítulo 1
Voluntário


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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Blaine gosta de ajudar as pessoas. Teria sido muito mais fácil se alguém tivesse feito isso por ele no colegial, mas mesmo sua vida tendo sido em grande parte solitária, ele gostava de fazer as pessoas se sentirem bem. Agora ele estuda em Dalton, sem mais homofóbicos, sem mais hematomas pela pele e sem mais humilhação. Pode-se dizer que a vida de Blaine estava indo muito bem, obrigado.

Mas por esse desejo de ajudar as pessoas, que muitas vezes virava uma maldição, foi que Blaine decidiu começar um novo trabalho social. Pelo menos era o que ele dizia para ele mesmo. Dentre muitos talentos que possuía, seu verdadeiro amor estava em seu violão. Aprendeu a tocar com sete anos e agora, com dezessete, o violão era praticamente seu melhor amigo. Foi com ele que começou a ganhar seu próprio dinheiro, cantado em praças e parques, dinheiro honestamente ganho. É incrível como as pessoas gostavam de Disney e, muito mais que isso, das suas versões das músicas da Disney.

E, por causa de seu violão, Blaine decidiu que começaria a cantar para as crianças com câncer do Hospital Público de Nova York. Ele ainda não sabia, mas essa foi a melhor decisão que já fizera em toda sua vida.

Blaine entrou pela porta transparente, carregando seu violão nas costas em seus óculos Ray Ban no rosto. Não estava tão cheio quanto espera que estaria nos filmes: médicos correndo para salas de cirurgia, enquanto faziam massagem cardíaca e respiração boca a boca. Verdade, Blaine não estava acostumado com hospitais. Claro que ele já havia apanhado consideravelmente, mas sempre lidara com isso sozinho. Já dentro do hospital, caminhou até a pequena bancada da recepção.

“Posso ajudá-lo?”, perguntou a recepcionista. Era alta e muito loira, talvez pintasse o cabelo, lá pelos trinta anos, mas não havia como negar, era realmente bonita. Se Blaine não fosse gay, claro...

“Meu nome é Blaine Anderson...”

“Ah! Você é o novo menino que vai começar hoje com as crianças, certo?”, interrompeu a mulher, dando um sorriso largo ao menino.

“Isso mesmo”, respondeu devolvendo o doce sorriso.

“Segundo andar. Você pode falar com a recepcionista lá em cima. Ela só precisa colocar seu nome no registro pra quando você voltar.”

“Parece ótimo. Muito obrigado”, agradeceu e virou-se de costas em direção ao elevador.

“Boa sorte, querido!”

Ao chegar ao segundo andar, percebeu que o clima leve da outra sala já não era o mesmo. Apesar da atmosfera clara, paredes todas brancas e, com certeza, vozes de crianças ao fundo, algo naquele lugar não fazia Blaine se sentir muito bem.

Caminhou novamente até a mesa da recepção, mas não havia ninguém lá para atender. Isso era um hospital, certo? Blaine se apoiou no balcão a espera de alguém para atendê-lo.

“Mas você não pode ser a Barbie sem um Ken!”, uma voz fininha veio de trás de Blaine.

“A Barbie tem que ter um namorado ou não dá certo!”, Blaine se virou para ver uma menininha de mais ou menos sete anos, com um vestido rosa super fofo e infelizmente, sem cabelos.Estava sentada no chão brincando de boneca. Mas foi a pessoa na sua frente que chamou sua atenção. Era um menino, devia ter a idade de Blaine, mas só de olhar era possível perceber sua... Vamos dizer... feminilidade. Cabelos penteados perfeitamente para o lado, calças um tanto apertadas, uma pele clara e perfeita. Ele, com certeza, era gay, pensou Blaine.

“Mas eu posso ser o Ken também! Viu, eu posso ser os dois”, o menino tentou acalmar a pequena menininha, mas não adiantou. Se não tivesse visto o menino, com toda a certeza acharia que era uma menina falando. Sua voz era fina, mas macia, gostosa de se ouvir.

“Não! Você não pode! Não é assim que as coisas funcionam! Eu sou a Melanie, você é a Barbie e outra pessoa tem que ser o Ken!”, exclamou. As lágrimas começaram a fluir pelas suas bochechas rosadas, causando ao outro menino desespero.

Lembram-se da necessidade de Blaine de agradar as pessoas. Bem, foi uma desculpa para poder se aproximar e sentar-se ao lado do menino de pele perfeita.

“Eu sou o Ken, muito prazer em conhecê-la, madame. Você é a Melanie, certo?”, Blaine pegou o boneco em suas mãos, tentando fazer sua voz parecer mais masculina.

“Sou sim. Eu sou a melhor amiga da Barbie”, exclamou feliz, enquanto suas lágrimas paravam de cair. “A Barbie é sua namorada...”, sussurrou.

“Entendi. Então Barbie, você e sua amiga Melanie querem sair pra tomar um sorvete?”, perguntou, virando-se para o menino.

“Eu adoraria! Viu Mel, o Ken quer comprar sorvete para nós!”

A menininha deu um pulo de alegria e voltou a se sentar.

“Só se for sorvete de morango! Sabe por quê?”, perguntou animada. “Porque é rosa!”

“Rosa? Mas eu sempre achei que sorvete de morango era azul...”, Blaine disse em tom confuso.

“Mas é claro que não, seu bobo!”. A menininha voltou a rir descontroladamente pela bobagem que Blaine dissera.

“Mel, está na hora dos remédios”, o menino bonito disse. Bonito? É, ele era bonito.

“Mas que quero brincar mais!”

“Depois agente brinca, mas agora você vai tomar os remédios!”

“Sabe, vocês dois deviam namorar... Vocês combinam.”

Após o comentário constrangedor, a menininha levantou-se triste e entrou em uma das salas, sumindo de vista.

“Me desculpa por isso...”, o menino de olhos azuis (ou eram verdes) falou.

“Sem problemas.”

“Faz um tempão que eu tento brincar com ela, mas criança nunca é fácil. Obrigado por isso”.

Ambos agora já estavam de pé.

“Não foi nada. Na verdade, foi bem divertido!”, respondeu.

“Eu sou Kurt”, Blaine se deparou com a mão do outro menino e tratou logo de apertá-la. Como pensara, as mãos de Kurt eram macias como bumbum de bebê.

“Blaine. Então... Você trabalha aqui?”

“Só em dia de semana. E você... Espera, você é o novo voluntário?”

“Acertou! Eu estava esperando para registrarem meu nome, mas não tem ninguém na recepção.”

“Ela deve ter ido ao banheiro. Mas seja bem vindo. Não são muitas pessoas que gostam de ficar com as crianças doentes, é bom ver que existem exceções.”

“Crianças doentes ainda são crianças, certo?”

“É o que eu sempre digo!”

Kurt deu um leve sorriso e, ao perceber que estava encarando Blaine por um bom tempo, voltou seu olhar para o chão.

“Você é o Blaine Anderson, certo?”, uma mulher, mais velha que a do andar de baixo, chamou por Blaine.

“Sim, senhora.”

“Me desculpa pelo atraso. Eu já vou escrever seu nome aqui no arquivo. Você vai vir todo o dia?”

“Só em dia de semana”, talvez você ache coincidência demais, mas Blaine já planejava ir ao hospital de segunda à sexta.

“Parece que nós vamos nos ver bastante então...”, Kurt disse. Era verdade, eles se veriam bastante. Isso era bom, certo?

“Então, Blaine...”, Kurt continuou quando a mulher foi embora. “Quer conhecer as crianças?”, Blaine concordou com a cabeça.

Os dois caminharam pela sala toda decorada. Nas paredes havia desenhos e pinturas, o que alegrava o espaço, havia também alguns brinquedos pelo chão e, é claro, as crianças. Kurt apresentou todas as crianças à Blaine: Kate, Deby, Chris, Darren, Meg, Thomas... Magoava Blaine em saber que todas elas estavam doentes.

“Pessoal, eu queria apresentar um amigo meu que vai cantar algumas coisas pra vocês! Esse é o Blaine”, Kurt disse às crianças e foi respondido em coro por elas: “Oi Blaine!”.

“E aí pessoal, como vão vocês?”

“Bem!”, responderam sincronizadas.

“Melhor assim. Vocês gostam de música?”, todas as crianças sinalizaram com a cabeça. “Sim? Que músicas vocês gostam?”

“Hanna Montana!”

“Justin Bieber!”

“Disney!”, Melanie gritou animada.

“Disney? Você gosta da Disney, Mel?”, Kurt chamara a menina de Mel, então por que não?

“Eu amo muito, muito e muito! Um dia eu vou fazer um musical de princesas e sabe quem eu vou ser?”, perguntou a menina. “A Ariel! Ela é a mais bonita, talentosa e corajosa de todas!”

“Sabe, eu concordo com você. A Ariel é a melhor princesa”, Blaine concordou.

“Por que você não canta alguma coisa da Pequena Sereia?”, Kurt perguntou. “Você conhece alguma?”

“Mas é claro! Vamos ver...”, Blaine limpou a garganta, segurando firmemente seu violão e começou a cantar.

“Look at this stuff
isn't it neat?
wouldn't you think my collection's complete?
wouldn't you think I'm the girl
the girl who has everything?

look at this trove
treasures untold
how many wonders can one cavern hold?
looking around here you'd think
sure, she's got everything


I've got gadgets and gizmos a plenty
I've got whozits and whatzits galore
(you want thingamabobs? I've got 20!)
but who cares?
no big deal
I want more


I wanna be where the people are
I wanna see wanna see 'em dancing
walking around on those
(what do you call 'em? oh, feet)
flipping your fins you don't get to far
legs are required for jumping, dancing
strolling along down a
(what's that word again?) street


up where they walk
up where they run
up where they stay all day in the sun
wandering free
wish I could be
part of that world”

Melanie ficou muito empolgada com a música, cantava todas as palavras corretamente, com um sorriso de ponta a ponta.

“What would I give if I could live out of these
waters?
What would I pay to spend a day warm on the sand?
Bet'cha on land they understand
Bet they don't reprimand their daughters
Bright young women sick of swimmin'
Ready to stand

And ready to know what the people know
Ask 'em my questions and get some answers
What's a fire and why does it - what's the word?
Burn?

When's it my turn?
Wouldn't I love, love to explore that world up above?
Out of the sea
Wish I could be
Part of that world”


A sala ficou em silêncio por um minute. O queixo de Kurt quase batia no chão e seus olhos brilhavam de emoção.


“Foi tão ruim assim?”, Blaine perguntou.


“RUIM?!”, a voz de Kurt saiu um pouco mais alta do que o pretendido, fazendo o menino corar. “Não foi ruim, foi sensacional!”


“Foi muito bom! Você vai cantar outra? Canta outra!”, Melanie pedia, dando pulinhos de alegria.


E assim Blaine foi muito bem aceito pelas crianças, que se apertavam mais juntas para ouvir melhor a voz do menino. As crianças dançavam e cantavam juntas com as músicas de A Pequena Sereia, Mulan e Tarzan. Kurt estava maravilhado com sua voz.


“Toca mais uma!”

“A Dama e o Vagabundo!”

“A Bela e a Fera!”

“Alladin!”


“Ok, eu acho que o Blaine precisa ir agora. Já está muito tarde, mas ele vai voltar amanhã, não é?”, Kurt virou-se para Blaine.


“É claro que eu vou voltar!”


As crianças ficaram tristes ao fim da cantoria, mas estavam empolgadas pelo dia seguinte.


****

“Você acha que elas gostaram de mim?”, Blaine perguntou. Os dois meninos já tinham saído do hospital e foram tomar um café.


“Elas se apaixonaram por você”, Kurt respondeu com um sorriso no rosto.


Os dois sentaram-se em uma mesa mais ao canto da cafeteria.


“Mas eu continuou sem saber nada sobre você...”, Kurt falou.


“Eu sou um serial killer que entrou no hospital pra raptar criancinhas e matar senhoras indefesas”.


Kurt olhou surpreso para o menino, que ria.


“Você sabe que é brincadeira, né?”

“È claro que eu sei. Estava tentando imaginar a verdadeira razão... Vou supor que você não tem problemas com aparência e muito menos com meninas”, Kurt logo percebeu a cantada que havia dado e corou.


“Desculpa, eu não pensei antes de falar. Não quero te fazer desconfortável.”


Blaine achou adorável.


“Não se preocupa. Você está certo quanto a minha aparecia, eu sou lindo eu sei, mas eu nunca tive uma namorada.”


“Nunca?”


“Não. Já me pediram antes, mas ia ser meio esquisito beijar uma menina sendo que estou acostumado com lábios... Vamos dizer, mais masculinos.”


Kurt congelou na mesma hora. Se ele entendeu direito isso queria dizer que Blaine era...


“Isso aí, eu sou gay! Surpreso? Aliviado? Feliz?”


“Eu vou ficar só com o surpreso. Você não parece muito...”


“Feminino?”


Kurt corou e concordou.


“Eu não gosto de estereótipos”, Blaine respondeu, dando de ombros.


“Mas você ainda não me falou porque decidiu trabalhar no hospital.”


Blaine olhou pra baixo com olhar meio envergonhado.


“Longa história. Vou apenas dizer que eu tenho essa necessidade de ajudar as pessoas e adoro crianças, coloque os dois juntos e você sai num hospital de câncer infantil. E você?”


“Eu conheci essa menininha no parque um dia e simplesmente me apaixonei. Descobri que ela tinha câncer e decidi começar a ir ao hospital. A Mel não desgruda de mim desde então.”


“Mas que história inspiradora.”

“Não é grande coisa. Quando você é jogado no lixo sete vezes por semana e espancado três, você começa a pensar nas coisas importantes da vida.”

Kurt não parecia triste e nem perdera o sorriso em seu rosto. É como se tudo aquilo fosse normal.

“Mas você não parece triste com isso?”, Blaine perguntou um tanto curioso.

“Eu não estou. Todos que me xingaram e me bateram estão presos em Lima, enquanto eu estou em Nova York. Chamo isso de progresso.”

“Lima?”

“Pequena cidade em Ohio. Não me surpreenderia se surgisse o Assassino de Lima, podia dar um bom filme.”

“Podia mesmo. Mas por que você mudou de escola?”

“Eu vim fazer a faculdade aqui. Me pareceu um bom lugar pra começar minha carreira nos palcos.”

“Faculdade? Você não parece ter saído do colegial.”

“Eu não pareço ter saído do fundamental. Odeio essa minha cara de bebê.”

“Não vejo nada de errado com seu rosto”.

Foi vez do Blaine de corar. Ele podiam se conhecer por algumas horas, mas conversavam de uma maneira tão íntima, que parecia serem amigas há tempos. Kurt limpou a garganta e cortou o silêncio constrangedor.

“E como foi a sua escola?”

“Não vou chamar de paraíso, mas até que está indo muito bem.”

“Isso quer dizer que você não está na faculdade”, foi mais uma afirmação do que uma pergunta. “O que me leva a pensar que sou o mais velho sentado nessa mesa.”

“Correto. A não ser que você seja um desses meninos gênios de treze anos que vai pra faculdade super cedo.”

“Tenho dezenove.”

“Ainda me parece treze.”

Ambos riram e progrediram na conversa. Chegava a ser assustador a conexão entre os dois, mesmo sendo tão diferentes. Blaine tinha dezessete anos e estava no último ano do colegial. Pra surpresa de Kurt, Blaine era a pessoa mais nerd que já conhecera: obsessão por Star Wars e Harry Potter era uma das coisas que compartilhavam. Ambos também fizerem parte de um Glee, cada um em sua escola.

“Eu não acredito! Será que já competimos com vocês antes?”, Kurt perguntou.

“Nós somos os Warbles! Você sabe... Terno e gravata, só meninos, acapella...”

“Tenho certeza que, se já competimos, eu teria lembrado. É difícil esquecer um grupo de meninos de terno cantando, acredite em mim.”

E a conversa fluiu até um dos meninos ter de ir embora. Blaine pensou que talvez, e só talvez, ele iria gostar das visitas ao hospital.


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Notas finais do capítulo

Gostaram?
Odiaram?
Comentem e vejam o cover do Darren dessa música, é a coisa mais fofa!



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