É natal, estou só em casa. Tento lembrar dos meus amigos. Eles desapareçeram como o vento que passa. E revejo na memória, as memórias de alguém que já não lembro o nome. Só tenho fotos e fatos que de tão desgastados, já não os identifico. O nome talvez já não me importa, porque importante foi ele. Lembro do primeiro e ultimo dia, de cada dia, hora e momento. O ajuntar-se, o apegar-se, o mistura-se de nós dois; tão lentamente que não percebi. Não me restam muitas coisas. Apenas alguns enfeites dos natais passados. As melodias, as letras de musicas que nunca foram tocadas, podem cantar neste sentimento, que nem lembro se quem canta agora sou eu, ou você.

Um vago triste de memória, sufocando outros vagos alegres, que, aliás, já não são tão vagos quando eu me lembro de lembrá-los. Onde estarão todos?

Vejo aquela flor murcha, que arrancaste de um canteiro de rosas qualquer, que me entregas agora, estás a se desculpar por ter esquecido de presentes. Digo que não me importo o que me importa é apenas você. Foi no último natal. Me rodopia em teus braços corro parameu quarto guardar a rosa que me desses, e a guardo em um canto que nunca mais irei lembrar. Até este presente momento, em que bebo todo o meu estoque de vinho, sozinha.

Volto a me lembrar do teu rosto, uma lacuna lapidada pelos “não lembrar”. Confusão. Por mais que tente, não consigo. Agora,  focando-o mais, consigo lembrar daquele branco familiar. A energia. O calor. A doçura do teu sorriso. Talvez esta seja minha ultima lembrança tua. A única coisa que restou de ti.
Teu sorriso.
Sorrisos.
Sorrio.