Pov JAKE

O nosso encontro estava sendo um horror. Não tinhamos nem pedido nada para comer e Hamilton não falara mais nada, desde que me ofendera aquela hora. Mas não pude negar que estava sendo chata, rindo, como estava fazendo na cara dele.

– Olha, desculpa por chatear você - olhei para Hamilton - Você estava sendo doce. Eu acho... não sei, tão estranho isso, de sairmos juntos. Um encontro, sabe?

– Não tem nada de errado - disse ele em um tom normal. Fiquei feliz que ele não estava mais bravo comigo - É o que temos que fazer. Isso foi idéia sua.

– É eu sei - concordei - Mas eu me referia que nós não sabemos o que fazer.

Pelo menos, eu não fazia idéia do que fazer.

– Como não? - perguntou Hamilton - É só me imitar - ele sorriu meio torto.

Então um garçom se aproximou da nossa mesa.

Pov HAMILTON

– Com licença - disse educadamente - Queremos pedir algo.

– Muito bem - respondeu o garçom, aguardando o nosso pedido.

– A dama vai querer um salmão... - comecei mais fui interrompido por Jake.

– Dama? - indagou ela.

– É, é você - expliquei - A dama vai querer um salmão...

– Mas eu não gosto de salmão - interrompeu-me mais uma vez Jake.

Olhei sério para Jake. Ela já estava me irritando.

– Está bem - disse secamente - Então decide você por nós dois, Jake.

– Nessa situação eu queria ser a garota aqui, mas...

– Então assim fica mais prático - disse com arrogância. Se ela queria ser o homem, então tudo bem.

Jake pegou o cardápio das minhas mãos.

– Bolonhesa para nós dois...

– Eu não gosto... - comecei, mas ela me encarou com aqueles olhos verdes - Tá legal!

– Obrigado - disse o garçom e depois saiu.

Pov JAKE

Hamilton quase não relou na comida, dava para ver como ele estava com raiva. Mas eu não podia fazer nada. Isso não estava saindo do jeito que nenhum de nós quisesse que saisse.

O garçom trouxe a conta e nós dois colocamos a mão na caderneta.

– Eu pago a conta - dissemos os dois juntos.

– Não deixa comigo - puxei a caderneta para mim - Como você mesmo disse foi idéia minha, se lembra?

– É , mais eu pensei... que estavamos... bem...

– O que? - perguntei, mas sabia muito bem o que ele estava querendo dizer - Só por que você está de cara e eu de garota tenho que deixar que você pague a conta?

– É - respondeu ele.

– Muito bem. Olha, Hamilton - comecei. Não queria discutir, mais isso já estava dando nos nervos.

Coloquei meu cotovelo na mesa, me curvei para frente e encarei os olhos dele.

– Jamais diga como devo me comportar e nunca repita isso - disse enquanto nos encaravamos - Só está fazendo isso porque estou vestida de garota, agora?

Já estava farta dessa dissimulação toda.

– Não estou dizendo isso... - começou ele.

– Não, não, não - interrompi - Você abre a porta para mim, puxa a minha cadeira e quer pagar a conta. Você dirigi, não diz para onde vamos e é você que começa a conversa. Sabe, muito dessas coisas são agradáveis, mas outras muito antiquadas. E isso não é o que eu sou.

Terminei tudo o que tinha para falar. Eu sabia que isso não fazia sentindo, mas era como eu me sentia e Hamilton teria que entender isso.

Fiquei esperando para ver o que ele ia dizer, até que ouvi...

– Eu acho - disse ele devagar - Que você não sabe o que você é.

Então ficamos os dois, parados ali, olhando um para a cara do outro sem dizer absolutamente nada.

Pov HAMILTON

– Minha mãe morreria se soubesse que sai assim do banheiro - disse Jake, enquanto saia do mesmo reservado, de horas atrás. Só que agora vestida de homem.

Eu estava sentando na moto e esperei até que ela chegasse perto de mim.

– É e com sua samba canção e suas roupas - comentei.

– É, você tem razão. Não quero nem imaginar.

Olhei para o look dela. Um calção jeans claro, desgastado, tênis e seu eterno blusão azul.

– Uau - disse observando.

– Sério? - perguntou ela, me olhando nos olhos - Você acha que é algo como uma aberração?

– Não, nenhum um pouco - respondi. Eu não achava que o jeito dela se vestir era como uma aberração. Afinal ela não fazia isso porque queria.

Ela me olhou de novo e sorriu um pouco timida.

– Então isso quer dizer que você gosta de mim?

Seu tom era doce e fiquei feliz que o clima do restaurante não tivesse afetado em nada a nossa relação. Só não deu certo, só isso.

– É claro que gosto - respirei fundo - Só estou confuso, sabe? Sobre o que você é. Sobre o que nós somos.

Não consegui olhar direito para os olhos dela enquanto dizia isso. Mas depois que olhei ela não parecia brava, como no encontro, e sim parecia compreender o que eu estava sentindo.

– Eu sou apenas eu, Hamilton - disse ela com a voz doce de novo - Eu sei que finjo o tempo todo, mas quando estou com você, eu sou eu mesma.

Pov JAKE

Tentei explicar para Hamilton as coisas. Talvez ele compreendesse e se sentisse melhor com esssa situação toda.

– Olha, Jake - ele levantou da moto - Você é meu melhor amigo, ok? Mas às vezes você é meu amigo da escola e às vezes você é minha namorada. E eu estou totalmente apaixonado, e eu não sei...

– O que você disse? - o interrompi. Eu sabia exatamente o que ele tinha dito, mas queria que ele repetisse.

– Eu não sei...

– Não, não. Antes disso - Hamilton desviava os olhos para não me olhar, mas eu os seguia.

– De como você é meu melhor amigo? - perguntou ele enfim, olhando em meus olhos agora. Senti que ele queria sorrir, mas estava segurando para não faze-lo.

– Não - disse com calma. E continuei olhando nos olhos azuis dele.

– Aah - disse Hamilton, como se estivesse se lembrando - A parte, sobre... Eu te amar?

Abri um sorriso espontaniamente.

– É, essa parte - continuei sorrindo para ele. Hamilton continuava sério, só me observando.

– Eu amo - disse ele.

– Eu também - disse sorrindo - Quer dizer. Eu também te amo - me corrigi e depois nos beijamos.

Hamilton colocou suas mãos em minha bochecha, com delicadeza. Agora estavamos bem. Eu tinha certeza.

– Então eu posso ir dirigindo para casa? - perguntou ele entre os beijos.

Eu comei a rir.

– Sem chance - disse me afastando um pouco - Cai fora.

Nós começamos a rir e eu me sentei na moto.

– Senta aqui, baby - disse, repetindo a mesma coisa que fiz antes de irmos para o nosso encontro.

Hamilton riu dessa vez. Ele subiu na moto e eu dirigi de volta para a Academia Rawley.

Pov HAMILTON

Disse a Jake para que paracemos no restaurante Carry Out, onde Scout e Will disseram para encontrar com eles a mais ou menos essa hora. Às sete da noite.

Quando entramos no restaurante, já vimos Scout, Will e Bela sentados na mesa de perto da janela.

– Hey, garotos! - disse Will e se moveu para o lado para que Jake e eu pudessemos nos sentar.

Depois das apresentações - porque ainda não conheciamos Bela formalmente - acabamos ficando sem assunto, até que Jake tentou dizer algo não muito adequado para ela nesse momento.

– Que jaqueta linda - comentou ela, olhando a jaqueta marrom de Bela.

Scout e Will olharam com caras estranhas, nem mesmo Bela achou normal essa reação de Jake.

– Obrigado - disse Bela , um pouco hesitante.

Olhei para Jake e a fuzilei com os olhos. Ela não podia dar esse tipo de bandeira.

– Então o que está rolando? - tentei tirar a tenção que estava em Jake.

– Nada - respondeu Will - O que está rolando? - perguntou ele, olhando mais para Jake do que pra mim que fiz a pergunta.

– Não muito - respondi logo. Jake cruzou os braços e fez cara de homem.

– Isso - respondeu Jake com a voz grossa.

– O mesmo de sempre - disse Will, observando Jake.

– Eu dizia que não passava nada novo - comentou Bela de repente.

Aquilo definitivamente estava estranho. Ninguém sabia o que dizer. De repente todos começaram a rir do nada e então pararam. Olhamos para os rostos presentes.

– O que? - perguntou todo mundo junto.

– Nada! - respondeu todos em coro, então começamos a rir de novamente.