A Esperança Dos Renegados escrita por Aldneo


Capítulo 30
CAPÍTULO VIII: A Busca




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No interior do búnquer, o velho Yosef preparava Deborah para sua missão de busca. Oferecera-lhe uma ampla bolsa, juntamente com um esboço de mapa que indicava as fábricas próximas nas quais seria mais provável encontrar os materiais de que ele precisaria. Também lhe repassara rapidamente algumas informações básicas de como identificar os produtos, enquanto lhe ensinava a usar um aparelho identificador de amostras portátil. Quando ela já parecia estar pronta para a busca, e ambos já se localizavam próximos a saída do búnquer, ele começou a borrifar um líquido por sobre ela, que tinha um cheiro fraco, porém um tanto nauseante.

 

— “Isto deve lhe deixar imperceptível para os infectados”, o velho lhe explicava, “mas lembre-se que o ferormônio tem duração de no máximo umas 4 horas, além disso o calor faz com que ele se deteriore mais rapidamente, por isso tente encontrar as amostras agora de manhã, antes do dia esquentar muito. Além disto, sua transpiração também poderá neutralizar os efeitos do ferormônio, motivo a mais para buscar antes do sol esquentar. Caso acabe por se demorar, é melhor que leve também algumas granadas de gás.”

 

Após ambos concordarem que ela estava pronta para aquela 'missão', Yosef segue até a porta e começa a abri-la. A grande porta metálica se abre, liberando o acesso a uma pequena câmara intermediária, para a qual Deborah segue. Enquanto fechava a primeira porta, o velho lhe deseja boa sorte e ela se volta para a segunda porta a qual dava acesso às escadas que levariam ao exterior búnquer. Após tomar fôlego e coragem, ela a abre, atravessa e volta a fechá-la, seguindo pelas escadas, rumo à superfície. Chegando ao final das escadas, uma última porta, esta porém, normal, bem distinta das reforçadas que davam (ou, seria melhor dizer, impediam) acesso ao búnquer. Ela atravessa esta última porta e se depara com um dia claro, anormalmente o céu estava limpo e o sol brilhava. A paisagem daquela parte da cidade, um distrito industrial, era, como era de se supor, dominada por grandes fábricas e galpões industriais, porém não se via nenhum movimento em lugar algum, nem o menor sinal de qualquer coisa viva, tudo era dominado por um silêncio aterrador e mórbido.

 

Aquele silêncio, porém, é quebrado pelas palavras de Deborah, que se regojiza consigo mesma: - “Eu vou ficar rica! Desta vez eu me dei bem mesmo, esse velhote vai produzir vacina e eu vou ‘distribuí-la’... A todos quanto me pagarem, claro!”, ela segue sorridente pela rua que se estendia a sua frente enquanto ainda comentava consigo mesma: - “Agora só preciso encontrar estes itens desta lista... Vejamos, onde eu poderia encontrar borato fenilmercúrico...”

 

Rapidamente ela passa a vasculhar os galpões industriais mais próximos, experimentando diversas amostras no pequeno aparelho identificador que Yosef lhe havia dado, guardando na bolsa aqueles que correspondiam aos listados. Em um dos galpões, enquanto se distraia analisando uma amostra, os bips do aparelho logo são interrompidos pelo som de objetos sendo derrubados. A garota se volta para a origem do som e logo vê, pouco a sua frente, um infectado caminhando por entre a maquinaria do local, parecia estar vasculhando, como se buscasse alimento por entre os objetos de ali. Ele caminhava lentamente, e pouco a pouco ia se aproximando dela, até chegar bem próximo quase encostando nela. A negra criatura a encara, embora tivesse crescido combatendo estas coisas, Deborah jamais havia visto uma tão de perto, nunca se havia prestado a lhe encarar os detalhes, e a visão que agora tinha era de tal asco que não se poderia usar uma palavra para descrevê-la. Com todo o corpo encoberto por uma espécie de carapaça escura, as mandíbulas desproporcionais se destacavam no “rosto”, com os grandes e afiados dentes amarelados; nas mãos e pés, também um tanto desproporcionais, as unhas bem crescidas tomavam a forma de garras. A garota vê as fossas nasais da criatura se moverem enquanto esta parecia lhe farejar. Ela encara a criatura nos olhos, que pareciam cobertos por uma espécie de escama muito translúcida. Por fim, a criatura abre a boca emitindo um fraco e agudo guinado, no qual deixa uma boa quantia de saliva escorrer, se vira e volta a caminhar desengolçadamente pelo local. A garota, respira aliviada enquanto pensa consigo mesma: “Realmente funciona... aquele velho é mesmo um gênio...”

 

As horas da manhã iam passando e a medida que isto se dava, a temperatura aumentava exponencialmente. Enquanto o calor se tornava maior, parecia que mais e mais infectados se tornavam ativos e começavam a vasculhar os arredores. Enquanto que quanto saíra do búnquer não se via ou ouvia nada pelas ruas daquele distrito, agora Deborah já percebia, vez e outra, alguns vultos negros caminhando pelas ruas e por dentro das construções, acompanhados do som de guinados e pequenos urros. Quando se aproximaria de umas 11:00 horas, o calor estava abrasador, e ela sentia os efeitos disto; algumas gotas de suor escorriam em sua testa, e, além disto, os esforço de carregar aquela bolsa, que se tornara bem pesada com os materiais que já coletara, parecia amplificar os efeitos do calor nela. Percebendo isso, ela decide que já estaria na hora de voltar, até por que a lista estava quase completa, faltando apenas dois ingredientes, que ela poderia pegar mais tarde, ou, talvez, até no dia seguinte. Assim ela inicia o regresso ao búnquer.

 

Saindo do galpão em que estava e chegando a rua ela logo percebe uma nítida diferença no cenário. A rua que ao amanhecer estava completamente deserta, agora, com o calor do dia se mostrava sendo explorada por diversos infectados (logo de cara ela podia perceber uns 4 ou 5 deles). A tensão era inevitável diante das criaturas que, embora ainda parecessem não identificá-la, já demonstravam nitidamente que a detectavam, se voltando e se fixando nela, como se indagassem consigo mesmos o que ela seria. Tal situação logo faz com que o ferimento em seu ombro direito volte a emanar uma leve dor. Logo um deles começa a caminhar atrás dela, comportamento que é logo imitado por outro, a garota percebendo isso começa a caminhar atenta a eles, chegando a caminhar de costas, voltada tensamente para as criaturas.

 

Os infectados continuavam a segui-la, emitindo um som baixo e sibilante, se mostrando visivelmente curiosos por ela. Por fim ela resolve parar de caminhar para ver a reação daqueles seres. Estes também param, a certa distancia dela e começam a farejar o ar e se mover em torno dela, como se buscassem alguma forma de identificá-la. Após alguns tensos segundos deste comportamento de reconhecimento, um deles escancara a boca em um forte e agudo urro, era o já bem conhecido sinal de ataque daquelas criaturas. Sem demora, a resposta de Deborah fora automática: correr frenéticamente, buscando a direção de retorno ao búnquer, enquanto outros infectados que estavam por aquela área começavam a se juntar à caçada a garota. Enquanto corria, ela buscava com uma das mãos, dentro da bolsa, as granadas de gás que Yosef lhe havia dado antes dela sair. Ao encontrar uma, a pega e pensa consigo “É melhor realmente funcionar!”, ela puxa o pino e a solta no chão. Quatro segundos após ser solto ao chão, o pequeno cilindro metálico libera uma forte jorro de gás, fazendo a granada girar abruptamente e gerando rapidamente um densa nuvem de gás amarelado, a qual envolve os infectados. O gás tem ação rápida, e logo que são envolvidos pela nuvem, ou entram nela pelo impulso da perseguição, as criaturas, visivelmente afetadas, saem correndo em visível pânico em direções aleatórias.

 

Deborah continua sua fuga, e, enquanto passava pela frente de outro galpão, ela vê um porta dupla metálica (que se mostrava já bem deteriorada pela ferrugem). Esta é estourada por outro infectado, a força necessária para estourar a porta faz com que sua saída do local fosse bem desajeitada e desequilibrada, fazendo-o cair ao chão. Porém, uma segunda criatura saí do mesmo galpão, empurrando a primeira para fora de seu caminho e iniciando a perseguição à garota, sendo logo seguido pelo outro, que conseguira se levantar. Deborah passa a buscar uma segunda granada em sua bolsa, cujo o peso contribuía para ela já estar ofegante e as criaturas conseguirem se aproximar cada vez mais. Mas lhe surge uma esperança, ela vê a entrada para o galpão que lhe daria acesso ao búnquer. Ela se volta naquela direção, momento no qual ela ouve um guinado agudo e sente a bolsa que carregava sendo puxada. Aproveitando o impulso do puxão que a criatura lhe dera, a garota gira o corpo, cerra o punho e desfere um soco com toda a força. Ela sente suas falanges sendo esmagadas no contado com a dura crosta negra que recobria a face daquele ser, porém o golpe fora suficiente para fazê-lo lhe largar e se distanciar alguns passos, dando-lhe tempo de se voltar novamente à entrada do galpão e correr até lá. Nisto, ela consegue encontrar uma outra granada, ela a pega e puxa o pino, porém, permanece segurando-a, ainda pressionando o gatilho com sua mão. Chegando a poucos passos da porta, ela joga a granada no chão com tal força que esta chega a quicar e levantar a considerável altura do chão. A granada ainda se mostrava no ar ao ser ultrapassada pela criatura, que novamente alcança a garota, estendendo seus longos braços e apanhando-a com suas horripilantes mãos pelos ombros. Como precaução, a garota respira fundo e prende a respiração (enquanto contava mentalmente: "3... 2... 1..."), a criatura escancara as mandíbulas preparando a mordida, quanto a granada de gás detona, e encobre os dois na nuvem de gás. O gás começava a entrar pelas frestas da porta que dava acesso ao galpão, quanto esta é aberta, ultrapassada e, em um reflexo, fechada por Deborah; a qual se encosta de costas contra a porta e se assenta no chão por alguns segundos para recuperar o fôlego. Após isto, ela se levanta e segue para o búnquer.

 

De volta à companhia de Yosef, Deborah lhe entrega os materiais, indicando-lhe os dois que não conseguira encontrar, ao que ele lhe responde: - “Ah, o clavulanato de potássio e o fosfato de inositol, bem, não é tão ruim assim. Seria mais fácil já tê-los prontos, mas eu os posso sintetizar aqui no laboratório mesmo, embora isto possa demorar alguns dias...”


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