Memórias De Uma Caçadora escrita por Giovana Rebelo


Capítulo 4
Lugares ruins tendem a piorar


Notas iniciais do capítulo

Desisti de falar. É ruim e é isso.



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 Infelizmente, nunca tive sorte.

                Sonhei com um lugar. Estava flutuando ao vento, vendo a paisagem. Vi casas simples a frente de um palácio, pobres a frente de ricos. Via um mundo seco e amarelo queimado. Neste mundo, havia pessoas andando, correndo, vendendo, comprando, trabalhando. A voz calorosa de meu primeiro sonho voltou a minha cabeça: “Não esqueças de onde veio. Este é o seu maior legado, sua verdadeira missão”.

                Acordei assustada em mio a corneta.

                Fechei minha tenda e sai. As caçadoras se arrumavam para a caçada.

                Temos um total de nove barracas. A de Lady Ártemis, a minha, a de Thalia, a de Katy e Linni, a de Blaze e da menina nova (que ainda não aprendi o nome), a de Bianca e Heather, a de Aléthe e Phobe, a de Natalie e Sophie e a barraca central, de primeiros socorros e de refeições. Todas essas são pratas e ficam organizadas conforme a lua: quando essa está cheia as barracas formam um circulo e assim por diante.

                Iniciamos nossa caminhada.

                O dia mudava. De quente para nublado, de nublado para chuvoso. Os animais saiam de seus esconderijos e voltavam. O rio passava e não voltava.

                Ao fim de um belo dia descobri para onde estávamos indo. A nossa frente estava um dos lugares que eu mais odiava no mundo: o Acampamento Mio-Sangue. Lá estava quando Zoë se foi.

                Muitas de nossas pareciam não gostar daquele lugar. Natalie lembrava-se de Gregory. Heather lembrava-se de sua mãe. Linni lembrava-se de suas inimigas. Thalia lembrava-se de Luke e seus tempos ‘sombrios’.

                Nosso acampamento é a Caçada e nossos irmãos as caçadoras.

                -Meninas, vou falar com Quíron. – Lady Ártemis disse, enquanto passávamos pelos campos de morango. – Arrumem-se no chalé oito, vocês tem o direito de usá-lo.

                -Vamos – Thalia guiou-nos, depressiva.

                O chalé oito era, por fora, prateado, com imagens de animais e lanças enfeitando as paredes, resumidamente, parecia um lugar desprezível. Mas, por dentro, ele era um tanto quanto diferente. Ao passar pela entrada, encontrava-se uma trilha fechada e um tanto quanto escura. Ao final dessa, em mio ao espaço, havia uma clareira para que montássemos nossas barracas. O teto era, na realidade, o céu da meia noite: completamente estrelado e mudava conforme o ano. A floresta em torno dessa clareira mudava conforme as estações, assim como os animais dessa. Ao Sul do chalé encontrava-se a porta e ao Noroeste um córrego, nossa fonte de água. As outras direções deveriam ser exploradas. É difícil explicar, mas é seu lar em um mundo desconhecido.

                Entramos e arrumamos nossas barracas.

                Quando terminamos, silenciosamente, essa tarefa, milady apareceu na trilha.

                Todos pararam o que estavam fazendo e se viraram para ela, curiosas e cheias de duvidas.

                -Iremos ficar o tempo necessário. Quero que descansem e treinem. Amanha a tarde teremos uma caça a bandeira contra os campistas, como de costume, e, hoje a noite, vocês farão guarda ao acampamento. Acabem o que estão a fazer, dividam-se por regiões de guarda e podem ir comer – milady disse, recebendo toda a atenção possível

                -Vais conosco? – Aléthe perguntou, com seu sotaque francês.

                -Infelizmente não. Vou ao Olimpo e volto quando possível – ela respondeu seriamente.

                Após muita conversa e reclamação, milady partiu e fomos jantar. Os campistas eram desorganizados e imaturos. Meio mortais.

                Não prestei atenção no que comi. Aproximei-me de Natalie, que, pela primeira vez, não estava em meio a festa e estava afastada de todos.

                -Lembraste dele? – perguntei

                -Sinto falta daqui. Dele, de meus irmãos, meus amigos. Não me leve a mal, eu amo ser caçadora, mas fazem anos que não volte e … deixe. – respondeu-me e uma lágrima caiu de seus olhos cor de avelã – Desculpe-me.

                -Desculpe-se por sentir? Essa é nova. – Levantei seu rosto e enxuguei sua lagrima – Chorar não te desimortaliza, pelo contrario, te define como viva. O que aconteceu?

                  -Pode ser loucura. Deve ser loucura – ela disse, soluçando – Eu sonhei com ele. Ele me disse que …

                O sino tocou na melhor hora possível. Hora de vigiar.

                -Desculpe, mas ordem é ordem. Continuamos a conversa depois, mas, por favor, pare de chorar.  – disse, antes de sair correndo á floresta, local de meu posto.

                Gosto de altura, portanto escalei uma arvore. Dali, via os campistas iam para os chalés, com exceção de alguém.

                Havia uma movimentação a dentro da floresta, algo anormal. Desci da árvore onde estava, e fui dar uma olhada no que poderia ser.

            Amo andar pela floresta a noite. A brisa gelada, a falta de visão, a necessidade da audição. Sinto-me importante, poderosa, rápida, ágil.  

            Ouvi passos a minha frente. Quem estaria fora da cama?

            Cheguei ao lugar que tinha visto tal anomalia. Subi na arvora mais próxima para não ser percebida.

            Avistei um garoto. Tinha uma estatura média, uma aparência razoavelmente boa, e trazia em sua mão direita uma adaga. Mas quem era ele? Não havia o visto no acampamento, não pode ser um mortal ou um monstro. Quem era ele?

            Como sou perdida. Em um momento, perco-me em meus pensamentos e perco ele de visão.

            Pobre criança. Não era nem um pouco silenciosa.

            O segui pela floresta, mas, quando ia alcançá-lo, ele entrou em um buraco e desapareceu.

            Uma metralhadora dispara perguntas em minha cabeça. Será aquilo uma entrada para o submundo? Será ele um meio sangue que não havia visto explorando fora do horário?

Não sei, mas após a serie de traições que tivemos durante a nossa jornada, senti que deveria investigar. Será que seria apenas um fruto de minha imaginação? Não sei. Mas uma certeza a mil dúvidas.

Passei a mão sobre minha trança e sobre a pena que tinha ganhado.

A floresta ao meu redor apenas aumentava minha vontade se seguir meus instintos. O vento gelado que batia em meu rosto acordava meus sentidos. O cheiro de terra me despertava.

Mas inda me permanecia a duvida: e se fosse uma armadilha? Bom, o bem maior antes do bem menor.

O mato envolta da toca a ocultava. Será que seria apenas uma toca nova das Myrmekos? Creio que não. Elas não gostam de mudar de local. Porem, o cheiro que vinha dessa não me agradava nem um pouco.

Estremeci, mas, durante a calada da noite, entrei na toca.


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Notas finais do capítulo

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