O relógio marcava 09h00min, mas eu já não sentia sono.  Rolei para o outro lado da cama e Zacky estava lá. Fitei o teto e comecei a recordar-me da noite anterior. Havia sido perfeita.

Diferente.

Os outros caras que eu havia dormido não significaram nada pra mim. Foi só uma das formas que eu usava pra dizer que faria o que viesse em minha mente. Erros, mas tratando-se de mim, posso dizer que não chegavam nem perto de serem os piores. Mas enfim, com o Zacky foi diferente, eu não entendia muito bem o que eu sentia por ele, mas sem dúvidas era algo forte. Só que...

Senti um aperto muito forte em meu peito. Eu tinha que deixá-lo. Assim, sem mais nem menos, eu iria partir. E algo na minha cabeça repetia que eu só havia piorado tudo.

Virei para o lado novamente e o assisti dormir. Alguns minutos se passaram e decidi que era hora de agir.

Levantei e resolvi me arrumar no banheiro do outro quarto para não acordar Zacky.

O quarto de hóspedes inteiro tinha o cheiro do perfume de Synyster e aquilo fez com que meu coração apertasse mais uma vez. Entre as minhas coisas que estavam jogadas naquele cômodo, achei um vestido de tom azul muito claro, com tiras finas que o prendiam ao ombro e resolvi usá-lo e no canto mais afastado, uma sapatilha que eu havia recolhido na maior pressa possível na noite em que invadi minha própria casa na companhia do Syn.

Depois de um banho rápido voltei ao quarto em que Zacky dormia para pegar minha mochila e no caminho fui recolhendo as outras peças de roupas que ficaram no meio da casa, entre elas minha calça jeans. No bolso havia um cartão. Aquele que havia sido entregue para mim pelo Larry, empresário da banda. Guardei-o em meio às tiras que faziam a costura do vestido preso à cintura.

Xx

-Você conhece um bom advogado?

-C-como assim? Por quê?Os meninos fizeram algo com você? –Falou relutante e foi impossível não rir daquela teoria.

-Não, mas... Eu preciso. Somente.

-Ah, desculpa, é que aqueles garotos não são de total confiança, ainda mais perto de mulheres. –Riu. –Sei que estou sendo intrometido, mas por que um advogado? –Franziu o cenho.

-Problemas do passado. –Fiz uma pausa e o senhor continuava com uma expressão de dúvida. - Por favor. –Lancei-lhe um olhar suplicante.

-Ok. –Pegou a carteira do bolso e remexeu até encontrar um pequeno cartão. –É um amigo meu. Um ótimo advogado.

-Obrigada. Muito obrigada, mesmo.

Xx

Subi as escadas e encontrei Zacky ainda esparramado na cama. Fui até o guarda roupa, à procura da minha mochila, mas não estava mais lá.

Porra, eu coloquei ela aqui! Eu tenho certeza disso!

Fiz o que pude para continuar calma, ninguém havia entrado naquele quarto, apenas eu e Zacky.

Continuei fitando as portas abertas do guarda roupa e pensando onde eu poderia ter colocado. Mas fui surpreendida com uma mão em meus ombros. Tombei meu corpo para trás muito rapidamente com o susto.

-Desculpa, não queria te assustar. O que ta procurando? –Zacky tinha uma expressão tranquila e... Feliz.

E eu estragaria tudo. Novamente.

-Não, eu só estava procurando meu short. –Forcei um sorriso.

Zacky inclinou-se para me beijar, mas não o fez.

-Não precisa, você está linda assim.

Passou as mãos pela minha cintura e eu envolvi meus braços em seu pescoço, enquanto seus lábios estavam colavam-se nos meus. Era um beijo doce, calmo e lento que eu fiz questão de aprofundar e transformar em um beijo urgente. Talvez fosse o último.

Suas mãos já estavam por baixo do meu vestido e as minhas tentando desamarrar o roupão que ele usava. Fomos interrompidos pelo barulho da campainha.

-Droga. –Murmurou ao pausar o beijo e distanciar apenas alguns centímetros nossos corpos.

-Deixa pra lá, ninguém deve estar morrendo agora. Quem quer que seja vai desistir. –Disse enquanto me aproximava novamente dele iniciando outro beijo.

O som da campainha continuava. Ignoramos. Mas continuou mesmo assim.

-Ok, eu vou lá. –Disse por fim, um tanto irritada.

Pelo olho mágico consegui enxergar um moicano. Abri a porta ofegante e abracei Johnny.

-Jojo! Nem acredito, por que você sumiu? Droga, eu senti a tua falta, seu anão de jardim! –Falei sem libertá-lo do meu abraço.

-Olha quem fala. Também senti sua falta, Liss. Eu andei um pouco ocupado, sabe como é. –Sorriu malicioso, afastei-me e soquei seu ombro.

-Ocupado pra mim? Seu filho da puta!

-Desculpa, mas agora eu to aqui, não vai nem me convidar pra entrar?

Entramos e nos jogamos no sofá, aconcheguei-me em seu peito enquanto ele afagava meus cabelos.

-Cadê o porpeta?

-Acordou agora, deve estar tomando banho.

Depois continuamos em silêncio e tudo que eu estava reprimindo dentro de mim veio à tona. Engoli em seco.

-Johnny?

-Não vou casar com você.

-Nem em sonhos, seu desgraçado. –Ri. –Nós precisamos conversar.

-Pode falar.

-Vamos lá fora? É que... Não quero que o Zacky escute.

Pelo visto Johnny entendeu sobre o que eu queria conversar. Ele sempre entendia. Como na vez em que falei para os meninos que tinha somente 18 anos, Johnny foi o único que me pareceu mais sensato e com certeza seria ele a pessoa certa.

Saímos de casa e andamos de mãos dadas. Ficar com ele era engraçado, como estar com um irmão.

Havia até me esquecido o porquê de estarmos ali, mas aquilo teria que ser feito, uma hora ou outra e eu já tinha adiado muito. Reuni todas as minhas forças e procurei pela melhor maneira de começar.

-Johnny, eu quero te contar a minha história.

Respirei fundo.