Você sente alguma coisa pela Lisa?

O que eu acabara de ouvir ecoou várias vezes na minha cabeça. Senti-me um pouco entorpecido.

–Que pergunta idiota, porpeta. –O fuzilei com o olhar. –Vocês estão juntos. Ela é a sua garota, ok?

–Não, Gates. Não estamos juntos e se estivéssemos, você seria o primeiro a saber.

Senti um alívio ao ouvir isso.

–E então...?

–Então o que?

–Porra, eu fiz uma pergunta e você ainda não respondeu!

–Não, Vengeance. Não sinto nada por ela. Realmente quero levar Michelle a sério dessa vez. –Isso realmente saiu da minha boca? Fala sério, foi a mentira mais idiota que eu já inventei. - Só acho que a Lisa é um pouco desmiolada e confusa, alguém precisa mantê-la longe de problemas. –Ok, essa havia superado a mentira anterior. Dei de ombros e tentei forçar um sorriso.

–Entendi, irmão. Foi só coisa da minha cabeça mesmo.

–Sem problemas. Agora, se não se importa, eu vou embora. Todo mundo já anda comentando sobre o nosso caso. –Nós dois rimos, depois virei na direção oposta e continuei andando.

–Ei, Gates! –Zacky berrou ao longe.

–Fala.

–Não precisa se preocupar com a Lisa, ok?

Juro que se fosse outro cara ali, teria o partido em dois.

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“Mas se quiser continuar aqui, infelizmente, terá que me aturar.”

Continuar aqui.

Já estava levando isso adiante demais e nunca me perdoaria se acabasse trazendo problemas ao Avenged Sevenfold. E algo que eu havia aprendido era que se as coisas podem ser piores, isso quer dizer que elas serão piores.

Não tinha bons pressentimentos.

Fui até o banheiro parando exatamente em frente à torneira, passei a mão molhada pelo meu rosto, deixei que meus cabelos se libertassem do coque mal feito, depois fitei a estranha que me encarava do outro lado do espelho.

Nada parecida com a garota de algum tempo atrás. A menina de vestido com a costura que destacava a cintura e caia em algumas pregas um pouco acima do joelho, sapatilhas de pontas redondas e o cabelo preso em um rabo de cavalo alto impecável.

Vestia-me assim, uma coisa meio à moda antiga. Talvez esse tenha sido o fato que desencadeou a minha falta de amigos. A maioria dos adolescentes anda por aí descontando as frustrações verbalmente nos outros.

Eu gostava de ficar quieta. Passar em branco.

Então me enfurnei nos livros. Lia qualquer coisa que caia em minhas mãos.

Um problema: Quando se ler muito, você acaba achando a vida real monótona.

Eu me entediava fácil quando não estava lendo, mas depois comecei a tocar bateria, o que era estranho para uma garota como eu.

Agora era como se estivesse em um dos meus livros de drama e suspense. Sorri. Esse sempre foi o meu sonho, entrar em uma história e não voltar mais. Nunca mais. Fechei os olhos e pensei em como as coisas poderiam ter sido diferentes. Afinal, mas se eu não tivesse errado tanto, não estaria aqui. Presa no meu melhor pesadelo.

De repente senti alguém puxando meu cabelo com delicadeza para trás e o enrolando com os dedos. Abri os olhos e vi Zacky também encarando aquela cena pelo espelho.

–Entra no banheiro assim, sem nenhuma cerimônia? –Falei sem desviar o olhar das figuras que continuavam a me fitar.

–Esse é o meu banheiro. –Sorriu.

Como eu amava aquele sorriso, principalmente quando era dirigido a mim.

–Exatamente. O banheiro é seu. –Fiz uma pausa. - Zacky, eu não posso ficar aqui pra sempre.

–Lisa, eu tava brincando.

–Eu sei, mas...

Antes que eu terminasse a frase, fui interrompida.

–O fato é que eu não me importaria nem um pouco se você passasse dias, meses ou anos aqui.

–Você não vai ficar me bancando pelo resto da vida! –Falei como se isso fosse um absurdo. E era.

–Eu poderia. E o faria sem reclamar.

Desviei o olhar do espelho e analisei a figura ao meu lado. Não disse nada, só continuei parada, guardando em minha memória cada traço de seu rosto.

Ele sorriu e automaticamente o imitei.

–Sabe, Zacky, eu gosto de você. Eu gosto muito, aliás.

–Mas não o suficiente. –Sua expressão havia mudado, conseguia ver um apelo em seus olhos, seguido de dor.

–Como assim?

–O que você sente por mim é maior ou mais forte do que o que você sente pelo Brian?

Não sabia qual era a minha expressão naquele momento, mas com certeza ia de indignação à raiva.

–Cara, que erva é essa que tu anda cheirando? Deve ser bem forte, por que olha...

–Ah, qual é Lisa, tem escrito idiota na minha testa? Eu te conheço. –Não, você não conhece. – E conheço o Brian também. Essa implicância toda de vocês parece até crianças de 11 anos!

Eu queria gritar. Queria pular no pescoço do Zacky agora! E o faria se a droga da campainha não tivesse tocado. Juro que se fosse o Synyster de novo o faria passar as férias junto com o capeta.

–Pode atender? –Seu tom era calmo.

–Posso, mas essa conversa não acabou aqui. –E sai pisando duro, realmente como uma criança. Mais um me fazendo de idiota, estou adorando tudo isso. Parei antes de chegar até a porta do banheiro e me virei para Zacky que não havia movido um músculo sequer. –Quer saber, vá pro inferno você também!

Mas que porra, primeiro o Synyster agora o Zacky. Morram e tenham uma afterlife bem dolorosa!* Acabei rindo com a minha própria piada.

Finalmente cheguei até a porta, o trajeto nem era tão longo, mas consegui me esbarrar umas cinco vezes em alguns móveis. A campainha ainda tocava freneticamente.

Parem de testar a minha paciência!

–Espera aí porra! Não tem ninguém à tua disposição aqui. –Não fazia a mínima ideia de quem estava esperando, mas gritei mesmo assim.

Abri a porta com mais força do que o necessário.

–Que humor fantástico, Lisa! Adorei a recepção calorosa.

–O que foi, Michelle?

–Lisa! –A loira berrou.

–Desculpa, não estou em um dia muito feliz. Entra.

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Idiota. Com certeza eu não deveria ter falado aquilo, agi como o Brian.

Não me leve a mal, eu o tenho como um irmão, mas é assim que ele age. Como um idiota, principalmente quando se trata da Lisa.

Eu e ele nunca discutimos por mulher nenhuma, mas isso iria mudar logo se ele não parasse com todo aquele joguinho de sedução.

Eu o conheço. Sei por que ele está tão interessado nela. A forma que ela o trata, sem ficar desesperadamente atrás dele. A indiferença. Era por isso que ele estava tão fissurado.

Continuaria com aquela palhaçada esperando que ela se apaixonasse e depois de dormir uma ou duas noites com ela, a deixaria. Típico.

Não dessa vez, Brian. Não com a Lisa.

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–Posso saber por que esse humor tão ruim?

–Nada demais. –Respondi seca.

–Não minta pra mim. Pode ir falando, qual o motivo da raiva.

O SEU NAMORADO, AQUELE FILHA DA PUTA QUE SIMPLESMENTE ENCARNOU COMIGO! E AÍ, SATISFEITA?

–Caralho, já disse que não é nada! Não vem querer foder mais ainda o meu dia, Michelle.

–Ok, calma, calma. –Ficamos em silêncio, depois ela berrou novamente. –Porpeta! Tudo bem?

Nem havia percebido, mas Zacky já estava perto da porta, quase de saída.

–E aí, Michelle.

–Aproveitando que você está ai, queria te fazer um convite. Vamos pra algum bar hoje à noite?

–Não to muito afim, desculpa.

–Já vi que hoje todo mundo acordou com o pé esquerdo. –Resmungou e Zacky não revidou, apenas disse um tchau e foi embora.

–Você vem, não é mesmo? –Virou-se para mim fazendo uma carinha de criança.

–Pra onde?

–Porra, pra algum bar, sei lá. Acabei de convidar o Zacky, mas pelo visto, você não é a única de TPM.

Zacky não estaria lá? Ótimo.

–Vou sim, agora para de encher meu saco.