P.d.V. Charlie

Charlie continuou olhando para o sol que já começava a cair atrás do morro, balançando a rede e pitando seu cigarro enquanto pensava na proposta que acabava de receber. " Então é isso que esse fiho da  mãe quer". Pelo rabo do olho, pôde ver James se servir de mais uma dose de cachaça:

- O que o senhor me diz, meu tio?

- Tô pensando, James, tô pensando.

James terminou a cachaça com um gole só, bateu o copo na mesinha com uma força que quase quebrou o tampo de vidro, e se levantou da mureta que cercava o alpendre. Colocando o chapéu encerrou a conversa:

- O senhor pense a vontade. Proposta melhor não vai ter. Mnade avisar quando resolver.

 - Mando.

James lhe deu as costas, andando cambaleante até seu cavalo e montou com dificuldade. " Uma hora dessa, já deve tá de cara cheia", observou Charlie. Sem tirar os olhos do morro, gritou pela mulher:

 - Reneé!

Ela apareceu imediatamente. "Escutando atrás da porta, eu sabia". 

- Que é?

- Chame  Bella!!

- Ela tá na horta - respondeu, recolhendo a garrafa de cachaça e os copos; verificou se o tampo da mesa não estavatrincado - O que o James queria?

- Não me tire do sério, Reneé. Você ouviu. E me cahme a Bella.

Ela parou na frente dele, tapando a visão do morro:

- Charlie, pense bem. Logo o James? Você sabe como ele é! Não acho que ele dê um bom...

Charlie interrompeu logo Reneé, alterando a voz:

- Me chame a Bella.

Reneé entrou em casa. Charlie voltou a olhar para o morro, deu uma tragada profunda no cigarro e soltou a fumaça devagar, pensativo. " Bem que ia ser bom  esticar a fazenda pra lá do rio, até o pé do morro. Não gosto de vizinho"!

Sentiu uma sombra atrás de si, era Reneé. Com Jasper. Charlie já sabia o que eles iam dizer, e se irritou antes mesmo que dissesem.

- Mandei chamar Bella!

- Mas o Jasper...

Jasper tentou ajudar a mãe:

- Meu pai, a mãe só quer...

Aquela voz macia de Jasper também tirava Charlie do sério:

- Eu sei muito bem o que ela quer. Quer mandar nessa casa. Mas essa casa é minha, quem manda nela sou eu?

- Eu sei, meu pai. Todo mundo sabe. Mas o assunto agora não é a casa. É a Bella.

- E eu também não mando na Bella?? É minha filha, mando eu!

Reneé tentou mais uma vez:

- É minha filha também! E o James não presta!

Charlie se enfezou?

- Não presta por quê? É filho do meu sobrinho! É da minha familia. - levantou-se da rede - Então minha famila não presta, é? - avançou para a mulher. - Me diga, Reneé, minha familia não presta???

Jasper colocou-se entre os pais:

- Meu pai se acalme...

- Pois eu vou dizer quem não presta aqui. É o senhor, seu Jasper. Tem essa fala mansa, cheia de palavratório, mas não me serve pra nada nessa fazenda. Pra nada me serve até o seminário me devolveu você! E ainda diz que trabalha na estrada de ferro...E lá limpar trilhos é serviço d homem??? Um calça-frouxa, é o que você é!

- E também sou da sua familia, não sou? Sangue do seu sangue. E, conforme o senhor mesmo disse não presto! Igual ao James.

Era a primeira vez que Jasper o enfrentava. Charlie não gostou da valentia. Era só o que faltava: " o calça-frouxa querer cantar de galo no meu terreiro". Meteu a mão no chicote que sempre trazia à cinta:

- Você não me responda!

Continua