POV Sarah

Disse tudo o que eu sentia, tudo que estava escondido dentro de mim, que eu nunca disse para ninguém, nem para mim mesma. Não deixei ele me interromper, apenas relaxei e as palavras foram saindo de minha boca.

–Olha, meu mundo acabou quando meu pai morreu. Eu acabei parando no Mundo Inferior do nada, a única coisa que eu sabia era que eu não podia chorar, um pedido de meu pai. Seu pai, Hades, me contou tudo sobre os deuses existirem e tal e disse que queria a minha lagrima. Mesmo eu não sabendo o porquê eu não entreguei a lagrima. Ele me maltratou muito e me manteve como refém. Eu sofri muito, e no final ele conseguiu a lagrima e ganhou força o suficiente para tirar a sua memória. Eu só quero que você se lembre. Do momento em que me protegeu, quando você disse que ninguém iria me machucar, quando foi minha única companhia, a única pessoa na qual eu podia confiar. Todas as vezes que você dava cantada em mim e eu retribuía com patadas. Quando quase nos beijamos... Tente se lembrar, por favor. Sou eu, Sarah! Sua amiga!

Ele me olhava sem expressão.

–Talvez você não lembre de mim – eu continuei – Mas eu só quero que você saiba que eu te amo Nico. Ou pelo menos te amei. Não se esqueça de mim. Tente se lembrar.

Dei um beijo em sua bochecha, impedindo que as lágrimas escorressem pelo meu rosto. Ele continuava sem expressão.

Aquele foi a primeira vez em que eu consegui dizer algo assim, para qualquer que fosse, e eu estava feliz por esse alguém ser o Nico. Foi difícil e talvez não tenha resultado, mas eu tentei e não deixei para trás. Não entendi o que Hades quis dizer, no sonho, mas alguma coisa eu podia fazer para ter a memória do Nico de volta, e eu tentei fazer.

Se não desse certo, eu podia conquistar o Nico, já fiz isso uma vez, posso fazer de novo.

Saí de lá sem olhar para trás, eu disse tudo que eu sinto, não vou ficar beijando o pé dele para tê-lo para mim, se ele finalmente lembrar de mim, eu rezo para que isso aconteça, ele que venha me dizer.

Fui direto para o chalé de Hefesto, com a esperança de que Leo estivesse lá, e para minha surpresa ele estava lá, deitado em sua cama. Geralmente ele esta treinando, criando algo ou mexendo em alguma coisa. Dessa vez ele estava olhando para o teto, nem reparou que eu estava ali.

Fui até a sua cama e deitei do seu lado, já que a cama era bem grande, fiquei na mesma posição que ele, também olhando para o teto. Ele estranhou e se assustou com a minha presença, mas depois só suspirou.

–Como que foi? – ele perguntou sem desviar o olhar.

–Não era como eu esperava – eu disse – Não mudou nada. Ele continua sem memória, sem lembrar de mim.

–E o que você tentou fazer?

–Tentei fazer ele se lembrar de tudo – eu dei de ombros – Mas ele não disse nada, não sei se houve resultado.

O lábio de Leo tremeu. Ele ficou quieto por alguns instantes e disse:

–Eu não queria que ele se lembrasse de você.

Percebi o que ele quis dizer, mas disfarcei. Sabia perfeitamente que ele estava querendo se declarar. Quando ele ficou contente que não deu certo o meu plano de ter o Nico de volta, percebi exatamente o motivo. Mas perguntei, para ver se ele tinha coragem:

–Mas por que, Leo, se era o que eu queria?

Ele continuou olhando para o teto.

–Ah, é que eu, eu gosto de ter você aqui, comigo, perto de mim.

A gente estava no chalé dele, seus irmãos estavam ajudando a construir a forja. Eu vi que Leo ia morrer de vergonha se eu não o incentivasse! Era capaz de ele sair correndo, então eu respondi:

–Pois é. Eu também gosto de ficar ao seu lado. É bom ficar perto de você.

Fiquei quieta, ele voltou a mexer no seu pequeno objeto, que eu reconheci ser um pássaro feito de metal, ele moldava com muita facilidade, como se fosse de papel.

Que raiva! Eu dando a dica e ele sem jeito! Se eu não fizer alguma coisa é capaz dele levantar e arrumar alguma desculpa. Tomei coragem e botei a minha mãe em cima da mão dele. Ele levou um susto e deixou seu pássaro de lado. Sua mão estava paralisada.

–Sua mão está fria, Leo!

Ele ergueu a cabeça com um sorriso sem jeito e olhou para mim. Pos a outra mão em meu ombro. Bom, não posso garantir que ele puxou meu ombro. Mas agi como se ele estivesse puxando. Levantei um pouco a minha cabeça, meu nariz quase se encostou ao dele. Ele aproximou os lábios e me beijou.

Foi um beijo rápido. Em seguida nos beijamos mais longamente! Foi maravilhoso! Nada parecido com o da balada, que eram só lábios unidos. Agora, era diferente. Havia carinho, uma delicadeza que eu não conhecia.

Nesse momento eu esqueci completamente o Nico, sei que eu estou fazendo a coisa errada, digo para um que o amo e beijo o outro. Desde o começo eu queria beijar o Nico, mas foi diferente e eu não estou triste por isso.

Nos separamos e ele encostou sua testa na minha. Suspirei derrotada. Eu não faço a menor idéia do que está acontecendo comigo. Estou dividida entre os dois. No momento Leo está ganhando, já que ele me beijou primeiro e lembra de mim, ao contrario do Nico.

–Me desculpa – eu disse me sentando – Estou em duvida.

–Eu te entendo – ele disse. – Só não quero que se ele lembrar de tudo, você corra para os braços dele.

–Pode deixar – eu disse – Vou pensar com carinho.

Ele sorriu para mim.

Fui até o meu chalé e sentei em uma cadeira, olhando para a janela. Vou tentar fazer uma lista:

Leo:

1- É super fofo e gentil comigo.

2- Gosta de mim

3- Me beijou

4- Tem medo de me perder

5- O pai dele não tem nada contra mim, que eu saiba.

Nico:

1-Era super fofo e gentil comigo

2-Gostava de mim, eu acho.

3-Nunca me beijou, só tentou.

4-Só me dava cantada

5-Seu pai sempre quis me matar

6-Não lembra de mim

E agora? O que eu faço? Quem eu escolho? A questão é: eu amo os dois! Acho que não dá para amar duas pessoas ao mesmo tempo, talvez seja apenas uma atração por um. Mas eu não consigo identificar por qual eu sinto uma atração e por qual eu estou apaixonada ou amando.

Apoiei meu queixo nos meus joelhos, abraçando minhas pernas. Suspirei longamente sem entender nada. O que Afrodite estava fazendo comigo? Balancei minha cabeça, tentando tirar aqueles pensamentos de minha mente. Hoje é meu aniversario, não tenho que ficar me preocupando com garotos.

Sorri involuntariamente me lembrando do beijo com o Leo, foi... bom. Difícil de explicar, mas eu queria aquilo de novo. Mas ao mesmo tempo eu queria fugir, obrigar Hades a devolver a memória do Nico e voltar para ele. Não queria ver Nico sofrendo se ele me visse com o Leo... Espera aí... Se eu beijar o Leo na frente do Nico, talvez ele se lembre e fique com ciúmes... Não! Não posso fazer uma coisa dessas com o Leo, e estaria usando ele.

Decidi ir até a Casa Grande, já que Quiron me pediu, há um tempo atrás, que queria conversar comigo. Lá dentro, Quiron estava em sua cadeira de rodas, pensando, e quando me viu ficou um pouco assustado.

–Sarah – ele disse – Que bom que veio, precisamos conversar.

Sentei na sua frente, em um sofá, reparei que Sr.D estava sentado em uma cadeira observando com atenção o seu baralho e sua taça com vinho.

–Sei que hoje não é um bom dia para falarmos sobre isso – Quiron me disse – É seu aniversario. Mas eu tenho uma proposta para fazer para você. Vai ser boa, porque assim, você saberá quem realmente é seu pai. Mas será muito perigoso.

Tentei não parecer com medo.

–Pode dizer – eu disse.

–Tenho uma missão para você...