Uma lagrima especial.

Aquilo não estava acontecendo. Não mesmo. Só podia ser um pesadelo. Tudo começou quando eu e meu pai estávamos conversando e nos divertindo enquanto assistíamos ao filme na TV.

Nós morávamos em um apartamento minúsculo, pois meu pai era um pequeno empresário que ainda não tinha uma carreira muito boa. Ele não ganhava muito bem, mas ganhava a ponto de termos uma vida relativamente boa.

Minha mãe morreu, de acordo com meu pai, quando eu era bem pequena. Mas eu nunca fiz questão de tê-la em minha vida, sempre gostei da minha relação com meu pai.

Voltando a historia, enquanto víamos o filme, a campainha tocou. Meu pai levantou e foi até a porta. Quando ele abriu um terrível monstro apareceu. O que era aquilo?

Eu conhecia um pouco sobre mitologia grega, meu pai me obrigou a estudar sobre isso. Eu sempre gostei bastante, e eu sabia que aquela criatura era um cão infernal.

Como um cão infernal entrou em um apartamento minúsculo? Eu não sei. Como ele existe? Eu também não sei. Como meu pai reagiu como se nada tivesse acontecido? Não sei. Por que o cão infernal tocou a campainha? Não sei. Cão infernal sabe tocar campainha? Não sei. Ou seja, eu não sei de nada.

Meu pai veio até mim e me empurrou para debaixo da mesa.

–Se esconda! – ele gritou.

Fiz o que ele pediu. O cão infernal atacou meu pai. Meu pai pegou uma cadeira e tentou se defender. O cão infernal ficou preso, pois o apartamento era pequeno, e nesse pequeno tempo que o cão tentava se soltar, meu pai veio até mim.

–Pai. – eu disse – O que é isso?

–Calma filha. Vai dar tudo certo.

–Pai! O que está acontecendo? – eu estava desesperada.

–Não posso explicar agora. Mas tudo isso existe. Deuses e monstros. Tudo o que você aprendeu sobre a mitologia grega.

–Não é possível.

Tudo então fazia sentido, tudo que aconteceu comigo.

–Sua mãe é muito especial. – ele disse.

–Como vamos nos livrar disso? – eu disse.

–Eu não sei, mas não importa o que acontecer, saiba que eu te amo muito.

–Pai...

–Me faça um favor?

–O que quiser – eu disse quase chorando.

–Não deixei ninguém roubar uma lagrima sua. Ninguém. Não chore. Independente do que te de em troca.

–Como assim?

–Seja forte, não chore. Sua lagrima é muito importante. – meu pai disse.

Controlei-me para não chorar.

–Tome cuidado, minha filha. – meu pai disse.

O cão infernal conseguiu se soltar, meu pai virou e me empurrou para o canto da sala.

Eu bati a cabeça com força na parede e a única coisa que vi antes de apagar foi meu pai sendo morto pelo cão infernal.