“Eu te digo que estamos perdidos!”

“Não estamos perdidos Rose!” Dimitri suspirou.

“Então me diga por que estamos numa estrada deserta? Não iríamos supostamente para um lugar urbanizado? OU você quer me dizer que me roubou para vivermos no deserto?”

“Primeiro, eu não te roubei” ele ergueu o indicador, contando. “Segundo, isso não é o deserto! E,terceiro, realmente vamos para um lugar urbanizado. Não tão grande quanto você quer mas, ainda assim, há shoppings por lá!”

“Realmente?”

Ele acenou, com um sorriso no rosto. Havíamos levantado cedo, ou melhor, ele me levantou cedo, e já estávamos na estrada há duas horas.

O cenário parecia exatamente o oposto de qualquer estrada dos Estados Unidos, e realmente estava começando a fazer frio. Do tipo que eu sempre imaginava na Sibéria. Não tanto, mas o suficiente para eu saber que iria nevar em poucos dias. Eu liguei o aquecedor.

“Você não quer mesmo que eu pegue uma blusa na mala?”

“Não! Apenas se concentre em nos levar para esse lugar com shopping!”

Ele riu. “Não é o shopping que irá te fazer feliz eu creio!”

“Ok, ok, de novo vamos começar esse papo. Mas desta vez camarada, eu não irei ceder. Eu não irei te perguntar mais sobre o que tem em Baia de tão importante!”

“Brilhante decisão!”

Eu revirei os olhos e me encolhi no banco. “Só me avise quando chegarmos ok?” eu pedi, gemendo um pouco.

“O que há de errado?” ele me olhou parecendo preocupado.

“Nada, e só uma dorzinha atoa, vai passar!”

“Você tem certeza?”

“Yeah, eu tenho!”

Eu fechei os olhos, mas ele me chamou de novo.

“O que?”

“Você comeu antes de sairmos?”

“Claro!” menti, mas eu acho que ele não caiu nessa.

“Prometa-me que vai comer algo assim que chegarmos!”

Eu dei de ombros, murmurei um Ok, e fechei os olhos, a dor em meu corpo diminuindo um pouco. Só um pouco.

“Rose!”

Eu senti alguém me cutucando. “Rose, nós chegamos!”

EU abri os olhos. “Você podia ter me acordado de um modo mais romântico!” Dimitri abriu um sorriso e então se inclinou para mim, e me beijou.

Eu devolvi o beijo com entusiasmo apesar de ter acabado de acordar, toda dolorida de uma viajem de algumas horas.

Mas como se sempre ele foi o primeiro a se separar.

“Melhor?”

“Muito!” Ele alargou mais o sorriso e então desceu do carro, dando a volta para abrir a porta para mim. Sempre cavalheiro.

Eu desci e olhei ao meu redor. Estávamos parados em uma rua, com algumas pessoas andando, e conversando. Casas se estendiam por meus dois lados e eu pensei que havia visto algum Moroi caminhando normalmente. Já era o por do sol e significava o inicio do dia para os Moroi.

“Aquilo que eu vi foi...?”

“um Moroi?” Dimitri andou até o meu lado e observou o homem que havia passado por nós. “Sim. Eu acho que o conheço, mas não tenho certeza.”

“Espere!” eu me virei para ele. “Você já veio aqui muitas vezes?”

Ele sorriu. “Eu achei que você seria mais esperta. Você de todas as pessoas. Realmente não sabe por que estamos aqui?”

“Não porque eu deveria...” realmente não havia feito nenhum sentido para mim, mas agora... Tudo se encaixava. Eu havia sido estúpida de não pensar nisso.

E agora eu me lembrava de ele mencionar o nome muitas vezes, nos nossos treinos, naqueles raros momentos em que eu conseguia acessar alguma parte emocional dele.

“Baia! É o lugar que você cresceu não é? Deus, eu fui tão idiota de não lembrar, me desculpe Dimitri! Eu sinto tanto...”

Ele pegou meu rosto entre suas mãos e me calou com um beijo. “Não há nada com que se preocupar. Você tinha muita coisa na cabeça. Eu pensei que essa seria uma oportunidade de você esquecer algumas coisas!”

Eu sorri, um pouco tímida pela demonstração de afeto bem no meio do passeio, mas eu deveria me acostumar não é? Em três meses poderemos fazer isso no nosso lar!

“Então... eu vou conhecer sua família? Eles vivem por aqui ainda?”

Ele deu um passo para trás e sorriu. “Na verdade você está em frente à casa que eu nasci!”

Eu assustei e olhei para trás. Uma casa de dois andares, humilde e com plantas ao redor se estendia à minha frente. Não era grande, mas era o suficiente bonita para pessoas viverem ali feliz. Eu podia sentir o cheiro de alguma coisa no ar. O cheiro de um lar.

“É então?” ele perguntou passando os braços ao meu redor.

“É linda!”

“É sério? Porque eu entenderei se você quiser dar no pé ou algo assim.”

“Por que eu iria querer dar no pé?”

Ele deu de ombros. “Eu iria querer se fosse para me apresentar a sua família.”

Eu lhe dei um tapa no ombro.

“Você já conhece minha mãe.”

“Sim, mas ela ainda me assusta!”

Ele saiu do nosso abraço e começou a subir as escadas.

“Elas sabem que você está aqui?” ele parecia um pouco nervoso por finalmente rever a família depois de todos esses anos.

“Não!” ele mordeu o lábio então bateu na porta.

Eu fiquei atrás dele, para dá-lo um pouco de privacidade.

Uma mulher com uma aparência jovem, mas que deveria estar na casa dos cinqüenta atendeu a porta. Ela vestia um avental e usava um pano sobre a cabeça. Apesar de eu não ver seu rosto, eu poderia imaginar ela exatamente como Dimitri.

Ela murmurou algo em russo quando viu quem era. E então um piscar de olhos depois ela estava chorando com seus braços ao redor de Dimitri e murmurando coisas incompreensíveis para mim, mas para ele parecia fazer muito sentido porque ele respondia no mesmo tom, apenas sem as lagrimas, apesar de eu poder imaginar que ele estava se segurando.

Ela se afastou e começou a passar as mãos no rosto de Dimitri. Era uma cena realmente linda e emocionante de se ver e eu estava com lagrimas e um sorriso no rosto.

Eu rapidamente as limpei.

Dimitri pegou as mãos de sua mãe e começou a beijar e falar algo realmente carinhoso.

Ela respondeu e então pareceu me notar.

Eu realmente me sentia um pouco deslocada ali. Dimitri pareceu notar o olhar questionador de sua mãe e deu um sorriso.

“Mama, esta é Rosemarie Hathaway!” Ele mudou para o inglês e eu dei um passo a frente.

“Olá Rosemarie! Sou Olena!”

“Prazer!” eu disse timidamente estendendo a mão, mas antes que eu piscasse, ela me puxou para um abraço de quebrar costela.

“O prazer é todo meu querida! Sinta-se em casa!”

“Obrigada!” eu me afastei dela e fiquei ao lado de Dimitri, um pouco afastada, querendo dar privacidade.

Ele jogou um olhar divertido para mim, mas eu o ignorei e continuei olhando ao meu redor. Olena nos pôs para dentro rapidamente e começou a ajeitar a casa.

“Me desculpem pela bagunça. Eu realmente nunca imaginaria que receberia visita. Ainda mais você meu pequenino!”

Chamar Dimitri de qualquer coisa não me assustaria mais do que chamá-lo de pequenino. Ele era uns dois palmos maiores do que eu!

“E Rosemarie também! Sintam-se a vontade! Vocês irão ficar por muito tempo?”

“Iremos ficar por uma semana mama!” Ele se jogou no sofá, colocando almofadas entre as pernas e atrás da cabeça. Eu realmente estava muito assustada para sequer rir da cena que se estendia diante de mim.

“Onde estão as pessoas desta casa? Ela costumava ser mais barulhenta!” Ele perguntou à sua mãe que estava trazendo alguns pãezinhos e biscoitos e os servindo em cima da mesinha de centro. Dimitri pegou um e começou a comer. Eu fiquei sentada em uma poltrona ao lado e também peguei um. Eles eram uma delicia.

“Sonya ainda está no  trabalho. O bebe ainda vai demorar um pouco para nascer mas creio que ela ainda esta em condições de fazer hora extra.”

“Sonya está grávida?” Dimitri perguntou.

“Sim. Seis meses já. Você será titio de novo!” Dimitri fez uma careta e eu ri. Olena riu também. “Victória chega amanha da escola. Ela esta de folga esta semana. Ela simplesmente vai desmaiar quando te ver! E Karolina e Paul foram ao centro para fazer compras. Sua avó, Yeva, foi visitar Oksana. Ela esta tendo problemas em evitar as pragas!”

Dimitri assentiu. Eu me lembrei dele mencionar que sua avó era uma bruxa, ou algo do tipo. Ela já saberia que ele tinha voltado?

“Então querido, o que faz tão longe e o que traz aqui?”

“Estou a serviço de campo para a Academia que trabalho. Eu tenho uma protegida nova. A princesa Dragomir!”

Olena arregalou os olhos. “Oh Deus. Pobrezinha eu ouvi falar sobre ela. Perder os pais tão cedo, um trauma tão grande.”

Eu que o diga!

“Sim, eu fui designado a protegê-la!” eu percebi que Dimitri não mencionou exatamente que iria protegê-la. Apenas que ele foi designado a ela. Lembrei-me de perguntar isso a ele quando estivéssemos a sós.

“Na verdade, ela e sua melhor amiga estavam longe da academia por razoes...  técnicas!”

Olena ergueu uma sobrancelha, exatamente como Dimitri fazia. Eu suspirei.

“Na verdade eu sou a melhor amiga da princesa. Ela também é minha protegida.”

Dimitri olhou para mim e eu dei de ombros. Olena ofegou. “Então você é a que estava no acidente também? Oh Deus!” ela caminhou até mim e pegou minha mão num gesto solene. Eu sorri para ela.

Dimitri se levantou. “Mama, você ainda tem um quarto disponível?”

Olena se levantou também e começou a recolher as coisas. “Rose querida, você não comeu nada!”

Dimitri parou de andar olhando as coisas e olhou para mim. Eu recuei.

“Eu não estou com fome Olena! Mas eu comi um, e estava realmente delicioso.”

Olena me olhou preocupada e entao se virou para Dimitri. “Você tem alimentado Rose direito não?”

“Perfeitamente!” eu disse antes que ele respondesse. “Eu só não tenho fome, obrigada mesmo assim!”

Ela assentiu ainda me olhando preocupada e respondeu a pergunta de Dimitri.

“Sim querido. Demos o seu antigo quarto para Paul, mas ele ficará feliz em cedê-lo para você. Se Rose quiser ela pode ficar com Victória.”

Dimitri ficou desconcertado mas eu interferi. “Não se preocupe comigo Olena, eu fico no mesmo quarto que Dimitri. Não quero incomodar. Só me arranje um colchão e eu estou bem.”

“Sim mama, não se preocupe conosco.” Dimitri olhou para longe de mim para disfarçar e Olena nos deu um olhar desconfiado. Eu procurei algo para mudar de assunto. Caminhei até a prateleira de livros e comecei a olhá-los. Eram da mesma capa que os de Dimitri. Aqueles de faroeste que eu sempre implicava com ele por lê-los.

“Hey, Dimitri, achei a sua fonte!”

Ele riu e caminhou para o meu lado, Olena nos olhou novamente.

“Eu vou ligar para Karolina para ela não demorar, já esta tarde. Daqui a pouco a janta esta pronta.” Entao sorriu para nós e saiu do cômodo.

Dimitri me encarou. “O que?” eu indaguei olhando culpada para ele.

“Nada! O que aconteceu agora a pouco?”

“Eu só disse a verdade. Eu não quero intrometer.”

“Hum, e isso não tem nada a ver com o fato de você querer alguma coisa?” Ele abaixou e sussurrou no meu ouvido.

Eu me fingi de inocente. “Que tipo de coisa?”

Ele deu um meio sorriso e começou a se abaixar, mas então um barulho o fez retroceder e fingir estar pegando um livro.

“Esse aqui é realmente bom!” ele disse e piscou para mim no momento em que Olena entrou novamente no cômodo.

Eu entrei no clima. “Sim, mas pena que está em russo camarada. Se não, eu recitaria ele para você em um daqueles bares com uma cadeira e um microfone, para o show de talentos.”

Ele riu e pôs o livro de volta.

Meia hora depois Karolina chegou com seu filho Paul. Ele era exatamente a versão mini do Dimitri. Após abraços, choros e apresentações, estávamos novamente conversando sobre o que nos trazia aqui. Dimitri repetiu a história para Karolina, com um pouco mais de detalhe sobre o serviço de campo e sobre a academia e entao sem querer ele mencionou algo que não tinha deixado escapar antes.

“Ah, Rose é sua aluna?” Olena perguntou olhando estranho para Dimitri. Eu engoli em seco.

Karolina percebeu e entrou na conversa também. “E ele é um bom professor Rose?”

Eu ri. “Na verdade, ele é ótimo. Se você é o melhor guardião do pedaço, Dimitri ainda vai aparecer para te por pra baixo. E ele dá muitas lições de vida também.”

Karolina riu maravilhada. “Sim, ele costumava dar também.”

“Francamente Rose! Você esqueceu-se de mencionar quantas vezes já conseguiu me derrotar!” Eu fiquei vermelha com o comentário dele e dei de ombros.

“Foram poucas as vezes, você sabe disso.”

“Não foram não!”

Eu poderia ter ouvido errado, mas eu notei o significado duplo daquela frase. E Karolina também, porque arregalou os olhos, mas graças a Deus não mencionou nada. Ela só olhou para Dimitri que desviou o olhar.

Após a janta, Olena mandou Paul para cama e após mais alguns momentos jogando conversa fora todos resolvemos ir deitar.

Quando Olena me indicou a direção do quarto e eu estava prestes a subir, Dimitri me chamou.

“Eu só vou mostrar algo para Rose mama. Nós já vamos subir!”

Ela nos deu boa noite e subiu com Karolina ainda nos olhando desconfiada.

Dimitri abriu uma porta que dava para os fundos e me chamou para segui-lo. Eu comecei a andar, mas estremeci. O vento frio era muito mais perceptível do lado de fora da casa.

Dimitri caminhou até mim e pôs seu casaco ao meu redor.

“Melhor assim?” Eu sorri.

“obrigada!” Ele passou seus braços ao meu redor e começou a caminhar novamente. Havia algumas arvores que nos escondiam um pouco da casa, mas que nos davam uma perfeita visão da Lua, completamente cheia.

“Entao” eu me virei para ele assim que ele encostou as costas numa dessas arvores.

“Venha cá!” ele me puxou para si e me deu um beijo realmente de tirar o fôlego.

“o que foi isso?” eu perguntei quando nos afastamos.

“Meu pedido de desculpas?”

“Por?”

“Por não ter coragem de dizer a minha família que estamos juntos.”

“Oh sim! Isso foi realmente embaraçoso. Você notou Karolyna? Ela desconfiou de nós. Eu realmente acho que ela já tem suas próprias conclusões formadas.”

Ele suspirou e encostou sua bochecha na minha testa. “Sim! Amanhã eu vou consertar isso, antes que alguém entenda muito errado. Mais do que já é!”

“O que temos não é errado!” eu murmurei.

“Eu sei. Mas nem todo mundo pensa assim.”

“Você podia dar mais crédito a elas! Eu não acho que elas vão te julgar tao rápido assim. São sua familia. Vão nos entender.”

“Eu sei!” ele suspirou. “È que isso tudo é tao novo para mim. Eu nunca tinha me apaixonado antes e nunca precisei apresentar namoradas para minha familia.” Eu ri.

“Graças a Deus! Pelo menos eu não serei mais um erro!”

“Você nunca é um erro, Roza!”