One-shot

“Cold”

Os meus pés pararam com um único comando, e silenciei os meus movimentos.

O verde das folhas, o celeste das lagoas, brancura das nuvens e o azul do céu. Os ventos são carinhosos a cada carícia nos cabelos, o perfume das flores é muito intacto, o raiar do sol lembra uma deliciosa sensação calorosa de cachecol de lã. Tudo aqui em Itália parece tão vívido...

E eu era o único monocromático entre essa paisagem multicolorida.

Mas não me sinto mal. Francamente, posso até dizer que eu estou me sentindo ótimo. Uma pequena mudança de paisagem não é tão ruim. Paisagem fria e isolada russa para essa paisagem italiana tão alegre... Até que estou gostando.

Mas há um pequeno detalhe que está me incomodado.

- Pensando melhor – ergui a minha visão um pouco para cima, afinei os olhos e cheguei a fazer uma leve careta pela intensidade da luz do sol. -... O clima do Itália-kun está passando do agradável para... Insuportável. – acabei por desabafar. Enxuguei uma gota de suor que escorria pelo meu rosto, e abri uma pequena brecha do meu cachecol para poder assoprar um ar fresco na região do meu pescoço.

No começo eu estava empolgado quando escutei que a nossa próxima reunião do G8 seria na Itália, mas... Acho que estou começando a me arrepender.

Comecei a movimentar o meu cachecol para poder retirar o ar quente dentro dele, mas ainda continuava a fitar o céu azulado.

Suspirei fundo.

- Poxa vida. Eu prefiro um lugar fresco...  -Não gosto de lugares quentes, mas...

Não sei se foi o efeito do calor ou foi por eu observar por tempo demais aquele claro céu, a minha visão começou a falhar e a escurecer. Abaixei a minha cabeça e fui acompanhado com uma leve tontura e zumbido agudo. Levei a minha mão até os meus olhos – por um segundo tudo ficou branco... Branco como a neve.

... Odeio ainda mais lugares frios...

Apesar de abrir os olhos a brancura continuou a me cegar. Não conseguia enxergar nada. O zumbido começou a ficar ainda mais intenso, mais forte... Como sons de ventania, de uma nevasca terrível.

Quando pensei que estava voltando a enxergar, as imagens embaçadas que pensei que fosse chão de pedras claras, banco de madeira e lagoa reluzente... Foram se tornando nítidas em terras cobertas pelo manto de neve, dos meus pés até o horizonte.

Um imenso manto de neve sem fim que cobria esse cenário solitário... Mais uma vez eu estava sozinho.

O espanto dos meus olhos foi desaparecendo aos poucos e sendo coberto mais uma vez pelo meu sorriso. A esse ponto a paranoica ilusão já havia se despedaçado.

A minha mão segurou a minha franja com um pouco de força. Nervoso, controlado e impacientemente.

- Huhu... – soltei um pequeno riso. Alegre como sempre. Falso como sempre. – Aah... Aonde será que fica a sala de reunião? Já estou cansado de passear. – e retornei a caminhar pelo chão de pedras claras.

Aah...

...Como DETESTO o frio.

The end.