01:52h.

Cheguei em casa e ao estacionar o carro na garagem fiquei parado fitando os dois ainda dormindo.

– O que eu faço com vocês...? Minha mãe vai me matar... – Suspirei enquanto me espreguiçava no banco.

Bom, agora não tinha mais jeito, eles estavam muito mal e eu não tinha idéia de como ia levá-los para dentro.

Pedir ajuda aos pais?

Nem pensar.

Não podia acordá-los, não parecia certo, sei lá, depois de horas tentando se aquecer e descansar... Não sei, mas parecia minha única opção no momento.

– Ahn... Senhor...? – Cutuquei o maior – Garoto...??? – De novo – Hey cara... Poder- poderia acordar, por favor??

Nada.

Ele só resmungava algo irreconhecível, se virava e continuava dormindo. Estava mesmo precisando de um descanso.

Bom, seria horrível pra mim, mas o jeito foi tentar acordar o menininho mesmo.

– Er... Garotinho...?? – Passei a mão sobre seus cabelos – Menininho, poderia acordar aí?? Por favor...? – Ia cutucá-lo quando de repente, por debaixo daqueles grandes óculos pude ver seus olhos abrirem e me encarar enquanto ficavam cada vez mais arregalados.

– Ta... Ta tudo bem menino, só quero ajudar você e-

– AAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHH!!!! – O menor simplesmente entrou em pânico e soltou um grito. Logo depois chacoalhou o ruivo, que já estava acordando com seu grito.

Sou meio, sensível, estranho, não sei ao certo, mas dependendo das situações, faço coisas que chegam a ser ridículas.

Entrei em pânico também e soltei um grito.

Quando o ruivo percebeu onde estava, com quem estava, entrou em pânico também e gritou.

Foi uma cena um tanto... Idiota.

~Gerard POV’s On~

Meu Deus, por favor, o que eu fiz agora?

Não tenho idéia de onde estou, porque estou aqui e porque tem um... cara gritando igual uma menininha que acabou de ver uma barata dentro do carro.

Por acaso fiquei tão horrível assim?

É... Acabei gritando também, quando percebi Mikey em estado de choque, acordei o mais rápido possível, e então, vejo esse cara, provavelmente o dono do carro aqui...

Ele não pode ter machucado meu Mikey, pode?

Espero que não, senão ele vai ver só...

De qualquer jeito, estava completamente assustado.

Olhei para a janela do carro e percebi que não estava mais no estacionamento.

Então... Olhei para frente e vi um pequeno chalé.

O que esse maluco quer de mim?

Não sabia o que fazer, comecei a me debater dentro do carro, só queria sair dali o mais rápido possível, chutei o porta-luvas, soquei a porta, fiz de tudo pra tentar fugir mas nada deu certo.

Droga.

~Frank POV’s On~

Em questão de segundos todos pararam de gritar e o garoto com o cabelo engraçado enlouqueceu.

Não sei porque, ele começou a se debater ali dentro, como se quisesse sair...

Não podia deixá-lo fazer isso, só queria ajudar, então o segurei, de modo que não conseguisse se mexer direito.

– CALMA,TÁ BOM??? – Fitei os dois, mas principalmente o maior - E-eu... Eu só quero... Só vou ajudar!

O ruivo pareceu não entender, apenas lançando a mim um olhar confuso em meio aos olhos arregalados.

– Não vou fazer mal a ninguém... – Continuei – Ta vendo esse chalé aí, é minha casa! – Sorri estranhamente.

Ele ainda parecia estar perdido.

Também, ser acordado assim, tão de repente, e de um jeito NADA agradável...

~Gerard POV’s On~

O que?

Ele realmente disse isso?

Quer realmente me ajudar???

Impossível.

Isso só pode ser enganação, programas de pegadinha...

De qualquer jeito, não posso ficar aqui, se ele quiser me ajudar e não for uma brincadeira de mau gosto, tudo bem, até entendo, mas não podia fazê-lo sofrer por mim, qual é, nem o conheço.

E agora, aqui está ele, me segurando... Até tentaria resistir, talvez empurrá-lo, mas falta força... Muita força...

Mikey está ao meu lado, tentando entender o que se passa; até eu estou tentando entender até agora...

Não conseguia fazer nada, só arregalar os olhos e tentar entender as palavras do garoto.

Aos poucos comecei a me sentir meio fraco, as palavras dele não entravam na minha cabeça e tudo foi ficando escuro.

Maldição!

~Frank POV’s On~

Ah não, ah não, ah não!

Agora ele resolve essa de desmaiar!

Entrei em pânico novamente, mas dessa vez não gritei.

Aproveitei a chance e o peguei no colo, foi difícil mas consegui.

Como estava com o tal filho abraçado não precisei carregar um de cada vez.

–---------------------------------

Agora vem o problema.

Entrar em casa sem levar bronca dos pais ou ao menos ser percebido.

Abri a porta cuidadosamente, fazendo o menor barulho possível.

Mal abri e já encontrei minha mãe na porta, de braços cruzados, camisola rosa de seda e uma expressão nada contente no rosto.

– Filho, o que estava fazendo a essa na ru- - olhou para os dois garotos em meu colo – MAIS O QUE É ISSO AÍ???

– Ué... D-dois garotos mãe... – Tentei manter a calma.

– Não?? Jura??? – Odeio o sarcasmo dela... – O QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO COM DOIS GAROTOS EM SEU COLO, A ESSA HORA DA MADRUGADA???

– M-mãe, eu... Eu... Eles estavam-

– DEIXE OS DOIS AONDE ENCONTROU E VÁ LOGO DORMIR!

– VOCÊ FALA COMO SE ELES FOSSEM ANIMAIS!!! PARE COM ISSO!!!

Minha mãe não é sempre assim, mas quando está com sono se irrita por qualquer coisa, se bem que hoje ela até pode ter motivos.

Um homem... Um cara bronzeado de cabelos loiros, todo estilo surfista apareceu na porta, abraçando-a pelo ombro.

Devia ter uns 10 anos à menos que minha mãe e sinceramente, não sei como ela conseguiu um cara assim.

Sim.

Ele é meu padrasto.

Christiann.

Não vou dizer que odeio ele, até porque isso não é coisa que se fale, mas juro que esse cara quer roubar o lugar do meu pai nessa família.

E o pior.

Quer roubar o meu lugar também, afinal, olha a idade desse moleque, deve ter uns 20 anos, não vou ficar perguntando.

Sei que meus pais se separam, só não consegui me conformar ainda...

Ele ia falar alguma coisa, quando viu os meninos no meu colo me olhou como as pessoas da rua: com certo desprezo.

– O que é isso? Que confusão é essa?? – Disse sem tirar os olhos do ruivo.

– São duas pessoas, não dá pra perceber?? – Debochei.

Minha mãe só olhou de cara feia, ela sabe que eu não gosto desse cara.

– Tire eles daqui, por favor, olha só como estão, parecem bichos mortos! – Meu padrasto falou com cara de nojo... Ah não, esperem, essa é a cara dele mesmo...

– PAREM DE FALAR DELES COMO SE FOSSEM ANIMAIS CARAMBA! – Gritei e os empurrei da entrada, saindo correndo em direção ao meu quarto, no segundo andar.

Ele ficava isolado de tudo na casa, naquela parte do chalé em que o teto fica triangular... É difícil explicar...

Ficava sempre ali, tinha tudo que eu precisava mesmo: Cama, roupas, notebook, minha guitarra, banheiro com banheira, até comida e bebida tinha graças a um frigobar no canto do quarto.

Eu não tinha uma cama, dormia num colchão porque quando era menor eu vivia caindo, então mandamos tirar mesmo.

–----------------------------------------

Deitei o maior na cama enquanto o garotinho olhava tudo ao redor, meio curioso mas amedrontado. Ele não largava o outro por nada.

– Vou ajudar vocês, não se preocupem... – Suspirei passando a mão pelo rosto do ruivo, mas acabei recebendo um tapa do menorzinho, que olhou pra mim, me fuzilando com os olhos – Calma baixinho... Não vou machucá-lo! – Ri.

Não sabia o que fazer para acordar o garoto, então decidi ficar ali e esperar este acordar mesmo, não me importo, poderia ficar até amanhecer, não tem problemas.

Tranquei a porta e me sentei em um puffe colorido, pegando minha guitarra e tocando qualquer coisa baixinho.

Minutos depois o garoto de óculos me fitou, prestando atenção em tudo que eu fazia, cada acorde, cada melodia, mas ainda assim sem sair do colo do pai.

Sorri e voltei a tocar.

Seria uma longa madrugada...