Três Mentes, Um Corpo escrita por Ayi chan


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Observações:
1- O que está escrito entre aspas é quando o diálogo ocorre na mente da Isabella, enquanto ela fala, as respostas são respondidas em sua mente.
2- As frases em itálico, são da nossa amiga desconhecida.
3- Usem a imagem da capa como base na amiga desconhecida. (É no momento em que ela conta como ficou no parque, quando estava isolada no mundo, na parte escura e confusa do coração da Isabella)
Sem mais...
Boa leitura.



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Faz exatamente três dias que não consigo dormir direito.


Não consigo mais dormir durante a noite, peguei mania de ficar na internet até o dia começar a clarear, vagarosamente. Até o céu retomar a sua luz brilhante e intensa que permanece durante o tempo em que chamamos de dia.

Fico lá, lendo histórias de todos os tipos.


Anteontem, li uma história de suspense e cheia de mistérios. Senti uma pouco de medo e achei minha situação deveras engraçada. Já ontem, li uma história sobre romance e que quase me fez chorar... E hoje, eu estou aqui novamente, sentada em frente ao computador, descrevendo algumas coisas que ando fazendo durante a madrugada. Agora, ainda são meia-noite e trinta e cinco, ainda falta bastante tempo não é mesmo?

Então vamos lá, vou lhes contar o que aconteceu durante alguns de meus dias...


Da última vez em que me lembro de ter escrito algo aqui, em meu diário, parei na parte do qual alguém falava comigo. Ok, eu já não me lembro muito bem quem era ou o que queria me dizer, pois fiquei assustada e coloquei os fones de ouvido para poder não mais ouvir aquela voz que me perturbara tanto. Sim, entrei em uma espécie de pânico. Não sei o porquê dessa minha reação, só esperava que ela fosse embora de vez, queria não ter de ouvi-la mais, nunca mais. Infelizmente não foi isso o que aconteceu, e para minha maior sorte (ironia modo On), assim que acordei ontem, pela tarde, senti uma sensação muito estranha me rodeando, como se houvesse alguém na sala a minha espera, senti como se eu estivesse protegida no quarto e que aquela pessoa ou seja lá o que era, não poderia me pegar enquanto eu estivesse ali, trancada e debaixo da coberta. Bom, uma hora eu teria de encarar esse fato não é mesmo? Não poderia ficar presa lá por muito tempo.

Então me levantei e sem fazer barulho algum, abri a porta com muita cautela. De repente aquela sensação que eu sentia parou, e alguns segundos depois, quando eu deixara a porta totalmente aberta, passou por mim um vento forte que fez a porta bater novamente. E então aquela mesma sensação voltou só que dessa vez, essa tal ‘coisa’ estava ali dentro comigo e preenchia todo o quarto.


“Não tenhas medo de mim, não irei te machucar...”

–Quem é você e o que quer de mim? –Eu já estava com medo e queria sair dali correndo, mas minhas pernas já não me obedeciam e não saíram do lugar. Eu já não tinha controle sobre meu corpo.


“Eu sou alguém do qual você conhece bem”


–O que? Como assim conheço bem se nunca te vi?


“Mas é claro que já me viu, aliás, eu sou você”


–Ok, pode parar de brincadeira, está realmente me assustando e não gosto desse tipo de coisa. Se veio aqui para me matar então, por favor, que faça logo, isso está sendo uma tortura pra mim... – No meu tom de voz, havia espaço apenas para o desespero e o medo que foram acompanhados por lágrimas que escorriam dos meus olhos sem que eu percebesse.


“Não precisa chorar... Vai me fazer chorar também”

O ambiente daquele quarto estava ficando denso demais... Senti o ar começar a ficar frio, como se o ar condicionado estivesse ligado e então como se eu estivesse sonhando, uma nevoa bastante rarefeita surgiu ali, por aquele chão, fazendo meus pés quase congelarem de frio. Subi rapidamente em minha cama e me cobri, deixando apenas meu rosto de fora, fazendo do cobertor como se fosse uma daquelas roupas que as mulheres usam em Marrocos.

Uma concentração de névoa se formou em determinada parte do quarto e foi aumentando seu tamanho, contornando o corpo de uma suposta menina que foi aparecendo aos poucos.


Ela era muito branca quase que num tom transparente, tinha os cabelos curtos que batiam em seus ombros, de coloração castanha escura assim como seus olhos e trajava o que parecia ser um pijama, uma espécie de camisola que por sinal era maior que seu tamanho normal, pois ficava largo em seu corpo, ele batia um pouco acima de seus joelhos e era branco e estava descalça. Ela me encarava com um pequeno sorriso em seus lábios.


–Não tenha medo, não irei machucar você.


–Como posso ter certeza disso? Você não me parece um espírito bom.


–Espírito? De onde tirou essa ideia? Não sou um espírito, sou você, já lhe disse.


–Não, você não pode... Não tem nada a ver comigo. Somos completamente diferentes.


–Sim somos diferentes, mas isso é por culpa sua. Você me imagina desse jeito, o que quer que eu faça?


A cada palavra sua dita, dava um passo à frente, se aproximando de mim lentamente, passos curtos. E esse olhar dela me da medo. Não parou de me encarar nem por um segundo sequer desde que apareceu, chega a causar-me calafrios.


–Eu só vim lhe trazer um recado. –Ela sentara na ponta da minha cama, próxima aos meus pés.


–E... é bom ou ruim?


–Bom por um lado, ruim por outro. Bem... Vim apenas para lhe dizer que você não terá mais a Isa e muito menos a bela como companhia. Elas se foram, o tempo delas aqui, ao seu lado, terminou.


–Como assim o tempo delas ao meu lado terminou? Não estou entendendo...


É simples. Elas não irão mais aparecer para você. A partir de agora quem toma conta de você, sou eu.


E então um sorriso completo se formou em seus lábios... Era um sorriso sádico, frio, aterrorizante. Não posso acreditar que aquelas duas vão me abandonar ainda mais em uma situação como essa... Isso é um absurdo.


–E porque eu confiaria em você? Como irei saber que está me dizendo à verdade?


Simples... Você só tem a mim a partir de agora. –Sua voz era como uma ameaça... A expressão em seu rosto era como se ela estivesse se divertindo com o medo que está conseguindo causar em mim. –Eu sou o você do passado... Pequena criança. Você me deixou sozinha desde aquele dia no parque.


–Como você sabe do parque?


Quantas vezes serão necessárias dizer-lhe que sou você? Sou uma parte de sua memória esquecida... A parte em que você se desfez e guardou no canto mais profundo e obscuro de seu coração. Você me abandonou, deixou-me sozinha naquele balanço... Sim... Eu fui a sua primeira amiga... Imaginária.


–V-você... é a... L-liz... é você mesma? –Agora meu estado mudara. O medo que eu sentia se esvaiu e deu espaço para a surpresa, junto do choque em que fiquei.


Ola Isabella... Eu sabia que não se esqueceria de mim. –Ela continuava a sorrir, sorrir a cada vez mais, seus olhos continham agora um brilho de esperança e alegria. –É muito bom saber que se lembrou de mim...


–Não acredito... Mas... Por quê? Porque você sumiu? Porque depois que aquela criança foi embora, depois de falar comigo... porque você desapareceu... quando olhei pra trás você não estava mais lá... Por quê?


–Eu estava lá, eu sempre estive lá. Quando aquela criança foi a seu encontro eu tentei impedir, mas não consegui a tempo. Aquela criança não era uma criança qualquer... Ela possui um dom especial, um tipo de energia sem igual. Com isso, não consegui mais me aproximar de você... Algo nos separava, como uma parede de vidro e quando me dei conta... Eu estava desaparecendo lentamente. Tentei lhe gritar, chamar por ajuda, mas minha voz já não saía, ela também havia me abandonado... Minhas forças se esvaíram como num passe de mágica, então eu fiquei ali. Sentada naquele balanço, olhando-a ir embora ao lado daquela pessoa estranha que nos separou com uma facilidade incrível... Eu não pude acreditar que você estava me deixando sozinha. Foi terrível pra mim, vê-la com outra companhia, melhor que eu, afinal, ela era real.


Mas... Eu não sabia... Não senti nada de estranho quando ela se aproximou de mim... E agora que diz não me lembro dela ter me dito seu nome. Eu pensei que você tinha ido embora porque estava com raiva e ciúmes por eu estar falando com outra pessoa além de você.


–Sim, com ciúmes eu fiquei... Mas não raiva, eu sentia tristeza.


–Liz... Eu sinto muito por isso. –Já não mais me cobria e estava bem próxima a ela.


Não precisa se desculpar. Fiquei afastada durante todos esses anos, pois estava me recuperando, reerguendo minhas forças para que um dia eu pudesse reaparecer. E esse dia chegou.


–Liz... Eu... –A abracei. Não havia mais palavras que eu pudesse dizer. –Senti saudades...


–Eu também. –Ela sorria. Sua pele estava tão fria...


–Liz... Você está tão fria. O que aconteceu? Você não era assim... Está tão diferente, me assustou muito, tanto que não consegui lhe reconhecer.


–Isso é o que acontece quando você se isola em outra dimensão quando não restam mais forças. Fiquei presa em seu coração, em sua confusão. O mundo nele está repleto de um vazio, tão intenso que me tornou uma pessoa fria. Fria, digo, tornei-me capaz de qualquer coisa, até de matar se for preciso. Tomei posse de sua vida, agora ela me pertence. A partir de hoje, sou o seu “demônio” protetor, se assim preferir.


Liz... V-você se... s-se apoderou da minha vida? –Meu medo voltou, e dessa vez, com força total.


Sim minha pequena criança. Tornei-me o seu demônio, guardiã de sua vida. Ninguém mais poderá tocá-la a não ser a mim. Ninguém tem o direito de roubar sua vida, você só sairá deste mundo quando eu quiser.


–Liz, mas porque fez isso? O que você quer de mim afinal?


Eu quero apenas a certeza de que você nunca mais me deixará... Tornei-me forte o suficiente para que pudesse chegar a esse estágio e poder capturá-la para mim... Minha pequena criança, tão frágil, tão desprotegida... Tão... Minha.


Sabe como estou me sentindo? ...Estou me sentindo como se estivesse dentro do anime “Death Note”, só que ao invés de eu ter controle do tal demônio, ele é quem tem controle sobre mim. Estou realmente com medo do que possa vir a acontecer. Tenho medo do que ela possa me obrigar a fazer... Se ela se irritar, poderá tirar minha vida na hora que bem entender... Eu tenho medo disso. A Liz voltou completamente diferente da menina doce e gentil que era. Ela se tornou um monstro que só se preocupa consigo mesmo. Não sei como serão as coisas daqui pra frente, só sei de uma coisa que nunca pensei que sentiria enquanto eu vivesse... Receio. Tenho receio de continuar, de seguir em frente como se nada disso tivesse acontecido. Mas é impossível viver em paz agora. Como quer que eu tenha uma vida normal se há um demônio que me vigia a todo tempo? Isso me dá agonia.


–Liz, no que pensa em fazer?


–Em fazer? ...Nada. Não lhe farei nada... Ainda.


Esse ainda dela é que me tortura. Esse tom ameaçador no qual ela sempre dirige a palavra a mim... Isso é extremamente angustiante. Será que algum dia isso irá acabar? Eu ficaria muito agradecida se isso fosse apenas um sonho... Mas para o meu sossego ir embora de uma vez, isso não é apenas um sonho, e sim, a mais pura realidade.


–Liz, por favor, não faça nada de errado. Não se esqueça de que você só existe e está aqui agora graças a mim. Não cometa nenhuma loucura, por favor.


–Mas é claro que eu existo por sua causa. Você me criou, mas, isso foi a muito tempo. Agora é diferente. Posso agir sozinha, minhas ações já não estão mais presas a você. Estou muito além da sua imaginação, pequena criança. Sou dona de sua vida, portanto, não tente nenhuma gracinha, estamos entendidas?


Apenas assenti. Mas no que fui me meter? Agora é muito tarde para arrependimentos. Parabéns Isabella, conseguiu estragar sua vida... Nisso você é boa em fazer.


–Agora preciso ir. Passei apenas para lhe dar este pequeno recado... As suas queridinhas que um dia pôde chamá-las de amigas, não voltaram mais... Não fique triste, afinal, está um belo dia lá fora, porque não aproveita para sair um pouco? Sua aparência não está nada boa... –E com isso, ela desapareceu. E o quarto voltou ao seu normal, mas mesmo assim, eu permanecia deveras fria. Digno de um corpo morto... Era como eu desejava estar agora.


Quando eu penso que as coisas vão melhorar, só pioram. Não sei mais o que fazer, acho melhor desistir de tudo e deixar que a Liz me guie por onde quer que seja. Será melhor pra mim. Eu só... Não sei como irei contar isso para a Sabrina, aliás, ela irá dizer que estou ficando realmente louca e que estou levando esse negócio de ter três mentes em um único corpo a sério demais. O que antes não se passava de uma brincadeira, agora se tornou realidade...



O pesadelo apenas começou.



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Notas finais do capítulo

Hmm... Confuso demais? ...Legal, chato, poderia ser melhor?
Reviews? *u*



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