Vencedores? Tecnicamente, quem sabe...

Agora não dava mais pra ignorar. Sentia mais uma vez o lado esquerdo de seu abdome doer e ficar úmido, de tal forma que sua roupa começava a grudar no local. Levou a mão direita ao lugar do ferimento e, quando tirou de lá, viu mais manchas vermelhas na palma da mão. Era sangue de novo. E a constatação de que os pontos do ferimento causado por Naru haviam se abrido novamente. A pancada que levara dela em um novo ataque não ajudava, e com todo o esforço físico que fizera até então, muito menos. Mas o pior foi o golpe de Takasugi, que fazia com que ele fosse obrigado a perceber que a dor ficara mais forte. Pensava que defendera bem a última investida, porém acabara sendo atingido.

- Devia saber... – Gintoki murmurou. – Takasugi deve ter percebido o meu quimono manchado e por isso trocou a espada de mão...! Esperto como sempre, esse filho da mãe!

Takasugi se virou e viu Gintoki frente a frente com ele, segurando firme sua espada com a mão esquerda e com a mão direita no ferimento, para tentar aplacar a forte dor. A distância entre eles ainda era a mesma.

- Doendo muito, Gintoki? – ironizou.

Aquilo só podia ser provocação. Takasugi estava claramente tentando tirar o Yorozuya do sério e o seu foco do combate. Agora tinha certeza de que o líder do Kiheitai era um patife cada vez mais sujo com o passar dos anos.

- Cala a sua boca, idiota! – o albino rugiu.

Gintoki partiu pra cima, sem se importar com a grande dor que sentia de seu ferimento. Não seria isso que iria ser capaz de fazer com que ele se desconcentrasse de seu duelo contra Takasugi. Aquela dor não o impediria de trazer mais uma vez à tona a agressividade e a força do antigo Shiroyasha dos tempos de guerra. Antigo Shiroyasha, que não havia morrido, mas que estava oculto, na maior parte do tempo, por trás de um relaxado e preguiçoso Yorozuya.

E que só reaparecia em um momento de fúria ou quando estava acuado. E, neste momento, começava a reaparecer porque estava em fúria, justamente por estar acuado e com sua vida em risco. E, por essa razão, partia para o tudo ou nada.

Já que tinha o risco de morrer, tentaria pelo menos levar Takasugi junto.

*

Kagura disparou mais uma rajada de tiros, mas Kamui conseguiu escapar. A garota se recompôs com alguma dificuldade, mas estava decidida a acabar com aquela luta. A verdade é que estava preocupada com Shinpachi e Gintoki, além de estar com medo de perder a razão em determinada altura do combate. Ela logo correu para golpeá-lo justamente com seu guarda-chuva, porém Kamui mais uma vez foi rápido e bloqueou seu ataque. Porém, desta vez, ela manteve o bloqueio e ainda acertou uma poderosa cabeçada contra seu irmão.

Kamui desta vez sentiu bastante o impacto da pancada e ficou um pouco desnorteado, permitindo que Kagura lhe acertasse um forte soco contra sua face, acompanhado de um fortíssimo chute que o lançou para o alto. Ele conseguiu se recompor e abriu seu guarda-chuva, a fim de facilitar a descida, sem nenhum impacto.

A garota ofegava pela grande força desprendida para acertar golpes tão fortes como aqueles. Mas parecia que seu irmão estava além. Talvez estivesse com um nível de poder muito além de sua capacidade. Bom, pelo menos além de sua capacidade, enquanto consciente. Não sabia como seria ao perder a razão. E nem queria saber. Tinha medo de perder a razão e ferir inocentes.

Kamui voltou ao seu semblante sorridente e colocou seu guarda-chuva fechado nas costas.

- Por enquanto ficamos por aqui, Kagura-chan. – disse. – Mas na próxima eu não vou me conter... E não quero que você também se contenha.

Chamou Abuto e deu as costas para a irmã, que ficou estática e sem qualquer reação. Por que ele abandonava a luta? Ah, sim, porque estava apenas se divertindo às suas custas. Sabia muito bem que era por isso. E que ele não conseguira fazer com que ela voltasse a despertar o monstro sanguinário adormecido em seu interior.

Apesar disso, era possível que, nesse aspecto, Kagura tivesse vencido o duelo com Kamui.

*

Gintoki avançou contra Takasugi como uma fera acuada, sem medo das consequências. As espadas colidiam a cada investida. A cada golpe, um forte estrondo era ouvido, acompanhado de uma forte lufada de vento. Era como se dois demônios lutassem, completamente possuídos pela ansiedade de um derramar o sangue do outro.

Nas mãos do Yorozuya, uma simples espada de madeira poderia ser letal em um duelo, quando levado a sério. A força dos golpes fazia com que tal espada fosse tão poderosa quanto qualquer katana afiada. A cada ataque de Takasugi, Gintoki se defendia magistralmente, e vice-versa.

O equilíbrio persistia, nenhum dos dois veteranos de guerra estava disposto a ceder nem mesmo um milímetro do que conquistaram. Takasugi pensava que havia obtido vantagem de Gintoki por atingi-lo, mas não fora bem assim. Apenas conseguira despertar a fera adormecida no albino.

Só havia uma forma de detê-lo. Permitiu que Gintoki o atacasse, e com agilidade o atingiu novamente onde ele estava ferido. Desta vez, a dor fora tão cruel que o Yorozuya não conseguiu conter um urro e imediatamente agarrou o local atingido.

- Agh... Bastardo maldito...! Você gosta mesmo de lutar sujo, hein...?

- Você abriu uma brecha, Gintoki. – Takasugi disse, enquanto se aproximava dele. – E, enquanto você abriu essa brecha, eu apenas a aproveitei. Como vou aproveitar outra brecha agora...

Gintoki, a essa altura, estava agachado, procurando uma forma de tentar estancar aquele ferimento aberto que insistia em sangrar e doer sem parar. Takasugi aproveitou a guarda baixa de seu adversário e chutou-lhe a nuca com força, jogando-o contra a parede, onde Gintoki bateu violentamente com a cabeça. Esse choque contra a parede fez com que abrisse um corte em sua têmpora esquerda, fazendo com que seu sangue brotasse, manchando de vermelho uma mecha de cabelo prateado, antes de um filete escorrer ao longo de seu rosto ainda contraído pela dor.

Aparentemente, Gintoki fora vencido. Só aparentemente.

Agarrou fortemente sua espada e, numa fração de segundos, deteve a katana de Takasugi que vinha com sua lâmina sedenta de sangue para dar-lhe um golpe de misericórdia – e talvez separar sua cabeça do corpo.

- Os anos afetaram seus miolos, Takasugi? – Gintoki não perdeu a chance de ironizar. – Só assim pra me subestimar tanto, idiota! Não é só porque você deu uns “pegas” na Naru, que pode bancar o macho dominante numa luta!

Takasugi preferiu ignorar a ironia de Gintoki, concentrando-se em vencer aquela espada que bloqueava a sua. Podia ser de madeira, mas na mão daquele albino parecia mais resistente que aço. Este conseguiu se livrar da katana, fazendo com que o braço do líder do Kiheitai acabasse indo pro alto com o impulso do golpe. Nesse meio-tempo, Gintoki moveu rapidamente a espada e conseguiu fazer um corte no peito do ex-companheiro de guerra.

O corte fora até superficial, mas ardera bastante. O suficiente para deixar Takasugi mais atento aos movimentos do ex-Shiroyasha. Gintoki notara que ele parecia menos convencido e procurava não baixar a guarda, esperando o próximo ataque.

No entanto, o próximo ataque não veio. Takasugi simplesmente embainhou a katana, deixando Gintoki desconcertado e hesitante. Mesmo assim, o Yorozuya não saiu de sua posição defensiva.

Ao ouvirem o som da lâmina da katana de Takasugi ser embainhada, os demais também pararam com a escaramuça, deixando Hijikata, Tsukuyo, Katsura e Okita surpresos com tal atitude.

Gintoki sentiu mais uma vez seu ferimento doer e incomodar e fez uma careta de dor, por conta de sua postura rígida de defesa. Tentou não se abalar com isso e perguntou com voz firme:

- O que você está fazendo, Takasugi?

- A nossa luta termina aqui, Gintoki. – ele disse.

- Hã? – o Yorozuya ficou atônito.

- Exatamente o que você ouviu. Terminamos por aqui.

Takasugi deu as costas e foi seguido por Bansai, Henpeita e Matako. Quando Naru também ia se juntar ao grupo e ficar junto do líder Kiheitai, este simplesmente a empurrou, fazendo com que ela caísse.

- Shinsuke-sama...? Por que está fazendo isso comigo...? – questionou.

- Não preciso mais de você, Naru. Considere-se descartada.

- Mas... Shinshuke-sama...

- Adeus.

- Não faça isso comigo, Shinsuke-sama... Não me deixe, Shinsuke-sama...!

Takasugi não dava a mínima e desaparecia na calada da noite, deixando Naru completamente desesperada:

- SHINSUKE-SAMAAAAAAA!!!!