Contra Si escrita por Gosmenta


Capítulo 2
1- Manchas




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Escureceu, Peter chegou em casa, o jantar estava servido e o sempre sorridente corretor de imóveis sentou a mesa tratando a família como se fossem seus clientes.

-Boa noite, o que temos para hoje? –disse sorridente.

-Comida. –Anne sussurrou, Samantha chutou-a de leve por baixo da mesa.

-Bom, temos ensopado de frango.

-Ótimo. -disse como se aprovasse o serviço que a “empregada” fez.

Samantha deu um sorriso satisfeito, Anne revirou os olhos.

-Anne, eu poderia saber de quem é esse suéter? –questionou Peter.

-Do meu amigo, algum problema pai? –proferiu a ultima palavra com certo nojo.

-Amigo? Amigos não emprestam...

-Henry é meu amigo, e pronto. Ele me emprestou o suéter porque estava frio.

-E Onde a senhorita estava com esse suéter?

-Na casa dele, ali em frente.

-Onde já se viu uma menina da sua idade estar dentro da casa de um “amigo”? –Anne se indignava ao saber que Samantha havia escolhido isso para ela, um homem tão antiquado.

-Eu não vou deixar de ir lá, nem de usar as roupas dele, ele é meu amigo e pronto, pare de implicar e come!

Ouviram-se talheres batendo na mesa e duas caras de espanto

-Repita...

-Eu cansei! Perdi a fome. –Anne largou os talheres e levantou da mesa, suas pernas ainda estavam doloridas.

Subiu a escada batendo os pés, fazendo o máximo de barulho possível.

Deitou na cama e pegou o celular. Havia uma mensagem de um número desconhecido.

Anne ligou a televisão e trinta minutos depois seu celular vibrou. Anne conhecia aquele número mesmo que tivesse tirado ele dos contatos, ela decorou aquele número.

-Ricky, claro.

“Sinto sua Falta”

-Falta de uma idiota pra correr atrás de você?

“É? Não parece.”

Mais alguns minutos e a resposta chegou.

“Posso passar ai?”

Anne mordeu o lábio, sabia que não ia conseguir resistir, queria dizer não, mas involuntariamente foi ao corredor verificar se todos estavam dormindo.

“Pode”

-Eu me odeio. –Anne enterrou sua cabeça no travesseiro e soltou um grito.

“Quinze minutos atrás da sua casa.”

Se arrumou e desceu em menos de cinco minutos, ficou andando pela casa nervosa. Depois de sete minutos saiu e foi para fora, o vento estava muito mais forte agora e jogava seus cabelos para trás. Depois de cinco minutos Anne o ouviu pulando a cerca e andando até o deck de madeira do lado da piscina.

Anne o olhou por sobre o ombro e sorriu, como era incrível o jeito que ele bagunçava o cabelo toda hora e mesmo sabendo que aqueles olhos não a amavam, eles pareciam tão verdadeiros.

-Meu amor. –chamou sorrindo.

-Ricky... –se forçou a não chama-lo de anjo, ele parecia um.

-Estava com saudade de você. –sua voz forte se aproximou e ele a abraçou pela cintura.

Não resistiu, fechou os olhos e sorriu, ele era gelado, mas ela o amava.

-Eu também. –abriu os olhos imediatamente e tentou não fazer sua voz parecer doce.

-O que houve? –perguntou mexendo em seu cabelo.

-O que?

-Tem um machucado no seu pescoço. –ele se soltou dela. –Anne...

Ele poderia traí-la com quem quisesse, mas se ela aparecesse com algum sinal de carinho com outro homem, Ricky se descontrolava.

-Eu sei lá Ricky!–fingiu estar brava, ela adorava vê-lo com ciúmes.

-Não está ficando com ninguém né?

-Pare de desconfiar de mim!

Ele pegou em sua mão e olhou em seus olhos.

-Não suporto pensar em ver você com outro.

Mentiroso, mentiroso, mentiroso... Lindo! -Pensou Anne.

Ricky se aproximou, puxou-a para perto, suas respirações se misturaram. Quente e Frio. Amor e Atração. Verdade e Mentira. Olhares, lábios...

O inevitável, não havia como resistir, ele a tinha em suas mãos e usaria quando quisesse, pois o amor é um sentimento imbecíl.

A sensação melhorou o calor agora era compartilhado pelos dois, ofegantes e sedentos um pelo outro, a grama molhada foi o lugar para se juntarem ainda mais, só ele conseguia fazer isso com ela, Anne estava cansada de tentar resistir em vão, Ricky a prendeu com ele e parecia que ela nunca conseguiria tirá-lo de lá, o coração de Anne era um ótimo lugar para Ricky, que ele só visitava quando lhe era bom, mas para Anne ele nunca saia de lá.

Depois de minutos em silêncio ainda ofegantes Ricky pegou sua mão.

-Você é incrível An. –se Henry estivesse ali, diria que só ele poderia chama-la assim.

-Então porque não estamos juntos?

-Não somos certos... –ou “aquela loira é melhor”.

-Eu quero errar. –sussurrou beijando-o ele logo se afastou.

-Anne, é hora de ir, está tarde.

-Ok. –levantou e esperou ele se levantar.

-Sem um beijo de despedida? –sorriu.

Ela o beijou apaixonadamente, ele não retribuiu. Anne o viu saindo da propriedade da sua casa e sorriu decepcionada, não conseguia não amá-lo, para ela era impossível.

O machucado no pescoço começou a doer, mas não se lembrava de ter se machucado.

Entrou em casa e as dores voltaram, pareciam vários machucados e suas articulações estavam piores, sentiu uma enorme fraqueza e subiu lentamente as escadas. Seu sono foi profundo.

Foi acordada por uma mensagem.

“Desculpe Anne, mas você está atrasada mais uma vez.” - Henry é claro.

Anne saiu da cama num pulo, 07h45min, abriu a cortina e viu Henry na janela, acenou sorrindo meio sonolenta. Era uma tortura ter que vê-la daquele jeito, tão linda até quando acordava, era covardia.

Anne colocou a roupa o mais rápido possível e arrumou o cabelo da pior forma possível.

“Me espera lá embaixo”. –avisou Anne para Henry por mensagem.

Em cinco minutos Anne descia as escadas pegando sua bolsa no caminho, estava com tanta pressa que se esqueceu de tomar café da manhã.

-Desculpe a demora. –pediu Anne logo depois de abrir a porta.

-Estou acostumado a te esperar An. –Henry sorriu. Claro, em ambos sentidos.

-Obrigada. –ela sorriu realmente agradecida e começaram a caminhar a caminho da escola. –Minhas pernas estão me matando! –reclamou depois de dois minutos.

-An, acabamos de sair da sua casa. –ele riu.

-É verdade! Está assim desde ontem, –ela tirou o cabelo do pescoço. –e estou com um hematoma no pescoço.

-Hematoma? –tentou soar brincalhão, mas não conseguia disfarçar o ciúmes.

-É Henry, um hematoma que eu não sei como apareceu.

-Olha, em relação a perna, eu posso ajudar.

-É mesmo? Como? –duvidou.

-Eu te carrego no colo. –disse já pegando Anne pela perna e a sustentando alegremente.

Anne percebeu que Henry estava cada vez mais forte, era incrível como tinha mudado em dois anos, ele era muito magro e baixo quando o conheceu. Ela gritou gargalhando enquanto Henry andava rápido com ela no colo.

-Mais devagar Hen, você está doido!

Henry só sorria imaginando quando iria fazer isso de novo. A escola estava próxima e Anne implorava para que ele a colocasse no chão.

-Ok, ok, mas quando precisar, é só pedir ok?

Henry avistou Ricky do outro lado da rua, encarando Anne com um sorriso sacana, Ricky apontou para os dois e todos os seus amigos riram. Henry revirou os olhos e olhou pra Anne, ela olhava para Ricky decepcionada.

-Ei An! –chamou, ela o olhou distraída.

-O que foi? –perguntou atordoada.

-O que esse cara tem?

-Ele é lindo!

-E um cafajeste, como você pode  gostar de alguém como ele? –sua pergunta não foi respondida pois Ricky estava atravessando a rua em direção a eles.

-E ai gata? –disse pegando-a pela cintura e beijando o canto de sua boca, Anne suspirou.

-Oi Ricky. –disse sorrindo e esquecendo de tudo o que ele fizera na noite passada apenas se lembrando do seu cheiro amadeirado e marcante.

            -Sonhei contigo a noite inteira. –ele a olhou de cima a baixo. –Você é deliciosa. –constatou com um olhar malicioso.

            -Olá Ricky. –sussurrou Henry tentando mostrar que ele estava bem do lado e que era proibido tirar as roupas publicamente nesse horário.

            -Olhe se não é o pequeno britânico, como vai meu senhor? –perguntou se curvando, forjando o sotaque e rindo alto.

            -Ricky, vamos entrar. –disse Anne tentando parar com aquilo.

            -Ok minha linda. –ele piscou para Henry. –Adeus, my lord.

            Henry deveria pensar em matar Ricky, ele era insuportável.

            Anne pegou na mão de Ricky e saiu em direção a escola. Henry andou silenciosamente até a porta principal e entrou direto na sala, chega de Anne e Ricky por hoje.

            Anne ainda estava desconfortável com insuportável dor nas pernas, não tinha fome nenhuma na hora do almoço e ficou trancada na sala de aula, dormiu durante o resto das aulas.

            Não encontrou Henry na hora da saída, esperou Ricky sair e quando ele saiu, saiu com outra garota e se sentiu totalmente perdida indo sozinha para casa, pensava como conseguiria ser tão idiota a esse ponto, ela não se importava nem consigo mesmo quando se tratava de Ricky, ele a usava e o pior, ela gostava de ser usada, se sentia especial, mesmo sendo só mais uma e achava que algum dia ele iria descobrir que ela era quem ele sempre quis, sonhava com o dia em que ele a chamasse de Meu Anjo, Meu Amor, mas apenas conseguir ter o deliciosa, linda, gata e não há nada que faça uma garota se sentir pior do que um cara que ela ama e que ele ama usar.

            Quando chegou a calçada de sua rua, avistou Henry sentado no meio-fio.

            -Henry! –gritou, ele a encarou. –Porque não me esperou hoje?

            -Pensei que fosse embora com Ricky, assim como entrou na escola com ele certo?

            -Ah Henry, me desculpe. –ela amansou a voz e se sentou ao lado dele. –O Ricky é detestável.

            -E mesmo assim você o ama, Anne quando você ficou tão estupida? –Henry respirou fundo e voltou a falar. -Ele te usa e usa outras garotas também, pare de se iludir! Eu cansei de te ver decepcionada ou triste e totalmente feliz quando ele chega, você vê do que ele te chama? Como você pode gostar de um cara que não te chama de minha?! Porque se fosse eu... –ele diminui a voz quando percebeu que estava falando besteira.

            -Se fosse você...?

            Ele respirou fundo outra vez e relembrou de tudo que ele imaginara com Anne, de como eles passariam o tempo juntos apenas se olhando, ele imaginava como seus beijos eram doces e como desejaria sorrir quando a visse do seu lado na cama.

            -Se fosse eu, daria valor e te faria feliz. –ele sussurrou.

            -Ah Henry porque eu não sou apaixonada por você hein? –ela riu e o abraçou. Era engraçado como ele se perguntava o mesmo.

            Ele levantou.

            -Bom Anne, eu acho que vou passar um tempo tocando violão...

            -Por favor, passa um tempo lá em casa comigo? To precisando de você. –ela o abraçou.

            -Ok. –ele sorriu satisfeito.

            Os dois entraram na casa vazia.

            -Vamos assistir um filme? –ela sorriu e se deitou no sofá.

            -Qual?

            -Bom, minha mãe alugou um ontem, acho que é uma prova de amor, é de uma menina com câncer e da família, sei lá, tem um livro e tal.

            -Ok, por mim tudo bem. –ele aceitaria mesmo que fosse o pior filme do mundo apenas por estar com ela.

            Sim, ela chorou com o filme, e ele quase chorou com ela, era horrível ver o seu amor chorando.

            -Vou no banheiro, espere ai. –ela se soltou dele e sorriu levantando do sofá.

            Demorou alguns minutos, ele já estava preocupado.

            -Henry! Venha aqui! –gritou.

            Henry correu até o banheiro e abriu a porta e se deparou com Anne de frente com o espelho escondendo sua boca.

            -Minha gengiva está sangrando! –disse com a voz abafada.


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