Jason não conseguiu dormir. Passou a noite inteira chorando. Vira o corpo da irmã sendo levado para a funerária. No outro dia, bem cedo, mataria o desgraçado que fez a irmã sofrer daquele jeito.

O despertador tocou, fazendo-o se levantar a todo vapor. Vestiu-se e nem comeu. Saiu rápido de casa, sem nem conferir como a mãe estava.

Na noite passada, escutara a mulher chorando. Por mais que ela não admitisse, sentia falta da filha. Amava a filha e estava muito mal por saber que a sua garotinha havia se matado. Mas como dizem “só depois de perder que se dá valor”.

Jason andava pelas ruas, perdido em seus devaneios e nem percebeu que trombou com uma pessoa, que foi jogada no chão.

- Me desculpe Annabeth.

- Tudo bem, Jason. Cadê sua irmã? – O menino gelou e suspirou. Sabia que a melhor amiga da irmã faria aquela pergunta. Mas ainda não tinha uma resposta.

- Leia – O loiro entregou a carta para a menina.

Aos poucos, os olhos de Annabeth foram arregalando, eles estavam cheios de lágrimas e ela estava perdendo a cor. Grossas lágrimas começavam a cair dos olhos da menina.

- Is-isso é ve-ve-verdade?

- Infelizmente.

- Ja-ja-jason... – Annabeth perdeu a força das pernas e caiu, sorte que Jason estava ali para acudi-la.

- Annabeth, calma! Eu também perdi minha irmã. Vamos. Precisamos ir para o colégio – Jason passou o braço pela cintura da menina e a guiou até o colégio. Os dois estavam transtornados.

Annabeth chorava baixinho, para não assustar o irmão da melhor amiga. O fim do mundo começara para ela. Como ela não percebera que a amiga tinha tantos problemas? Como nunca percebera que a amiga nunca mais usara roupa curta, mesmo no calor? Como fora tão tola?

A menina não culpava Nico. Sabia que ele não tinha culpa de uma parcela disso. Não foi culpa dele que Thalia se apaixonou por ele, nem culpa de ninguém. Até porque não se pode mandar no coração. Estava apenas... Triste, por falta de palavras.

Todos os olhares foram dirigidos aos dois ao entrarem no colégio. Alguns eram por acharem que estavam juntos. Outros eram pelos olhos vermelhos e cansados dos dois. Mas nenhuma pessoa que estava ali sabia o verdadeiro motivo das lágrimas.

- O que aconteceu, Annie? Por que Jason está te carregando? Cadê a Thalia, Jason?

- Percy... – Annabeth se jogou nos braços do amigo, chorando mais forte que da outra vez.

- Eu falei alguma coisa errada? – Jason fez sinal pra ele ficar quieto e lhe entregou a carta.

O menino leu rapidamente. Ele perdeu a fala. Aquilo só podia ser brincadeira. Uma pegadinha da amiga. Respirou fundo e olhou em pânico para Jason, que apenas assentiu. Sacodiu a cabeça, tentando evitar as lágrimas de caírem, mas foi inevitável.

- Como não percebemos? Ela se matou!

- Não, Percy. Ela já estava morta por dentro há muito tempo. Há sete anos, pra falar a verdade. Mas éramos tão cegos que ninguém percebeu – Annabeth disse, suspirando no final.

Uma voz ao fundo fez todos se exaltarem e a expressão de assassino de Jason se tornar mais visível. Nico vinha andando, falando com as pessoas, com o tal sorriso diário no rosto. Jason fechou as mãos, tentando controlar a raiva. Em vão.

- Bom di... – Nico foi interrompido com um punho batendo eu seu olho, o que fez cambalear.

- Jason, NÃO! Você não leu o que estava na carta? Thalia disse para você NÃO SE ESTRESSAR!

- MAS ELA NÃO ESTÁ AQUI E ELA NÃO ESTÁ VENDO.

- COMO VOCÊ SABE? VOCÊ NÃO PENSA? THALIA PODE NÃO ESTAR AQUI, MAS ELA ESTÁ DO OUTRO LADO DO VÉU, OLHANDO TUDO O QUE VOCÊ FAZ! ELA NÃO VAI FICAR FELIZ EM VER ISSO – Annabeth gritou, com raiva, fazendo todos os olhares serem voltados aos dois. Os olhares do irmão e da amiga de Thalia estavam em uma briga silenciosa. Jason virou as costas e saiu.

- DÁ PRA ALGUÉM ME EXPLICAR POR QUE EU APANHEI?

- Leia isso – Percy entregou a tal carta para Nico. O menino lia, arregalando os olhos a cada palavra.

A verdade era que ele também amava Thalia, mas nunca tivera coragem de contar. Sentia-se culpado. Demais. Culpado por nunca ter contado para ela. Por nunca ter aberto seu coração. Por sempre procurar esconder seus sentimentos por medo.

- Isso é sério?

- Acha que eu alguém brincaria com isso?

- A culpa é minha. Totalmente minha.

- Não. Não fala assim. Você sabe que não é.

- É sim, Annabeth! Não adianta ficar tentando falar que não é. Eu sei que é.

- Não é, Nico. Não adianta você ficar se culpando. Você mesmo sabe que não é. Só está transtornado o bastante para admitir – Percy disse, surpreendendo a todos.

- Calma, está bem? – Annabeth o abraçou.

O menino retribuiu o abraço e suspirou. Como fora a reação de todos, o menino chorou. Mas chorou mais que todos já haviam chorado desde que descobriram. Chorou porque perdera a menina que amava. Chorou porque fora tolo por não perceber algo que estava obvio. Poderia morrer ali. Agora não fazia mais sentido algum continuar vivo. Thalia não estava mais ali para ser o motivo de sua alegria diária. Não sabia se iria se acostumar com a ausência da garota. Apenas tentaria continuar sobrevivendo. Pelo menos até onde sua tristeza deixasse.

Afinal, menina fora embora. Mas nunca disse adeus.