Signal Fire escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 7
Segundas Chances


Notas iniciais do capítulo

Olá gente!
Espero que estejam curtindo as minhas fanfics, agradeço pelos comentários e recomendações. É bom ver que eu ainda os agrado de alguma forma kkk
Bem, esse capítulo, como fala o próprio título do mesmo... Fala sobre segundas chances, reencontros, discussões e principalmente, sobre sentimentos.
Eu me surpreendi porque escrevi a maior parte dele de segunda para terça-feira e ao som de nada mais, nada menos, do que "I See The Light" do filme da Disney, Tangled (Enrolados). Essa música me fala sobre segundas chances e recomeços, espero que apreciem o capítulo e boa leitura!



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            Quinn dirigia a esmo pelas ruas de Lima, a noite já caíra e ela estava evitando voltar para casa. Seus pensamentos ainda estavam em Rachel e na expressão decepcionada que tomou sua face quando ela não lhe deu atenção. Quinn se amaldiçoou, mas ela não conseguia olhar naqueles olhos castanhos.

            O beijo tinha mudado alguma coisa entre elas. Parecia que aquele beijo fora o botão que ativara uma série de sensações dentro da ex-cheerio. Sentimentos que Quinn julgava não possuir estavam atingindo a superfície... Assim como sensações desconhecidas estavam se tornando intensas.

            Afinal, qual era a verdadeira natureza do seu sentimento por Rachel Berry?

            Se antes, Quinn Fabray respondia aquela pergunta como se fosse a mais simples do mundo, agora... Ela se confundia. Rachel foi e ainda era uma parte muito especial da sua vida, uma parte que ela não se esperava se tornar tão essencial. Quando Rachel não falou mais com ela, foi como se um pedaço de si tivesse ido junto com a morena para Nova York, Quinn sentiu como se tudo pelo que prezava, fosse arrancado de si sem a menor cerimônia.

            E agora, aquelas sensações e aquelas lembranças estavam lhe confundindo, juntamente com o beijo. Quinn não queria pensar em Rachel, ela tinha medo de descobrir algo por debaixo da amizade, porque a simples certeza de ter gostado do beijo da pequena já lhe assustava o bastante.

            Quinn não podia estar apaixonada por Rachel Berry, ela não queria estar apaixonada por Rachel Berry. Porque estar apaixonada pela morena, era assustador. Não por ela ser uma menina e sim, porque podia doer, podia machucar e principalmente, podia lhe ferir.

            Quinn socou o volante e respirou fundo, a noite já tinha caído na cidade e ela realmente precisava voltar para casa. Sam não parava de ligar, mas ela estava magoada demais com ele para falar... E ainda tinha Santana, a latina resolvera voltar em um péssimo momento.

            Se antes, Quinn queria os amigos de volta, agora... Ela só queria ficar sozinha. Aliás, não estaria sozinha. Ainda teria toda aquela bagunça e todos aqueles sentimentos dentro si, ainda teria que pensar... Por mais que a sua própria mente lhe dissesse para deixar as coisas tomarem seu rumo.

            Quinn estava confusa e sentindo-se sozinha. Ironicamente, a única pessoa com a qual poderia falar, foi a que lhe beijara.

            A loira suspirou e acelerou o carro, em menos de minutos, chegou ao seu prédio. Quinn estacionou, desceu do carro e jogou a chave na bolsa enquanto puxava o casaco mais para si no exato momento em que uma brisa fria tomava seu corpo. Quinn arrepiou-se por alguns seguintes antes de entrar correndo no elevador, a subida foi rápida e nem lhe deu tempo de pensar.

            No quarto andar, Quinn caminhou pesadamente, como senão quisesse chegar nunca em seu apartamento. Abriu a tranca com cuidado e se surpreendeu ao notar a luz do hall acesa, seus olhos esverdeados foram para a sala e ela crispou os lábios quando viu as duas pessoas que estavam sentados ali: Sam estava de cabeça baixa, brincando com as mãos enquanto Santana a olhava com seriedade.

            - Achei que você nunca chegaria, Fabray. – Santana sibilou com um sorriso irônico nos lábios, ela cruzou os braços e manteve aquele olhar sério e um tanto frio. Quinn revirou os olhos e jogou a chave em cima da mesinha, colocando a bolsa no chão e tirando o casaco. Em seguida, respirou fundo e disse frustrada:

            - Eu disse que te queria fora da minha casa assim que voltasse.

            - Eu não vou sair daqui enquanto nós não conversarmos. – Santana estava firme em suas palavras, ela levantou-se da poltrona de leitura de Quinn e assumiu uma postura rígida. Sam levantou logo em seguida, ele finalmente olhou para Quinn e parecia culpado e arrependido. O rapaz deu um sorriso de lado e disse calmamente:

            - Bem, eu vou deixar vocês duas a sós.

            - Você não vai mover um pedaço do seu corpo, Samuel. – Quinn disse fria e olhando decepcionada para o rapaz, Sam se encolheu e olhou suplicante para ela. – Você a trouxa aqui e você vai tirá-la daqui agora.

            - Está enganada, Fabray. O que eu tenho para falar é para você e não para o Sam! – Santana tinha o mesmo tom irredutível e mandão que possuía no colegial, Quinn bufou impaciente e a latina empurrou Sam para fora do apartamento. Sam acenou e olhou por cima do ombro antes de fechar a porta e deixá-las sozinhas. Quinn caminhou até o quarto e tirou a roupa que usara na rua, Santana tornou a se sentar. Quando a loira voltou para a sala cinco minutos depois, de pijamas e pantufas, ela olhou severa para Santana e disse:

            - Eu não tenho nada para falar com você, Lopez.

            - Podemos não nos falar, mas eu não vou te deixar sozinha nesse Natal. – Pela primeira vez desde que a latina chegara, a voz dela pareceu vacilar. O olhar firme e decidido pareceu enfraquecer quando ela olhou para Quinn, a loira não lhe deu atenção, cruzou os braços sobre o peito e apoiou-se na parede que separava o hall da sala. Quinn olhou para Santana e riu irônica antes de disparar fria:

            - Eu passei quatro anos sem ninguém no Natal. Porque você rompeu contato, Sam viajava e Rachel...!

            - Rachel, Rachel, Rachel! Quando é que vamos parar de falar nela? – Santana interrompeu irritada e dessa vez, ela parecia ferida. Na cabeça da latina, o que Rachel tinha feito com Quinn não era muito diferente do que ela fizera, Santana só não entendia porque Rachel podia ser perdoada e ela não. A latina ficou em pé e fechou os punhos. – Pare de falar dela como se ela não tivesse feito nada, se eu te abandonei... Ela fez o mesmo!

            - Rachel parou de falar comigo porque eu fui covarde e não me despedi dela... Agora você? Você simplesmente desapareceu, Santana! – Quinn tinha aquele tom de voz perverso que fez dela capitã das Cheerios. Santana parecia se encolher diante da culpa e da ausência de defesa. A latina olhava para ela e surpreendente, parecia chorar a qualquer momento. – Eu soube pelo Sam que você tinha terminado Direito e que estava advogando. Depois disso, nenhuma notícia!

            - Isso não me faz diferente da Berry! – Santana tornou a repetir ferida e acuada, Quinn arqueou a sobrancelha e deu um sorrisinho irônico, tinha muitas coisas em sua cabeça e coração no momento, não precisava de Santana Lopez querendo provar que estava certa quando estava mais do que errada. A atitude da loira pareceu enfurecer Santana ainda mais. – Mas eu sempre esqueço que ela é Rachel Berry, a sua namora...!

            - Não ouse terminar essa frase, Lopez. – As palavras de Quinn soaram como gelo, ela se aproximou e assumiu uma posição defensiva, encarando Santana com os olhos cortantes. A latina retribuiu o olhar, com uma fúria quente ardendo nos orbes escuros. Santana segurou a língua para não continuar seu raciocínio.

            Quinn e Santana se olhavam com uma fúria intensa. Os anos de amizade pareciam nada ali, porque havia muita coisa não-dita e não-feita entre elas. Santana voltara porque precisava se reerguer e voltara pela amizade de Quinn enquanto Quinn estava fechada em sua bolha de emoções turbulentas causadas por Rachel Berry. Pela segunda vez, Quinn estava em um conflito de sentimentos que parecia não ter fim.

            Era demais, ainda mais para alguém que nunca lidara bem com sentimentos, amizades e emoções.

            - Você está me julgando sem saber ou se importar com o que aconteceu comigo. – Santana estava fria e novamente, mais atacava do que falava. A expressão de Quinn amenizou-se instantaneamente, uma sombra de arrependimento pelo julgamento passou pelos olhos de Quinn, mas ela manteve-se firme enquanto via Santana desabar sobre a poltrona com as mãos sobre os olhos. – Você não é a única que tem feridas abertas e que sofre aqui, Q.

            Quinn tentou permanecer intocável diante das palavras da amiga e a “antiga Quinn” conseguiria fingir não se importar... Mas aquela nova Quinn era frágil, se importava com os outros e por perder tantos durante a vida, se acostumara a tomar as dores e a proteger os poucos que amava. Portanto, segundos depois, sua postura relaxou e ela ajoelhou-se a frente de Santana. A latina não ergueu os olhos, permaneceu com o rosto escondido nas mãos. As mãos de Quinn vacilaram, mas ela afagou alguns cabelos da amiga e perguntou preocupada:

            - O que aconteceu, S?

            Santana suspirou pesadamente e Quinn conhecia aquela atitude, a latina estava controlando-se para não baixar a guarda. Lentamente, Santana levantou os olhos tomados por lágrimas a serem contidas corajosamente pela latina. Ela respirou fundo e deu um sorriso sem graça para Quinn, a loira acabou cedendo e pegou a mão da amiga entre as suas, encorajando-a a falar. Santana suspirou e disse culpada:

            - As coisas saíram do controle, Quinn... Eu perdi Brittany e acabei me enfiando em confusões. Só depois de alguns anos que eu resolvi estudar e me formar. Prometi que só voltaria a Lima depois de conquistar meu orgulho de volta.

            - Perdeu Brittany? Como assim? – Quinn perguntou levemente assustada, Brittany e Santana eram um casal que a loira julgava ser inseparável e eternamente apaixonado. Santana desviou os olhos dos seus e disse melancólica:

            - Ela terminou comigo, no meu primeiro ano... Eu ainda cursava algumas matérias obrigatórias quando ela me ligou na faculdade para me dizer que não podíamos ficar mais juntas.

            - Como assim, Santana?! – Quinn perguntou surpresa, sempre acreditou que se acontecesse de Brittana terminar, o pedido partiria de Santana e não de Brittany, sempre julgou a loirinha mais apaixonada. Santana voltou a olhar para ela e o coração de Quinn se apertou, o olhar dela estava destruído e perdido, exatamente como os olhos de Rachel. A latina apertou a mão de Quinn e respondeu ligeiramente irônica:

            - Aparentemente, ela e Artie se aproximaram depois que eu me formei e eles acabaram tendo uma recaída. Ela nem se deu ao trabalho de ir falar comigo, ela simplesmente me ligou, disse que tudo acabara e que não queria mais me ver.

            Quinn se surpreendeu quando foi tomada por uma raiva desproporcional contra Brittany. A loira cerrou os olhos esverdeados e observou Santana ceder lentamente às lágrimas, Santana era o elo mais fraco naquela relação e ela só percebia aquilo agora... Até entendia, Brittany era a única que conseguia trazer o melhor da latina à tona e de alguma forma, Santana parecia ter perdido a sua orientação agora que estava sozinha. Santana ergueu os olhos castanhos e Quinn limpou as lágrimas dela como uma mãe faria, a latina deu um sorrisinho e Quinn perguntou incrédula:

            - Ela realmente fez isso?

            - Sim. Ela disse uma palavra e me deixou destruída, eu não sabia que gostava tanto dela, Q... Será que eu não demonstrei o bastante? – Santana questionava frágil e com as lágrimas tornando a cair, Quinn sentiu-se impotente ao mesmo tempo em que compreendia o que a latina sentia. Nos primeiros anos em que se viu sem Rachel, ela perguntava a si se não tinha demonstrado o bastante o quanto gostava da morena, porque achava que Rachel entenderia aquela sua última atitude... Quinn interrompeu seus devaneios quando sentiu Santana se levantar e dar-lhe as costas.

            A latina sempre fazia aquilo depois que desabafava e involuntariamente, Quinn sorriu. Porque aquilo lhe trouxe velhas lembranças e, principalmente, porque ela sabia como Santana estava se sentindo mal naquele momento. Falar de sentimentos não era um dos pontos fortes de sua amiga.

            - Desculpa. – Quinn murmurou baixinho e fazendo Santana quase quebrar o pescoço ao se virar para encará-la surpresa. A loira deu de ombros e sorriu. – Eu não deveria ter jogado meus problemas em você, muito menos, ter falado com você daquela forma. Você tem tantas dores quanto eu.

            - Sam disse que você tinha mudado, mas eu realmente gostava mais da Quinn Fabray que não se desculpava e sim, ofendia. – Santana disse com um tom confuso que causou risos em Quinn, aos poucos, a latina também abriu um sorriso. Quinn se aproximou dela e abriu os braços, Santana a abraçou e Quinn afagou seus cabelos. A loira pigarreou e ainda abraçada a amiga, disse:

            - Sabe que se precisar, eu estarei aqui.

            - Me desculpe Q, mas loirinhas boazinhas não fazem mais meu tipo. Quero uma ruiva agora. – Santana estava de volta com seu humor negro que causou mais gargalhadas em Quinn. As duas se separaram ofegantes e com resquícios das risadas ainda em seus rostos. Santana arqueou a sobrancelha e Quinn fez uma careta para ela. – Sério que está me perdoando assim, tão naturalmente? Sem surtos ou discussões? Que estranho.

            - S, você já viu a nossa amizade ser “normal” alguma vez? – Quinn perguntou sarcástica e foi a vez de Santana rir e abaixar a cabeça. Quinn apertou as mãos dela e a latina tornou a olhá-la. – É bom te ter de volta, insuportável.

            - É bom estar de volta, Q. – Santana disse sincera e sorrindo verdadeiramente. Quinn sentiu como se uma parte da carga emocional que carregava se dissipasse, no meio daquela confusão, pelo menos uma coisa ainda continuava estranhamente em seu lugar.

###

            As olheiras embaixo dos olhos castanhos seriam a prova de que não dormira a noite toda. Rachel Berry abrira os olhos há alguns minutos, sabia que era cedo porque seu despertador ainda não tocara, por isso ainda estava deitada em sua cama olhando o teto a procura de respostas por questionamentos que ela sabia serem difíceis e dolorosos.

            A distância que sentira no dia anterior entre ela e Quinn parecia ter aumentado, sabia que estava satisfeita por ter tentado e por ter arriscado tudo por um beijo, mas agora que enfrentava a decepção e desprezo de Quinn por aquilo que as unira por breves instantes... Rachel estava sentindo-se vazia, sozinha.

            E por mais que amasse os pais, sabia que eles nada poderiam fazer diante daquilo. A única que podia tirá-la daquela confusão e apreensão era Quinn e depois do breve encontro no Natal, ela sabia que aquilo podia demorar e nunca acontecer.

            O despertador tocou e Rachel levantou-se preguiçosamente. A morena espreguiçou-se ao lado da cama, depois caminhou até as janelas e abriu as cortinas. O sol estava firme e forte do lado de fora, mas estava encoberto pela espessa camada de nuvens escuras. Rachel voltou a cama e arrumou tudo antes de ir ao banheiro e fazer sua higiene.

            Depois, já tomada banho e trajando uma calça jeans e uma blusa grossa de lã, foi para a cozinha e encontrou Hiram preparando o café. A morena se aproximou dele e aplicou um beijo demorado na bochecha do papai, Hiram sorriu satisfeito e disse animado:

            - Bom dia!

            - Bom dia, papai... Ao menos para o senhor que não trabalha hoje. – Rachel reclamou com um falso tom incomodado, Hiram fez uma careta para ela enquanto observava a filha ir até a geladeira atrás de um suco. A verdade era que trabalhar na livraria de Charlie estava sendo uma experiência incrível que ela não pretendia deixar tão cedo. Mas a proposta de Mr. Schue fizera uma bagunça em sua cabeça... Aliás, tudo que envolvia Quinn Fabray estava fazendo sua cabeça virar de ponta cabeça. Rachel abandonou seus devaneios quando percebeu o destino que eles estavam tomando.

            - Vocês dois são os únicos estranhos que conseguem acordar cedo na manhã seguinte ao Natal. – Leroy Berry parecia ter acordado com mau humor, Rachel tomou um gole de seu suco e virou-se para o pai que estava entrando na cozinha com os olhos inchados e tropeçando em qualquer coisa que entrasse em seu caminho, a morena riu quando ele tropeçou na cadeira antes de sentar-se nela. Hiram deu uma piscadela para filha e perguntou:

            - Acordou de ressaca, querido?

            Rachel não conseguiu conter a gargalhada e Leroy olhou sério para os dois, realmente, estava de ressaca. Afinal, fora ele, sozinho, quem tomara duas garrafas de champanhe na noite anterior. A morena beijou o topo da cabeça do outro pai, colocou o casaco e apanhou a bolsa, na porta da casa, gritou:

            - Tchau pais!

            Os dois responderam em uníssono e a morena saiu correndo pelas ruas escorregadias de Lima. Charlie pedira para ela auxiliá-lo naquele dia, ele abriria somente pela manhã para caso alguém quisesse trocar algum livro ou até mesmo, comprar algo atrasado de Natal e Rachel não se opôs ao aceitar.

            Rachel gostava da livraria, era um ambiente que lhe transmitia paz e sabedoria, talvez fossem as prateleiras antigas abarrotadas de livros ou fosse o silêncio que perpetuava sempre no ambiente... Mas ela se sentia feliz, em paz ali. Sem mencionar que Charlie era uma das pessoas mais gentis que ela conhecera, o senhor não perdia a paciência quando ela colocava algum livro no local errado e muito menos, bronqueava quando a garota se perdia em seus devaneios durante o trabalho. A verdade era que Charlie, sem querer e silenciosamente, estava ajudando Rachel a reencontrar-se em Lima.

            E havia outra verdade que Rachel recusava-se a aceitar: trabalhando na livraria, ela sentia-se próxima a Quinn de uma forma que nunca se sentira nos últimos anos. Seus devaneios durante o trabalho eram causados, principalmente, pela presença da loira em seus pensamentos. Rachel conseguia fechar os olhos e imaginar uma Quinn Fabray mais nova, andando pelos corredores apertados da livraria, com os braços cheios de livros. Também conseguia vê-la passando o indicador pelas lombadas a procura do título que desejava.

            A livraria de Charlie era o que as unia naquele momento. Depois daquele beijo e da visível negação de Quinn, o que mantinha o sentimento de Rachel vivo e a esperança dentro dela, era aquela livraria.

            O vento estava fraco, quase como uma brisa, o sol estava tímido por trás das nuvens espessas que ameaçavam despejar neve pela cidade a qualquer momento. Rachel caminhava rapidamente, prestando atenção no caminho e tentando não escorregar. Como já fazia algumas semanas que trabalhava naquela rua, algumas pessoas a cumprimentavam com um aceno da cabeça e a morena respondia com um sorriso.

            Mesmo diante de seus arrependimentos e de seus medos, Rachel gostava de se sentir responsável por alguma coisa e ela era com seu trabalho. Cerca de quinze minutos após sair de casa, a morena parou em frente à livraria, sorriu diante da placa “Letters, Love and Dreams”. Olhou para a vitrine que tinha o mais recente livro de Dan Brown. Revirou os olhos, ela e Charlie sempre gostaram dos clássicos, mas tinham que admitir que aquele tipo de livro era o que mais vendia e eles tinham que ganhar dinheiro.

            A sineta tocou melodicamente quando a morena entrou. Charlie apareceu entre os corredores com um sorriso brilhante no rosto, Rachel não conseguiu sustentar sua expressão de desagrado por muito tempo. O senhor se aproximou com alguns livros nos braços e Rachel saltou o balcão para tirar e guardar seu casaco. Depois, retirou os livros das mãos do chefe e olhando os títulos, apressou-se a guardá-los, Charlie fez um pequeno muxoxo e disse:

            - Rachel, você devia parar de me mimar, acho que posso lidar com alguns livros.

            - Você que me chamou aqui hoje, Charlie. Portanto, não reclame. – Rachel disse com uma voz autoritária, mas ainda com um sorriso sincero e ao mesmo tempo, triste nos lábios carnudos. Charlie franziu a testa enrugada para a garota e a acompanhou enquanto ela guardava os livros, um silêncio agradável perpetuou entre eles e na livraria. Quando Rachel guardou o último livro na prateleira de suspense, Charlie tomou coragem e perguntou gentil:

            - Eu conheço esse sorriso triste, Rachel Berry... O que aconteceu?

            - Hã? Não é nada...! – Rachel gaguejou nas primeiras palavras e quando conseguiu falar, sua voz vacilou e ficou insegura. Ela ergueu os olhos castanhos e por ser muito expressiva, eles entregaram a sua mentira. Charlie lhe sorriu bondoso e a puxou para a sessão de leitura, o senhor sentou-se em uma das poltronas enquanto Rachel se acomodava no tapete e brincava com o bordado do mesmo.

            Charlie sorriu para a atitude dela, ele se lembrava muito bem quando, há alguns anos, certa loira estava do mesmo jeito: tentando esconder sua preocupação por trás de um sorriso. Mas o senhor já era velho e sabia ler as pessoas... Por isso, ele queria que Rachel começasse a falar. Charlie pigarreou, chamando a atenção de Rachel que o encarou triste, depois, perguntou calmamente:

            - O que aconteceu, Rachel?

            - Não é nada... Eu só estou decepcionada, acho que a vida me surpreendeu, novamente. – Rachel respondeu evasiva e desviando o olhar do senhor. Charlie fez um pequeno biquinho irritado com a boca, mas depois, reassumiu a expressão serena e sugeriu sério:

            - Senão fosse nada, você não estaria assim, querida... Algo me diz que o fruto desse sorriso triste é aquele nosso assunto não-terminado de dois dias atrás.

            Rachel engoliu em seco, ela sabia muito bem a qual conversa Charlie Thomas se referia e assustava ainda mais por saber o rumo que a conversa atual estava tomando. Rachel colocou-se em pé, mas por breves instantes, até se sentar na poltrona em frente ao seu chefe. Charlie a observou calado, notando como cada atitude da morena parecia ser calculada e pensada. Depois, Rachel pigarreou e disse cansada:

            - Se o senhor refere-se a Quinn, é sobre ela mesmo que eu falo.

            - Não foi tão difícil falar em voz alta, não é? – Charlie tinha uma expressão risonha e um tom brincalhão na voz que provocaram um sorriso involuntário em Rachel, a morena acenou afirmativamente com a cabeça e deu de ombros, indicando que não tinha jeito. – O engraçado é que vocês duas pensam e se preocupam muito uma com a outra.

            - Como assim?! – A pergunta saiu antes que Rachel pudesse acalmar seu tom de voz e raciocinar o que Charlie tinha dito, a morena arregalou os olhos quando teve noção de sua atitude. Charlie segurou uma risada satisfeita e rapidamente, se explicou:

            - Quinn também ficava preocupada com você, mesmo que você não a respondesse... Eu sempre a surpreendia chorando.

            - Ela chorava por minha causa? – Rachel tinha um tom surpreso e agora, os olhos enchiam-se de esperança. Charlie acenou afirmativamente com a cabeça e mesmo que a morena procurasse conter, o sorriso chegou aos seus lábios e morreu rapidamente, porque Rachel foi tomada por uma vergonha que corou suas bochechas. Charlie sufocou mais uma risada e disse:

            - Quinn gosta muito de você e vejo que você gosta dela também... Mas você ainda não me disse o que aconteceu entre vocês.

            Rachel ficou pálida, podia sentir seu coração acelerando em seu peito enquanto tentava não olhar para Charlie e arrumar um jeito para sair daquela situação. Por mais que Charlie lhe passasse confiança, ela ainda não se sentia confortável para falar com ele sobre aquilo. Eram seus sentimentos, sentimentos guardados por sete anos...

            Charlie percebeu as reações que suas palavras provocaram em Rachel, a morena parecia nervosa enquanto brincava com os dedos das mãos. O senhor respirou fundo e seus olhos pareceram vasculhar a alma da morena, ele pareceu feliz com o que encontrou, porque abriu um sorriso. Charlie pigarreou e chamou a atenção de Rachel, a morena levantou os olhos e o senhor escolheu muito bem as palavras antes de dizer:

            - Eu sei que posso estar lendo seus sentimentos erroneamente. Mas a vida me ensinou algumas coisas, Rachel. E uma delas é que o sofrimento não é o único caminho. Escolhas determinam o nosso futuro e, muitas vezes, quando se trata de amor... A melhor escolha é evitar o sofrimento e deixar a pessoa que amamos partir sozinha.

            Rachel suspirou pesadamente e conteve as lágrimas. Seu coração apertou em seu peito, mas a sua mente lhe dizia que talvez... Aquele fosse o destino. A negação de Quinn só reforçava a idéia de que existiam amores que deviam permanecer em segredo. Rachel lutou contra as lágrimas e apanhou a mão de Charlie, deu um sorriso e agradeceu a ele. O senhor beijou-lhe a palma da mão e disse:

            - Não vamos mais pensar nisso, ok? Eu estou precisando de uma rosquinha.

            - Quer que eu vá até a confeitaria? – Rachel perguntou solícita, sentindo o ambiente que antes lhe trazia calma, lhe amedrontar. Inexplicavelmente, a presença de Charlie a amedrontava agora. Charlie sorriu e acenou com a cabeça, ele sabia que Rachel precisava de um tempo sozinha, por isso, não se importou quando a morena saiu praticamente correndo de sua presença.

            Quinn acordou antes de Santana e saiu praticamente correndo de casa. Resolveu tomar café fora porque não estava preparada para acordar e confrontar a latina, ainda mais que sabia que Santana precisava de um tempo para recuperar seu orgulho antes que pudesse agir como se aquela conversa não tivesse acontecido.

            Quinn amarrou o cinto do trench coat verde-oliva ao redor da sua cintura, a blusa comprida de lã não parecia esquentá-la e ela ajeitou o cachecol ao redor do pescoço. Mesmo não ventando, o sol não ajudava. Naquela manhã, a loira resolveu caminhar e deixou o sedan na garagem.

            Saiu para a manhã fria de Lima à procura de uma confeitaria onde pudesse tomar café-da-manhã. Lembrou-se da época que trabalhara com Charlie na “Letters, Love and Dreams” e do pequeno estabelecimento que ficava a duas quadras da livraria. Depois ainda poderia dar uma passadinha e conversar com Charlie, ele sempre ficava sozinho no dia seguinte ao Natal.

            Com um sorriso no rosto e cumprimentando alguns rostos conhecidos pelo caminho, Quinn chegou rapidamente a confeitaria. Um senhor italiano a cumprimentou com um sorriso e ela se encaminhou para o balcão. Mas algo interrompeu o movimento dela de tirar o casaco e sentar-se no banco, um cheiro familiar que se assemelhava a baunilha invadiu seu olfato. Aquele cheiro era conhecido de seu corpo, mas não da sua mente.

            Quinn olhou por cima do ombro e vasculhou a confeitaria a procura de algo que ela desconhecia o que era. Seu olhar estava afoito e atento, imediatamente se esqueceu do cheiro do café e do calor vindo do forno da confeitaria. Ela conhecia aquele cheiro, seu corpo foi tomado por sensações involuntárias, mas prazerosas. Borboletas voavam em seu estômago e seu coração fora tirado de ritmo...

            - Ah, além da porção de rosquinhas... Gostaria de um copo de chá de camomila, se possível. – Quinn reconheceria aquela voz mesmo que estivesse dormindo, mas estava acordada e a dona da voz estava ao seu lado. A loira virou-se em direção a voz, involuntariamente e antes que pudesse evitar, seus olhos encontraram os olhos de Rachel. O tom esverdeado travou uma batalha intensa com o castanho, mas, por fim, o olhar firme e forte de Rachel venceu. Quinn baixou os olhos e corou.

            As lembranças do beijo a invadiram por inteiro e ela viu-se ofegante e quase sentindo os lábios de Rachel sobre os seus... E aquelas lembranças estavam ainda mais vívidas agora que Rachel estava tão próxima a ela e inconscientemente, Quinn percebeu que não queria abrir mão daquilo e esquecer, ela queria Rachel. Ou talvez, fosse só o perfume a embriagando e tirando seu juízo.

            - Obrigada. – A voz de Rachel nunca soou tão melodiosa aos ouvidos de Quinn, a loira levantou os olhos e encontrou a morena sorrindo para ela. Mas o sorriso não chegava aos olhos castanhos que sempre entregavam tudo que se passava dentro dela e Quinn se amaldiçoou por ser o motivo daquela tristeza. Rachel se aproximou e sentou no banco ao lado de Quinn, ainda sorrindo. – Bom dia, Quinn. Estou surpresa em te ver aqui tão cedo.

            - Não queria tomar café em casa, Santana chegou e trouxe um tornado consigo. – Quinn respondeu travada e tentando dar um sorriso, Rachel acenou com a cabeça e apanhou o copo de chá. A morena tomou um gole e Quinn viu-se observando os lábios dela com um olhar pedinte e desejoso, imersa em seus pensamentos, Rachel não viu. As duas permaneceram caladas até que o pedido de Rachel chegou e a morena o colocou sobre o balcão. Ela virou-se para Quinn e respirando fundo, disse séria:

            - Sobre o que aconteceu na véspera de Natal... Me desculpe, foi um erro. Eu não tenho o direito de jogar tantas coisas sobre você depois de sete anos e talvez, um sentimento que ficou resguardado por tanto tempo, não devesse nunca ser revelado. Peço desculpas de novo, Quinn. Fica ao seu critério me querer ou não na sua vida.

            Quinn tentou falar algo, mas se viu no meio de um campo de batalha entre seu coração e sua razão. Quando tomou sua decisão e resolveu falar, ela só viu as costas de Rachel saindo de dentro da confeitaria. Os olhares das duas se encontraram através da vidraça da confeitaria e Quinn se deu conta de que nunca mais queria ver aqueles olhos castanhos tristes a se despedirem de si.

###

            Santana Lopez não se surpreendeu ao acordar e não ter nem sinal de Quinn Fabray no apartamento, a loira sempre foi melhor com sentimentos do que ela (o que não era grande coisa) e se uma das duas sabia que a outra precisava de espaço, essa era Quinn Fabray.

            A latina mandou Sam atrás de Kurt e Karofsky, precisava dos três homens com ela. Precisava que eles a ajudassem com a sua festa de Ano-Novo e também, precisava de ajuda com Quinn. Um pouco depois das oito horas, Sam voltou ao apartamento de Quinn com uma careta desconfortável. Santana olhou incomodada para ele e perguntou:

            - Por que a cara de quem comeu e não gostou, boca de caçapa?

            - Eu acho que não deveríamos nos meter entre a Quinn e a Rachel... – Sam respondeu cansado, o rapaz jogou-se no sofá enquanto Santana olhava para ele com uma cara de tédio. A latina respirou fundo, ela acabaria falando uma grande bobeira senão se acalmasse, olhou séria para Sam e disse incisiva:

            - Quinn merece ser feliz e eu não vou me opor a isso, mesmo que seja com a Treasure Trail.

            - Mas não podemos nos meter... As duas já estão confusas demais e sabe muito bem o que acontece quando parte do Glee resolve bancar o cupido. – Sam estava severo e duro em suas palavras. O rapaz sabia que não estava no melhor dos momentos com Quinn e a idéia da sua melhor amiga chateada com ele o assustava. Santana olhou incrédula para o loiro a sua frente e exclamou:

            - Você que veio me pedir ajudar, Evans... Pode parar com o drama!

            - Eu pedi ajuda para lidar com a Quinn e não, para juntar as duas e...! – Sam teve que interromper sua justificativa porque ouviram-se batidas na porta. O rapaz fez um sinal para que Santana o esperasse e levantou-se. Ao abrir, deparou-se com Kurt sorrindo abertamente e Karofsky ao seu lado, parecendo alheio a tudo. – Olá Kurt, Karofsky.

            - Olá Sam! – Kurt cumprimentou animado e dando um abraço no amigo, antes de desvencilhar-se dele e ir até Santana. A latina sorria e Kurt arqueou a sobrancelha para ela, virou-se para Kurt confuso. – Céus, o que aconteceu com a Santana de Lima Heights Adjacents?

            - Acho que todos mudaram, não é mesmo? – Santana estava envergonhada e os olhos dela brilhavam, a latina podia negar e fazer-se de forte, mas ela sentia muita falta de todos no Glee, odiava admitir, mas aquele tinha sido o melhor período da sua vida e ver Quinn, Kurt e Sam de volta a sua vida, fazia o buraco que Brittany deixara em seu peito, ainda menor. A latina piscou para Karofsky após suas palavras e o ex-jogador deu um sorriso de lado e acenou com a cabeça. – Agora venha aqui e me dê um abraço, Kurt!

            - Você não tem nenhuma slushie escondida aí, tem? – Kurt perguntou dramático, fazendo Karofsky e Sam sorrirem e Santana revirar os olhos. A latina rompeu a distância entre eles e abraçou o amigo, Kurt riu e retribuiu o abraço com tanta ou mais saudade. Sam e Karofsky entreolharam-se e sorriram satisfeitos. Kurt separou-se de Santana, mas ainda segurava as mãos dela quando disse eufórico:

            - Sam disse que você queria ajuda com a decoração da sua casa. Soube que comprou um apartamento na cobertura daquele edifício novo.

            - Na verdade, não preciso da sua ajuda apenas para isso... – Santana respondeu um pouco nervosa enquanto sentava-se no sofá e Kurt permanecia em pé, com uma expressão curiosa. A latina abriu um sorriso vacilante e deu um olhar significativo para Sam. – Quinn e Rachel precisam se acertar.

            - Vai bancar a Madre Tereza agora, Lopez? Realmente, os tempos mudam. – Kurt soou irônico, mas Santana sabia que ele ia ajudá-la, porque os olhos claros do rapaz refletiam exatamente a mesma vontade que tinha nos olhos dela. Santana deu um sorriso para os próprios pés e disse tranqüila:

            - Não é isso, Kurt... Você me conhece, posso ser uma bitch quando quero. Mas Quinn é minha amiga e eu acho que ela merece ser feliz, pra variar.

            Quinn chegou ao apartamento um bom tempo depois, precisou andar muito para espairecer e esquecer tudo que sentira com Rachel na confeitaria. Seu coração ainda estava apertado dentro de seu peito e ela ainda se amaldiçoava por não ter ido atrás da morena quando pode... Agora, sozinha, parecia que tinha algo fora do lugar.

            As vozes animadas dentro do seu apartamento lhe arrancaram bruscamente de seus devaneios. Quinn fechou a cara, sentindo a confusão de seus sentimentos chegar a superfície. A loira abriu a porta de supetão e todas as vozes se calaram, só o som do vídeo game e da respiração pesada das pessoas que ocupavam a sua sala pode ser ouvida. Quinn arqueou a sobrancelha e virando-se para Santana, disparou:

            - Eu mal saio e a minha casa já vira uma pensão?

            - Precisava do Kurt para me ajudar a organizar uma festa e arrumar a decoração da minha nova casa. Pretendo sair da sua batcaverna o quanto antes, Fabray. – Santana respondeu com sarcasmo, fazendo Quinn revirar os olhos para ela. Kurt sufocou uma risada e levantou-se para abraçar e dar um beijo no rosto da amiga. Quinn sorriu para ele e acenou para Karofsky que estava disputando uma partida acirrada com Sam no vídeo game. A loira respirou fundo e jogou-se no sofá, bronqueando:

            - Por que você trouxe essa coisa para cá, Sam?

            - Kurt está com medo de perder o bofe dele. – Santana disse sincera enquanto observava algumas imagens que Kurt lhe mostrava no notebook, o rapaz quase derrubou o aparelho e Karofsky perdeu o controle de seu carro no jogo. Quinn gargalhou, acompanhada por Sam. Santana ergueu os olhos e tinha uma expressão divertida enquanto Kurt a esmurrava no ombro.

            A gargalhada se foi rapidamente e Quinn baixou os olhos, pensativa. Kurt e Santana perceberam, mas fingiram não observar nada, apenas trocaram olhares compreensivos. A loira ergueu os olhos esverdeados e encontrou uma das fotos que tinha sobre a lareira, estava com Rachel na formatura, seu coração apertou e ela desviou os olhos bruscamente. Kurt pigarreou e disse:

            - Santana quer fazer uma festa no final do ano, para inaugurar o apartamento novo e também, para passarmos a virada juntos. O que acha?

            - Por mim tudo bem, vai ser bom passar o ano sem o Sam me chamando para ajudá-lo a finalizar algum jogo. – Quinn respondeu com uma risada, fazendo Sam mostrar o dedo do meio para ela enquanto todos os restantes riam da interação dos dois. Kurt abriu um sorriso e piscou para Santana, a latina deu um sorriso maldoso e perguntou sugestiva:

            - Tem alguém que você queira convidar, Quinn?

            Quinn ficou calada e olhou para o relógio, a livraria ainda estava aberta. A loira ficou em pé abruptamente e apanhando o casaco e as chaves pelo caminho, saiu porta a fora sem dizer nada. Karofsky parou o jogo assustado, fazendo Sam revirar os olhos. O ex-jogador virou-se para Kurt e Santana e perguntou:

            - Onde ela foi?

            - Atrás de Rachel, espero. – Kurt disse com um sorriso satisfeito, antes de virar-se de novo para Santana e os dois recomeçarem a olhar os artefatos que ele sugeria para a decoração do apartamento da latina enquanto Sam e Karofsky davam de ombros e voltavam ao jogo.

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            - Obrigada e espero que goste do livro! – Rachel disse com um sorriso ao entregar o pacote pardo para uma senhora que acabara de comprar um romance Jane Austen. A senhora lhe sorriu e acenou com a cabeça, a sineta tocou melodicamente e Rachel se virou para guardar o dinheiro na caixa registradora.

            A sineta tornou a tocar e Rachel suspirou pesadamente, estava cansada física e emocionalmente. Mas abriu seu melhor sorriso e virou-se para o cliente que acabara de entrar. Só que seu sorriso morreu aos poucos. Em vez disso, seu coração acelerou e ela apoiou as mãos espalmadas sobre o balcão. Quinn estava parada a sua frente, ofegante e descabelada.

            - Quinn? – Sua voz saiu quase em um fio, Quinn tentou sorrir, mas produziu uma careta incomodada enquanto se aproximava. Rachel tentou se afastar do balcão, mas a mão de Quinn foi mais rápida e agarrou seu pulso por cima da madeira lisa. As duas se fitaram com intensidade e Quinn passou a língua pelos lábios, Rachel fechou os olhos e engoliu em seco, tentando ignorar o calor que tomava seu corpo e fazia parecer que o frio lá fora era uma realidade distante.

            - Me desculpa, por ontem... Eu não posso ter você saindo da minha vida pela segunda vez. – Quinn parecia insegura, mas as suas palavras estavam firmes e decididas. Rachel tornou a abrir os olhos e encontrou orbes esverdeados a te olharem intensamente. Quinn afagou seu pulso e conseguiu dar um sorriso. – Eu só peço que não desapareça, por favor.

            - Quinn, eu...! – A loira a calou, colocando o indicador sobre os lábios carnudos, os olhos castanhos arregalaram-se e Quinn sorriu divertida. As duas se aproximaram sem que tomassem consciência da movimentação de seus corpos, parecia que algo as puxava em direção a outra. Mas a sineta da loja tornou a soar e elas se separaram rapidamente, algumas crianças entraram, fazendo barulho. Rachel retomou a postura e tentou soltar seu pulso, mas o aperto de Quinn foi mais forte, a loira levou a mão da garota a boca e beijou a pele interna de seu braço, com um sorriso misterioso, disse:

            - Só venha a festa de Santana no Ano-Novo, eu vou estar te esperando.

            Rachel não viu quando ela foi embora, mas sentiu uma corrente percorrer a pele onde Quinn beijara, essa atingiu seu coração e ele quase saiu do seu peito. A morena respirou fundo observando o início da neve em Lima, sem saber em que momento o jogo virara daquela forma.

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Notas finais do capítulo

Estive insegura sobre a Santana nesse capítulo, mas alguém me disse que os personagens amadurecem... Então optei por deixá-la assim mesmo.
A atitude da Quinn foi impulsiva e desesperada, algo que foge do que ela costuma fazer, mas algo que eu achei certo para o momento.
Bem, eu sei que alguns acham a história clichê e o drama desnecessário... Mas eu lido melhor com emoções, reencontros e despedidas do que enredos alternativos.
Me desculpe se "Signal Fire" está cansativa. Mas é o que eu sei escrever.
Beijos e até o próximo capítulo.