Signal Fire escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 14
Batalhas


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde, pessoas!
Como vocês estão depois de todo esse tempo? Espero que estejam bem viu *-*
Bem, sei que está tornando-se clichê, mas eu devo desculpas mais uma vez. Perdoem, mas a faculdade tomou meu tempo, ainda mais com essa greve e a incerteza de quando eu voltarei às aulas. E eu, como boa desesperada, estava adiantando meus estudos >.
Consegui escrever e espero que gostem desse capítulo que é bastante especial. Escutem "Love is a Losing Game" da diva Amy Winehouse e "Comes and Goes (In Waves)" do incrível Greg Laswell, acho que se encaixam bem.
Boa leitura!



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            Santana não sabia há quanto tempo estava olhando para a mulher deitada a sua frente. Os cabelos ruivos estavam em contraste com a fronha branca de seu travesseiro. Sua cama. Seus braços...

            Julianne Urie adormecera em seus braços, agarrada a sua camisa e com as mãos envolvendo seu pescoço. Quando foi que as coisas saíram de controle? Quando foi que Santana saiu de sua zona de conforto e decidiu optar por aquela relação perigosa e assustadora? Santana não sabia quando começara, só sabia que tudo terminara na noite anterior. Ou melhor, sabia que tudo acabara de começar. E que começo difícil para ambas.

            Dava para enumerar todos os contras que as duas tinham. A sociedade ia julgá-las, a ética profissional de Santana também, Michael ia persegui-las... Santana e Julianne estavam prontas para aquilo? A latina não sabia a resposta de todas aquelas perguntas, mas no meio de tantas negações e tantos contras... A única certeza da qual tinha era que aquela ruiva adormecida derrubara suas defesas tão rapidamente quanto certa loirinha fizera no ensino médio.

            Julianne e Brittany... Tão diferentes, mas tão semelhantes. Tão apaixonantes e principalmente, tão lindas que fizeram Santana Lopez perder a cabeça em tão pouco tempo. A latina sorriu tristemente, o coração batendo dolorido. Ela não sabia se era por Brittany ou por Julianne. Ou se era pelas duas, afinal de contas.

            Santana beijara os cabelos loiros e sorrira quando ouvira Brittany suspirar cansada em seu pescoço. A nudez de ambas não incomodava mais, muito menos envergonhava. Por incrível que pareça, era uma estranha forma de se sentir em casa. Brittany apertou a cintura morena e murmurou:

            - Nós duas somos para sempre, não somos?

            - Claro que sim, Brit-Brit. Nós prometemos, lembra? – Santana disse resoluta, mas um pouco assustada. O tom de voz de Brittany a assustara, ainda mais diante da iminente separação das duas por causa da reprovação da loirinha. A latina ergueu um pouco o tronco, apenas o necessário para poder olhar aqueles olhos azuis limpos que tanto lhe seguravam. – Nós duas somos para sempre, sempre seremos assim. Você é a minha única, esqueceu? Eu não baixei todas as minhas defesas e enfrentei a escola por nada. Eu sempre serei sua, Brit-Brit.

            - Eu sei, mas estou com medo. – Brittany confessou com algumas lágrimas teimosas chegando aos seus olhos. A loira se aconchegou ainda mais ao corpo nu de Santana, a respiração pesada dela ao tocar a pele morena, provocou arrepios. Santana mordeu os lábios, sentindo as próprias lágrimas teimarem em querer cair. – Vamos ficar longe, isso nunca aconteceu.

            - Vamos superar, somos um time, lembra? – Santana murmurou com a voz trêmula, mas intensa o bastante para ceder coragem tanto para ela quanto para a própria Brittany. A loirinha acenou afirmativamente algumas vezes e abriu um daqueles sorrisos sonhadores que fizeram com que Santana se apaixonasse por ela. Santana fez o mesmo e deixou o sorriso brotar em seus lábios, aliviada. – Pois somos um time e melhor, um time campeão.

            - Eu te amo, S. – Brittany dissera com um sorriso tão radiante que Santana nada pode fazer além de apertar o corpo da namorada junto ao seu e afagar os cabelos loiros enquanto observava o sol nascer por sua janela... Tentando se esquecer que, dali há alguns minutos, estaria do outro lado do país. Longe de Brittany...

            “Eu te amo”.

            Santana não sabia quando tinha sido a última vez que dissera aquilo. Lembra da primeira vez que dissera aquilo para Brittany no corredor e que fora esnobada, mas a última vez? Era uma lembrança da qual ela não fazia questão de lembrar. Talvez fora em após alguns pesadelos depois de saber que Brittany a traíra.

            Mas não havia como definir aquela confusão em seu peito no momento. A proteção suicida que estava envolvendo Julianne não era normal... Era irracional como todos os amores que Santana tivera em vida. Seu coração acelerado e suas mãos trêmulas não negavam, muito menos seu olhar devoto.

            A latina ergueu a mão lentamente e, com delicadeza, deixou que seus dedos morenos e finos contornassem a face de Julianne. A ruiva remexeu-se, mas não acordou. Julianne, inconscientemente, moveu-se para mais perto de Santana e a latina deixou que seus braços, cansados de lutar, envolvessem aquele corpo menor ao seu. Afagou os cabelos cor de fogo e respirou fundo. Seus pensamentos ao longe, recordando-se da última vez que tivera uma mulher em seus braços.

            Brittany se fora, mas deixara todos os fantasmas do desprezo com ela. A dor da rejeição, os choros da solidão, os acessos de raiva com a saudade... Santana demorara tanto para reconstruir-se que, agora, tinha medo de ser destruída por aquele sentimento estranho e familiar que estava habitando seu peito. Estava cansada de lutar, mas amedrontada demais para tentar... Não havia conciliação.

            Seu coração era um campo de batalha onde só havia um perdedor: ela mesma.

            - Santana? – A voz rouca e sonolenta de Julianne soou próxima ao seu ouvido, o ar quente expelido por ela tocou a pele morena e Santana se remexeu, dando o espaço para que aqueles olhos cinzentos encontrassem os seus. Julianne sorriu, Santana escutou suas defesas ruírem. – Achei que você tinha desaparecido.

            - Jamais faria isso. – Santana murmurou com um sorriso cansado, colocou uma mecha ruiva atrás da orelha e ajeitou a gola amassada da camisa de Julianne. Uma expressão aturdida tomou as feições bem desenhadas de Julianne, Santana sentiu que ela duvidava do que dissera e obrigou-se a prometer, novamente. – É verdade, eu não sou ele, eu não vou te deixar.

            - Não é isso, eu não duvido de você... Só não estou acostumada com alguém me dizendo isso de forma tão sincera. – Julianne corou quando dissera as palavras e Santana sorriu mais uma vez, aproximou-se mais uma vez e beijou a testa da ruiva, sentiu quando ela tremeu em seus braços. Afastou-se dela apenas para olhar, mais uma vez, aqueles olhos cinzentos que a hipnotizavam e faziam com que ela perdesse o controle, Julianne piscou algumas vezes até que abaixou os olhos. – Posso usar seu banheiro?

            - Claro que sim, sinta-se em casa. Vou preparar o café para nós. – A voz de Santana saiu estranha e ela logo tratou de se levantar. Sentiu o olhar de Julianne em suas pernas quase expostas pelo comprimento do short. A latina chutou as cobertas e sem olhar para trás, saiu quase correndo do quarto, escutando a porta bater atrás de si.

            Acabara de acordar ao lado da mulher de seu confrontante no tribunal e pior, acabara de acordar com a mulher do homem mais influente (e psicótico) de Lima. Não dormiram juntas ao pé da letra, apenas dormiram... E acordaram. Julianne passou a noite fora de casa e não podia voltar para o teto de Michael agora, o que seria dela? Santana prometera protegê-la...

            A latina percorreu o corredor, passando por dois quartos e tomada por uma recém adquirida enxaqueca. Fechou os olhos e encostou-se a parede, ao lado de seu escritório de casa. Seus olhos movimentaram-se imediatamente para o quarto adiante, os contornos confusos de um teclado puderam ser vistos pelo par de olhos escuros. A mente de Santana deu um solavanco, provocando o erguer de seu corpo. Ela caminhou até o teclado antigo e passou os dedos pelas teclas...

            Tudo nele lhe lembrava Brittany. Desde o adesivo de unicórnio colado na extremidade esquerda, até as músicas que tocara ali. Poucos sabiam do seu talento musical no McKinley e no Glee Club, aliás, apenas a Unholy Trinity sabia. E Brittany tinha sido uma das suas melhores espectadoras, sempre aplaudindo e sempre rindo de suas palhaçadas ao teclado.

            Por que as lembranças da loira estavam invadindo-a daquela forma?

            Podia ser morta a qualquer momento, estava se envolvendo com sua cliente, a mulher de um maluco espancador... Por que pensara em Brittany? Aquele sentimento em seu peito parecia tão forte quando aquele que guardara no mesmo lugar, trancafiado e calado pelo “não” da loira. O que era, então, aquele aperto? Aquele medo? Não era culpa por, finalmente, ter que abrir mão de Brittany?

            Beijos, abraços, sorrisos, dedos mínimos entrelaçados... Lembranças que não calavam e passavam vivas em sua mente. Santana desabou sobre o banco a frente do teclado, suas mãos foram, impulsivamente, para as teclas. Surpreendeu-se ao encontrar o teclado ligado, as primeiras notas chegaram, mas a voz, não.

            Estava calada, enrolada nas cordas vocais mudas pela saudade. Santana nunca mais cantara desde que Brittany a deixara. Deus, aquilo soou tão Rachel Berry, mas ela precisava de sua musa (seja lá o que Brittany era para ela) para cantar. E seu coração estava indeciso sobre para quem cantar.

            Santana bufou, as mãos tremiam de raiva. As notas tornaram a soar e depois de várias respirações e várias deixas perdidas, sua voz saiu, límpida e na rouquidão tradicional e única.

For you I was a flame
Love is a losing game
Five story fire as you came
Love is a losing game

            Santana não se surpreendeu com sua voz arranhada, ou com os erros de afinação... Nunca fora uma cantora completa, nunca tivera o empenho moral e técnico que Rachel Berry tinha. Mas havia sentimento na sua música e era aquele sentimento, a dor, que transbordava em todas as notas que entoava naquele momento.

Why do I wish I never played
Oh, what a mess we made
And now the final frame
Love is a losing game

            As teclas se movimentavam no teclado ao mesmo tempo em que as lembranças chegavam à mente de Santana, fugindo das tentativas inúteis da mente bem treinada da latina que as sufocava por intensos e longos anos. Anos convivendo com a frieza da faculdade e do trabalho, anos abdicando os amores achando que nunca encontraria alguém como Brittany.

Played out by the band
Love is a losing hand
More than I could stand
Love is a losing hand

            Música, voz... Tudo lhe lembrava Brittany no momento. Tudo lhe indicava que ela estava ali, mesmo distante por todo esse tempo. Era por essa razão que Santana nunca mais cantara, não por falta de tempo. Mas porque cantar lhe lembrava a melhor época de sua vida, cantar lhe lembrava Brittany. E agora, tudo parecia apagando-se aos poucos, com uma ruiva que chegara a sua vida da mesma forma que a loira: de surpresa.

Self professed... profound
Till the chips were down
...know you're a gambling man
Love is a losing hand

            Julianne estacou no corredor quando escutou a voz rouca sair de dentro do quarto ao lado do qual acordara. Aquela voz estava soando tão destruída, tão sincera e, ao mesmo tempo, tão sôfrega que ela não deixou de sentir um aperto em seu peito. Caminhou lentamente, apenas o necessário para encontrar Santana de olhos fechados, em frente ao teclado. Dedilhando as teclas e cantando as palavras como se toda a verdade que ficava por trás de sua força, fosse revelada. Julianne viu ali, na surpresa da música, que Santana era talhada em dores que nunca revelaria em uma conversa normal.

Though I'm rather blind
Love is a fate resigned
Memories mar my mind
Love is a fate resigned

            Julianne encostou-se ao batente da porta, evitando fazer um barulho que interrompesse aquele momento mágico e único que estava dissolvendo-se a sua frente. Santana estava sendo sincera em cada palavra que cantara e por alguns segundos, Julianne sentiu seu corpo tremer pela raiva. Ela queria saber quem ferira a advogada daquela forma, ela queria saber quem ousara quebrar seu coração... Julianne queria saber quem enfraquecera a mulher mais forte que conhecera.

Over futile odds
And laughed at by the gods
And now the final frame
Love is a losing game...

            Santana finalizou a música, mas os olhos mantiveram-se fechados. Os dedos ainda estavam sobre as teclas quando ela abriu os olhos escuros e respirou fundo, limpando os filetes de lágrimas que manchavam o rosto moreno. Santana respirou diversas vezes, mas o ar jamais parecia chegar.

            Assim como Brittany jamais voltaria.

            - Ela deve ter te machucado muito... Digo, a mulher da música. – A voz de Julianne a assustou, Santana perdera a noção de que ela estava em sua casa quando se envolveu com seus fantasmas do passado. A advogada ergueu-se em pé, totalmente envergonhada, limpando os rastros de choro com gestos afobados. Julianne se aproximou dela e segurou-lhe os pulsos, ficou na ponta dos pés, dando um beijo rápido nos lábios latinos. – Não precisa se esconder, não há motivo para vergonha.

            Santana não conseguiu responder, os olhos acinzentados envolveram os seus e ali ela viu racionalidade e não mais sonho, neles ela enxergou a certeza e não mais a dúvida adorável. Mesmo odiando a comparação, Santana percebeu quão diferente Julianne era de Brittany. Mesmo ali, diante de um problemão, a ruiva estava lhe oferecendo uma força desconhecida e não fugira.

            Ela não era Brittany, ela era outra. Outra que parecia digna daquele sentimento destruidor em seu peito.

            Santana enlaçou a cintura de Julianne e sentiu quando a ruiva se aproximou para envolver seu pescoço. As mãos pálidas desenharam os traços de seu rosto e a latina sorriu quando sentiu um beijo ser aplicado em sua bochecha. Santana murmurou irônica:

            - Não devia se envolver comigo, eu sou perigosa.

            A risada de Julianne fez Santana abrir os olhos para se deparar com um sorriso radiante, os olhos acinzentados envolvidos numa energia quente que ela jamais vira no rosto daquela mulher. Julianne Urie, quando ria, parecia outra mulher... Uma mulher muito mais linda. Santana reconheceu que faria de tudo para ter aquela mulher linda todos os dias. Julianne escondeu o rosto no pescoço de Santana e murmurou:

            - Você é muito boba, Dra. Lopez.

            - Sempre ao seu dispor, Srta. Urie. – Santana murmurou de bom humor, antes de se aproximar e beijar os lábios grossos mais uma vez, Julianne correspondeu imediatamente e a mesma sensação de unidade percorreu as duas.

            Santana esqueceu-se de Brittany naquele momento, Julianne se esqueceu de Michael também. As duas esqueceram seus passados e se preocuparam apenas com o futuro, futuro esse que estava em seus braços naqueles curtos minutos que duravam um beijo.

### 

            Quinn acordou ao som de uma risada gostosa, sentiu um ar quente ser expelido em seu pescoço, depois, uma mordida em algum ponto de sua mandíbula. A professora sorriu ainda de olhos fechados e sentiu um toque delicado em sua cintura, seguido de um beliscão em seu quadril. Quinn, a muito custo, permaneceu de olhos fechados. Escutou um muxoxo e a voz irritada de Rachel Berry exclamar:

            - Eu sei que você já está acordada, Fabray.

            - Como não poderia? Meus braços estão dormentes e você está me mordendo, beliscando e suspirando em meu pescoço. – Quinn murmurou entre dentes e abriu os olhos, lentamente. Os olhos verdes demoraram a se acostumar com a claridade vinda da imensa janela da sala, as cortinas estavam parcialmente abertas. A loira olhou para baixo e observou uma morena descabelada e de olhos semicerrados se levantar e inquirir:

            - Isso, por acaso, é uma indireta ao meu peso, Fabray?!

            - Céus, não, Rach! – Quinn defendeu-se confusa e alarmada, Rachel sentou-se sobre os tornozelos olhando por cima dos ombros para a loira. Quinn não precisou de muito para perceber que ela tinha um bico nos lábios. – Rach, é sério... Eu não estava me referindo ao seu peso. Você é linda, nunca duvide disso.

            Rachel inclinou a cabeça e um sorriso tímido tomou seu rosto, no mesmo instante que suas bochechas coravam e ela suspirava. Quinn achou-a ainda mais bonita com aquele cabelo bagunçado, aquela expressão tão feliz que chegava a parecer uma criança que ganhara um presente novo... Quinn apenas contemplou e afagou-lhe a bochecha. Rachel inclinou em direção ao toque e murmurou:

            - Sabe, eu esperei isso por tanto tempo... Achei que jamais Quinn Fabray fosse olhar para mim cogitando que eu fosse uma opção.

            - Você sempre foi uma opção. – Quinn disse séria e tocando a linha da mandíbula de Rachel com a ponta dos dedos, Rachel gemeu baixinho diante do toque tão delicado. Quinn aproximou-se dela e envolveu-a em seus braços, afagou-lhe os cabelos e soprou-lhe o ouvido, provocando arrepios na pequena. – Sempre foi a primeira opção. Eu que nunca percebi.

            - Odeio o fato de você ser tão boa com palavras... – Rachel falou baixinho, com a boca encostada a orelha de Quinn. A loira sorriu involuntariamente quando sentiu o hálito quente em sua pele. – Ainda bem que eu consigo compensar a minha falta de jeito com elas sendo boa em outro aspecto.

            O olhar de Rachel era tudo, menos inocente, ao se separar de Quinn. Os olhos possuíam uma energia tão quente que fazia os olhos castanhos parecem chocolate derretido. As pupilas estavam dilatadas e a boca carnuda entreaberta. Quinn ficou hipnotizada, não sabia para onde olhar sem notar o desejo escrito em cada pedaço da expressão de Rachel.

            A loira engoliu em seco e entrelaçou os dedos de sua mão aos da mão de Rachel. A morena respirou pesadamente, Quinn sentiu um aperto em seu ventre quando o ar quente foi expelido próximo a ela. Imediatamente, o ambiente se tornou pesado demais, denso demais... Incontrolável. Os olhares trocados estavam fortes, calorosos, violentos... Carnais.

            Quinn engoliu em seco e fechou os olhos brevemente para, em seguida, abri-los e atingir Rachel com milhares de raios, em um tom esmeralda tão intenso, que nunca a pequena vira habitar aquele olhar antes. Rachel ergueu a mão e a ponta de seus dedos provocou uma sucessão quente na pele de Quinn. A loira afastou-se brevemente, Rachel torceu o lábio, confusa e triste. Quinn beijou-lhe as pontas dos dedos e murmurou:

            - Desculpa, mas eu vou querer descobrir isso mais tarde, ainda não estou pronta.

            - Quinn, eu... – Rachel começou a se justificar, mas foi impedida pelos lábios de Quinn sobre os seus. Sentiu o sorriso da loira de encontro a sua boca e acabou sorrindo também. Quinn colocou uma mecha de cabelo castanho atrás da orelha da diva e murmurou:

            - Agora, eu vou tomar um banho gelado. Tenho que ir ver Charlie agora.

            - Por quê? – A pergunta de Rachel era tanto sobre o motivo do abrupto banho frio como para a visita de Quinn, a loira lhe sorriu torto e mordiscou o lábio inferior. Rachel soltou um pequeno muxoxo que não desapareceu com o sorriso brincalhão de Quinn, a professora apertou-lhe a cintura e disse sarcástica:

            - Mimada.

            - Você ainda não me respondeu, Fabray. – Rachel contra-argumentou indignada, tentando não ceder ao toque gentil da mão de Quinn em seu rosto. A professora beijou a sua bochecha e rumava para sua boca, mas Rachel desviou dela. Encontrou os olhos esverdeados confusos por sua atitude. – E não adianta me seduzir para fugir da resposta.

            - Precisamos de um pouco de apoio, para variar. O velho Charlie vai adorar nos ver. – Quinn respondeu sorridente, depois, levantou-se e caminhou preguiçosamente da sala para o quarto. Rachel acompanhou o trabalho do corpo de Quinn com afinco.

            As pernas bem definidas não eram escondidas pela folgada calça moletom, os cabelos curtos bagunçados, a regata colada que deixava evidente a boa forma física ainda mantida pela loira... Os músculos trabalhando, cada um em seu lugar, cada pedaço de Quinn era perfeito. Rachel mordeu o lábio, tentando sufocar o incômodo em seu interior, mas sem sucesso.

            Quinn sentiu-se observada e deu um sorriso maquiavélico, assim que virou o corredor, gritou por sobre os ombros:

            - Ainda bem que olhar não tira pedaço, não é Berry?

            A última coisa que Quinn escutou antes de entrar no banho foi um muxoxo alto, seguido do baque de um corpo se jogando contra o colchão, seguido de uma profusão absurda de xingamentos frustrados.

            Cerca de duas horas depois, devidamente limpas, calmas e arrumadas, as duas mulheres deixaram o apartamento de Quinn ao som de risadas e suspiros apaixonados. Ambas estavam tão envolvidas em seu paraíso particular que nem notaram o silêncio fúnebre no apartamento de Sam Evans.

            O caminho até a “Letters, Love and Dreams” foi feito a pé. As duas não falaram nada, apenas se olhavam com expressões absurdamente apaixonadas. Ninguém as olhou duas vezes, muito menos, estranhou as mãos que estavam entrelaçadas. Rachel apertou a mão de Quinn e suspirou satisfeita quando olhou para os céus e sentiu uma brisa cálida tocar sua face.

            Há quanto tempo seu coração não batia tão forte? Há quanto tempo o sorriso não brincava em seus lábios de forma tão descontraída? Fazia muito tempo desde que Rachel se sentira segura ao ter um corpo quente ao lado do seu... Aliás, fazia muito tempo que Rachel não sorria.

            Meio corada, meio envergonhada, Rachel olhou de esguelha para Quinn. Viu um sorriso torto brincar nos lábios bem desenhados da loira. Em seguida, antes de entrarem na pequena e familiar livraria, Quinn se virou para ela e apertou sua cintura. Rachel fechou os olhos e ouviu a sineta tocar e seu pequeno corpo ser empurrado, delicadamente, para dentro. Quinn entrou logo atrás e fechou a porta.

            As duas mal aterrissaram na recepção da loja quando escutaram sons baixos vindos de trás de alguma das estantes. Segundos depois, passos rápidos e, por fim, a voz enérgica e abafada de Charlie dizer:

            - Rachel e Quinn! Achei que nunca mais fossem aparecer!

            - Como sabia que éramos nós, Charlie? – Quinn perguntou confusa e arqueando a sobrancelha antes de soltar a mão de Rachel e sentar-se sobre o balcão, com as pernas cruzadas. Rachel sorriu para o senhor, que veio dos fundos do estabelecimento, Charlie lhe beijou o rosto e depois, deu um tapinha nas pernas de Quinn para que ela descesse do balcão. A loira assim o fez, com uma careta emburrada.

            Charlie puxou as duas até a sessão de leitura e colocou-as sentadas. Rachel se instalou no braço da poltrona que Quinn usava, os olhos claros do homem estavam brilhando com a alegria inocente de uma criança. Ele olhou de Rachel para Quinn e suspirou, depois abriu um sorriso gentil e respondeu brincalhão:

            - Perfume de morango e cítrico... Uma mistura tão diferente e tão surpreendente cheirosa que só podia vir de vocês, meninas.

            - Tudo bem, agora eu fiquei envergonhada. – Rachel murmurou baixinho, sentindo as bochechas corarem e ouvindo a risada gostosa de Quinn ao fundo. Ela olhou de esguelha para a loira que apenas se ergueu na poltrona e aplicou-lhe um beijo na bochecha, o lugar onde os lábios de Quinn tocaram ficara febril. Rachel suspirou e Quinn virou-se para Charlie dizendo irônica:

            - Charlie, meus parabéns. Conseguiu deixar Rachel Berry sem fala.

            - Como você está engraçadinha hoje, Fabray. – Rachel soou irritadiça quando proferiu essas palavras, Quinn só arqueou a sobrancelha daquele jeito arrogante e superior, Charlie riu delas enquanto balançava a cabeça negativamente. – Quero ver quão engraçadinha vai ser quando eu começar a fazer greve de beijos a cada piadinha sobre minha personalidade.

            - Você não ousaria fazer isso. – A voz de Quinn tentou parecer firme, mas estava insegura. Rachel deu de ombros e foi se sentar no braço da poltrona de Charlie, o velho senhor pegou o sorriso vitorioso da morena. Quinn bufou. – Personalidade irritante, não é Berry?

            - Quinn, isso não são modos. Sempre trate bem uma dama. – Charlie bronqueou brincalhão enquanto pegava a mão de Rachel, a morena deu uma pequena gargalhada que logo foi calada pela expressão de traição no rosto de Quinn. A loira franziu a testa e sibilou:

            - Você está se deixando seduzir pelo charme dela, Charlie.

            - Agora eu sou charmosa, Fabray? – Rachel perguntou naquele tom convencido que, se antes irritava Quinn, agora a fizera sorrir. A morena se levantou da poltrona de Charlie e caminhou até Quinn, sentou-se no colo dela, com as pernas de lado e aplicou-lhe um beijo demorado nos lábios finos. Quinn sorriu entre o beijo e fez carinho entre os cabelos da morena. – Só estava brincando com você, boba.

            - Claro que eu sabia, Berry. Ninguém resiste a mim, nem mesmo você. – Quinn respondeu arrogante, fazendo Rachel revirar os olhos e abrir aquele sorriso de 1000 watts antes de colidir os lábios carnudos novamente aos lábios de Quinn. As duas imergiram em seu mundo novamente, até que ouviram um pigarro atrás de si.

            Charlie olhava para as duas, os olhos claros brilhando e um sorriso de lado na face marcada pelo tempo. Ele riu ainda mais quando viu Rachel corar e esconder-se na curva do pescoço de Quinn e a loira rindo abertamente e beijando-lhe o topo da cabeça. O olhar de Charlie percorreu o sorriso verdadeiro de Quinn, chegando às mãos das duas que se entrelaçaram inconscientemente e depois, ao corpo de Rachel que se encolhia seguro e relaxado nos braços da loira.

            Quando fora a última vez que ele vira tremendo sentimento transbordando entre duas pessoas? Seu coração apertou, ele se lembrava muito bem da época em que aquilo acontecera. O senhor respirou fundo e fechou os olhos, escondendo as lágrimas e as lembranças, depois, olhou para as duas e recomposto perguntou:

            - Como vocês estão?

            - Acho que estamos bem. – Quinn respondera com um ar risonho, ela levou um beliscão no braço de Rachel. Sorriu para a morena e essa a beijou na bochecha e apertou sua mão, extremamente apaixonada. – Aliás, tenho certeza que estamos bem.

            - Eu sabia que ia ser assim, vocês duas se encaixam bem demais para serem quebradas daquela forma... – Charlie afirmou com o ar gentil e sonhador, as duas garotas se entreolharam surpresas com a atitude do velho senhor. Ele apenas acenou para elas quando ambos os olhares se voltaram contra ele. Os três se observaram e três sorrisos felizes foram abertos.

            Rachel olhou de Quinn para Charlie. Com toda a certeza, a vida trouxera duas pessoas maravilhosas para a sua vida. Ela ainda não tinha muita certeza se merecia toda aquela overdose de felicidade e de alegria, mas ela faria ao máximo para se tornar digna de tudo aquilo. Olhou novamente para Quinn, mas ela estava tão perdida rindo de alguma piada que Charlie contara que sequer reparou.

            Quinn era linda, a menina mais bonita que Rachel conhecera e hoje, também era a pessoa mais forte e corajosa que tivera o privilégio de conhecer. O que acontecera na noite anterior com seus pais não era nada, claro que machucava não ter Hiram ao lado delas... Mas Quinn estava ali, como sempre prometera estar, como nunca deveria ter saído ou sido expulsa. Quinn era sua e se tivesse que enfrentar provações por ela, enfrentaria.

            A atração do trio foi atraída pelo som da sineta, Rachel permaneceu de ouvidos apurados, mas ainda olhava para Quinn com adoração. E seu olhar pegou a expressão dura e fria que povoou o rosto de Quinn, também sentiu o aperto em torno de si enrijecer e se tornar protetor. Rachel olhou para a entrada da loja e se deparou com Russell e Judy Fabray. Ambos lívidos de raiva, com os lábios crispados e os olhos semicerrados. A morena engoliu em seco e se levantou, ignorando as puxadas de Quinn sem seu pulso.

            - O que significa isso daqui, Lucy?! – Russell Fabray tinha uma voz autoritária e forte, Rachel se encolheu de medo inconscientemente enquanto Quinn se colocava em pé a sua frente, protetora. A loira endireitou os ombros e firme, respondeu:

            - Achei que tivesse rompido os laços comigo, Russell.

            - Impossível esquecer que você existe quando continua a fazer besteira, Lucy. – Judy dissera tão friamente que se Rachel não a conhecesse, diria que não era a mãe dela. A morena percebeu que o nome incomodava Quinn, esta respirava pesado quando o escutava. A loira não esboçou reação nenhuma, a não ser revirar os olhos e cruzar os braços. Charlie, que estava calado, resolveu se manifestar e sério, avisou:

            - Se vocês quiserem conversar com a sua filha, eu permitirei. Mas não vou tolerar que venham atacá-la mais uma vez dentro da minha loja.

            - Calado, velho impertinente! – Russell Fabray esbravejou rudemente e marchando decidido até Charlie, o velho senhor não se encolheu diante do homem, apenas deu um sorriso de lado. Quinn deu um passo a frente, mas Rachel segurou-lhe o braço e pediu calma. A professora respirou fundo, perguntou irônica:

            - Quem foi que falou dessa vez? Shelby?

            - A cidade está sabendo. – Russel murmurou entre dentes, as mãos estavam fechadas em formato de punho e uma veia saltava perigosamente de sua testa. Quinn soltou um muxoxo despreocupado e arqueou a sobrancelha para ele. Rachel permanecia segurando seu braço, tentando acalmá-la, sem sucesso. – Eu não vou permitir que você saia com essa aí por Lima!

            - Desde quando você pode permitir alguma coisa, Russell? – Quinn estava fria, controlada e tremendamente aplicada em acabar com cada argumento que o pai pudesse jogar em sua face. Judy teve que segurar o homem, ele procurou avançar em Quinn. Charlie também se mexeu protetoramente ao lado da loira. – Pelo que eu saiba, você me deserdou no primeiro ano e eu saí de casa assim que terminei a minha faculdade. Eu não devo nada a vocês e mesmo se devesse, eu estaria com Rachel da mesma forma.

            O tapa veio da onde Quinn menos esperava. Judy parou a mão no ar enquanto Quinn segurava a face com a expressão incrédula, a máscara de frieza rompendo-se e revelando lágrimas pesadas. Rachel tomou a frente e puxou o corpo de Quinn para trás do seu, Charlie amparou a loira enquanto Rachel esbravejava:

            - Quem vocês pensam que são? Ela não deve mais nada a vocês!

            - E quem você pensa que é, Berry? – Russel estava ameaçador, falando baixo e com um sorriso sarcástico nos lábios. Ele estava lembrando (e muito) uma Quinn cheerio da época do colegial. – Andando por aí de mãos dadas, destruindo o pouco de dignidade que ela ainda conseguiu recuperar depois de você a ter abandonado... Não acha que está forçando a barra?

            - Rachel não está forçando a barra, Fabray. – A voz de Charlie se fez ouvir na cena, fria como gelo, cortante como uma faca. Rachel olhou o senhor caminhar ao seu lado, guardião. A morena foi até Quinn que estava presa em um torpor estranho de raiva e dor, afagou-lhe a bochecha e puxou o rosto da loira pelo queixo, Quinn apertou sua cintura em um meio abraço. – Rachel está fazendo Quinn feliz, como ela nunca esteve e como ela nunca seria capaz de ser morando com vocês. Não quero vocês dois aqui e estou disposto a expulsá-los se preciso, vocês estão incomodando minhas duas meninas.

            Russell torceu a boca em desagrado, ele deu às costas ao trio, sem argumentos. Judy permaneceu parada, observando Rachel cuidar de Quinn. Os olhos azuis dela agora observavam a interação das garotas com lágrimas nos olhos, mas a expressão ainda fechada, lutando contra sua porção maternal, talvez. Charlie pigarreou e perguntou sério:

            - Você não tem nada para fazer não, Judy?

            A senhora olhou enojada para ele, mas depois saiu da livraria tão rápido quanto entrara. Mal a porta bateu, Quinn desabou sobre a poltrona e Rachel ajoelhou entre suas pernas enquanto Charlie buscava um copo de água. A morena envolveu o rosto de Quinn em suas mãos e juntou as testas, suspirou e comunicou cansada:

            - Eu estou aqui, não se preocupe.

            - Rachel, eu só... – Quinn ergueu os olhos verdes para Rachel e a dor impressa ali perfurou o coração de Rachel de uma parte a outra. A morena deu-lhe um selinho, encorajando-a a falar. Quinn engoliu em seco. – Só me conserte, por favor. Me tire daqui.

            - Quantas vezes forem necessárias, amor. – Rachel murmurou baixinho, puxando o rosto pálido para seu peito e afagando os cabelos loiros. Tentando, de alguma forma, apossar-se da dor de Quinn e transformá-la em sua.

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            Sam abriu os olhos com dificuldade. A cabeça já estava doendo, como tem se tornado freqüente nos últimos dias desde que Mercedes voltara a sua vida. Seus olhos castanhos demoraram a entrar em foco, mas quando entraram, não reconheceram o local onde se encontrava.

            O rapaz se levantou, a náusea tomou-lhe as sensações e ele se segurou na beirada da cama para não cair. Apertou o lençol branco entre os dedos no mesmo instante que pressionava a testa com a palma da mão. Seu corpo tremeu diante da brisa fria do ar-condicionado. Estava sem camisa, mas não estava em casa.

            Com dificuldade, Sam abriu os olhos e respirou fundo. Calçou os sapatos que estavam jogados displicentemente ao lado da cama. Caminhou pelo apartamento, não reconhecendo nada naquela arquitetura requintada e tradicional. O pior era que a noite passada não estava em sua memória. O rapaz sacou o celular de dentro do bolso traseiro da calça, percorreu suas mensagens e encontrou uma de Kurt datando de 01:47 da manhã. Algumas ligações do rapaz, seguidas, após essa mensagem.

            Sam fez uma careta e coçou a nuca. Suspirou, o hálito estava péssimo e puramente alcoólico. Ele sentou-se na cama novamente e observou o lado contrário ao que acordara, tentando imaginar quem passara a noite com ele. Olhou para o celular novamente e leu a mensagem, vendo as letras flutuarem diante dos seus olhos:

Onde você está, Sam? Como você sai sozinho, nesse estado, daqui de casa? Seja quando for que lerá essa mensagem, por favor, me responda! – Kurt

            Sam bufou contrariado, não com a preocupação de Kurt, mas sim, com a própria burrice e dependência. Desde que Mercedes voltara, ele era o melhor exemplo de dependência e imaturidade. Bebendo, dando trabalho e chorando pelos cantos. Sam queria mudar e lutava todos os dias para isso, mas era complicado quando, o grande amor da sua vida, insistia em te seduzir e te arrastar para baixo sempre que te via.

            - Sam? Você já acordou?

            A voz enérgica que veio da porta, ao mesmo tempo em que o barulho da mesma se abrindo, fez Sam se erguer em pé com uma velocidade impressionante. O rapaz observou Mercedes Jones entrar no quarto, com um sorriso enorme no rosto, mas que logo desapareceu ao ver a expressão de fúria do rapaz. A diva negra se encolheu enquanto Sam marchava em sua direção e gritava:

            - O QUE ACONTECEU?

            - Sam, não aconteceu nada, ok? – Mercedes murmurou trêmula, os olhos mantendo-se firme mesmo quando estavam amedrontados. Sam soltou um muxoxo sarcástico e olhou totalmente irônico para ela, a diva pode ver as lágrimas nos olhos dele e aquilo lhe machucou. – Você passou mal e eu te trouxe para cá.

            - Por que eu estou sem camisa então? – Sam questionou frio, mas acanhado. Mercedes sorriu de leve quando ele apanhou a camisa social e jogou sobre o corpo, abotoando com dificuldade. Mercedes se aproximou dele e após uma briga de mãos, passou a exercer a função. A diva deu um sorriso para os botões e disse mais calma:

            - Se você não percebeu, sua camisa está limpa. Você vomitou nela na noite passada.

            - Deus... – Sam murmurou envergonhado e virando-se de costas para Mercedes, olhando a janela do quarto de hotel com falso interesse. Mercedes se sentou na cadeira ao lado da porta, observando-o com uma expressão mais leve e tranqüila.

            Mercedes Jones nunca fora muito boa em demonstrar sentimentos, talvez fosse esse um dos motivos que não a fizeram ser uma verdadeira diva. E aquele rapaz a sua frente era uma das pessoas que ela mais amara na vida. Mas seu medo de justo ele, antigo quaterback do McKinley High e ex-namorado de Quinn Fabray, estar a fim dela era injusto com a vida, com ela e com o que ela programara para sua vida. Sam Evans não se encaixava em seu universo, por isso ela o deixara para trás...

            - Nós não fizemos nada, se você quer saber. – Mercedes assegurou com a expressão querendo ser fria, mas apenas soando preocupada com o estado físico de Sam. Ele tinha olheiras, a expressão amarga e os lábios crispados. Não lembrava o “seu” Sam. O rapaz virou-se para ela e com um sorriso de escárnio, sibilou maldoso:

            - Pelo que eu me lembre, você me tirou de sua vida, Mercedes. Não precisa cuidar de mim.

            - Não preciso, mas devo. Ainda mais diante de tudo que tem se passado dentro de mim. – Mercedes respondeu tão baixo que Sam precisou se inclinar em direção a voz dela para compreender o que ela dizia. A expressão do rapaz amoleceu por breves momentos, assim como seu coração de pedra resolveu bater um pouquinho. Mas não eram aquelas poucas palavras que mudariam tanto tempo entre eles. Foi isso que fez Sam se virar e dizer ácido:

            - Eu vou embora. Obrigado.

            - Só pense nisso, Sam... – Mercedes murmurou mais para o vento do que para Sam que estava ocupado demais arrumando a camisa dentro da calça e ajeitando o cabelo no espelho do corredor que levava a porta. Sam se virou para ela e pegou algumas lágrimas transbordando nos olhos negros, ele não se lembrara de ver Mercedes chorar. – Eu não teria feito isso senão gostasse de você.

            - O problema é esse, Mercedes. Você gosta de suas pessoas. – Sam respondeu frio e saiu do quarto, batendo a porta atrás de si.

            Mercedes olhou a madeira da porta por alguns segundos, antes de limpar as lágrimas que escorriam por seu rosto. Ela respirou fundo e apanhou o próprio celular, haviam dezenas de chamadas não-atendidas de Shane, mas ela não queria falar com seu marido. Ela queria Sam de volta, só ele.

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            - Aonde você pensa que vai? – Santana perguntou confusa, enquanto batia as panelas na cozinha, tentando fazer algum tipo de macarrão que não ficava extremamente papado ou com molho amargo. A figura ruiva que acabara de jogar a jaqueta por cima dos ombros parou a meio caminho da porta, com os olhos arregalados por ter sido pega sorrindo. Santana veio da cozinha e parou em frente a ruiva com um sorriso brincalhão, Julianne corou e baixou os olhos. – Você não vai a lugar nenhum até eu arrumar um local seguro para você ficar.

            Santana se aproximou e, escorregando as mãos delicadamente pelos ombros de Julianne, retirou a jaqueta e jogou-a em algum lugar entre o sofá e a mesa de centro da sala. Olhando nos olhos acinzentados, Santana segurou as mãos frias da ruiva e dali tirou a bolsa, com um gesto calmo e tranqüilo. Julianne mordeu o lábio inferior e suspirou, sentiu quando Santana encostou a testa a sua e quando as mãos dela apertaram sua cintura. Julianne suspirou e fechou os olhos, com dificuldade para respirar devido ao cheiro cítrico de Santana, murmurou insegura:

            - Acho que já tivemos a nossa cota de intimidade por hoje, não é?

            - Podemos até ter tido, mas eu não vou te deixar sair daqui do mesmo jeito. – Santana respondeu brincalhona, o ar quente expelido em sua risada tocou a pele de Julianne, fazendo a ruiva tremer e gemer involuntariamente. Julianne abriu os olhos e encaixou a mão fria entre a curva do pescoço da latina, Santana inclinou diante do toque e a ruiva, ainda distante, disse:

            - Você acabou de chorar por causa de sua ex, Dra. Lopez. Acho que deve ficar um pouco sozinha.

            - Não estava chorando por causa dela, apenas me lembrando. – Santana respondeu dura, na defensiva enquanto seus olhos acusavam Julianne. A ruiva se encolheu, pois Santana parecia ferida e ela sabia muito bem o que pessoas feridas podiam causar. Percebendo o mal-estar da outra, Santana afastou-se e balançou a cabeça. – É só que... Eu não sou a pessoa mais fácil do mundo e ela foi a única da qual eu realmente cheguei a gostar até você...

            Santana não completou a frase, pois no instante seguinte, algo pareceu ficar preso em sua garganta e ela se calou, corando intensamente. O que estava prestes a dizer? Santana jogou-se na poltrona da sala e abaixou a cabeça, escondendo-se entre suas mãos que tomavam seu rosto. Devido a isso, ela não pode ver as reações no rosto de Julianne.

            A ruiva sorriu involuntariamente e os olhos acinzentados adquiriram um brilho que era, até então, desconhecido. Julianne aproximou-se de Santana, esquecendo-se completamente de que ia embora, e ajoelhou-se em frente a ela. Segurou uma das mãos morenas e tentou puxá-la, mas Santana se escondeu ainda mais, fazendo birra. Julianne riu rouca e envolveu o rosto latino escondido entre suas mãos, puxando-a para seu peito enquanto murmurava ao ouvido:

            - Até eu o que, Lopez?

            - Eu me recuso a responder isso, você tinha dito que estava indo embora, Srta. Urie. – Santana respondeu irônica, mas Julianne sentiu os lábios dela moverem-se em um sorriso. Julianne abriu um sorriso aliviado e afagou os cabelos escuros, beijando-lhe o topo da cabeça. Observou Santana afastar-se dela, com um sorriso mais tranqüilo.

            A latina puxou Julianne para perto e a ruiva encaixou-se entre suas pernas, Julianne deixou as mãos pálidas correrem pelas pernas morenas e Santana beijou-lhe a bochecha, migrando para os lábios em seguida. Estava prestes a beijar os lábios quando batidas furiosas foram ouvidas por trás da madeira. Santana estacou a meio caminho dos lábios de Julianne, observou os olhos acinzentados arregalaram-se.

            Santana colocou-se em pé rapidamente e fez sinal para que Julianne fosse para os quartos, Julianne acenou a cabeça negativamente, visivelmente amedrontada. Mas o rosto agressivo de Santana fez Julianne apanhar suas coisas e correr para o quarto. Santana apanhou a Glock dentro da gaveta e girou a chave lentamente, com arma em punho.

            Mas antes que pudesse abrir, a porta foi arremessada em sua direção, atingindo seu rosto. Santana caiu no chão e sentiu um líquido quente escorrer de seu supercílio enquanto, com a visão embaçada, observava a figura de Michael Urie materializar-se em seu campo de visão. Santana fez uma careta de dor ao escutar a risada sarcástica do homem, seguida da pergunta:

            - Onde está minha mulher, Dra. Lopez?

            - O que te faz crer que a sua mulher está aqui, Urie? – Santana perguntou cega pela dor e tentando limpar o sangue que começava a escorrer de seu rosto. Mãos fortes a puxaram para cima e a jogaram no sofá, Santana percebeu que Michael trazia dois homens a tiracolo. – Se você não sabe onde ela está, não sou eu que saberei.

            Michael abriu um sorriso irônico e sentou-se em frente a Santana, em cima da mesinha da sala. O homem deslizou o dedo indicador pelas feições da latina, Santana recuou enojada e lançou um olhar furioso para ele. Michael percorreu o braço dela e desfez o aperto dela no cabo da arma, desmontou-a e colocou de lado da mesa enquanto ameaçava:

            - Isso só foi um aviso, Srta. Lopez. Eu sei que ela está aqui e sei muito bem o que está acontecendo entre vocês... Senão quer que ela apareça morta hoje ou amanhã, trate de trazê-la para mim.

            - Eu vou tirá-la de você, sabe disso, não sabe? – Santana retrucou com toda aquela pose bitch, Michael olhou para seus capangas e riu maldoso. Levantou-se e deu um chute na mesa, quebrando o vidro. Santana se encolheu enquanto observava os homens saírem de seu apartamento, rindo abertamente de seu estado físico.

            Santana não viu quando Julianne saiu correndo dos quartos e amparou-a, estancando seu sangue com um pedaço do lenço que usara anteriormente ao redor do pescoço.

            Muito menos viu quando Quinn Fabray entrou, de olhos vermelhos, em seu apartamento e, depois que a viu nos braços de Julianne, saiu em disparada porta a fora. Mas escutou quando Rachel Berry, confusa, cumprimentou com um sorriso hesitante:

            - Creio que não há muito tempo, desculpe... Sou Rachel Berry e essa que saiu correndo é minha garota, Quinn Fabray. Somos amigas de Santana. Não podemos ficar, você é...?

            - Sou Julianne Urie, sou ahm... Também sou a garota de Santana, por assim dizer. – Julianne se apresentou desconcertada enquanto continuava a limpar o sangue da latina. Santana conseguiu colocar-se em pé, mesmo com Julianne a empurrando para o chão. Entorpecida pela dor, disparou rude:

            - O que ainda faz aqui, Berry? Vai atrás da Fabray agora!

            - Mas você está sangrando! – Rachel retrucou preocupada, dando um passo em direção a outra dupla de mulheres. Santana ergueu a palma da mão, repreendendo-a no meio do caminho. Rachel olhou confusa de Julianne para Santana, a latina respirou e gemeu de dor antes de dizer:

            - Eu estou sangrando e Fabray está quebrada.

            Rachel pareceu entender e saiu correndo dali, atrás de Quinn. Santana cedeu e caiu na poltrona novamente, Julianne afagou o rosto latino e murmurou:

            - Eu não vou a lugar nenhum.

            Santana desmaiou com um sorriso nos lábios.

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Notas finais do capítulo

Acho que a Julianne subiu bastante no conceito de muita gente com esse capítulo!
Mas e quanto a Faberry? Quinntana e Samcedes? Acho que as coisas estão ficando cada vez mais confusas e repletas de drama HASUHASUHUHAUHASU
Bem, reviews viu?
Beijos e até a próxima (: