Signal Fire escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 1
Amargo


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas! Como estão?
Final de ano é beeem complicado... Ando sem tempo algum para escrever! Mas prometo que o epílogo de "You and I" sai logo!
Enquanto isso, aqui está mais uma Faberry para vocês... Espero que gostem!
Boa leitura.



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– Desculpe, Rachel... Mas temo que não teremos outra temporada, agradecemos desde já os seus esforços. Ligaremos quando surgir uma nova oportunidade.

As palavras do diretor do musical ainda ecoavam na cabeça de Rachel, assim como os passos dela ecoavam pelo pequeno saguão do aeroporto de Lima. A morena ajeitou o cachecol sobre o pescoço enquanto apertava a alça de sua bagagem de mão com força, canalizando toda a frustração que ela tinha naquele aperto.

Rachel respirou fundo e endireitou a postura, aprumando os ombros e empinando o nariz. Algumas pessoas que transitavam pelo aeroporto a reconheceram e a observaram com olhos curiosos, mas parecendo entender que a morena não estava bem, se calaram. Rachel bufou impaciente e apanhou o restante de sua bagagem. Por milésimos de segundos, ela odiou ser o centro das atenções.

Seus olhos focalizaram o adesivo dos Yankees que estava colado em sua mala. O olhar castanho-chocolate imediatamente se encheu de lágrimas, mas Rachel conseguiu sufocá-las com um imenso suspiro pesado. Ela deslizou até a saída do aeroporto contendo-as com muito esforço, ao sair, foi recepcionada pelo frio invernal de Lima.

Olhando para a cidade que se estendia diante de si, sentiu um misto de melancolia e tristeza preencher seu peito. Mais uma vez, a garota do interior voltava decepcionada para cidade após fracassar em New York. Rachel sempre dissera para si que mudaria aquela história e que se tornaria a diva da década da Broadway.

Ela só não esperava encontrar tantas garotas como ela na Julliard e como se não bastasse, ela não esperava encontrar tantas garotas mais talentosas que ela na Broadway. Rachel viu um papel após o outro sair do alcance de suas mãos e encontrar pessoas mais talentosas a desempenhá-los. No final das contas, o céu não pertencia a apenas uma estrela dourada.

Rachel Berry podia ser a capitã do Glee vitorioso do McKinley High que interrompeu os campeonatos consecutivos do Vocal Adrenaline, mas isso não bastava em New York. Em New York, Rachel era uma pequena garota, com uma grande voz e nada mais a oferecer. Todos os seus anos admirando Barbra Streisand e imaginando ser tão grande quanto ela, foram em vão.

Rachel fechou os olhos e os familiares cheiros invadiram seu olfato. Ela não podia negar, sentia falta da cidade. Mas não queria ter voltado, pelo menos, não daquela forma. As mãos correram pelo bolso do casaco em busca do celular, mas Rachel sentiu-se paralisar quando sentiu o aparelho entre os seus dedos.

Ela ainda não era capaz de admitir o fracasso para os pais. Ela não era capaz de admitir o fracasso nem para si mesma.

A morena respirou fundo e arrastou as malas pela calçada. A cabeça baixa impedia que os outros olhassem em seus olhos e principalmente, impedia que Rachel enfrentasse a cruel realidade.

Ela só era mais um entre os muitos fracassos de Lima.

A loira caminhava por entre as prateleiras abarrotadas de livros. Os longos dedos pálidos corriam pelas lombadas em busca de um título que a interessasse, talvez um clássico da literatura britânica ou algum best-seller lançado há algum tempo. Ela não fazia distinções, sua profissão não permitia esse tipo de luxo, sua profissão exigia que ela lesse cada vez mais.

Os lábios rosados abriram-se em um sorriso ao mesmo tempo em que os dedos paravam na lombada de um livro grosso. A jovem o puxou da prateleira e um pouquinho de poeira chegou as suas narinas, fazendo com que ela espirrasse e acabasse rindo em seguida. Aquelas sensações eram tão familiares que ela sempre se enchia de felicidade quando as revivia...

A procura pelo livro, o encontro e a recompensa de lê-lo.

A loira leu brevemente o resumo que se encontrava na contra capa do livro, mais por hábito do que por necessidade. Ela conhecia a história e estava feliz por ter conseguido encontrar aquele exemplar depois de ter perdido o próprio. Ainda com um sorriso encantador nos lábios, ela deslizou pela livraria, recebendo alguns olhares curiosos e desejosos pelo caminho até o caixa.

Quinn Fabray era uma bela mulher, os anos foram se passando e aparência dela continuava surreal. A loira mantinha os cabelos loiros cortados na altura dos ombros, assim como o ar elegante e feminino que sempre a caracterizou. Porém, havia algo a mais na aparência dela, algo que ela adquirira depois de muitos anos... Quinn exalava gentileza, em nada se assemelhava a cheerio que abominava a literatura no ensino médio.

Quinn havia se tornado uma mulher, uma bela e inteligente mulher.

- Bom dia, Srta. Fabray! – O velho senhor, Charlie, que era dono da livraria lhe deu um sorriso bondoso, Quinn fez uma careta diante do pronome de tratamento e arqueou a sobrancelha para ele. O senhor deu uma risadinha curta e olhou para ela com os olhos bondosos. – Tudo bem, eu sei... Sem “senhoritas” e “madames” para você, Quinn.

- Melhor assim, Sr. Thomas... – Quinn disse com um sorriso enquanto entregava o dinheiro e recebia o livro embrulhado em papel marrom no mesmo ato. O senhor lhe agradeceu e entregou o troco, acenando assim que a loira saiu pela porta.

De volta para as ruas de Lima, Quinn colocou o casaco sobre os ombros e concentrou-se em guardar o dinheiro na bolsa e apanhar as chaves do carro. Estava cansada e podia deixar as compras do supermercado para outra hora, tudo o que ela queria era chegar em casa e desabar na cama, aproveitando o pouco que ainda restava de suas férias de inverno.

Ainda caminhando com os olhos na bolsa e desviando de quem podia sentir se aproximar, ela viu o vento frio bater em suas pernas, fazendo sua saia esvoaçar. Quinn segurou-a e logo em seguida, sentiu uma trombada nas costas. A loira virou-se e deparou-se com uma pequena figura caída aos seus pés, envolta por malas e sacolas de viagem. Quinn agachou-se e disse afobada:

- Me desculpe, eu não estava prestando atenção por onde andava.

- Eu que tenho que me desculpar e...! – A figura levantou os olhos e Quinn viu-se presa em uma intensidade castanha que ela imaginava nunca mais ver em Lima. Rachel Berry se calou no instante que viu os familiares olhos amendoados a estudarem. A morena apanhou as malas e fechou a cara. – Quinn Fabray.

- Rachel Berry. – Quinn murmurou com um tom divertido na voz e dando um sorriso em seguida. Rachel olhou desconfiada para ela, era muito azar voltar a Lima e dar de cara justo com ela. Quinn continuou a sorrir, mas começou a se incomodar com os olhos de Rachel a observá-la. Ela pigarreou incomodada e trocou o peso dos pés. – Te machuquei?

- Não. – Rachel respondeu desconfortável, sentindo, mais uma vez, toda a sua frustração transbordar. A expressão de Quinn revirou-se em desgosto e ela não teve coragem de responder, muito menos de retribuir o olhar que Rachel lhe direcionava com tanta intensidade.

Quinn sabia muito bem dos erros que cometera no passado, assim como se arrependia de todos eles. A loira achava que era toda errada e sem conserto, por isso, se esforçava todos os dias para melhorar. Como se o seu arrependimento e tentativas de melhora fossem apagar seus erros do passado, mas Rachel Berry estava ali, de pé e a encará-la com tanto ódio que só lhe comprovara quão horrível e irracional fora no passado. A loira acreditava que depois de tudo que se passara entre as duas no último ano, as coisas estivessem mais amistosas.

Quinn achou as chaves dentro da bolsa e ajeitou a bolsa sobre o ombro, só então ela levantou os olhos para Rachel. Encontrou a morena caminhando pela calçada, sem sequer se despedir. O coração de Quinn apertou em seu peito quando viu os ombros caídos da morena, ela precisava de ajuda, da mesma forma que precisava quando as duas foram sinceras uma com a outra pela primeira vez.

Por isso, Quinn apressou o passo e retrocedeu o caminho. Ela alcançou Rachel quando a morena já estava prestes a virar na esquina. Quinn segurou o pulso dela e recebeu um olhar tão escaldante em troca que só conseguiu soltá-la rapidamente e gaguejar nervosa:

- Bem é... Quer carona?

- Não preciso de sua piedade, Fabray. – Rachel rosnou entre os dentes enquanto tentava retomar seu caminho, Quinn apertou o pulso da morena e quase a machucou. Rachel virou-se com a expressão fechada para ela, pronta para disparar 1001 xingamentos, quando sentiu o peso de suas mãos sumir. Quinn apanhou suas malas e com um sorriso bondoso, disse:

- Não é piedade, Berry. É vergonha na cara, além do mais, isso é pelo nosso último ano.

Sem nem mais e nem menos, a loira apanhou as malas de Rachel e carregou até um sedan preto estacionado próximo. Rachel continuou parada no meio da calçada, as pessoas começaram a olhá-la com estranheza e ela apertou os punhos em fúria. Quinn voltou para ela e séria, disse autoritária:

- Vamos, eu vou te levar para casa. Você não parece estar legal.

- Que bom que criou um pouco de humanidade e percebeu meu “mal-estar”, Fabray. – Rachel retrucou desgostosa enquanto esbarrava em Quinn e ia até o carro. Foi a vez da loira bufar impaciente e caminhar até o carro, dentro dele, Quinn sibilou irônica:

- E que bom que você criou um pouco de educação, Berry.

Rachel revirou os olhos e virou-se para a janela enquanto Quinn ligava o carro e a olhava de esguelha, preocupada. Calada, a morena pediu para que fosse forte e segurasse o choro. Quinn Fabray era a última pessoa que poderia saber de seu fracasso.

***

Quinn mantinha as mãos firmes no volante do carro, mas seus olhos observavam Rachel com um pouco de agonia e preocupação. A morena estava encolhida de encontro à porta do carro, querendo ficar o mais longe possível de Quinn. A loira mudou a marcha do carro e pigarreou, tentando chamar a atenção de Rachel.

Nada.

Rachel continuava perdida nos próprios pensamentos. Assim como Quinn começava a perder-se em suas próprias lembranças. A loira mordeu os lábios e respirou fundo, enquanto fazia uma curva para esquerda, entrando em uma rua mais tranqüila. Ela e Rachel tinham desenvolvido uma curta, mas forte amizade no último ano de McKinley High.

Só que depois da partida de Rachel para NYC e de dois anos enviando e-mails sem resposta, Quinn simplesmente desistiu de contatar a morena e passou a tocar a própria vida. Digamos que o aparente descaso da morena com a amizade das duas não surpreendeu Quinn, somente a loira sabia como aquela pequena amizade mudara sua vida. Foi com aquela amizade, conquistada a custo de muita sinceridade e de muitas confissões, que Quinn passou a dar valor às pessoas certas.

Quinn manteve o foco no trânsito que se mantinha calmo a sua frente, mas com um magnetismo fora do normal, tornou a olhar para Rachel e surpreendeu-se ao ver que ela chorava. Melhor, segurava as lágrimas enquanto elas tomavam os olhos castanhos. Quinn mordeu o lábio e desviou o caminho, conhecia bem aquela expressão. Após alguns minutos, parou em frente a uma cafeteria de aparência antiga e tranqüila e desceu do carro.

Rachel, que estava escondida em seu casaco, olhou assustada e surpresa em volta de si. Com certeza, não estava nem perto da casa dos pais, sequer conhecia aquela cafeteria. Imediatamente, o rosto da morena fechou a expressão, Quinn abriu a porta do passageiro e disse séria:

- Você precisa de um café.

- Eu só preciso ir para casa, Fabray. – Rachel respondeu incomodada com o olhar que a loira lhe direcionava. Quinn estava preocupada e lembrando, vagamente, aquela Lucy Quinn Fabray que ela conheceu brevemente no último ano. A morena balançou a cabeça negativamente e olhou cansada para Quinn. – Por favor, eu só quero ir para casa.

- Você precisa de um café e eu preciso de respostas... – Quinn disse sentida enquanto levantava o tronco e respirava fundo, ela ia ceder se continuasse a olhar para Rachel. – Eu não vou te levar de volta, se você não aceitar tomar um café comigo.

- Eu posso muito bem ir a pé! – Rachel retrucou irritada enquanto recebia uma portada na cara de Quinn que, simplesmente, aprumara a postura e lhe dera às costas ao entrar no café. Rachel realmente pensou que Quinn voltaria para lhe pedir novamente, mas ela não voltou.

Dentro do carro, a morena observou através da janela do café que Quinn já sentara em uma mesa e fizera o pedido. Passados alguns poucos minutos, Rachel desceu e viu um enorme sorriso vitorioso irromper na face de Quinn, seguido do barulho irritante do alarme do carro, indicando que ele estava trancado. Rachel lembrou-se, vagamente, de como sempre perdia as discussões para Quinn.

Sem mais volta, Rachel entrou no café e imediatamente, seu olfato foi preenchido pelo cheiro agradável de café e bolinhos. Foi recepcionada por uma senhora que lhe sorriu gentilmente e indicou o caminho. Ela caminhou lentamente até a mesa onde Quinn a esperava e sentou-se em frente a ela. Quinn ainda sorria quando disse:

- Não precisa conversar, senão quiser. Só que eu acho difícil Rachel Berry manter-se calada por mais de dois minutos.

- Por favor, Quinn... Pare de agir como se ainda estivéssemos no último ano do ensino médio! – Rachel resmungou cansada, olhou friamente para Quinn que apenas vincou a testa e olhou magoada para ela. A loira olhou para o exterior através da janela e respirando fundo, disse:

- Depois de dois anos sem resposta para os meus e-mails e de cinco anos sem notícias suas, eu realmente acho que o tempo não passou. Para mim, você é a mesma Rachel de 2012.

Rachel olhou surpresa para ela, não esperava uma resposta do tipo. Esperava que Quinn ficasse revoltada e saísse dali em um acesso de fúria, porém, recebeu em troca uma resposta magoada e uma série de lembranças inesquecíveis. Quinn voltou a olhar para ela e Rachel baixou os olhos, envergonhada enquanto dizia irônica:

- Você não ficou sem notícias, bem sabe o que aconteceu comigo, está em todas as colunas de fofoca do jornal local.

- Rachel. – Quinn sibilou o nome da morena com uma fúria contida, um pedido para que ela se calasse e parasse de falar besteira. Rachel olhou para ela amedrontada e surpresa pela loira ainda provocar aquele tipo de reação nela após tantos anos. – Será que você não entende que eu não quero saber o que os outros sabem? Eu quero saber o motivo do seu silêncio naqueles primeiros dois anos em NYC, pouco me importa o que aconteceu depois. Eu quero saber onde foi que a nossa amizade acabou.

Rachel ficou calada com a resposta de Quinn, a morena abriu a boca diversas vezes para responder, mas não conseguiu. Como ia dizer que as pessoas de NYC pareceram mais interessantes do que Quinn? Como dizer que, após alguns anos, Rachel começou a sentir vergonha da onde vinha e de tudo que remetia a Lima? Como explicar para Quinn que queria apagar seu passado e que isso, incluía a própria Quinn?

Enquanto Rachel brigava com sua consciência, Quinn estudava a morena. Rachel estava nervosa, podia perceber pelo intenso mastigar do lábio inferior dela. Também estava enrascada, porque não mantinha os olhos fixos por muito tempo em uma única coisa. O pedido de Quinn chegou e Rachel surpreendeu-se por ser recepcionada com um copo de café, a morena cheirou o copo e sorriu triste. Quinn tomou um gole do próprio copo e sibilou fria:

- Descafeinado, leite de soja, pouco açúcar e um pouco de hortelã.

- Você ainda se lembra. – Rachel murmurou envergonhada e com algumas lágrimas povoando seus olhos enquanto brincava com o copo na mesa. Quinn olhou para ela e resistiu à vontade imensa que tinha de afagar-lhe os cabelos e dizer que estava tudo bem. Uma expressão meiga e protetora passou pela face de Quinn, mas ela nada disse, assim como Rachel.

O silêncio perdurou pesado entre elas, Quinn não falava porque achava que merecia respostas. Enquanto Rachel não falava porque tinha medo da conseqüência de suas palavras. Passados quinze minutos sem uma palavra e sem um suspiro, Quinn terminou seu café e anunciou incomodada:

- Talvez, depois de tudo que fiz, eu não mereça as respostas. Se você não se importa, eu terminei meu café e vou esperar no carro.

Rachel queria bater em si por ser tão fraca, a morena não conseguiu responder e permaneceu na mesa, com os olhos a lacrimejar e observando as costas de Quinn saírem do café enquanto segurava o café morno em suas mãos e respirava pesado.

Quinn era um pedaço recente do seu passado. E talvez, fosse o pedaço mais difícil de ser consertado.

***

Durante a volta, nem Rachel e muito menos falaram. As duas se entreolhavam entre paradas de esquinas e sinais fechados, mas nada diziam. A morena mordeu o lábio e encostou a cabeça no vidro gelado, observando Lima passar por ela. Uma chuva leve caía e embaçava o vidro.

Quinn olhava de esguelha para a morena, a expressão estava fechada e a testa vincada. Mas enganava-se quem achava que ela estivesse brava com Rachel Berry, pelo contrário, Quinn estava brava com a vida. Por ela ser tão injusta com Rachel, maltratada no colégio e agora, com os sonhos despedaçados... O pior era que Quinn odiava fazer parte de todo aquele espiral de tristeza que envolvia Rachel.

A loira abriu a boca para falar alguma coisa, mas fechou-a em seguida, sem coragem. Como pedir perdão por anos de humilhação infligidos a Rachel? Quinn era ingênua ao pensar que aquela curta amizade delas no último ano apagara tudo que fizera... Quinn estava sentindo-se mal e voltou a se fechar, Rachel percebeu e suspirou.

Se Quinn, que sempre tivera mais facilidade para lidar com conversas como aquela, se calara... Nenhuma das duas ia falar naquele carro.

Quando parou em mais um sinal, Quinn não suportou o silêncio no carro e ligou o som. Uma batida leve e tranqüila preencheu o carro.

Summer after high school when we first met

We'd make out in your Mustang to Radiohead

And on my 18th birthday

We got matching tattoos

Used to steal your parents' liquor and climb to the roof

Talk about our future like we had a clue

Never planned that one day

I'd be losing you

Quando reconheceu a música, o coração de Quinn se apertou e ela refez o movimento para desligar o som. Porém, Rachel segurou sua mão e deu um sorriso triste enquanto dizia:

- Deixe tocar, eu gosto dessa música.

Quinn acenou com a cabeça, sentindo sua mão formigar enquanto mudava a marcha e ignorava o som e agora, a voz de Rachel no ambiente.

In another life, I would be your girl

We'd keep all our promises, be us against the world

In another life, I would make you stay

So I don't have to say you were

The one that got away

The one that got away

Rachel murmurava a música e não cantava. Perdera a vontade de cantar há algum tempo e apenas murmurava as letras mais para si do que para Quinn. Sentiu os olhos amendoados voltarem-se para ela quando pararam em mais uma esquina. Mas Quinn nada disse.

Rachel encolheu-se e voltou a olhar para a janela. Ficar escutando aquela música tinha sido uma péssima idéia.

I was June and you were my Johnny Cash

Never one without the other, we made a pact

Sometimes when I miss you

I put those records on

Someone said you had your tattoo removed

Saw you downtown, singing the blues

It's time to face the music

I'm no longer your muse

Algumas lembranças chatas preencheram a cabeça de Quinn. Lembrou-se dos poucos momentos que as duas passaram juntas, até mesmo das aulas de canto antes das Seccionais e surpreendeu-se quando um sorriso brincou em seus lábios.

Rachel vislumbrou aquele pequeno resquício de um sorriso e seu coração deu uma leve acelerada. A morena não se surpreendeu, podia ter estado distante em todo aquele tempo, mas se lembrava bastante da sensação que lhe preenchia quando tinha Quinn e as piadinhas bobas dela por perto.

In another life, I would be your girl

We'd keep all our promises, be us against the world

In another life, I would make you stay

So I don't have to say you were the one that got away

The one that got away

Mais um sinal fechado e Quinn batucava os longos dedos brancos no volante, na mesma batida da música. Ela não se lembrava da casa de Rachel ser tão distante da nova cafeteria. Quinn acostumara-se a visitar os Berry durante aqueles anos, só cessara as visitas por causa do trabalho...

O sinal abriu e ela acelerou, nem sequer percebeu que Rachel fechara os olhos e escorara a cabeça no banco do carro.

The one

The one

The one

The one that got away

Mais uma esquina e Quinn parou o carro, já estava quase anoitecendo e por ser época de Natal, as ruas estavam mais paradas do que o normal. Quinn arriscou uma olhada para Rachel e deparou-se com a morena cochilando no banco.

Quinn sorriu e tirou uma mecha de cabelo que caía pela testa de Rachel, se acostumara a fazer aquilo quando teve que ficar estudando até tarde com a morena no último ano quando Rachel ficou envolvida com as Nacionais, NYADA e o namoro com Finn.

All this money can't buy me a time machine, no

Can't replace you with a million rings, no

I should have told you what you meant to me, whoa

'Cause now I pay the price

Quinn tornou a acelerar e notou que estava próxima a casa de Rachel. Depois de anos andando por ali, era estranho voltar com a morena em seu carro, quase surreal. Fazia com que ela voltasse a ter 18 anos, voltasse a época do Glee... Voltasse a 2012 quando as duas deixaram as diferenças de lado e arriscaram uma amizade sincera sem Finn, Puck ou qualquer outro garoto entre elas.

Quinn sorriu enquanto apertava as mãos no volante, então, fez uma coisa que há muito não fazia... Cantou.

In another life, I would be your girl

We'd keep all our promises, be us against the world

In another life, I would make you stay

So I don't have to say you were the one that got away

The one that got away

Uma curva feita e estava na rua dos Berry. Quinn gargalhou quando avistou de longe, a única casa que não estava enfeitada para o Natal. O mesmo tom em azul claro, a mesma cerca branca de madeira... Quinn sorriu saudosa, ela desacelerou o carro sentindo o próprio tempo desacelerar.

Olhou mais uma vez para Rachel, ela sequer se mexera em meio a sua cantoria e as suas gargalhadas... Existiam certas coisas que não mudavam e o sono pesado de Rachel Berry parecia ser uma delas.

The one (the one)

The one (the one)

The one (the one)

Quinn aproximou-se da casa e estacionou. Ficou parada, observando as luzes acesas na sala de estar e as figuras masculinas que andavam de um lado para o outro. Quinn sentia saudades de Leroy e Hiram Berry.

Mas nenhuma saudade se comparava a que sentia por Rachel Berry. De uma forma totalmente desconhecida e até surpreendente, Rachel Berry entrou na vida de Quinn Fabray para colocar os pontos finais que a loira não tinha coragem de colocar.

Shelby, Beth, Puck, Russell... Quinn só conseguiu passar por todos esses confrontos porque Rachel intercedeu na hora certa, obrigando-a a crescer e assumir as conseqüências de suas atitudes malucas.

Quinn suspirou e saiu do carro, o vento frio e os pingos de chuva molharam sua roupa enquanto ela rodeava o carro.

In another life, I would make you stay

So I don't have to say you were the one that got away

The one that got away…

Quinn foi até o lado do passageiro e abriu a porta do carro, Rachel remexeu-se incomodada quando uma brisa fria invadiu o carro. Murmurou algumas coisas inaudíveis e fez uma careta. A loira bufou impaciente e tornou a fechar a porta com cuidado.

Quinn caminhou pelo jardim bem cuidado dos Berry e subiu as escadas da varanda. Vacilou antes de bater a porta, mas jogou o medo de lado e respirou fundo antes de bater com os nós dos dedos na madeira. Menos de cinco minutos depois, Leroy atendeu trajando um roupão e com os olhos arregalados:

- Olá Quinn... Quanto tempo!

- Desculpe, Leroy... Eu sei que é tarde. – Quinn desculpou-se com um ar envergonhado. Hiram apareceu atrás de Leroy e acendeu as luzes, Quinn surpreendeu-se por eles parecerem tão velhos. Ou talvez, ainda estivesse com as lembranças em sua mente... – Mas é um pouco urgente.

- O que aconteceu, Q? – Hiram perguntou preocupado e tocando o braço da loira levemente. Quinn sorriu agradecida diante do apelido e foi retribuída com dois sorrisos dos homens, ela acenou com a cabeça em direção ao carro e murmurou:

- Encontrei Rachel na cidade hoje, acho que ela acabou de chegar.

- Mas ela não nos avisou! – Leroy protestou um pouco indignado, saindo para a noite fria de Lima com Quinn e Hiram em seu encalço. – Sabíamos que ela estava com problemas, mas não sabíamos que ela tinha desistido.

Desistir. Aí está uma palavra que Quinn duvidava existir no vocabulário de Rachel Berry.

Hiram apertou os ombros de Quinn conforme caminhavam pelo gramado. A loira olhou para ele que lhe sorriu e acenou a cabeça, indicando claramente que sabia o turbilhão de emoções que se passavam na cabeça de Quinn naquele momento. A loira respirou fundo e abriu a porta do carro. Leroy enfiou a cabeça ali e minutos depois, saiu carregando Rachel pelos gramados.

Quinn e Hiram apanharam as bagagens da morena e voltaram a casa. Quinn sorriu ao ver que tudo continuava igual, até encontrou uma fotografia sua e de Rachel em um daqueles porta-retratos digitais e se surpreendeu quando, na legenda da foto, apareceu: “As duas garotas Berry”.

Quinn sorriu tristemente e Leroy, ao colocar Rachel no sofá, percebeu. Ele abraçou os ombros de Quinn e ela agradeceu silenciosamente enquanto se aconchegava nos braços enormes do homem. Os três acordados naquela sala estavam sendo surpreendidos por algumas lembranças que pareciam longínquas demais agora.

Hiram aproximou-se dos dois e olhou a foto também, até ela ser substituída por uma do Glee Club de 2012, o grande vencedor das Nacionais daquele ano. O coração de Quinn encheu-se de alegria quando viu Mike, Tina, Kurt, Sam, Finn, Santana, Brittany, Artie... Bons tempos, pensou.

- Não quer ficar aqui, Quinn? Acho que você tem muito que falar conosco e com Rachel e ainda chove lá fora... – Hiram comentou cuidadoso ao notar as lágrimas tímidas que escorriam pela face de Quinn, ela deu um dos seus melhores sorrisos e agitou a cabeça, negando.

- Hoje não, Hiram... Tenho muito que planejar para a volta do trabalho. Só diga a Rach que eu espero que ela melhore.

- Diga você mesma, Q. – Leroy murmurou bondoso e empurrando-a levemente em direção ao sofá. Quinn arregalou os olhos, mas logo retomou o controle e ajoelhou-se no chão, com o rosto na mesma altura de Rachel. Ela suspirou e afagou os cabelos da morena por alguns instantes antes de beijar a testa dela e dizer:

- Melhoras Rach e desculpa por hoje, como eu prometi naquele ano... Eu estarei sempre aqui para você, independente do que acontecer.

Dizendo isso, Quinn desejou boa noite para os Berry antes de entrar no carro e rumar de volta para a casa, completamente esgotada.

Na casa dos Berry, Leroy cruzou os braços e disse irritado:

- Muito bem, Rachel Barbara Berry, pode parar de fingir e começar a se explicar.

Rachel abriu os olhos e engoliu em seco. Ela se levantou e olhou amedrontada para os pais, mas sem deixar de sentir a testa queimando e de ouvir as palavras de Quinn ecoando em sua cabeça.

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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam?
As coisas estão bem diferente não é? Sem fama, as duas voltando a Lima, NYC é só mais um sonho distante... Emfim, algumas mudanças nos enredos tradicionais das future fics. Espero que gostem!
Comentem, tá? Capítulo 2 sai assim que possível.
Beijos e até mais (: