Minha vida já era confusa demais antes disso acontecer. Eu tinha sorte, eu gostava muito da minha antiga vida. Eu não estou falando que odeio ela agora, só é um pouco confuso, eu até gosto dela.

Meu nome é Jessica, mas me chame de Jess, sério, odeio meu nome mas Jess é legal. Moro no Brasil, meu meio irmão mora em Nashville, meus pais são separados. Moro com a minha mãe e minha irmã, que eu achava que era minha única irmã verdadeira até então. Não parece ser muito confuso, deixe me explicar melhor. Quando meu pai tinha 25 anos ele fez intercambio para o Tennessee, lá ele conheceu Marie York que já era divorciada e tinha um filho, Justin, eles namoraram nesse ano em que meu pai esteve por lá e tiveram um filho, Taylor. Depois Marie conheceu outro cara, se casou e teve outro filho, Chris. Depois disso meu pai conheceu minha mãe, se casou com ela, eu “nasci” (essa parte você vai entender depois), depois eles tiveram minha irmã, Julia. Meus pais se separaram a três anos, minha mãe esta namorando com um cara e pretende se casar com ele no ano que vem, e meu pai conheceu uma outro mulher e está namorando com ela agora. Nada tão confuso por enquanto, então vamos lá.

Era final de ano, férias, meu irmão ficaria em Nashville para gravar o novo CD da banda dele, Paramore. Nada de turnês então ele me convidou para passar as férias com ele. Nós éramos bem Próximos, não tínhamos segredos, como melhores amigos, mesmo morando a milhares de quilômetros de distância.

Cheguei no aeroporto e enquanto esperava o vôo sentada em um banco um menino loiro de cabelos enrolados, que estava usando capuz, uma camiseta laranja e jeans, manco, começou a falar que eu poderia estar em perigo, que eu deveria ir junto com ele para um acampamento especial para crianças como eu em Nova York. É claro que eu não acreditei e achei que ele era maluco, mas depois que cheguei em Nashville, ainda no aeroporto, ele apareceu denovo. Como ele chegou lá tão rápido eu não sei. Continuei negando enquanto ele insistia, até que uma mensagem do meu irmão chegou no meu celular. “Hey Little Yorkie, me desculpe, reunião de emergência da banda, não vai demorar muito. Você pode esperar na casa do Chris, é ai perto, você sabe aonde é não sabe? Assim que terminar eu te ligo e busco você lá.”

–Como você pode ter certeza que eu sou essa pessoa que você tanto fala? Nem mesmo sabe meu nome. – Disse, já me entregando para o garoto que parecia desesperado. Não iria interromper Taylor com sua banda, isso nunca. E não tinha intimidade com Chris para chegar na casa dele dizendo “E ai, Chris. Vim passar as férias com o Taylor mas ele está numa reunião com a banda. Se importa de eu ficar aqui esperando por ele?”.

–Jessica Petter, 14 anos, filha de Ana Borges e Marcos Petter. Isso está bom para você ou quer mais?

–Como você sabe disso?

–Venha, um aeroporto não é um bom lugar para conversarmos sobre isso. Ah e eu sou Brian.

Brian e eu pegamos um taxi até o Centtennial Park, nos sentamos em um banco, de frente para o Parthenon. É, aquela replica de um templo grego, destruído, na cidade de Atena.

–Hã, você sabe alguma coisa sobre Mitologia Grega?

–Quem sabe, um pouco. Só o que estudei na sexta série na aula de historia. Essas histórias sobre Zeus, Poseidon, Hades, Atena, Apolo e tudo mais, certo?

–É. Bom digamos que esses Deuses ainda existam e ainda tenham filhos com mortais e tudo mais que você aprendeu fosse verdade, você acreditaria? Alias, qual dos seus pais é seu pai biológico?

–Provavelmente não, mas fale logo o que você quer, não agüento mais ficar parada nesse banco. Os dois são meus pais biológicos, porque?

–Hiperatividade. Você provavelmente deve ter déficit de atenção e dislexia certo?

–Déficit de atenção sim, dislexia um pouco. Como você sabe? Quer fazer o favor de deixar isso menos confuso? Já estou me arrependendo de ter vindo com você.

–A maioria das crianças como você tem isso.

–Meu Deus, isso o que?

–Meus deuses seria o correto. Se você quer que eu fale direto o ponto então tá. Pensei que fosse querer que eu explicasse primeiro, melhor assim. Você é filha de algum Deus Olimpiano.

Comecei a rir sem parar, como eu iria acreditar naquilo? Você também provavelmente não acreditaria em algum estranho que viesse e falasse que deuses gregos existem e um deles é seu pai. Até mesmo pedi para ele repetir, pensei que tivesse entendido algo errado, isso já aconteceu algumas vezes com Taylor mas ele já estava acostumado a falar mais de vagar as frases mais complexas em inglês.

–Isso é sério. – Ele disse, sério. – Se você não acredita tenho provas, sou um satiro. Duvida?

–Claro que duvido. – Nesse momento ele tirou um de seus tênis e ergueu a calça de uma das pernas na altura da canela. Aquilo era realmente muito esquisito e surreal, aquele garoto tinha pernas de bode.

–Se quiser avisar seu irmão antes de irmos para Nova York você tem 15 minutos.

Peguei meu celular e comecei a digitar, “Hey, T. Hã, eu não estou na casa do Justin, eu estou indo com um, hã, amigo para Nova York. Quando puder falo com você. Me desculpe também.” E quando ia mandar a mensagem Brian me interrompeu pegando meu celular.

–Está louca? Quer que monstros nos ataquem? Você não tem outro modo de se comunicar com ele não? Internet? Wi-fi não deve atrair monstros, eu espero. Sou novo nisso.

–Claro, se eu achar uma rede wi-fi aqui por perto. Mas cara, eu passei minha vida inteira mandando sms, conversando por telefone e nunca nenhum monstro me atacou, relaxa.

Ele deu de ombros e logo achei um wi-fi livre, entrei no twitter e escrevi o mesmo que na sms em uma DM. Deu erro, claro eu tinha que esquecer de sair do meu Fan Club. É, eu tinha um Fan Club para a banda do meu próprio irmão e ele nem mesmo sabia. Entrei no meu pessoal e mandei a DM para ele, esperando que lesse. Ele raramente entrava no twitter, então mandei a sms discretamente sem Brian ver e fomos para Nova York.