A Cura Do Meu Coração escrita por Rafa SF


Capítulo 6
Capítulo 6




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Capítulo 6

 –/-/Kagome/-/-

Era noite, sem luar. 

Encontrava-me na familiar floresta. As árvores ao redor lembravam-me o formato duma abóbada, em seu centro, encontrava-se a maior de todas e certamente, a mais antiga, a árvore do tempo. Aproximei-me de si, sentindo a energia que emanava dela como uma onda de calmaria atingindo os cantos mais profundos de minha alma. Como sempre, essa árvore representava o início de uma vida para mim e era impossível não me deixar levar pela lembrança do meu primeiro dia na era feudal, quando eu não podia imaginar o maravilhoso mundo que o tempo escondera, as aventuras que ele trazia junto a si. Alheia à paixão que tomaria conta do meu ser, ao ver aquele estranho ser de cabelos prateados pela primeira vez. 

Me aproximei do furo característico de uma flecha, na enorme tronco, o hipnotizante buraco chamava-me da mesma forma da primeira vez que a vi. 

Nesse momento percebi o quanto sentia falta daquele local, principalmente na aldeia aqui perto, onde passei boa parte do meu tempo, aprendendo as responsabilidades e deveres de sacerdotisa. 

Ser uma miko também significava que eu era responsável pelas pessoas daquela aldeia e desde a luta contra Naraku, e a consequente viagem de Kikyou pelo mundo, eu assumira o papel de minha antepassada na aldeia. 

Como os meus amigos devem estar agora? Pensei, decidindo que lhes visitaria para descobrir, mas nenhum passo foi dado, apesar disso. Tentei "ordenar" meu corpo a andar na direção do povoado, mas ele continuou parado fitando a árvore sagrada. Até que fui supreendida ao ouvir:

—Você veio!

A voz familiar que há tanto me assombra, se fez presente, causando um sentimento de repulsa ao ouvir o quão alegre meu coração se sentiu, o calor emanando do peito com o mais simples gesto do albino. Os pensamentos a mil diante da presença do amado. Senti o rosto se contrair num sorriso apesar da minha vontade de sumir dali.

Meu primeiro desejo foi fugir, correr para o mais longe possível do dono da voz, sabendo que não importava o quão encantador ele fosse comigo, não era a mim que ele amava, mas ao invés de se mover, meu corpo permaneceu imóvel aguardando sua aproximação. 

"Corra" gritei internamente enquanto o  via se aproximar mais e causar um prazeroso formigamento pelo corpo. Eu não entendia o porque estava parada, sabendo que o autor de meu sofrimento estava a poucos metros. 

Isso só pode ser um sonho. Acorde!

Meu corpo se vira, sorrindo para os calorosos olhos dourados que me fitaram com um brilho obscuro que sempre esteve presente neles, mas eu nunca havia reparado até ali.  Ele parou, me avaliando. Eu sabia disso pela forma como sua sobrancelha se elevou um pouco, e não demorou nisso. Rapidamente, rodeou-me num abraço apertado. 

Sinto meu corpo se movendo e correspondendo o afeto. 

O peito ansioso entra em contradição com a angústia que eu sentia, era estranho, o modo como eu assistia a tudo ocorrer, novamente, mas presa dentro de mim mesma, meu corpo estava à parte de minha mente e até mesmo os meus sentimentos se misturavam, voltando em ondas intensamente reais, ora o amor do momento, ora a mágoa pela lembrança que me parecia tão viva e real agora.

Me senti presa, independente do meu próprio corpo livre.

—Você me chamou,  claro que eu viria,  Inu-kun!_ deixei claro ao dizer com toda a felicidade que estava disposta a sentir e a compartilhar com o mesmo, estava disposta a tudo por ele, por nós e pela vida que construiremos juntos. Assim como havia feito tempos atrás, minha escolha permanecia a mesma, era ele. Senti o calor de suas mãos sob meu rosto, numa carícia gostosa. 

"Corra sua idiota" Ordenei em pânico, angustiada pelo misto de sensações que me afogavam, por ter que reviver o momento que me assombra quase todas as noites, mas nunca de forma tão vívida, com tantos detalhes.

Antes de falar qualquer coisa,  ele me fitou, seus olhos brilhantes como o sol aquecendo cada parte do meu ser. Sorriu ao se afastar um pouco. 

—Eu preciso de você, Kagome. 

E eu, ao fundo de minha mente,  assistia a cena em prantos.

"Perceba logo, Kagome!!" Pensava enquanto tentava me acalmar, parte pela paixão que queimava meu estômago e arrepiava o "meu" corpo com o seu toque, parte pelo pânico,  ao saber que eu não poderia mudar nada do que aconteceria após isso.  Eu estava criando a minha própria prisão, presa nessa era para sempre, enganada pelo ser que mais confiava. 

Idiota, idiota, kagome idiota! Inuyasha idiota!

.

Acordei sufocada pelas cobertas do futon, estava tão frio pela noite que me enrolei formando um casulo com eles, mas agora eu estava sentindo uma sensação abafada, como um inferno particular. Ao me ver livre, localizei-me no quarto da pousada, ainda era noite e eu estava sozinha, basicamente. Rin não acordara com o meu desespero e no fundo, agradecia por a mesma ter o sono pesado. Jaken roncava escorado na parede e Sesshoumaru não estava por perto, sentia isso a partir da nossa recente conexão. 

Sabia a sensação do choro, sabia que respirar se tornava cada vez mais difícil com o meu pranto, mas não me impedi esse momento, não dessa vez. Era a primeira vez que eu rememorava tão detalhadamente nosso último encontro. Sentir na pele cada toque foi cruel com meu coração frágil e só me restou abafá-los com o cobertor. Naquelas cobertas liberei mais do que achei ter guardado em mim. 

Tudo o que fui forte o suficiente para esconder.

Aos poucos, consegui me acalmar, na verdade, fui vencida pelo esgotamento emocional. Até me pareceu cômico como pensei ser capaz de aguentar até estar novamente só. E dessa forma, me vi olhando para a parede à frente por um tempo. Minutos ou horas, não percebi até ser avisada da minha falta de privacidade. 

—Descanse._ A voz grave se fez presente. 

O youkai estava na janela, como se nunca houvesse saído dali. A lua brilhava fortemente atrás de si, tornando a sua sombra uma imagem difícil de descrever, somente sua silhueta era perceptível. 

— Estou._ Lhe disse, encarando os olhos que não largam dos meus, sustentando nosso contato por mais tempo do que o agradável permite. Desviei, com receio que, talvez, Sesshoumaru voltasse a questionar os motivos de minhas emoções, como se simplesmente se importasse com isso. 

—Miko_ Chamou num tom de ordem oculta. Eu nunca esperei tamanha curiosidade de sua parte e definitivamente, desejava não mais ser alvo dessa nova característica. Então o ignorei, o que só o fez sair de seu lugar cativo e se encaminhar para minha frente, exigindo atenção. Percebi seus cabelos úmidos, deve ter saído.   

Sua atitude altiva me irritava, me fazia sentir que mesmo respirar sem a sua autorização fosse errado, contrariando toda a liberdade que eu prezava. Eu detestava os Taisho, ambos tão insensíveis, somados a sua maldita mania de se acharem o centro do mundo, superiores a tudo e a todos!  

Não pude impedir a sensação borbulhante da fúria que preencheu meu corpo. Estava cansada de ser posta na parede em meus momentos de fragilidade, estava cansada de ter minha intimidade invadida para saciar a curiosidade de um ser com centenas de anos e que jamais aprendeu a definição de sagacidade.

O faria ter certeza ele não se atreveria a ser assim comigo, eu lhe mostraria que cairia o levando junto! Quer me pôr contra a parede? Eu vou lhe importunar tanto que você vai se incorporar à argila dela! 

— Aonde você foi nessa hora da noite?_ Perguntei de súbito, como uma forma de indicar o quão desconfortável era esse tipo de interrogatório. Assim como a coragem que me surgiu repentinamente, tive que lutar para que não me abandonasse quando o vi estreitar os olhos em minha direção. 

Lentamente ele se abaixa, mantendo- se na mesma linha de visão. Talvez para enfatizar suas intenções. Não sei.

—Não interessa.

—Digo o mesmo sobre mim! As minhas atitudes não lhe interessam!

—Miko… _ Poderia jurar que o ouvi suspirar no momento, a expressão contrariada por um breve momento. E apesar de acompanhá-lo a cada centímetro, não percebi seus movimentos rápidos. Ele era sempre calmo e silencioso de uma maneira irritante. Invejavelmente perfeito em seus atos. 

—Eu tenho um nome! KA-GO-ME. Três sílabas, são o suficiente para você lembrar.

— Ka-go-me_ seu tom causou um formigamento estranho, fora o bastante para me impedir de continuar. Estávamos tão próximos, ele basicamente na minha altura, ajoelhado da mesma forma que fez alguns dias atrás, com minhas pernas presas entre as suas, sem escapatória. Entretanto, recusava permitir   que sua aproximação tivesse efeito sobre mim e fiz questão de continuar o meu discurso, lhe exigiria um tratamento adequado. Era um tudo ou nada!

Mas como se não estivesse ouvindo, ele me interrompe novamente, encarando-me de um jeito indecifrável. 

— O hanyou._ Confessou.

— O quê?

— Estava a sua procura desde cedo._ o olho incrédula, sem acreditar no que ouvi. 

— Por quê? Como assim, Sesshoumaru? Eu não entend-

O som da minha risada foi estranho para a situação. 

Eu via seus lábios movendo-se em meio à expressão dura de Sesshoumaru. Entretanto estava complicado acompanhar a sua linha de raciocínio. Mantive-me quieta, tentando absorver o significado do que foi dito. Inuyasha veio me procurar? Não há mais nada para tomar de mim, não fazia sentido que ele tivesse essa atitude diante de seu histórico amor. 

Ah, ainda havia algo que nos ligava, o kotodama, talvez ele se tornasse uma lembrança minha constante demais para a sua nova vida, ou talvez a vida que sempre deveria ter tido, se não fosse pela minha intromissão. 

Não percebi meu próprio choro, silencioso, contido. A menção do hanyou, a possibilidade de o ter tão perto me assombrava. Sabia que o desespero do sonho era pouco perante a possibilidade de reavê-lo.  

—O hanyou não vale._ A frase solta soou ao fundo e novamente, fui surpreendida com suas ações ao sentir minha visão escurecer. Incapaz de compreender os acontecimentos ao meu redor, somente aceitei a mão que tapava meus olhos.  Num gesto desconhecido e abrupto o suficiente para quebrar a tristeza em que me afundava. 

—Sesshou…maru?

— Vida._ Ele disse como a mais óbvia das coisas, será que ele entende que seus fragmentos de explicação não eram o suficiente? Concentro-me em decifrar suas intenções e relembro de nossa conversa no rio. Quando lhe contei como acabei da forma lamentável a qual me encontrou, após pular de um penhasco por fugir. Ele perguntou se o hanyou vale a minha vida, e não recebeu nenhuma resposta depois que cai em prantos.  

Outro mal entendido, entre os vários que fazem parte da minha trajetória, mas estranhamente, esse eu não gostaria de consertar. Não por hora, pois percebi que a confusão que sentia estava menor pior devido ao seu curioso gesto. Era quase empática a forma como a mão acolheu meu rosto.

É, de um jeito exótico, eu estava sendo consolada por Sesshoumaru e gostei. 


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Notas finais do capítulo

Novamente, que homem difícil de usar como personagem!
Então, estão curtindo o desenvolvimento?
Até a próxima e Bjs Bjs Bye!



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