Diversas coisas passavam pela cabeça de Naoi naquele dia. Não conseguia de nenhuma maneira prestar atenção no que Yuri falava durante a reunião do SSS. Não que ele se importasse em prestar atenção no que alguém como ela estava falando, todos daquele lugar eram perdedores aos seus olhos. Menos Otonashi...

Virou o rosto vagarosamente para que seu olhar o encontrasse. Parecia estar no mesmo tédio que ele, embora se forçasse para prestar atenção. Naoi só aceitava tudo aquilo por ele. Porque ele foi um dos únicos que demonstrou afeto a Naoi. Agora aquelas lembranças de quando estava vivo pareciam tão distantes...

Naoi voltou o rosto para a posição anterior, pois sentiu seu rosto corar ao lembrar de quando Otonashi o abraçara. Fora uma sensação tão boa... Mas seria possível repetir aquilo? Esse era uma das coisas que passavam por sua cabeça.

Sentia vontade de abraçá-lo novamente? Talvez mais que isso. Queria que ele sussurrasse em seu ouvido que tudo ficaria bem enquanto estivessem juntos. Queria que olhasse em seus olhos e então o beijasse. Queria não precisar usar a hipnose para aquilo acontecer.

Mas parecia impossível. Naoi bufou. Yuri interrompeu o discurso para fitar o garoto. Parecia um tanto irritada.

– Algum problema, Naoi? – perguntou.

Ele riu de forma irônica antes de respondeu.

– Ah, não, eu só preciso de um pouco de ar fresco – e então se levantou de seu lugar e atravessou a porta. Sentia que todos o acompanhavam com o olhar, mas não quis virar-se para ter certeza.

Caminhou pelos corredores vazios. Não tinha um rumo, apenas queria ficar sozinho com seus pensamentos – e longe da falação de Yuri.

Talvez pudesse ir para aquele lugar onde Otonashi o abraçara. Não era má ideia. Apressou o passo para chegar mais rápido ao local. Mas, como ia muito rápido, surpreendeu-se ao sair da escola e receber uma forte lufada de ar frio no rosto. No início relutou, mas os pensamentos começaram a falar alto em sua cabeça. Ele não poderia deixá-los esperando.

Chegou ao local, e o primeiro sentimento que teve foi nostalgia. Quase podia sentir os braços de Otonashi em volta de seu corpo, sua voz próxima de seu ouvido... Mas eram apenas lembranças, afinal. Levantou os olhos para cima para encarar o céu escuro. Aquelas cores acinzentadas não melhoravam muito seu humor.

Estava tão concentrado que não ouviu os passos atrás de si. Apenas ouviu aquela voz que sempre ouvia em sua cabeça.

– O que está fazendo aqui, Naoi?

Embora não fossem essas palavras que Naoi ouvia em sua mente. Sentiu calafrios e se virou para fitar Otonashi.

– Ah, Otonashi-san, eu só queria esfriar um pouco a cabeça – respondeu sem jeito.

– Pedi a Yuri para que pudesse vir atrás de você. Parecia estranho, então fiquei preocupado – Otonashi deu de ombros.

Naoi sentiu seu coração se acelerar. Otonashi preocupado... com ele? Talvez seu desejo pudesse se realizar... Talvez...

Abaixou o rosto e abraçou o próprio corpo, receoso que Otonashi pudesse perceber sua inquietação.

– Ei, você não está com frio?

Naoi levantou o rosto. Otonashi o fitava firmemente. Seria uma boa hora para usar a hipnose... Não! Não usaria um golpe baixo desses. Em vez disso, movimentou a cabeça de forma afirmativa.

– A melhor forma de espantar o frio é com um abraço – Otonashi sorriu gentilmente e abriu os braços.

Foi um movimento rápido, em um segundo Naoi se atirou nos braços do outro e o abraçou firmemente pela cintura, afundando o rosto em seu peito. Otonashi respirou fundo e retribuiu o abraço do menor. Se soubesse o quanto Naoi esperara por isso...

– Naoi, você está bem? – perguntou próximo ao seu ouvido.

– E-Eu... Na verdade não – respondeu Naoi, evitando olhar nos olhos de Otonashi.

– O que aconteceu?

Naoi levantou o rosto subitamente e encarou os olhos do outro. Não poderia deixar aquela oportunidade passar.

– Otonashi-san, eu preciso te dizer... Desde aquele dia que você me abraçou pela primeira vez, quando você demonstrou afeição por mim, eu comecei a sentir algo por você. E eu quero estar sempre junto de você, porque eu me sinto amado agora e... E eu te amo, Otonashi-san! – As palavras saíram de sua boca como uma enxurrada. O rosto de Naoi avermelhou-se, mas ele não abaixou o olhar dessa vez, permaneceu olhando fixamente para Otonashi para ver sua reação. Ele pareceu surpreso de início, mas sua expressão se relaxou.

– Não estou tão surpreso com isso. Percebi sua inquietação na reunião e sua vontade de ter vindo a esse lugar – então ele se lembrava daquela vez... – Mas, por hora, eu não posso retribuir seus sentimentos, Naoi. Desculpe.

Aquilo foi como um golpe para Naoi. Fechou os olhos com força e agarrou a parte da frente da camisa de Otonashi.

– Por quê?! Eu não sou bom o bastante para você?! – gritou.

– Não é isso. É só que... Eu gosto de outra pessoa.

   Naoi levantou o olhar. Agora seus olhos pareciam cheios de fúria.

– Tachibana, não é? Eu não vou perdoá-la...

– Não desconte na Kanade, não é culpa dela.

– Mas... Por causa dela não podemos ficar juntos – contrapôs Naoi. Agora lágrimas se formavam em seus olhos.

– Algum dia nós poderemos. Quem sabe?

O menor mordeu o lábio inferior e se afastou. Virou de costas e começou a andar na direção da escola. Mas parou ao sentir que Otonashi segurara seu braço. Virou-se de má vontade para escutar o que ele iria falar, mas não foram palavras que recebeu, e sim um leve beijo nos lábios. Muito surpreso para reagir, apenas ficou em seu lugar com os olhos esbugalhados enquanto Otonashi aprofundava o beijo. Não durou muito, antes que tivesse tempo para fazer algo o outro se afastou.

– P-Por que isso? – perguntou Naoi, finalmente se recompondo.

– Eu não disse que não gostava de você – Otonashi sorriu. Em seguida seguiu para o prédio da escola na frente de Naoi.