E 5,6,7,8. Direita,esquerda, frente e trás.- A srta.Thompson fazia os movimentos e eu a imitava. Já estava treinando há oito horas seguidas com apenas pequenas pausas para tomar uma água ou ir no banheiro.

–Mariana querida, você não acha que já está bom por hoje?- Ela perguntou quando terminamos mais uma série.

–Não srta.Thompson o teste é em alguns dias e eu preciso ser perfeita.- Eu falei bebericando um pouco da minha água e passando uma toalha no rosto pra limpar o suor.

–Você se importa em ficar aqui sozinha?- Ela perguntou e olhou as horas no relógio.- Está na hora de buscar as meninas na escola e a babá não foi hoje.- Ela continuou tirando a sapatilha.

–Tudo bem, eu posso ficar aqui e trancar a academia.- Eu me ofereci fazendo alongamentos pra repetir a série em que trabalhávamos há dias.

–Você não quer sair comigo agora pra fazer um lanche Mari?-Ela perguntou enquanto arrumava as coisas em uma bolsa grande.- Eu não vi você almoçar e nem lanchou nada desde de manhã.

–Não, tudo bem. Eu estou nervosa e comer alguma coisa agora não seria nada agradável ao meu estômago.- Eu falei fazendo uma careta estranha.- Além do mais eu preciso emagrecer.

–Tudo bem querida...-Ela falou chegando perto de mim.- Aqui está as chaves da academia e qualquer coisa me ligue.- Ela terminou e eu sorri. A vi saindo porta a fora e liguei o som me posicionando pra repetir os movimentos que poderiam me dar uma vaga na melhor escola de dança do mundo. Isso se eu passasse por um obstáculo chamado mãe.

(...)

–Como é que é?- Eu falei dando um pulo do sofá.- Repete que eu não ouvi mãe.- Eu disse me alterando.

–É isso mesmo que você ouviu.- Ela jogou os cabelos pretos pra trás.

–Mas eu só tenho 17 anos e eu vou fazer o teste pra Utah e...

–Você não vai perder a sua vida pra fazer uma coisa que não dá futuro Mariana.- Ela gritou me interrompendo e ficando de pé também.

–Mas é isso que eu quero mãe- Eu falei baixinho sentindo as lágrimas queimarem meus olhos.

–Mas não é isso que vai salvar a nossa empresa minha filha.- Ela falou se acalmando.- Seu pai nos deixou no zero querida, sem dinheiro nenhum, precisamos fazer isso em nome de todo luxo que você gosta de viver.

–Mas eu não gosto de luxo mãe, pelo amor de Deus -Eu falei passando as mãos pelo cabelo e me deixando chorar.- Eu posso passar em Utah e nós vamos para os Estados Unidos e a gente reconstrói nossa vida lá...

–Chega desse assunto minha filha, a palavra final é minha.- Ela falou certa.- Iremos atrás do seu vestido amanhã.- Ela falou e subiu escadas acima. Eu sentei no sofá, estática tentando entender tudo aquilo.

Casar. Eu iria casar.

(...)

–Você tá tão linda meu amor.- Minha mãe falou enquanto arrumava alguma coisa no meu cabelo.Durante essa última semana eu pensei em fugir 4 vezes a cada 30 segundos. Mas como eu não consegui, aqui estou eu, como um vestido que pesa o dobro do meu peso e 500 quilos de laquê no meu cabelo.

Suspirei e dei um sorrisinho sem graça.

–Obrigada mãe. Você também está impecável.- Eu falei dando uma analisada no vestido dela. Minha mãe sorriu.

–Vamos? O carro já está esperando.

–Mãe, você podia ir na frente não é? de táxi. Eu posso ir depois. Eu ainda tenho que terminar umas coisas da maquiagem.- Eu falei e ela primeiro me olhou desconfiada, depois pegou sua bolsa em cima da penteadeira e saiu. Eu esperei um tempo e depois sai também. Fui em direção ao carro e o motorista estava encostado nele. Cheguei perto do mesmo e fui direta, sem rodeios.

–Quer quanto pra deixar eu dirigir?

–Mas Dona Mariana, a senhora não tem carteira e...

–Quanto?- Eu perguntei alterada e ele me olhou assustado. Tirei algumas notas na minha carteira e dei a ele que rapidamente me deu a chave do carro. Dei partida e segui um caminho qualquer.

Eu iria me casar. Mas não agora.