Comprada
Ele me levou para casa, embrulhada num papel bonito e vermelho. Apertou o botão iniciar e sentou-se para me esperar.
Sorriso bonito nos lábios, manga da camisa dobrada até os cotovelos e o cabelo penteado para cima. Olhos verdes traiçoeiros, mas extremamente convidativos.
O meu lugar comum foi ter me apaixonado por ele naquele momento, foi ter achado que só porque ele apertou o meu botão de iniciar era ele quem devia ter o meu controle remoto.
- Sou o seu anjo da guarda. – repeti a mensagem inicial gravada em meu chip. Ele sorriu novamente. Era tão engraçado assim? Meus parafusos não conseguiram decodificar essa informação.
Tentei reformular a frase, pensei em outras maneiras de fazê-lo entender que o que eu queria era ser especial para ele, mas nada me veio à mente. Deixei para depois.
Comprou-me roupas, penteou-me os cabelos. Fui sua boneca e não me importei. Gostava que ele gostasse de dedicar alguns momentos de sua ínfima existência humana a mim.
Uma semana depois, não tinha mais volta para mim. Ele já era o meu mundo.
- Você é um ser humano tão estranho, tão peculiar. Sabe que sou sua, não precisa me prender com essas correntes. Eu nunca tentaria fugir de você. Se tentasse, eu morreria.
- São ordens do governo, estão preocupados com alguns modelos ciborgue que estão dando problema.
- Confia em mim, não vou te machucar.
- Não posso.
Nesse momento ele não olhou para mim. Saiu para a rua e me deixou arrastando correntes pela casa. Lavando suas roupas e depois passando, cozinhando sua comida e preparando a cama para você. Mas àquela noite você não voltou para casa.