MY SPECIAL ANGEL

*24 de dezembro, Dakota do Sul*

_ Espere por mim na lanchonete, Dean. – Sam apontou a loja do outro lado da rua, enquanto se afastava _ Não demoro nada.

_ É bom mesmo. – o mais velho sorriu _ O Bobby vai nos matar se chegarmos atrasados.

          Dean atravessou a rua, correndo por entre os automóveis e entrou na lanchonete. Impossível esquecer que era véspera de natal. A decoração, as músicas que tocavam ao fundo e aqueles ridículos gorrinhos vermelhos que os funcionários usavam, denunciavam a data festiva.  Buscou uma mesa vazia e instalou-se,  depositando a sacola de papel, cheia de embrulhos sobre a cadeira, ao seu lado.

_ Vai pedir agora, doçura? – a garçonete questionou, aproximando-se.

_ Traga só um café, por favor. – sorriu para a senhora _ Estou esperando alguém.

          A funcionária sorriu de volta e assentiu com a cabeça, anotando o pedido.

          O café veio rápido, acompanhado por um prato de rosquinhas açucaradas. “Oferta da casa”, estava escrito numa bandeirinha espetada na rosquinha de cima. É engraçado como as pessoas ficam mais amistosas nessa época do ano. Ele não tinha lembrança da última vez que lhe tinham oferecido comida grátis num estabelecimento comercial. Até Bobby estava meio estranho com aquele papo de comemorar o natal em família, preparar ceia, comprar presentes... A cabeça do Winchester estava divagando.  Seus olhos sorriam para o café preto dentro da xícara. Um aroma adocicado chamou sua atenção. Voltou o rosto para a direção do balcão, onde o gerente sintonizava uma estação de rádio e ouviu a melodia suave.

“Eu vim para ser seu anjo

Pra lhe proteger

Do céu, de onde eu desci

Eu vim cuidar de você...”

          Os versos trouxeram-lhe boas recordações. Uma sensação boa preencheu o espaço vazio em seu coração. Voltou o olhar e deparou-se com outro olhar, à sua frente.

_ Anna? – surpreendeu-se.

_ Olá, Dean – o mesmo sorriso doce _ Senti sua falta.

_ O que... como ... eu...

_ Você não está sonhando, Dean.- Anna pousou sua mão delicada sobre a do rapaz e ele pôde senti-la.

_ É você, de verdade... – sorriu com doçura e, retribuindo o gesto, tomou as mãos dela entre as suas.

Houve silêncio. Um silêncio deslumbrante que cabia certinho naquela troca de olhares.

“ Quem sabe ouvir um anjo

Sabe adivinhar

E ver o caminho

Por onde deve andar...”

_ Você voltou? – os olhos de rapaz brilhavam com a expectativa _ Vai ficar?

_ Não, Dean, não posso ficar.  Apenas consegui uma licença especial, por assim dizer.

_ É uma pena... – o olhar baixou, com um sorriso amarelo _ Este dia estava ficando muito interessante.

_ Ei, nada de tristeza, certo? – Anna tocou-lhe o rosto, trazendo seu olhar de volta, de encontro ao seu _ É natal.

_ É, eu sei. Parece que todo mundo está diferente. Até o Bobby veio com essa novidade de comemorar o natal.

_ Ele tem muito o que celebrar, não acha? – Ela sorriu e ele sentiu que poderia perder-se naquele sorriso para sempre.

_ Como assim?

_ É o primeiro natal de vocês desde que voltou, não é ? – Ela continuou, diante da expressão de dúvida do outro _ Dean, é justo que o Bobby queira celebrar a vida. É isso que é o natal: a celebração da vida. Da sua vida também.

_ Eu... eu não tinha...

_ Pois deveria, Dean. Deveria  perceber o quão importante é a sua vida para todos aqueles que o cercam...

"... Sorrir é melhor

Quando soma e tráz

Outro sorriso em alguém

O que você dá,

O mal e o bem

 Que vai, mas volta também...”

_ Eu sou apenas mais um na multidão, Anna.

_ Pode ser. Mas o certo é que você merece estar vivo, Dean. Merece ser feliz. Merece estar com aqueles que o amam.

_ Você está me deixando sem graça. – a voz saída embolada, meio atravancada pelas emoções.

_ Isso é que é inesperado. – Anna abriu mais o sorriso _ Dean Winchester encabulado.

_ Milagres acontecem... – Dean gracejou, baixinho.

“ ... Por isso eu sou seu anjo

Só pra você ver

Por mais que eu seja um anjo

O meu milagre é você...”

_ Exatamente. Então, aceite o seu milagre. Aceite a felicidade e receba-a de braços abertos.

_ Eu não mereço...

_ Não tem nada a ver com merecimento. Quantos mereciam e não obtiveram a graça ?

_Então, tem a ver com o que ? Eu queria poder entender... Porque, definitivamente, eu não sou o melhor cara do mundo, Anna.

_Não, não é. Você é humano. A dúvida, os desejos, a ansiedade, o medo, fazem parte da sua humanidade. E, apesar de tudo, apesar de todo o sofrimento, de todas as dúvidas, olhe onde você está agora ?

_ Eu nunca fui muito inteligente mesmo – havia um brilho no canto do olho que lembrava uma lágrima contida.

_ Isso tudo só pode ser justificado e gerado pelo amor, Dean. Você procura respostas onde não pode encontrar porque as suas respostas estão aí – ela apontou o dedo no lado esquerdo da camisa do rapaz _ Bem aí, dentro do seu coração. Desse seu coração que tem uma invejável capacidade de amar.

_ Anna? – a imagem de Anna tornou-se translúcida _ Aonde você vai ? – aquela lágrima, finalmente, rolou pelo rosto .

_ Vá para casa, Dean  - sua voz era apenas um leve sussurro _ Vá celebrar com os seus.

“...Eu sou somente um anjo

Só quem pode, vê

Eu fiz meu show de anjo

Vai, que agora é com você.”

FIM

NOTA: A música é  My Special Angel  de Jimmy Duncan, aqui representada numa versão de D.Falcão e interpretada pelo Roupa Nova.

Nota 2: Se ficou bom ou não, só vocês podem dizer. Ent.ao, não se acanhem e deixem um comentariozinho, por favor. Feliz Natal!