Ertrankt escrita por petit_desir


Capítulo 5
Capítulo 5 - Um Quase Casamento.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/17610/chapter/5

"Um covarde é incapaz de exibir amor; amor é a prerrogativa do bravo". - Mahatma Gandhi

Com o tempo, muitas mulheres aconteceram na minha vida. Nenhuma de significado. Nada a mais que casos rápidos, noites de prazer. Nada mais que isso. Eram lindas, eu as usava na maioria das vezes e as jogava fora. Elas sabiam com que tipo de homem se envolviam ao se envolver comigo.

Uma delas foi Wone, uma linda menina de cabelos loiros luminosos e modos vergonhosos. Ela era uma das filhas das madames que citei um pouco acima – filha de uma amante minha. Ela ficava rubra quando me via passar pela loja de sua mãe atravessando-a até o fundo onde ficava o balcão ou pelas ruas mesmo. Ficava me encarando, e logo que via que eu percebia ficava vermelha como carmim. Ela tinha 16 anos, dois anos mais nova que eu, porém tinha um corpo desenvolvido e adulto, diferente de suas amigas pelo que eu conseguia notar. Sua mãe, sem que Wone percebesse, certa vez realmente abusou de mim, me jogando na parede do quarto no andar de cima de sua loja. Quase um sótão, cheio de caixas, documentos e papeis – aliás, artifício que ela usou para que eu a acompanhasse até lá. Eu, apenas deixei que ela fizesse o que quisesse, na verdade sabia de sua vida melhor do que ela imaginava. Todos na cidade, pelo menos homens, sabiam que ela era uma mulher traída. Muitos de nós víamos o seu marido pela cidade bêbado, às vezes com vagabundas baratas, às vezes com suas próprias amigas. E todos sabiam também que ela sabia. Sua magoa era grande e corrosiva. Muitas vezes foi forçada a ir buscá-lo em becos nojentos em plena madrugada, por que ele não conseguia se levantar. Ou também fora chamada em bares que ele freqüentava por ter ficado desacordado enquanto se embriagava mais do que podia. Ela nunca chegou me ver nesses mesmos bares, porém, eu a via, a via carregando-o e a via chorando de raiva ao fazer isso. Ela nunca havia feito nada comigo, até então, nessa certa vez. Ela chorou no ato inteiro, talvez por dor – nunca fui muito delicado – e tinha certeza que era por medo e remorso. Mas, eu sabia o quanto ela precisava disso para se sentir mulher novamente. Chamava-se Diana. Ela tinha três vezes a beleza que Wone jamais chegou a ter. Sem dúvidas era linda e todas as mulheres sentiam inveja de sua beleza. Muitos de nós, homens, não entediamos por que seu marido a fazia de gato e sapato sendo tão linda. Era ávida e fogosa pelo o que pude perceber – quase sádica. Ela era quase perfeita, mas... Era séria demais. Calada demais. Nunca dava para perceber o que pensava ou sentia. Tinha classe e porte. Porém, raramente a via, então eram poucas vezes que nos encontrávamos. Posso confessar que às vezes sentia falta dela, mas não era sempre.

Um dia quando cheguei à loja e Sra. Diana não estava – aliás, havíamos combinado que nesse dia eu ficaria mais um pouco para ajudá-la a arrumar o sótão, não entendi seu sumiço -. Fui direto a Wone, e perguntei-lhe onde estava a sua mãe, ela não sabia. Eu nunca havia tido interesse em Wone, na verdade, poucas vezes havia reparado nela. Porém, vê-la corar por inteiro me fez sorrir, na mesma hora me aproximei e disse-lhe como ficava bonita corada... Disse em um tom baixo o suficiente para que apenas nós dois pudéssemos ouvir dentro daquela grande loja, não queria chamar atenção e nem ela fez nada que me dissesse que eu estava sendo indelicado e inconveniente, acredito que ela até tenha gostado. Dei uma risada então a convidei para um café, ela aceitou imediatamente. Enquanto caminhávamos, ela olhava para os pés, totalmente rubra e soltava um sorriso desconcertado quando se virara para olhar para mim quando eu falava algo.

Sem pensar, eu perguntei por que ela gostava tanto de mim se nunca havia me dirigido à palavra, eu poderia ser um canalha, porque não? Não especifiquei que era, todavia... Ela continuava envergonhada agora se agarrando ao seu casaco, mais contida, então falou pela primeira vez: “Você parece um anjo, não pode ser um...” completei sua frase dizendo: “canalha”. Fiquei quieto até chegarmos ao café, mantinha as mãos dentro dos bolsos do casaco e mantinha o olhar fixo na rua, observando a movimentação grande e ouvindo todos os ruídos que aquela avenida poderia nos proporcionar. Os artistas de rua a cantar. Vendedores ambulantes a berrar seus produtos. Até os poucos carros pela rua a fazer um barulho alto e irritante.

Quando chegamos ao café, pedi um pequeno café bem forte, sem açúcar, sem nada... Puro, como eu gostava. E ela pediu apenas um chá preto. Ela sorriu radiante quando o pedido chegou em forma de agradecimento à garçonete. Acho que em toda minha vida até então aquele sorriso tinha sido a coisa mais linda que havia chegado a ver. Era cheio de ingenuidade e tinha um quê de menininha. Dei uma doce risada para ela, enquanto a observava de forma bem analítica. Tinha acabado de ficar interessado nela sem me dar conta, fiquei mais interessado do que jamais havia ficado em sua mãe. Conversamos sobre artes, música e filosofia. Então quando vi que horas eram... Já estava tarde, bem, naquela época era tarde... E a moça ainda não havia ido para casa. Eu não havia ficado muito preocupado, na realidade, se ela estava comigo nada aconteceria, mas ela quase entrou em pânico. Então novamente levei-a pelo seu trajeto, andava calmo enquanto ela queria correr, para chegar o mais rápido possível, mas não tinha coragem de andar sozinha pela rua, então acabava me esperando.

Quando chegou em casa, inclinou-se para frente e me deu um pequeno beijo selando os lábios. Deveria ter sido seu primeiro beijo, pois ela realmente não sabia onde enfiar o rosto depois que acabou. Deu três toques na porta, não ousando olhar para trás. Quando sua mãe abriu, estava com uma expressão brava, mas nada fora do seu normal, aliás. Mandou Wone entrar e ir para seu quarto, em tom bravo. Pude perceber Wone tremendo de medo. Diana ficou no parapeito da porta me observando, enquanto eu me encostei na parede do corredor e lhe sorria. Ficamos em silêncio durante alguns minutos. E antes de ir embora dei uma risada e me despedi dela com um aceno e mandando-lhe um beijo. Não fiquei lá para ver qual seria sua reação, na verdade nem queria estar perto.

Os dias foram passando, e eu me machucando cada vez mais para subir pela àrvore que crescia entrelaçada na pilastra que era base da varanda do quarto de Wone.Mesmo sabendo que sua mãe havia a proibido de me ver, ela abria as venezianas quando ouvia a barulhada que eu fazia.

Ela era uma menina doce e linda. Cheia de sonhos, quereres... Parecia mais obstinada que Demétria. Sempre dizia que um dia sairia daquela casa, que teria uma vida própria com um grande amor e viveria por ele. Gostava de estar com ela, ter-la deitada em meu peito enquanto acariciava suas madeixas que se derramavam por ele. Ela me contava seus sonhos. Às vezes recitava versos de poetas famosos o que a fazia ficar feliz, e também às vezes, apenas ficávamos em silêncio olhando-a, tentando ler seus olhos, e ela também fazia, tentava ler minha mente e dizia que eu era triste e que nunca sorria a não ser quando algo me trazia sensações impuras. Nunca houve mais que isso nos primeiros tempos, na verdade, nunca cheguei a se quer vê-la nua. Ou sentir seus seios na mão, ou qualquer outra parte do corpo que despertasse prazer carnal. Eram apenas conversas. Confissões. Segredos.


Minha família estava se reerguendo e podíamos morar em uma casa maior agora. Mas foi penoso deixar o apartamento onde eu nasci. Não cheguei a ir no ultimo dia que dormimos lá, em casa. Na verdade não queria de modo algum deixar aquela casa. Mas o que eu podia fazer? Éramos em cinco agora e não éramos tão precários como antes. Era estanho pensar que nunca mais veria aqueles apartamentos de novo com tanta freqüência. Não jogaria mais xadrez com o Sr. Arkadiuns e nem ouviria suas histórias. Nem ouviria mais os berros das crianças ao brincar de tarde na rua. Nem ficaria irritado com elas. Era triste para mim deixar aquele prédio.

Meu pai tinha muito trabalho e minhas irmãs cresciam felizes, apesar de tudo... E isso me deixava alegre. A vida estava sendo recompensadora novamente. Todos felizes em casa. A nova casa era perto do centro, linda e cara. Acho que era os sonhos da minha mãe aquela casa. Ela sempre dizia que lembrava a infância dela.

Viver naquela época era quase um cotidiano chato, nunca gostei de coisas estáveis e nenhuma aventura. Então decidi fazer algo para mudar aquilo. Já fazia alguns meses que meu caso com Wone existia, e eu comecei a me cansar de nunca acontecer algo mais íntimo entre nós.


Quando finalmente ia possuir Wone, decidimos fugir de Berlim. Estava tudo pronto, como iríamos, onde nos encontraríamos. Tudo. Planejamos sair em uma sexta-feira à noite, na cidade acontecia um baile, onde ambos os nossos pais estavam. Isso significava que ninguém poderia nos pegar. Quando partimos fomos para o interior do país, sentido litoral (Kiel). Mas, não se passou uma semana e Wone quis voltar para casa. Isso levou a termino de nosso relacionamento. Ela estava insegura, e eu não era uma pessoa que gostava de ficar sobre as pernas bambas, e ela sabia. Pensar que isso que eu tinha feito por ela, abandonar minha família, não significava nada, me deixo tremendamente irritado também. Digamos que isso foi o mais perto que cheguei de ter um relacionamento sério com uma mulher. Chamo de quase casamento, por que afinal, era isso que eu queria com ela. Ela me inspirava demais confiança, coisa que nem sua mãe e nem Demétria jamais fizeram.

Depois dela, só houve casos e mais casos. Talvez eu tentasse fugir, e não queria mais pensar em casamento. E a maioria destrutivo... Para elas. Todas sabiam que para mim nunca passou de joguetes de rato e gato.

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Continua.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ertrankt" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.