Ertrankt escrita por petit_desir


Capítulo 1
Capítulo 1 - Primeiro Ato




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       Quando realmente falamos de uma vida, seja a nossa, ou qualquer uma, sempre começamos de um jeito comum, tal como: Chamo-me Raphaël, e tenho 24 anos, ou melhor, morri com esta idade. Sou imortal há mais tempo do que você, que está lendo, está vivo. O mundo para mim sempre teve cores diferentes, e mesmo depois de morto, ele passou a ter mais brilho do que antes, ou quase.

       Nasci em uma família de classe média, e que antes havia sido rica. Naquela época eram bem comuns situações como a minha. A Primeira Guerra Mundial havia quebrado grande parte da Alemanha, e é claro que não havia sido diferente com nós. Meu pai era advogado e minha mãe, dona de casa. Logo nos primeiros anos de casamento eles me tiveram. Nasci em 08 de Novembro de 1918, alguns dias antes da Guerra ter sido declarada encerrada, mas, ao contrário da grande população que estava alegre, meus pais tiveram sérios problemas com tudo isto. Eu havia nascido sem saúde e possivelmente, com morte certa. Não levaria muitos dias. Enquanto eu ficava em observação, tentando uma inútil recuperação, minha mãe passava os dias rezando, prometendo e chorando. A única promessa que eu sabia que ela havia feito, foi a que destinou em meu nome. Minha mãe era uma mulher extremamente religiosa e sua fé era indiscutível. Raphaël havia sido especialmente por que significava “curado por Deus”, mas, ela modificou o modo de escrever, apenas para dar um ar alemão ou francês. É óbvio saber que a promessa se consolidou, por que eu sobrevivi.

       Cresci como uma criança normal, e por incrível que pareça, esbanjando saúde. Aos 14 já trabalhava com meu pai, como seu “Office-boy”. Nessa mesma época, minha mãe teve sua primeira filha. Irma. Uma menina linda, de cabelos loiros e olhos azuis... Era como eu, quando ainda era um bebe, mas ao contrário de mim, tinha o olhar hipnotizante. Era difícil ficar longe dela por muito tempo. Dois anos se passaram, até que Apolline, minha segunda irmã, nascesse. Aquele mesmo amor magnético que eu havia sentido por Irma, eu senti por ela. As duas haviam me feito muito feliz.

       O trabalho com meu pai também havia mudado minha vida. De criança, passei à homem, quando completei 16 anos. Demétria veio e me trouxe um presente que jamais saiu de minha vida, até então: O sexo. Grande parte da minha existência foi movida por esse único ato, e por causa dele, eu realmente pude dizer que estava vivo. O sexo trouxe mulheres como Demétria, Diana e futuramente, Wone.

       Wone foi a mulher que eu decidi passar minha vida. A mulher que eu havia decidido me casar, ter meus filhos. Construir uma vida de verdade, como meus pais. Mas, ela era apenas uma garota e uma garota jamais poderia fazer isto, apesar, de serem as únicas que realmente acreditam numa vida dessas – o que as tornam mais garotas ainda. Wone foi um desapontamento para mim, depois de termos vivido apenas uma semana juntos em Kiel. Ela jamais seria capaz de realizar meus sonhos.

       Quando finalmente voltei para Berlim, depois desse desastroso episódio, minha vida tomou outro rumo novamente. Com 24 anos, eu havia sido mandado à Guerra.

       Lutar por meu país. Por minha pátria. Por minha raça.

       Mais do que óbvio, caí no primeiro tiro levado. Não sou um guerreiro, bem, pelo menos não no sentido bélico. Não quis aprender a ser isto, que eles me obrigaram e esse tiro, foi apenas a conseqüência de uma história concluída. Mas, eu não morri, pelo menos, não lá. Eu morri alguns dias depois, pelas mãos de um verdadeiro predador, enquanto estava perdido em algum da Holanda.

       Quando já era o que chamamos de imortal, eu voltei para minha casa. A Segunda Guerra havia terminado, e levado com ela, além de uma pátria em destroços, mortes de políticos e pessoas inocentes; meus pais e irmãs. O mundo se tornou preto e branco naquele momento. As cores haviam ido embora por um funil... Junto com a minha vontade de viver.


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Notas finais do capítulo

Continua.



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