Outubro de 2006

Há dois anos a família Benson se mudou para Seattle. Nesse meio tempo, Freddie aprendeu a controlar sua visão de raios-x (que ele nem sempre usava sabiamente), e todos seus poderes parecem ter aumentado. Sua fraqueza quando está perto da Sam continuava, mas agora ele desconfia o porquê. Ela carrega em seu pescoço uma corrente com uma pequena pedra verde, que emite uma radiação estranha e que o afeta profundamente. Felizmente, essa pedra era a única que ele tinha encontrado até agora. Ele imagina, se uma pedra com menos de meio centímetro o faz passar tão mal, o que aconteceria se topasse com uma maior?

Sam parecia gostar muito dessa joia, já que ela nunca o largava. Por conseguinte, Freddie procurava manter distância da garota, o que foi aumentando a inimizade entre os dois agora adolescentes. Sam o aporrinhava a toda hora, e Freddie se defendia como podia, com insultos.

Os dois apenas conviviam juntos porque ambos consideravam Carly sua melhor amiga.

Sua mãe conseguiu terminar os estudos e já trabalhava com enfermeira em um hospital conceituado da cidade. Ela detestava o que Freddie estava fazendo, mas não podia pará-lo. Era uma causa nobre, e ela sabia que nem uma bazuca feriria seu filho.

Freddie já tinha parado inúmeros crimes nesses anos, sempre de forma discreta e sem deixar pistas. O índice de criminalidade de Seattle havia até caído, e sua simples lembrança fazia as almas dos marginais gelarem.

Obviamente, a imprensa havia se interessado e até dado um apelido para ele: o Borrão. Tudo isso porque em todas as cenas registradas por câmeras de segurança, o que se conseguia ver era uma mancha, um borrão na tela, sem se identificar o herói. Freddie não gostava muito desse apelido, mas o que ele poderia fazer?

Sua vida estava boa, o único problema era que sentia muitas saudades de seu pai. Nas poucas horas em que o garoto dormia (ele nunca sentia sono, mas precisava dormir de vez quando para sonhar e manter a sanidade), ele sonhava com as brincadeiras pelo campo junto com Jonathan; o pensamento de que seu pai está orgulhoso do que está fazendo ajuda o garoto a suportar a ausência dele.

Neste momento, Freddie está sentado em um banco no intervalo das aulas, relembrando uma tarde em que jogava futebol americano com Jonathan, quando é interrompido pela voz suave que ele adora.

“Freddie? Terra para Freddie?”

“Hã... oi, Carls...”

“Posso pedir um favor pra você?”

“Manda.”

“A Sam - que novidade - me meteu numa encrenca, e, pra ela não ser expulsa, eu assumi a bronca... só que a Briggs agora tá me obrigando a filmar algumas apresentações de alunos pro show de talentos da escola. Eu tava pensando se você não pode me ajudar, emprestando uma câmera de vídeo...”

Carly fez sua cara de anjinho pidão que sempre desarmava Freddie.

“Claro, se quiser eu filmo. Quando?”

“Amanhã, às 8. Se você puder me ajudar, ia ser muito legal.”

“Beleza, marcado.”

Freddie sorriu e pensou que esta seria uma boa oportunidade para fazer algo bom à Carly e quem sabe finalmente conquistá-la. Além do mais, Sam aparentemente não iria, então seria uma das raras oportunidades em que ele estaria sozinho com a Carly.

No dia seguinte, ele trouxe todo seu aparato eletrônico e tinha tudo armado faltando ainda 40 minutos para as apresentações.

Um pouco depois da hora marcada, a velha sensação de fraqueza. Sam estava por perto.

“Oi, CaipirEddie! Saudades da mamãe?”

Sam diz isso, fazendo um cuecão no garoto. Ele instintivamente dá alguns passos para longe dela. Com o passar dos anos Freddie tinha aprendido a esconder melhor a dor que sentia quando Sam estava próxima dele. Infelizmente, ‘estar próxima dele’ geralmente significava que ela estava lhe dando algum castigo físico.

“Sam! Para de atormentar o Freddie!”

“Eu-eu... não sabia que esta coisa vinha...!”

“Ah, ela me colocou nisto, ela vai me ajudar! Né, Sam?”

“Tá... que seja. Mas não precisava chamar esse baba-ovo.”

Freddie pega sua câmera e diz.

“Vamos terminar logo com isso!”

Carly e Sam se sentam à mesa de jurados e Freddie começa a filmar um por um cada candidato com seus números, alguns bizarros e engraçados, e outros totalmente sem graça. Ele repara que Sam e Carly fazem tiradas muito engraçadas comentando cada número e resolve colocar uma câmera só para filmá-las.

Freddie detesta Sam, mas tem de admitir que ela o faz rir, exceto quando a garota está a menos de dois metros dele. Ela e Carly formam uma boa dupla.

Algumas horas depois, os três adolescentes já tinham terminado as audições. Sam e Carly resolveram ir a uma lanchonete, enquanto Freddie voltou para casa, para editar os vídeos. Ele se senta na sua escrivaninha, liga o computador, transfere os arquivos de vídeo para o HD e começa a editá-los. Alguns minutos depois, ele já tem dois vídeos prontos. Um com as palhaçadas de Carly e Sam e outro com as audições, que ele pretendia mostrar para elas depois. As meninas tinham dito para ele fazer um upload no SplashFace com as audições.

No momento de fazer o upload, porém, ele ouve um pedido de socorro na zona leste.

Apressadamente, ele escolhe um arquivo, dá o comando para o upload e sai correndo para socorrer a vítima. Era o arquivo errado.

Minutos depois de ter resolvido o problema, ele volta para seu quarto, dá uma conferida no andamento do upload - apenas 15% - e resolve se deitar. Ele olha para o relógio - 18:15 - e um pensamento safado lhe vem à cabeça; ele aciona sua visão de raios-x combinada com sua visão telescópica, olhando em direção ao apartamento da Carly.

A garota estava se preparando para tomar um banho, o que Freddie já sabia, era o horário em que ela normalmente fazia isso.

Ele dá um sorriso e continua a olhar enquanto ela tira sua calça e logo depois sua blusa. No momento em que vai tirar o sutiã...

… dois feixes vermelhos saem de seus olhos, botando fogo no teto do seu quarto.

“Merda! O que foi isso?!?”

Ele rapidamente assopra forte e extingue o incêndio.

Em frente ao espelho, ele olha para seus olhos, desesperado.

“Oh, meu Deus, fazia anos que não apareciam novos poderes! O que é isso?”

Preocupado, ele olha o estrago feito ao seu quarto, e um pensamento sombrio invade sua mente. O que aconteceria se ele soltasse esse raio em uma pessoa?

Sem tardar, ele sai de seu apartamento e vai para o local deserto mais próximo, um grande campo sem ninguém à vista. Precisava dominar aquele novo dom antes de ferir alguém.

Freddie respira fundo e procura fazer mira em uma rocha. Nada acontece.

Ele fecha os olhos e procura lembrar o que sentiu naquele momento. Tenta visualizar a visão de Carly seminua, e, quando se concentra bem, novamente os feixes são lançados, derretendo a rocha.

Depois de quatro horas, ele consegue controlar o novo poder; Freddie está receoso em usá-lo, pois acaba de cortar rochas ao meio com ele. O uso em humanos está definitivamente descartado.

Ele volta rapidamente para casa.

Sua mãe está no turno noturno, e, como a noite está calma, ele resolve tomar um banho relaxante, e, depois de terminado, coloca seu pijama, confere o upload - terminado há cinquenta e cinco minutos - e vai se deitar, sem deixar de prestar atenção ao que está acontecendo nas redondezas.

Freddie ouve uma série de batimentos cardíacos já conhecida, junto com barulhos metálicos.

“Tsc... a Sam está arrombando a minha porta... o que será que ela quer?”

“Nerd! Vem comigo agora!”

Ela vem rapidamente em sua direção e, fraco, é agarrado por ela arrastado pela camisa do pijama até o apartamento dos Shay. São dolorosos metros.

“Uhnnn... o que aconteceu?”

“Você upou nossas palhaçadas! Dá pra ver e ouvir a gente falando mal de todos os professores!”

“Não, imagina... eu upei as audições. Vou mostrar...”

O garoto vai até o computador do balcão e entra no SplashFace, e, para seu terror, percebe que as garotas estão certas, ele havia feito o upload do vídeo errado.

“Calma! Eu vou deletar... ninguém vai ver.”

Freddie acessa as opções do site e se decepciona com o resultado.

“Seu vídeo será deletado em... 24 horas... oh, não...”

“Eu vou te matar, Freddie! Você vai me fazer ser expulsa!”

Sam diz isso e parte para cima dele, mas Carly a impede, para alívio do garoto. A morena tenta acalmar os ânimos.

“Calma, gente... talvez a velha coroca nem veja isso... ela nem deve saber o que é SplashFace...”

Porém, na segunda-feira, a primeira coisa que a Srta. Briggs faz ao ver os jovens é citar como seus peitos pontudos são esquisitos. Para alívio das duas garotas, entretanto, a resposta da professora foi apenas essa. E para desânimo delas, a professora havia escolhido apenas as apresentações menos engraçadas, ignorando as que elas haviam escolhido.

Tentando mudar o assunto, Freddie fala:

“Ainda bem que não passou disso, né...”

As duas assentem, Sam com menos humor que Carly.

“Não sei se vocês viram, mas tivemos quase 30 mil acessos.”

“Nossa, é gente pra caramba!”

Carly pensa um pouco.

“E se a gente transmitisse um show com a galera que a Srta. Briggs não quis?”

Sam concorda.

“Seria legal!”

“E o nome?”

Freddie sugere ‘iCarly’, nome que todos gostaram. Eles se reúnem mais tarde para acertar os detalhes.

Com tudo ajeitado, os três jovens espalham de todas as maneiras possíveis a notícia do webshow, e, na sexta-feira, transmitem pela primeira vez o programa, que fica bem engraçado. Freddie confere a audiência, com as duas adolescentes nervosas esperando a informação.

“Cinquenta mil.”

Os jovens pulam e comemoram, cumprimentando-se, e Freddie até esquece do ‘problema’ com a Sam. Freddie arruma os equipamentos, enquanto Sam e Carly vão contatando seus colegas para uma festa que seria realizada naquela noite.

A festa é divertida, mas Freddie dá uma desculpa (mãe preocupada) para sair mais cedo, assim que ele ouviu uma conversa da Carly com um garoto da escola, Paul; pelo tom da conversa, era quase certeza que eles ficariam.

Freddie sentou-se na escada de incêndio e começou a monitorar os problemas da cidade, mas não pôde deixar de ouvir os sons dos beijos dados em Paul pela garota que ele gosta.

E, neste momento, o garoto sente seu invulnerável coração kriptoniano ser machucado.