When All My Love Is Gone escrita por Cherry


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Minha primeira fanfic. Espero que gostem!



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O sol ia se pondo omisso no céu nublado naquele fim de tarde. Era uma paisagem típica, principalmente nos dias movimentados de inverno. Pessoas iam e vinham como se o tempo sempre fosse curto demais para o tanto de coisas que planejavam fazer. Sem perceber, estão encurtando a própria vida almejando atender às expectativas dos outros que esquecem o verdadeiro significado de ser feliz.

Aliás, a felicidade perdeu o sentido. Pelo menos para Alicia, o mundo tinha perdido a cor. Estava em um café a poucos metros de casa, sentada em uma das mesas no lado externo. Seus cotovelos apoiavam-se sobre o tampo de vidro e um rosto pensativo repousava na palma de sua mão. Ao lado, um copão de cappuccino esperava a hora de ser ingerido pela sua dona. Mas esta não estava com a menor vontade de sequer provar o sabor, sua mente estava vagando sem rumo procurando uma razão. Ás vezes, cansada, relembrava uma música qualquer, ou uma piada que ouviu, mas sempre voltava ao seu ponto de partida.

Jamais iria esquecer o que ele fez. Pior: o que ele disse depois de ser desmascarada a pose de bom moço que ele tinha, e a galinha que ele realmente é ter vindo à tona.

***

Alicia esperava pacientemente na mesa do restaurante. Tinha marcado de se encontrar com ele a quarenta e cinco minutos atrás, estava realmente atrasado! Odiava atrasos, principalmente em um encontro com um namorado, já que ela era sempre tão pontual em todas as ocasiões.

 Mas isso a fizera refletir sobre tudo que viu antes: a impaciência repentina dele, sua cara de desinteresse quando ela desabava de alguma coisa cotidiana, o silêncio perturbador, a falta de assunto sempre que os dois estavam sozinhos, o seu olhar perdido. Principalmente a falta de... amor! Sentia saudades do tempo em que ele olhava diferente para ela, mas isso foi esfriando tão gradualmente e ao mesmo tempo rápido demais. E ela sempre se pegava perguntando “o que eu fiz?” sem resposta alguma. Aquilo era torturante!

Até que aconteceu. Na festa de sua melhor amiga, com um vestido preto, cabelo desarrumado e sentimentos borrados, viu a verdade nua e crua correr em sua direção e lhe dar um tapa. Um tapa tão forte que quase não sentiu.

A pouquíssimos metros dali, o garoto que ela tanto gostava estava aos beijos com uma estranha que ela nunca ouviu sequer falar. Tinha o corpo mais robusto que o seu, mais altura, mais busto. Estava usando um vestido vermelho que não a valorizava em nada – só acentuava os quilinhos a mais na balança – saltos pretos em tiras que se esforçavam para caber naqueles pés e cabelo alisado, preto e sem movimento algum. Tinha pele morena e rosto com um blush rosa excessivo. Pela animação dos dois, pode-se imaginar que aquilo poderia acabar nos bancos do carro do seu pai. Ou ali mesmo, mas ela não queria estar ali para ver, de qualquer forma.

A dor foi no coração. Mas foi uma dorzinha abafada, só para não perder o costume. Ela ficou inerte a qualquer sentimento de culpa ou rejeição que pudesse vir naquele momento. E, com a boca seca e um nó na garganta, ficou lá parada por vários minutos, vendo as coisas esquentarem mais e mais. O casal não reparou o olhar que ela mandava para aos dois. Talvez sua presença fosse tão insignificante, que Alicia e nada para ele eram as mesmas coisas.

Enquanto todos os convidados soltavam uns bons “Fireworks” ao som de Katy Perry, Alicia apenas pensava em sair daquele lugar. Procurou sua amiga, e depois de alguns “por quês” e um pedido para ficar até o final da festa, estava com os pés fora do salão.

A garota tirou os saltos e colocou as sapatilhas, era um alívio para suas pernas. Mas a sua cabeça estava a mil e tinha a impressão de que o seu coração rachou. Nos seus olhos brotaram lágrimas, mas não foram pesadas o suficiente para escorrerem pelo seu rosto.

Agora estava lá, esperando o dito cujo que parece ter medo de dar as caras. Na milésima vez que pegou o celular para ver as horas, viu um rapaz familiar entrar no recinto. De cabelos loiros e olhos verdes-escuros realmente sedutores, tinha média estatura, mas era alta demais para ela. Estava com a impaciência que Alicia notara nos últimos tempos.

Sentiu seu coração vibrar, não de paixão, mas sim de nervosismo. Iria colocar todas as cartas na mesa. Não sabia qual seria sua reação, mas no fundo, no fundo, estava bastante confortável com as coisas indo pelo caminho que vão. Quem sabe, terminar tudo na base da conversa, fosse mais saudável do que fazer barraco e sair de lá despedaçada, com o orgulho ferido?

Olhou para baixo e começou a descascar o esmalte das unhas. Ouviu ele se sentar e um suspiro cansado. Respirou fundo e ergueu a cabeça:

_ Como vai?_ Tentou falar normalmente, mas sua voz saiu mais densa que de costume.

_ Bem. O que vc quer falar?

_ Bem..._ Queria partir logo pro assunto da festa, mas preferiu ir com calma._ Thiago, o que aconteceu ultimamente? O que aconteceu com nós!_ Vendo que ele se calou, prosseguiu_ Você era tão gentil comigo, mas ficou tão distante! Foi alguma coisa que eu fiz? Se for, eu me arrependo muito de ter feito! Eu gosto de você, Thiago! Sério..._ e sua voz morreu ali.

_ Alicia, na boa, se você me chamou aqui para discutir a relação...

_ Thiago, por favor!_ Ela pegou na sua mão e olhou para o fundo dos seus olhos._ Você gosta de mim?

A resposta veio após segundos. Segundos que, para ela, parecia uma eternidade.

_ Eu gosto de você.

_ Mesmo?_ Alicia ainda olhava fixamente para os olhos de Thiago. Isso o assustou.

_ S-sim!

_ Não minta!

_ Alicia, o quê você quer com isso?

_ Quero saber por que...

_ O quê?

_ Por que você estava beijando aquela garota na festa? Por quê?!

Ele novamente se calou. A garota não sabia dizer se era surpresa por ela ter visto, ou por causa da pergunta direta que ela fez. Mas os seus olhos arregalaram-se com o fato, talvez ele fosse mesmo pego em flagrante.

_ Quem te contou isso?

_ Ninguém, eu vi você agarrando uma menina nos quinze anos da Camila._ Endireitou a postura no banco_ Você pelo menos usou camisinha? Trair e ser papai ninguém merece..._ E riu da própria piada infame, sem humor.

Sem uma resposta imediata, Alicia abaixou a cabeça, esperando. Como ela demorou muito, continuou:

_ Sabe, se você tivesse me dito que o amor tinha esfriado, que perdeu o interesse em mim, eu te compreenderia. Mas fazer isso quando a outra pessoa não sabe Thiago? Pra mim é inadmissível! Em alguma vez, você pensou como eu me sentiria? Teve alguma vez que você pensou como eu me sentiria?_ a voz se alterava gradualmente, mas ainda sim num tom educado.

_ Se você conseguiu reparar nisso, então por que me chamou aqui?_ Olhou de novo para ele, sem entender. Ele prosseguiu debochado, erguendo a voz_ Sério, você acha que eu continuaria te namorando? Você é muito otária! Olha só pra você! Você não combina com o meu estilo e nem com a galera que eu ando. Você é uma mosca morta, eu só peguei alguém melhor do que você! Qualquer um no meu lugar faria isso!

Terminado o desfile de insultos, o rapaz levantou e foi embora sem dizer mais nada. Algumas pessoas vizinhas a mesa assistiram a tudo como se fosse uma novela, e esperavam ansiosos o desfecho daquela discussão. Depois que ele se retirou, os olhares voltaram para “a pobre garota que acabou de levar um pé na bunda”. Alguns cochicharam suas opiniões em voz baixa, lançando olhares de pena. Alicia odiava isso.

O nó na sua garganta estava mais forte, e sentiu a sua face esquentar. Pegou seus óculos escuros em cima da mesa – para, talvez, esconder a sua vergonha – e saiu do restaurante, evitando tudo a sua volta. Se Thiago lhe desse um tapa, não machucaria tanto! Mas ainda bem que ele não deu, pois ela ainda poderia continuar amando-o.

***

Tudo aquilo rondava a sua cabeça em flashes. A festa, o beijo, o fora, as palavras rudes. Também se lembrou do início do namoro, quando ela se sentia protagonista de um filme de romance adolescente. Quando os dois se beijaram pela primeira vez, Alicia quase acreditou que o seu coração iria explodir de felicidade. Não teria problema se morresse, ela estava feliz.

A partir dali, começou a confiar cegamente nele, tanto que não via as merdas que ele fazia nas suas costas. Talvez ela fosse mesmo otária. Otária o suficiente para confiar/amar um cara que não vale o prato que come.

Ficou olhando fixamente os seus joelhos através do vidro. Sua testa apoiava-se nas mãos geladas, com os dedos se enroscando nos seus cabelos castanhos. A visão era embaçada e, novamente, nenhuma lágrima correu pelas suas bochechas. O copo de cappuccino estava vazio em sua frente. Estava muito magoada, isso era fato. Mas, bem no fundo, já sabia que isso iria acontecer. “No amor, não existe assistência técnica ou garantia, e muito menos prazo de validade.” Lembrou o que sua amiga tinha dito uma vez. Era pura verdade.

Pelo menos, aquela fossa tinha um lado bom! Agora, podia ouvir músicas melosas e comer uma caixa inteira de chocolate sem culpa. Não gostava de se martirizar, só achava muito engraçado fazer drama e fingir a coitadinha às vezes.

Ficou um pouco mais animada. Respirou fundo, tinha que tocar a vida para frente. Apesar das palavras rudes que o garoto que ela gostava lhe disse, não podia tomá-las como verdade. Tem muitos caras que dariam tudo para ficar com ela. Já Alicia, não queria ter nenhuma relação amorosa por tempo indeterminado. Não até ela ter estancado o sangue do seu coração, colocado gaze ou band-aid. E isso ia demorar muito tempo, disso ela tinha certeza.


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