Existem diferentes tipos de contatos: aqueles que você faz questão de manter em sua agenda, os que não fazem diferença – estão lá por estar -, os facilmente apagáveis e os que você se esforça para se livrar, mas não consegue.

Já perdera a conta de quantas vezes voltava atrás naquela decisão, por mais que quisesse acreditar que deletar o número de seu celular era como apagar a existência daquela pessoa em sua vida. Tentava evitar – jurava – porém seus pés sempre o levavam para aquela mesma direção, não importando o quanto corresse para longe. Era como se um poder mais forte o obrigasse a caminhar para perto dele.

Terminou de subir as escadas para passar por cima da rua movimentada, levantando o olhar e vendo um ponto negro vindo na direção contrária a si. Sozinho, a cidade parecia maior e mais opressora, assim como a vontade de dar as costas para tudo. Izaya, ao ver Masaomi com feições tão sérias, somente alargou o sorriso de praxe.

– Ara, que surpresa, Masaomi-kun! Ainda mais sem a companhia de Mikado-kun e Anri-chan...

– Nem tanto, Izaya-san. Tem vindo muito a Ikebukuro... Algum motivo especial?

O moreno riu, retirando as mãos dos bolsos do casaco, balançando-as no ar.

– Não, realmente. Apenas estou observando como algumas coisas se desenrolam... – Estreitou os olhos, dando um passo e encurralando o menor contra a grade de segurança feita em arame. – Ah, não se preocupe... Você também faz parte do meu passatempo.

– Me deixa em paz.

– Hahah, impossível, Masaomi-kun – elevou uma das mãos, tocando a nuca do mais novo. – Estamos ligados. Lembra como você vinha me procurar, repetindo diversas vezes “Izaya-san, Izaya-san”? Ainda agora, se acontecer algo, você virá até mim. É assim.

Tomou uma das mãos do loiro, elevando-a na altura dos próprios lábios, depositando um suave beijo exatamente no mindinho do garoto.

– Já ouviu falar na linha vermelha do destino? É como isso...

– Pare de dizer coisas estranhas – afastou a mão, levando-a até a alça da bolsa de escola. – Prefiro estar ligado com uma garota bonita. Irei cortá-la, se for verdade.

– Ah~, não seja tão malvado – abraçou o loiro, trazendo-o para perto de si. – Mas é impossível fazer isso, não importam quantos nós sejam feitos ou o quanto se estique... Você está ligado a mim e... Você costumava ser mais fofo.

Observou o informante, afastando apenas o tronco, percebendo que Kida estava mais alto – os lábios pareciam a uma distância menor.

– Você ficou cresceu um pouco, talvez? A altura de nossos lábios parece diferente.

Os braços permaneceram inertes, sem retribuir ou afastar o moreno, que lhe tomou o queixo e selou os lábios. Não era intenso, nem forçado: apenas um toque simples e com alguma delicadeza, apenas para relembrar aquele sabor. Os carros passavam rápido por baixo da passarela, os feixes de luz se misturando ao cenário.

O contato não durou muito, o informante se afastou, colocando as mãos nos bolsos e retomando a caminhada.

– Você nunca conseguirá se livrar de mim, Kida Masaomi-kun! Lembre-se disso.

Lançou um sorriso para trás, desaparecendo dos olhos do loiro que suspirou pesadamente e deixou o corpo escorregar, sentando-se no chão. Retirou o celular do bolso, encarando o visor brilhante com o número do informante, de repente sentindo as bochechas quentes.

– Idiota...

Murmurou para si mesmo, abraçando os próprios joelhos, sem saber se falava de Izaya ou de si mesmo. Revelando apenas os orbes âmbar, fixou o dedo que o mais velho beijara, sentindo o local formigando.

– Será que posso me deixar levar pelo destino?

Acabou externando os próprios pensamentos sem perceber, suspirando uma vez mais, fechando os olhos. Se era impossível apagar... talvez devesse parar de fugir.