Premonição 3: Redenção escrita por Lerd


Capítulo 8
Culpa De Sobrevivente


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela demora COLOSSAL, mas cá estamos. A fic não vai parar! Sacomé férias né? Bom, enjoy! Os dois últimos saírão em breve, sem esse hiatus gigantesco.



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"E sofreste, e tens paciência; e trabalhaste pelo meu nome, e não te cansaste." (Apocalipse 2:3)


Kelsey havia ficado com o telefone de todos os sobreviventes e prometido que ligaria em qualquer ocasião em que ela sentisse que algo estava estranho, o mínimo que fosse. As dicas de Bludworth sobre coisas para as quais ela deveria ficar atenta estavam realmente ajudando. Aos poucos a garota percebia que seu medo, receio e desconfiança sobre o homem não tinham precedentes. Ele era realmente uma pessoa boa, disposta a ajudar. Aos poucos a garota se sentia mal pelo que pensara sobre Bill.

Na semana que se seguiu ao fechamento do campus, nada aconteceu. Kelsey mal conseguia dormir, e a cada mínimo sinal de alguma coisa estranha ou agourenta, ela ligava para Melissa, que logo contatava Bludworth. O homem tinha uma paciência invejável, e a morena confirmou isso na madrugada em que ligou chorando para ele após perceber que um porta-retrato seu caíra e o vidro quebrar bem em sua face. Não era nada, ela logo concluiu. Mas a calma e a boa vontade com a qual Bill reagira àquela situação, surpreenderam a garota.

Quem ainda não conseguia entender o pobre homem era Angel. Não poucas eram as vezes que ele alfinetava-o, ou até mesmo criticava-o explicitamente. Melissa já estava farta, embora assumisse que o real motivo era apenas ciúmes. Afinal, antes de ele aparecer, a loira dava plena atenção a qualquer coisa que o rapaz dissesse, ele era seu único confidente. Mas com a chegada de seu melhor amigo, Melissa mudara. Agora ela tinha alguém com quem tinha mais intimidade para conversar. Angel sentia-se deixado de lado, excluído. Não havia como culpá-lo por sentir ciúmes. Talvez por isso Melissa fazia questão de deixá-lo sempre à par de tudo.

Se Angel estava magoado e enciumado, Skip por outro lado sentia-se nas nuvens. Sua relação com Melissa evoluíra e os dois já haviam trocado um beijo. Calmo, sem nenhuma fúria passional incontrolável. O amor dos dois era terno, com os pés no chão. Como Melissa gostaria que fosse. Não havia um sentimento forte de desejo e uma vontade de ficarem juntos todo o tempo. Apenas um carinho especial, pacífico e constante. Para Melissa, era o suficiente.

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Melissa estava teclando algo em seu computador quando sua mãe bateu na porta. Ela atendeu e a mulher disse:

— Mel, é a Kelsey.

— Manda ela entrar, mãe.

E Jane segurou a porta aberta até Kelsey entrar.

— Obrigada, Sra. Davies.

— Pode me chamar de Jane, querida.

— Haha, tudo bem. Obrigada, Jane.

Jane riu e fechou a porta, deixando as garotas à sós.

— Aconteceu alguma coisa, Kel? – Melissa perguntou, preocupada. Ela e Kelsey tinham uma boa amizade, mas não era algo tão forte quanto, por exemplo, Bobby e Matt. Elas costumavam se ver sempre, mas dificilmente uma comparecia à casa da outra sem aviso prévio.

— Mais ou menos. Eu tive um sonho estranho hoje.

Melissa congelou. Lembrou-se de Alice e os pesadelos que a mesma tinha.

— Eu sonhei que estava nadando em uma piscina, mas ela parecia não ter fim, sabe? Eu nadava, nadava, nadava e nunca conseguia chegar à borda. Não era algo agonizante ou como se eu estivesse me afogando. Era mais como se eu estivesse presa. Entende?

Kelsey mal terminou sua frase e um imã caiu da pequena tela de metal que Melissa tinha no quarto. A loira apressou-se para pegar o objeto, e mostrou-o para a outra, ainda tremendo.

— Kelly...

O imã que caíra era o da letra K.

— Nós precisamos ir para a casa dela, rápido!

As duas desceram as escadas com pressa, entre protestos de Jane. A mulher ainda tentou argumentar sobre para onde as garotas estavam indo, mas em vão. Elas não estavam dispostas a esperar ou dar explicações.

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Heather caminhava empurrando a cadeira de rodas de Kelly no clube. A mulher usava um longo e fino vestido florido, bem como um chapéu de verão e óculos escuros. Já Kelly estava vestida com um shorts jeans e uma camisa regata branca.

— Mas que dia lindo! – Kelly exclamou.

A outra sorriu, concordando.

— Mas eu ainda não entendo porque você decidiu sair comigo hoje, prima. Quer dizer... Você está sempre tão ocupada, nunca comparece aos almoços lá em casa...

Heather parou a cadeira de rodas e ajoelhou-se em frente à Kelly, dizendo:

— Eu sei. E eu me sinto péssima por isso. Eu não dou o valor devido a minha família... Após o massacre na sua universidade, nós quase te perdemos... E nesses últimos dias eu tenho tido uma sensação estranha, como se eu precisasse me aproximar de vocês, sabe? Como se...

Mas a mulher não continuou.

— Como se o quê, Heather?

— Nada, Kelly. Não é nada.

— Fala!

— Como se nós não... Tivéssemos muito tempo.

A loira engoliu em seco. Será que Heather sabia sobre a lista e estava jogando indiretas ou ela realmente sentia-se daquela forma? Bastou um olhar para Kelly ter certeza quanto à sinceridade de Heather. Ela parecia ter um pesar grande, como se estivesse prevendo que algo ruim aconteceria.

— Eu vou no banheiro, você espera aqui, querida? – Heather disse.

— Claro. Mas não demore.

Heather afirmou positivamente e correu até o banheiro feminino. A cadeira de rodas de Kelly estava posicionada bem em frente à piscina do clube. O local estava completamente vazio, exceto por algumas pessoas que faziam piqueniques, mas essas estavam longe, há vários metros. A loira fechou os olhos e sentiu a brisa quente tocar seu rosto.

Foi quando a cadeira de Kelly mexeu-se involuntariamente. A garota abriu os olhos de súbito, assustada. Quando se deu conta a cadeira caiu dentro da piscina junto com ela. De princípio a loira não se preocupou: ela era uma ótima nadadora. Seus pais a colocaram na natação com poucos meses de idade, e ela era exímia dentro da água. A cadeira caiu direto no fundo da piscina, ainda com Kelly sentada. A garota tentou então sair do local, mas não conseguiu. O ferro do braço da cadeira havia prendido em sua camiseta e ela não conseguia soltar-se.

Kelly debatia-se, desesperada. Ela conseguiria segurar o fôlego por alguns segundos, mas se Heather não aparecesse rápido aquele era o seu fim.

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Heather estava prestes a entrar no banheiro feminino quando alguém a segurou pelo braço. Era Skip.

— O que você está fazendo aqui...? – Heather perguntou.

O rapaz nada disse. Encarou a repórter durante alguns segundos, e ela sentiu seu coração derreter com o poder de hipnose dos profundos olhos azuis de Skip.

— A Kelly me disse que vocês estariam aqui.

— Como você sabe sobre o parentesco entre mim e Kelly?

— Digamos que nós nos tornamos muito próximos nesses últimos dias.

— Bom saber. Agora se me dá licença eu preciso...

E não pôde terminar sua frase. Skip a puxou para si e lhe deu um beijo. Um beijo forte, de início. Como se o rapaz estivesse esperando não conseguir soltar-se, inebriado de paixão. Mas não foi o que aconteceu. Nada aconteceu. Skip soltou Heather rapidamente, como se estivesse decepcionado, e o que ele esperava não tivesse acontecido.

— Eu preciso ir. – Skip disse, se afastando.

Heather ainda gritou, sem a certeza de que ele ouvira:

— Então é assim? Você me beija e...

Desistiu. Skip já estava muito longe e não ouviria.

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Melissa e Kelsey chegaram ao clube correndo, suadas e bastante vermelhas. Elas haviam ido até a casa de Kelly, onde foram informadas de que a garota estava no clube. Durante todo o trajeto, enquanto a loira dirigia, Kelsey tentara contato com Kelly por telefone. Não houve sucesso.

— Ali, é a Heather! – Melissa apontou para a repórter saindo do banheiro.

Elas não sabiam, mas há poucos metros dali Kelly, debaixo d’água, ouvia a voz delas. A garota tentava desesperadamente se soltar, ou fazer algo para que fosse notada pelas outras.

— Heather, você está com a Kelly? – Melissa perguntou, antes mesmo de elas chegarem perto o suficiente.

— Estava. Eu deixei a cadeira de rodas dela bem ali... – E apontou para a beira da piscina.

Melissa deu um gritinho e correu para a água, pulando na piscina mesmo antes de perceber que a garota estava lá. Ela também era uma exímia nadadora, então foi deveras fácil soltar Kelly da cadeira e carregá-la até a superfície. A outra não se movia, estava completamente desfalecida.

Heather puxou o corpo da prima para fora da água, já completamente desesperada. Verificou os batimentos cardíacos e percebeu que eles não existiam mais. Melissa começou a realizar procedimentos de primeiros socorros, enquanto Kelsey correu para buscar ajuda. Não houve jeito: Kelly estava morta.

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Nikki brincava com os canais da TV do iate de seu pai. O veículo estava atracado ao cais, mas a garota não se importava. Seguiu até o mini bar e serviu-se de um drink de coloração fosforescente. De repente sentiu seu celular tocando. Verificou o número e percebeu que era Melissa.

— Alô, Mel?

Nikki, onde você está?

— No iate do meu pai, aqui no cais. Próximo à estação de trem, conhece?

Fica aí, nós já estamos chegando. Não faça nada! Mantenha-se onde e do jeito que estiver!

Melissa mandou um beijo e desligou. A ruiva jogou o celular para longe, apavorada com o aviso da outra. Então chegara sua vez. De repente qualquer coisa ao seu redor parecia uma arma letal. O drink que antes bebia (com uma azeitona estrategicamente posicionada) agora parecia veneno, o chão parecia liso demais, e o iate parecia mexer-se sozinho. Tremeu. De repente o documentário que passava na TV chamou sua atenção.

Era sobre um homem que fora ferido gravemente após o teto retrátil de seu carro esmagar seu crânio. Ele perdera um dos olhos e tivera que fazer uma reconstrução facial completa. Nikki gritou e desligou a TV. Começou a respirar lentamente, congelada pelo medo.

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Kelsey seguia de carro com Melissa, ainda traumatizada por acabar de presenciar a morte de Kelly. Estranhamente não conseguira derramar sequer uma lágrima.

— Foi assim que aconteceu com todo mundo enquanto eu estava fora?

Melissa mexeu a cabeça positivamente, sem desviar os olhos da estrada.

— E você viu todos eles?

— Alguns. Enquanto você estava fora eu tentei ajudar Cassie e Sherry... Como você pode perceber... Inutilmente.

Kelsey abaixou a cabeça.

— Eu só queria... Ser como meu irmão, sabe? – Melissa disse. — Ele conseguiu salvar tanta gente! Minha cunhada, a Alice, o Matt, a pequena Beth... Eu só... Só... Não sei, queria poder fazer isso também. Poder salvar as pessoas...

A morena achou que Melissa ia desabar em lágrimas, mas isso não aconteceu.

— Você não tem a obrigação de salvar ninguém, Melissa. Não foi você quem os colocou na lista. Fui eu...

— Não, Kel! Você tem menos culpa ainda! Eu sei como é carregar essa maldição, eu vi como pouco a pouco ela foi destruindo o que havia de melhor no meu irmão. A paranóia, o medo, a angústia... É difícil manter-se atento e ter responsabilidade sobre os próprios atos! Imagine sobre a vida de outros! Você já tem um fardo grande demais... Já eu... Eu não tenho nada.

Kelsey não respondeu. Os argumentos de Melissa subitamente pareciam fazer um estranho e misterioso sentido.

x-x-x-x-x

Sem perceber Nikki sentou em cima do controle remoto que controlava o teto retrátil do iate. A placa de ferro moveu-se lentamente, abrindo o teto. A garota congelou. Temeu que alguma coisa fosse cair por aquele buraco. Delicadamente pegou o controle e apertou o botão, esperando conseguir fechar o teto. Nada aconteceu. A ruiva bateu nos botões desesperada, mas não houve sucesso.

— Merda!

De repente ela ouviu as vozes de Melissa e Kelsey ao longe. Seu coração bateu forte e ela pulou do sofá rapidamente, subindo as escadas em direção à abertura do teto retrátil. Colocou sua cabeça pra fora e acenou ao ver as amigas no cais. De repente aconteceu. O teto fechou com uma rapidez impressionante, pressionando a cabeça de Nikki a parede. A ruiva debatia-se, praticamente dependurada com seu corpo e metade do rosto para dentro e metade do rosto para fora do objeto.

— A Nikki!

Melissa e Kelsey correram para a ponta do cais, mas não encontraram maneira de subir no iate. As duas gritavam desesperadas, ao ouvir os gritos agoniados de Nikki. A loira então pulou na água, tentando nadar até o veículo. Subiu no iate a tempo de ver a escotilha fechar-se por completo, esmagando o crânio de Nikki. Muito sangue saiu, e Melissa não conseguia distinguir a massa pegajosa e ensaguentada do que antes fora sua amiga.

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Os policiais chegaram rapidamente, assim como os pais de Melissa. Jane abraçou a filha com força, embora ela ainda estivesse molhada. Skip apareceu em seguida, desesperado e esbaforido.

— O que aconteceu, amor? Você está bem?

A loira tentou procurar Kelsey mas ela não parecia mais estar ali. Seus pais colocaram-na no carro, enquanto Melissa ainda se mantinha atônita. Skip sentou-se no banco traseiro com a “namorada”, abraçando-a. Não importou-se com os olhares reprovativos que Michael e Jane provavelmente estavam dando para ele: naquele momento ele apenas queria confortar Melissa.

— Foi horrível, Skip... Foi... – E começou a chorar.

Jane tocou a mão da filha, procurando passar conforto. Por alguns instantes lembrou de quando, anos antes, os amigos de Bobby começaram a morrer e o rapaz foi tornando-se isolado. Todo aquele clima de morte e pesar transportava a mulher diretamente para o momento em que perdera seu filho no suposto suicídio. Discretamente começou a chorar, sem deixar que a filha percebesse isso e se abalasse ainda mais.

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Já seca e em seu quarto, Melissa continuava abraçada com Skip, dessa vez em sua cama. Jane não se importara com o fato: ela estava disposta a fazer qualquer coisa pra que sua filha se sentisse melhor.

— Alguém avisou os pais dela? – Melissa perguntou.

— A Kelsey telefonou.

— E Angel e Bill? Eles sabem?

— Sabem sim, eu liguei para os dois.

— E por que ninguém veio falar comigo ainda? Quer dizer... Angel e eu nos tornamos muito próximos enquanto tentávamos avisar os sobreviventes.

— Ele sabe que você está em boas mãos agora.

E abraçou a garota com mais força.

— Você nunca sentiu ciúmes? – Melissa perguntou, à queima roupa.

— Do que?

— Da minha amizade com seu irmão. Digo, há uma semana eu era mais próxima dele do que de você. Nós passamos por muita coisa juntos.

Skip riu. Uma risada carinhosa, divertida.

— Não, eu não sinto ciúmes. Meu irmão é a única pessoa no mundo com a qual não tenho nenhum segredo. Nenhum mesmo. Se ele estivesse gostando de você, me contaria. Ele provavelmente tentaria fazer com que não fosse grande coisa para não me magoar. Mas jamais me omitiria tal fato.

Melissa sorriu e tocou o rosto do rapaz.

— E quanto a mim? Você acha que eu te contaria se estivesse apaixonada por ele?

Skip sorriu, um pouco encabulado.

— Eu suponho que sim. Estou errado?

Melissa deu com os ombros.

— Não, está certo.

E discretamente a garota começou a beijar o pescoço do rapaz. Primeiro delicadamente, e depois com mais intensidade. Melissa havia se certificado de que a porta estava trancada, então não sentiu-se acanhada em aumentar a velocidade e a intensidade das carícias. Naquele momento ela só queria sentir-se livre, alheia a qualquer problema que acontecia do lado de fora da porta daquele quarto. Naquele momento, nada a atrapalharia.

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Angel ainda martelava na cabeça a questão da morte de Cassie e como havia jogado a bíblia em direção a cruz que acertara a cabeça da garota. Sentado no banco da praça tomando um sorvete ao lado de Bill, era impossível não pensar na morte.

— Queria te agradecer por ter topado esse passeio comigo, Angel.

— Não é nada. – E o rapaz continuou chupando seu sorvete distraídamente.

— Você pode ser sincero comigo? – Bill pediu.

— Claro, manda ver.

— O que você realmente pensa a meu respeito?

Angel então resolveu ser franco. Aquela podia ser sua única oportunidade.

— No começo eu te odiei. Melissa e eu estávamos tentando lidar com as coisas de uma maneira, e de uma hora pra outra nós descobrimos que estávamos fazendo tudo errado. Você apareceu com suas regras e filosofias malucas e pôs a baixo o castelo que demoramos dias para construir e achávamos que estava sólido. Foi um baque, um choque de realidade.

— E agora?

— Bom, eu não posso dizer que gosto de você. Ainda te acho sinistro, William. Mas eu percebi que você quer o nosso bem e o de Melissa, mais do que qualquer coisa. E por enquanto isso é o suficiente.

Bludworth parecia estar satisfeito com o que ouvira.

— Alguma vez você já pensou na sua própria morte?

A pergunta foi como um soco no estômago de Angel, e ele engoliu em seco. Resolveu responder com franqueza.

— Nunca tinha pensado até o massacre no campus. Quando minha namorada Monica morreu, eu elaborei milhões de teorias sobre minha morte. Eu estava desesperado, em pânico, e, confesso, pensei seriamente em suicídio. E saber que isso teria tirado todo mundo da lista, haha... – Angel riu sarcasticamente.

— Deveras. Se você tivesse morrido logo após o massacre a lista teria sido quebrada.

De princípio Angel sentiu-se mal, mas o tom de voz de Bludworth não era de acusação ou decepção, havia apenas uma constatação.

— Você sabe o que o irmão da Melissa fez, não é?

— O que estava na lista também?

— Ah, você sabe!

— Pois é, o Skip me contou. Cara valente.

— Um insano herói. Eu já pensei muitas vezes se estaria disposto a dar a vida pelas pessoas que amo.

— E a que conclusão chegou?

— Não existem pessoas suficientes que eu ame para que perder minha vida tenha algum propósito.

— Você é meio que um lobo solitário né? Se não tivesse salvado Melissa de muitas enrascadas antes eu dificilmente confiaria em você.

Bludworth riu sinistramente.

— A garota merece. Você sabe como nos conhecemos?

— Não, mas adoraria saber.

— Eu era zelador da escola dela. Para todos os alunos, um invisível. Eles me chamavam apenas quando tinham algum problema que eu estava apto para resolver. Eu não me incomodava com isso. Em outros tempos, quando eu era médico legista, as pessoas recorriam demais a mim, e eu era muito notado. Ser invisível dessa vez, então, era quase uma benção. Mas então a Melissa apareceu. Ela me cumprimentava todos os dias e eu retribuía a gentileza. Um dia ela ficou até mais tarde na escola e perdeu o ônibus. Eu oferecia uma carona e ela disse que aceitava, se fossemos à pé. Naquele dia eu tive uma das conversas mais bonitas da minha vida, e soube que teria uma amiga pra vida inteira. Eu sei que as pessoas pensam bobagens, e que é estranho um solteirão cinquentão ser amigo de uma adolescente, mas... Eu não me importo. Eu respeito Melissa e enquanto ela quiser minha amizade eu vou estar por aí.

Angel sorriu, consternado. Tocou o ombro de Bludworth de leve, mas com firmeza. Naquele momento sentiu como se a própria morte tivesse se tornado algo mais leve e fácil de lidar.


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Notas finais do capítulo

Como disse, o próximo capítulo sai logo. E ah! A morte da Nikki foi inspirada em um documentário que eu vi na TV, só que nele o homem não morreu. Também, sim, Skip e Melissa fizeram sexo. Não quis deixar explícito porque não sou bom com essas coisas, mas aconteceu. Não é algo gratuito, já adianto, é algo que vai ser crucial pra narrativa. Além disso o momento não foi muito apropriado, mas Melissa estava se sentindo mal e carente...



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