“Olá” –sorriu desconcertado, levou a mão direita ao pescoço apertando-o um pouco como se quisesse relaxar, seus olhos cor chocolate miravam o chão e seu sorriso surgira como um suspiro e logo desaparecera rapidamente, seu rosto não demonstrava raiva ou emoção, parecia, em alguns momentos, perdido a olhar para a grama verde iluminada pelo sol abaixo de seus pés. Subiu o olhar e encontrou novamente o rosto do moreno, sério, inflexível... Seria mesmo este L que havia amado? Agora, era tarde demais para desistir e voltar para casa.

“Raito-kun”- a voz saiu do moreno como um sussurro, quase inaudível... Sua expressão em nada se alterara exteriormente, mas, dentro dele, algo teimava em bater desesperadamente como se desejasse aquela cena... Idealizasse-a em seus sonhos afim de que, um dia, se tornasse tão real quanto era agora.

Colocou as mãos suadas nos bolsos, não queria que o outro percebesse o que –ainda- provocava nele, queria, falsamente, manter o alto-controle que aprendera a ter na arte da investigação... Tentava mostrar-se indiferente, quando sua maior vontade era se jogar nos braços do garoto a sua frente e cobri-lo de beijos guardados em seu íntimo por anos.

“Tudo bem?”- retirou a mão do ombro, visto que esta não estava cumprindo sua função de relaxá-lo. Ia levar a mão ao bolso de trás quando se deparou com a barra de chocolates ‘atrapalhando’ sua trajetória. Retirou-a com cuidado e trouxe-a a frente do corpo. Mirou o papel azul metálico com bordas prateadas, olhou para o moreno pensativo, olhou novamente para a barra, não se demorou muito nesse ‘deja vú de olhares’ estendendo logo a barra ao inglês a sua frente –que já havia, inclusive, levado o polegar direito aos lábios em sinal interrogativo, afinal, até onde lembrara o japonês detestava doces–.-“Trouxe pra você... Achei que.. Depois de tanto tempo...Bem eu...”-respirou fundo –“ Achei que... poderia gostar... É ainda o seu preferido?”

Lentamente, L retirou uma de suas mãos do bolso e alcançou o chocolate, trouxe para perto e leu o que dizia em sua embalagem ‘chocolate ao leite’... Sim, ainda era seu preferido. Seus olhos arregalaram-se imperceptivelmente e em sua cabeça perguntas corriam apressadas, deixando-o meio confuso e desnorteado. Olhou para o japonês, que sorriu-lhe e depois virou a cabeça um pouco para o lado como se evitasse olhá-lo. Olhou novamente para a barra. Como ele ainda se lembrara? Não podia responder... Talvez pelo mesmo motivo que fizera ele mesmo nunca esquecer o timbre da voz ou o cheiro do garoto de cabelos cor-chocolate... Em seu íntimo, desejava a pergunta, mas, por temer a resposta... Limitou-se a um: “Obrigado”, abrindo a barra e começando a comê-la olhando para o lado oposto ao que o japonês antes olhara.

“Então...Ainda é?” –perguntou desafiador, sabia que a resposta era sim, entretanto, precisava da comprovação do outro, que apenas assentiu. Raito, sorriu-lhe em resposta.

Do outro lado o mais velho admirava o sorriso a ele encaminhado, fixando sua atenção nos lábios bem desenhados do japonês, como sentira falta deles... Das palavras que saíam deles... Principalmente dos “Eu te amo”s sussurrados contra sua pele... Arrepiou-se e desviou seu olhar para baixo, terminando logo com seu doce. Era notável o estado em que as lembranças o deixavam.

Irritou-se ao não conseguir dizer nada... Ao não poder cumprir as palavras da carta que deixara, de tentar esquecê-lo, de deixa-lo ser feliz sem ele... Não cumprira a promessa que fez ao pisar em solo inglês que nunca cairia nos braços do japonês novamente, que havia de ser como Soichiro desejava... “Ele é o pai... Deve saber os verdadeiros sentimentos do filho... Deve saber o que é melhor pra ele”. Triste armadilha esta que o destino lhe fizera, para que aprendesse que ‘nunca’, é tempo demais.

“O que quer?” – perguntou de súbito, a presença do outro fazia-o pecar contra si mesmo, e o recém-chegado, estava detestando isso.

“Hm?” – com uma certa surpresa perguntou, não esperava algo assim ‘a queima-roupa’.

“Por que veio até aqui?” – encarou-o ríspido.

“Eu...Senti saudades...”- sorriu tristemente, desviando o olhar novamente para o chão, perguntava-se se ele estava fazendo o certo... Mas, nunca encontraria a resposta dentro de si mesmo... E, infelizmente, sabia disso.

“E quanto a Misa? Ela não queria me ver?” –não pensava mais no que dizia, só dizia, era como se toda a sua melancolia -sofrida nos últimos anos-, se revelasse agora e, sem nenhum aviso prévio, transformava-se em algo incontrolável que devia ser posto pra fora sobre um ‘bode espiatório’, alguém que devesse levar toda a culpa e este alguém, momentaneamente, era Raito Yagami.

“Você..Não sentiu saudades minhas não é?” –mordeu a parte interior do lábio, sem encarar o outro. –“Já tem outra pessoa..?” –desta vez encarava o moreno.

“Não...” –respondeu com o tom mais firme que pode, encarando o japonês de forma séria. Este deduziu então que o outro não sentira saudades, que deveria ir embora e deixa-lo continuar a viver... Concluiu que havia sido um bobo... Idiota, patético, em tentar insistir em algo, que para o outro, havia acabado há tempos.

Girou os calcanhares de forma a ir embora, colocou as duas mãos nos bolsos da frente e afundou-as nestes com revolta, foi quando sentiu o veludo da caixa que havia guardado... Iria mesmo leva-la de volta para a casa? Decidiu que não. Não ficaria com nada para assombrar lhe a alma.

Parou, abriu a caixa e retirou dali dois anéis, seu orgulho o fez hesitar em novamente girar os calcanhares e colocar-se frente a frente com L. Fechou os olhos por um segundo, e lembrou-se de todos os sorrisos e os beijos que trocaram, não podia –e não queria- que a vida perfeita que ele sonhava em ter acabasse por seu orgulho, aliás, se já viera até ali... Poderia ir um pouco mais além.

Girou novamente os calcanhares, e para sua surpresa, o moreno ainda estava de pé, ali... Sem mover um músculo, olhava para o chão pensativo, hora ou outra sussurrava algo incompreensível ou apenas suspirava de cabeça baixa. Com os anéis prateados em sua mão, o japonês caminhou calmamente para perto do moreno.

L, ouviu passos se aproximarem, levantou a cabeça perplexo e mostrou-se ,pela primeira vez, surpreso.

“Olha...Eu não vou embora sem te entregar uma coisa” –voltava agora com um ar decidido, sem dar tempo ao moreno para pensar no que fazer ou responder. Aproximou-se, puxou-o pela cintura e selou-lhe os lábios demorada e apaixonadamente, enquanto procurava às mãos do inglês para deixar o objeto.

L, embora de olhos fechados, ainda não tinha se manifestado, apenas tocava os lábios do outro assustado com a ação repentina. Logo recebeu eu suas mãos um objeto, segurou-o com certa delicadeza e separou-se do beijo. Raito ainda o segurava pela cintura, mas, deu-lhe um espaço para que trouxesse até o rosto o anel que acabara de ganhar.

“O que..é?” –deixou a boca abrir-se um pouco, não podia acreditar no que via.

“No dia que você partiu, eu comprei isso... Sempre quis te dar este presente. Se errei... peço que me perdoe... Imploro que me perdoe. Tudo que eu preciso... É uma segunda chance... Uma chance de ser seu namorado” –sussurrou com seu hálito quente próximo ao rosto do moreno, que usava os dedos para analisar o objeto. Viu algo escrito dentro dele, tombou a mão de leve e pode ver a escrita: “Propriedade de Raito Yagami”, não pode evitar um sorriso. Olhou para ele.

“Na minha esta escrito ‘Propriedade de Lawliet’ se quer saber... Não precisa ficar com ciúmes”- sorriu também.

“Não...”-L sussurrou novamente. Raito largou-lhe a cintura. Novamente aquela palavra inoportuna!

“Eu não tenho ninguém... E sim...Eu morri de saudades suas seu japonês maldito” – abraçou o pelos ombros beijando-o com saudade, enquanto colocava o anel em seu próprio dedo. O japonês voltou-lhe a agarrar fortemente a cintura. Para que este nunca mais o escapasse, para que pudessem ser como antes.

Assim que se separaram, o detetive seguiu com os beijos até a orelha do outro garoto, ao alcançar seu objetivo, sussurrou: “Me perdoe... Raito eu... Eu sempre quis ser seu namorado.”- o inglês, também abraçava o mais novo com força e por ali ficaram durante longos minutos. Lágrimas desceram dos olhos de ambos, murmuravam inúmeros pedidos de desculpas e faziam novas promessas de amor.

Os braços afrouxaram-se um pouco, anunciando que a tempestade passara, L aproveitou para ficar frente a frente com o amante, usou as costas da mão esquerda para limpar os rastros e as lágrimas que ainda permaneciam em sua face e usou os polegares para secar o rosto do garoto a sua frente. Com as costas dos dedos, acariciava levemente o contorno do rosto do amante e, sem perceber, sorriu. Raito não ousou se mover, apenas curtia os carinhos que recebia, vez ou outra beijando às mãos daquele que o causava arrepios. O polegar direito do detetive pousou sobre os lábios do japonês, fazendo todo o contorno destes, sentindo o quão macios ainda eram... O quanto seus ainda eram. Aproximou-se lentamente deles e roçou-os contra os seus, sorriu com uma certa malícia antes de toma-los por completo. Ambos de olhos fechados e correspondendo ativamente. Deixando que a saudade e o amor, fizessem as honras.

“L?”

“Hm?”

“Se é pra pedir em namoro... Deixa eu fazer direito”-Raito tomou a mão direita do moreno, retirando delicadamente a aliança.- “Lawliet...”-disse enquanto se ajoelhava ainda segurando a mão do outro. L estava incrédulo, sorria ‘abobadamente’ enquanto assistia o pedido. –“Esse tempo que ficamos separados...”-respirou fundo acariciando a mão do inglês. –“Foi o suficiente para que eu percebesse que: Sem você... Eu não vivo bem... Mesmo longe, você estava sempre comigo, não imagina quantos sonhos eu tive...”- suspirou –“Quantas vezes.. Eu desejei tocar você de novo...E agora... Você está aqui... E... Isso tudo me fez perceber que eu não vou deixar você fugir de novo... Eu não quero deixar você fugir de novo... Eu... Não posso... Te perder...”-mirou os olhos negros-“Lawliet... Quer namorar comigo pra sempre?” –sorriu docemente.

“Pra sempre é?” –sorriu.

“É” -deu uma piscadela. L deu uma risadinha.

“Hm...”-suspirou- “Podemos tentar”- ambos sorriram e Raito encaixou perfeitamente a aliança no dedo do moreno.

“Agora posso beijar a noiva?”-disse ao levantar-se.

L não respondeu, apenas pulou sobre ele de modo que ambos caíram na grama, o inglês ficou por cima mas, Raito logo deu um jeito de arranjar a situação e agora, haviam sorrisos, brincadeiras e beijos onde antes só havia lágrimas, súplicas e confusões.

The...

End ~