Acordei no dia seguinte, estava coberto por um lençol branco, o travesseiro era confortável assim como o colchão..

Lembrava-me da noite anterior..

Lembrava-me como Raito tinha sido gentil em me acolher e me ouvir.

Abri meus olhos preguiçosamente, vi algumas roupas minhas empilhadas e caprichosamente dobradas sobre a poltrona bege.

Sentei-me e me espreguicei.

Olhei para todos os cantos, realmente era a casa do Raito-kun.

Inclusive..eu ainda estava com sua roupa.

Chequei as que estavam dobradas..Eram realmente minhas, haviam até roupas íntimas!..

Bem..eu não queria voltar para casa mesmo..

Caminho até o banheiro e escovo os dentes usando meu dedo e pasta de dente..Sei que não é higiênico..Mas é o melhor que tenho.

Acho que não vou trocar-me..O cheiro dessas peças me deixam..calmo.

Lembro-me exatamente de tudo..Logo agora não consigo esquecer ou evitar a tristeza incessante..

Ao menos as lágrimas pararam de cair.

Escuto a porta do quarto abrir..

Termino a minha higiene e saio do banheiro.

" Bom dia dorminhoco" -ele disse sorrindo e arrumando minha cama.

 " Bom..dia" -respondi ainda com a voz arrastada.

 " Aah..Dormiu bem?" -Sentou-se na cama recém-arrumada e continuou sorrindo docemente para mim.

" É...digamos que sim." -me sentei a seu lado do meu modo e peguei o ursinho.

Comecei a apertá-lo..Que ótimas lembranças ele me trazia..Aliás..Que ótima sensação ele me trazia..

Um silêncio tomou conta do recinto.

" É..Ryuuzaki.." -tentou puxar assunto, o olhei levando meu dedo polegar a boca e mordendo-o. -" Ligaram do hospital..Fui até lá e peguei seus materiais." -poxa..é mesmo..

eu havia os deixado por lá..-" Peguei a chave em sua bolsa e fui até sua casa buscar algumas roupas pra você..Conversei com meus pais..pode ficar o tempo que quiser."

 " Obrigado..Raito-kun" -dei um rápido sorriso.

 " Então..Ryuu-chan já esta melhor?" -disse passando os dedos levemente sobre meu rosto.

Apenas acenti.

"Então..onde está o meu sorriso?" -ele sorriu.

"Hein?" - encarei-o.

"O meu sorriso..ué.." -se aproximou e retirou o ursinho da minha mão colocando-o sobre o travesseiro.

Sorri brevemente para ele.

 " aah..Assim não" -fez uma careta de reprovação. -"Assim" - aproximou as mãos da minha cintura e apertou.

 " Pa..Pare.." -eu começava a sentir cócegas.

Ele continuou aumentando o ritmo.

Imediatamente comecei a rir e cai deitando-me na cama colocando os dois pés no chão.

" Pa..Pare!" -eu disse rindo.

 " aah..Não" -ele continuou fazendo cócegas..Agora, inclusive, já estava de joelhos sobre a cama.

 " Raito! Pa..Pare!" -me contorcia, mas nada fazia o japonês parar.

Alguns instantes depois olhei nos olhos dele, ambos estávamos rindo então..ele parou.

Sentamo-nos na cama e demorou um pouco até que parássemos de rir.

 "Assim que eu gosto..ouviu?"

 "Seu louco! Quase me matou de cócegas!" - improvisei uma face brava, mas logo a desfiz.

 "Exagerado!" - e rimos mais um pouco.

Acalmamos-nos e ele se levantou após me dar um leve tapa no braço.

"Vem..Vamos tomar café" -sorriu de novo e abriu a porta.

Eu o acompanhei logo depois.

 " Aah..Ryuuzaki..vai descendo ..preciso ir ao banheiro." -ele riu e seguiu para o banheiro.

Cheguei ao fim do corredor e desci a escada vagarosamente, vi a sala e uma mesa de xadrez montada em outro cômodo próximo, caminhei até aquele local e me sentei-me à mesa de xadrez.

Era bem baixa, mas era linda.

"Sinto muito L...Xeque-mate..." -veio em minha cabeça assim que passei as mãos pelas peças.

"Não vou esquecer seu nome Lawli..vai ser nosso segredo"

 Nenhuma imagem..só estas frases. Era uma voz infantil..Mas..De quem era?

Ouvi barulhos na cozinha libertando-me de meus devaneios..Levantei-me e caminhei até lá.

A mãe de Raito estava de costas para mim, mas percebi que ela tinha uma bandeja nas mãos.

"Bom dia Senhora" - falei em alto e bom som.

Ela se virou e em sua face vi uma expressão de surpresa e lágrimas vieram a seus olhos.

Logo a bandeja caiu e os copos de vidro sobre ela se quebraram..

"Eu a ...assustei?" -Perguntei preocupado..Já estava causando má impressão? Oh..não!

 ~

POV Sachiko.

"Eu a ... assustei? " -ele disse.

Não respondi, pulei os cacos de vidro e o abracei o mais forte que podia.

Ele correspondeu ao abraço, confuso com certeza.

Ele não se lembrava?

Não se lembrava de mim?

Ou do Raito?

Por quê?

Bem..Raito me disse que o pai adotivo dele morreu..Então..Oh não..Alice..Morreu?

Não posso conter as lágrimas de virem a meus olhos..Durante anos sonhei que a veria e faríamos doces e tricô.

Sei que ela nunca abandonaria o filho..E com certeza o pai também não..Não pelo que ela falava dele..

Eles morreram?! Os dois..?!

Pobre L..

E agora..ele não se lembra de mim..ou do Raito..

"Senhora..Está tudo bem?"

"Sim" - digo em meio a meus soluços..

Não..Ele não tinha como saber o por que do meu choro..

Seria pedir demais..Não é?

L..Tão perto mas, tão longe de nós..

Por quê?

Ainda estou abraçada a ele.

L tem tudo da mãe..Os olhos..o cabelo..A pele..

Mas com certeza deve haver algo do pai nele..Pena..não o conheci.

Ah..pequeno..

Ainda gosta tanto de doces?

Ainda gosta tanto dos meus doces?

Ainda joga xadrez?

Ainda tem o urso?

Ora..L..Por que não posso perguntar?

"Ma..mãe?" -ouço a voz de meu filho, largo o garoto limpando rapidamente as lágrimas de meus olhos.

 "O que houve aqui?" - diz ele se aproximando..

Raito..você também não lembra? Claro que não.

Nós o forçamos a se esquecer..

"Nada filho..eu só..me assustei com ele.." -tento controlar meus soluços.

 "Mãe..por que está chorando?"

 "Ah..filho..Eu acho que é..Por saber tudo que ele passou.."- minto..Não a outra opção.Não agora.

 "Deixa que eu ajudo" -O moreno sorri e começa a catar os cacos de vidro com as mãos.

 "Vou pegar a vassoura.." -É..me livrei desta vez.

Recolho a bandeja do chão e volto para ajudar o garoto com o vidro.

 "Não precisa Senhora..Pode se machucar." -ele sorri..Tem o sorriso da mãe..

 "É..Sachiko" -sorrio de volta.

 "Sachiko.." -ele volta suas atenções para os cacos de vidro e logo terminamos de catá-los.

Meu filho chega com a vassoura e põe-se a limpar os menores.

Logo o chão da cozinha está limpo de novo.

"Desculpe..Sachiko"

 "Eu é quem peço." -sorrio. -"Sentem-se..vou servir o café a vocês."

Me obedeceram e  logo comecei a servi-los.

Pro moreno, uma torta doce e café.

Para Raito, torradas e suco de laranja.

Sei que eles terão um dia cheio.

Tomara que o inglês se lembre de algo..

É torturante vê-lo assim..

É torturante..vê-los assim.