Água. Era tudo que eu necessitava para terminar aquela bendita prova. Eu olhava para aquela folha e todas as letras pareciam saltar dela, tornando impossível a leitura. Maldita dislexia.
Meu professor, o senhor Church, estava sentado em sua mesa com o olhar fixado em mim. Estremeci quando nossos olhares se encontraram. Rapidamente voltei a olhar para a prova.
Se eu pudesse beber água... AH!,por mais estranho que pareça eu acabava a prova num piscar de olhos se tocasse na água ou a bebesse.
-Senhor Church...
-O que quer senhorita Moore?
-Eu, ahn... Poderia beber água?
-Não.
Suspirei e voltei a olhar o papel que fazia minha mente se tornar um inferno. Assim que todos entregaram a prova foram dispensados, enquanto eu fiquei na sala sentindo o olhar de Church me fuzilar.
Depois de um tempo percebi que o senhor Church se levantara. Assim que levantei o olhar meu coração disparou. Ele tinha apenas um olho no meio da cara grande, feia e deformada. Tinha em suas mãos um lança com uma bola cheia de espinhos na ponta.
Sorria de modo sinistro enquanto golpeava em minha direção. Gritei e pulei da cadeira, escapando por um fio.
A adrenalina percorreu meu sangue. Sai correndo indo em direção do portão de saída. O monstro corria e golpeava as paredes e armários.
-Mau dia, mau dia!-resmunguei para mim mesma.
Ao chegar à saída, disparei para o centro de New York. Virei na Broadway e corri até a sorveteira de minha mãe.
-Mãe! Mãe!
- O que foi querida?-perguntou ela, atrás do balcão.
-Eu... Ahn... Meu professor tentou me matar!
- O que? Qual professor?
Um estrondo nos fez pular. Olhei para o lado de fora e vi o monstro-de-um-olho-só quebrando o asfalto com uma Ferrari.
-Aquele professor!
-Querida esvazie sua mochila. Rápido!
-Mas...
-Rápido querida!
Esvaziei minha mochila e olhei para minha mãe. Ela pegava uma caixa térmica e a enchia de gelo. Então colocou vários potes de sorvete na caixa e a enfiou em minha mochila.
-Mas o que...
-Querida, escute. Quero que corra até a casa de Galiel e de isso a ela. –minha mãe entregou-me um bilhete e me arrastou até a saída de trás. – Vá! Vá e não pare de correr.
Mamãe me olhava com confiança e determinação, encorajando-me. Então corri em direção a casa de Galiel. Ao chegar gritei seu nome. Uma garota morena abriu a porta e quando me viu pulou e me abraçou. Porém a festa acabou assim que entreguei a ela o bilhete de minha mãe.
-Isso não é nada bom... –suspirou ela.
-Que houve Galiel?
-Vamos, não há tempo para explicações agora.
Pegando uma bolsa ela me puxou indo em direção à garagem. Lá havia um BMW preto, que reluzia como se fosse diamante negro.
-Entra. –disse ela.
-Mas o que... Galiel você tem 15 anos, como é que irá dirigir?!
-Terá todas as suas respostas na hora certa, Vitória.
Entramos no carro e ela deu a partida. Acelerou e saiu cantando os pneus. Pegamos à estrada e Galiel acelerou ainda mais.
-Gal, onde estamos indo? –perguntei um tanto nervosa.
-Para um lugar especial para pessoas como você.
-“Pessoas como você”? O que quer dizer com isso?!
-Olha Vicky, quando chegarmos nesse lugar você terá todas as resposta, está bem? Agora tente ficar relaxada e...
-Relaxar?! Meu professor tentou me matar, minha mãe deve estar em perigo e eu estou indo para um lugar que nem sei onde fica ou o que é, e você me manda ficar relaxada?!
Galiel suspirou e não falou mais nada. Peguei meu celular e digitei uma mensagem para minha mãe. Depois saltei para o banco traseiro e deitei-me.
-Já que é para ficar relaxada, vou dormir.
-Sonhe com os deuses. –disse Galiel.
Fechei os olhos e logo adormeci.